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02 setembro 2025

Reliogisidade e ceticismo profissional

Muito interessante: 


 

Esta pesquisa analisou a influência da religiosidade no ceticismo profissional em auditores independentes no Brasil. Realizou-se um estudo de levantamento survey exploratório e de abordagem quantitativa. O estudo foi executado com auditores independentes de empresas Big Four e Não Big Four, através do uso de questionário enviado pela rede social profissional LinkedIn®. O questionário foi elaborado através da ferramenta Google Forms, contendo 40 questões, sendo cinco de religiosidade da escala de Durel (2010), 30 da escala de ceticismo profissional de Hurtt (2010) e cinco perguntas demográficas. O acesso ao questionário foi fornecido através de link de acesso para 1484 auditores independentes, obtendo-se um retorno de 205 respostas. Para efetuar a análise dos dados, usou-se estatística descritiva, correlação de Person e regressão linear simples. Constatou-se que o nível de ceticismo profissional é maior no gênero masculino e que as mulheres obtêm maiores resultados na característica de suspensão de julgamento, além de serem mais religiosas. Embora a religiosidade, considerada como uma variável agregada, não tenha demonstrado influência estatisticamente significativa sobre o ceticismo profissional de forma global, análises mais aprofundadas revelaram que, ao desmembrar tanto a religiosidade quanto o ceticismo em suas dimensões específicas, emergem relações estatisticamente significativas entre determinados aspectos dessas variáveis. Os resultados podem indicar que a influência da religiosidade sobre o ceticismo não é uniforme, mas varia conforme o tipo de religiosidade (organizacional, não organizacional, intrínseca) e conforme a dimensão do ceticismo.

Fonte: Oliveira, D. J. de & Schlotefeldt, J. de O. (2025). Influência da religiosidade no ceticismo profissional em auditores independentes no Brasil. Revista de Contabilidade do Mestrado em Ciências Contábeis da UERJ, 30(1), 58-73. 

26 agosto 2025

Austrália propõe certificação para auditorias de baixo risco


Do Financial Review, eis que interessante: 

A Comissão de Produtividade quer que o governo apoie a proposta da CPA Australia para introduzir uma categoria de auditores registrados de empresas (Registered Company Auditors – RCAs) voltada a auditorias de baixo risco.

A sugestão, apresentada no relatório recente Building a skilled and adaptable workforce da comissão, faz parte de um conjunto de recomendações para reformar as regras de ingresso em profissões reguladas, que, segundo o documento, muitas vezes são inconsistentes, desnecessárias e onerosas.

Atualmente, a ASIC exige que os RCAs concluam:

  • pelo menos três anos de formação em contabilidade;

  • pelo menos dois anos de formação em direito;

  • um curso específico em auditoria;

  • além de comprovar experiência prática em competências de auditoria nos últimos três a cinco anos.

A CPA argumentou, em sua submissão à comissão, que essas exigências são excessivamente restritivas e “projetadas para auditorias grandes, complexas e de alto risco, como as de companhias abertas ou multinacionais”. Segundo a entidade, embora tais requisitos sejam adequados nesses casos, também existem obrigações legais para que RCAs executem auditorias de baixo risco, onde o nível atual de exigência encarece desnecessariamente o processo.

Não surpreende que, nos últimos 20 anos, o número de RCAs tenha caído de mais de 7.000 para cerca de 3.200, enquanto a demanda aumentou.

Como alternativa, a CPA sugeriu adotar o modelo de licenciamento em dois níveis utilizado na Nova Zelândia. Nesse regime, auditores que comprovem de 300 a 500 dias de experiência prática supervisionada em auditoria nos últimos cinco anos podem realizar atividades de asseguração de menor risco. 

Imagem aqui 

21 agosto 2025

Random Forrest no trabalho do auditor

O resumo: 


 Diante da incerteza econômica global, a auditoria financeira tornou-se essencial para a conformidade regulatória e mitigação de riscos. Os métodos tradicionais de auditoria manual estão cada vez mais limitados pelos grandes volumes de dados, estruturas empresariais complexas e evolução das táticas de fraude. Este estudo propõe uma estrutura de auditoria financeira empresarial orientada por IA e de identificação de alto risco, utilizando aprendizado de máquina para melhorar a eficiência e a precisão. Com um conjunto de dados das quatro grandes firmas de auditoria (EY, PwC, Deloitte, KPMG) de 2020 a 2025, a pesquisa examina tendências em avaliação de risco, violações de conformidade e detecção de fraudes. O conjunto inclui indicadores como número de projetos de auditoria, casos de alto risco, instâncias de fraude, violações de conformidade, carga de trabalho dos funcionários e satisfação dos clientes, capturando tanto os comportamentos de auditoria quanto o impacto da IA nas operações. Para construir um modelo robusto de predição de riscos, três algoritmos — Support Vector Machine (SVM), Random Forest (RF) e K-Nearest Neighbors (KNN) — são avaliados. O SVM usa otimização de hiperplanos para classificações complexas, o RF combina árvores de decisão para lidar com dados não lineares e de alta dimensionalidade com resistência ao overfitting, e o KNN aplica aprendizado baseado em distância para desempenho flexível. Por meio de validação cruzada hierárquica K-fold e avaliação com F1-score, acurácia e recall, o Random Forest alcança o melhor desempenho, com F1-score de 0,9012, destacando-se na identificação de fraudes e anomalias de conformidade. A análise de importância das variáveis revela frequência de auditorias, violações anteriores, carga de trabalho dos funcionários e avaliações dos clientes como principais preditores. O estudo recomenda a adoção do Random Forest como modelo central, com aprimoramento de variáveis via feature engineering e implementação de monitoramento de riscos em tempo real. Esta pesquisa traz contribuições valiosas sobre o uso de aprendizado de máquina para auditoria inteligente e gestão de riscos em empresas modernas.

02 julho 2025

IA, Eficiência e preço de auditoria

 


Da Bloomberg (via aqui):

A PricewaterhouseCoopers LLP, uma das maiores empresas de consultoria profissional do mundo, cortou os preços de alguns serviços à medida que os clientes aumentavam o fato de a consultoria utilizar inteligência artificial para concluir o seu trabalho mais rapidamente.

“Os clientes nos ouviriam falando sobre o uso de IA e diriam: ‘Queremos nosso quinhão dessas eficiências, disse Dan Priest, diretor de IA da PwC, em entrevista à Bloomberg News. 

31 março 2025

IA e Contabilidade

Segundo um texto da Accounting Web, a inteligência artificial (IA) está transformando a auditoria contábil. Anteriormente, auditores verificavam manualmente amostras aleatórias de transações; agora, com a IA, é possível analisar todos os dados de uma empresa em segundos, identificando rapidamente transações de alto risco e aprimorando a precisão dos dados. ​

Apesar dessas melhorias, é improvável que os custos de auditoria diminuam, pois ter essas tecnologias é caro. Outra consequência é que a implementação da IA pode reduzir a demanda por certas funções tradicionais na auditoria.

24 março 2025

Quando a Auditoria Falha: Como um Software Mudou as Regras do Bitcoin


Um desenvolvedor de software, Roman Storm, criou um mecanismo para ajudar as pessoas a manter suas transações com criptomoedas de forma privativa. Esse mecanismo impedia o rastreamento de doações para países em guerra, como a Ucrânia, mas também permitiu que a Coreia do Norte lavasse um bilhão de dólares em Bitcoin.

Roman acabou preso e agora corre o risco de pegar até 40 anos de cadeia. Em sua defesa, Storm argumentou que sua tecnologia é neutra, como uma planilha ou um telefone celular. Basicamente, ninguém condenou Bill Gates pelo fato de terroristas usarem o Excel.

Na prática, o software envia sua criptomoeda para um endereço onde ela é misturada com os valores de outras pessoas, quebrando a trilha de auditoria. Lembram quando diziam que uma das vantagens do Bitcoin era justamente permitir o acompanhamento de todas as transações feitas com uma determinada moeda? O software de Storm mudou esse conceito.

13 março 2025

Multa de Big Four. De novo.

Fonte da imagem: aqui

Eu até tentei dar um tempo das Big Four, mas elas estão com tudo nas manchetes atuais.

Desta vez a Susep (Superintendência de Seguros Privados) noticiou a aplicação de penalidades envolvendo a Ernst & Young (EY) e sua auditoria sobre as demonstrações do IRB Brasil Resseguros. Os grifos são nossos:
A Superintendência de Seguros Privados (Susep) concluiu, em reunião ordinária do Conselho Diretor realizada ontem (12), a análise de dois processos administrativos sancionadores relacionados à auditoria atuarial independente das demonstrações financeiras do IRB Brasil Resseguros S/A referentes a 31 de dezembro de 2019. Como resultado, foram aplicadas penalidades à Ernst & Young Serviços Atuariais S/S (EY) e a três profissionais que atuaram na auditoria, em razão de indícios de descumprimento de normativos regulatórios.

Trata-se de processos administrativos sancionadores submetidos ao Conselho Diretor da Susep para juízo de confirmação do julgamento realizado pela Coordenação Geral de Regimes Especiais, Autorizações e Julgamentos – CGRAJ, e as decisões ainda estão sujeitas a recurso.

As análises conduzidas pela Susep indicaram que a auditoria atuarial realizada não teria observado elementos que exigiam maior diligência na avaliação das provisões técnicas do IRB RE. Há indicativos de que documentos e informações disponíveis à época poderiam ter sinalizado inconsistências que não foram devidamente refletidas no parecer atuarial emitido.

Em um dos processos, o Conselho Diretor da Susep entendeu que havia elementos que indicam falhas na avaliação da adequação da Provisão de Sinistros a Liquidar (PSL) e da PSL "Legal Cedents". Em outro processo, foram identificados indícios de que o parecer atuarial foi emitido antes da conclusão de análises relevantes, sem apontar ressalvas sobre informações que ainda estavam pendentes de esclarecimento.

Considerando os elementos analisados, foram aplicadas penalidades de multas que ultrapassaram o montante de R$1 milhão de reais, além da inabilitação de um dos auditores para o exercício de cargo ou função pelo período de 4,4 anos (1.606 dias). A empresa de auditoria atuarial, EY, responde solidariamente pelo pagamento das multas aplicadas aos profissionais.

A Susep reforça que as decisões ainda estão sujeitas aos trâmites recursais e ressalta a importância da atuação diligente das auditorias independentes na verificação das provisões técnicas das entidades supervisionadas, em linha com os normativos vigentes e as melhores práticas do setor.
Além disso, em outubro de 2024, a PwC (PricewaterhouseCoopers) foi multada pela Susep em mais de R$ 2 milhões também por auditorias inadequadas relacionadas às demonstrações contábeis do IRB. Segundo a Susep, os processos ainda transitam pelo Ministério Público Federal (MPF) e pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), podendo ter novos desdobramentos.

28 janeiro 2025

Auditoria no início do Século XX no Brasil


Do livro de Richard Brown, A History of Accounting and Accountants, de 1905:

Não existe uma associação organizada de contadores profissionais com reconhecimento oficial no Brasil. 

O sistema adotado para a auditoria das contas de corporações e empresas públicas e privadas consiste em atribuir esse trabalho a determinados acionistas, que formam o Conselho Fiscal [em português] ou Comitê de Auditoria.

Na liquidação de massas falidas, o juiz nomeia administradores entre os credores, os quais são responsáveis pela administração da massa falida. 

Sempre que são necessários os serviços de um perito para elaborar balanços ou demonstrações financeiras de empresas com ações na bolsa ou privadas, qualquer guarda-livros pode ser designado, desde que tenha a confiança dos administradores, administradores judiciais ou do juiz, conforme as circunstâncias do caso.

14 dezembro 2023

Fraude e AI: auditoria

Nada contra, mas talvez fosse importante disfarçar melhor a propaganda. 

A EY implementou inteligência artificial (IA) em seus processos de auditoria [1], levando à detecção de atividades fraudulentas [2]. Das primeiras 10 empresas avaliadas por esse novo sistema, atividades suspeitas foram identificadas em duas, as quais foram posteriormente confirmadas como fraudes pelos clientes.

Kath Barrow, sócia-diretora de garantia da EY no Reino Unido e Irlanda, comentou sobre a eficácia do sistema [3], indicando que esses resultados iniciais demonstram sua utilidade potencial na auditoria.

Embora a EY tenha se recusado a revelar os detalhes de seu software [4] ou a natureza das fraudes descobertas, Barrow disse que os resultados sugeriam que a tecnologia tinha "potencial" para a auditoria.

A EY começou a experimentar com IA em auditoria em 2018 [5].

Naoto Ichihara, um sócio de garantia da Ernst & Young ShinNihon LLC no escritório de Tóquio, sempre teve paixão por programação. Sua expertise no desenvolvimento de modelos e sistemas para auditoria o levou a explorar a aplicação de aprendizado de máquina na análise de dados contábeis.

A extensa pesquisa de Naoto em artigos acadêmicos existentes [6] e algoritmos despertou sua percepção de que havia uma maneira melhor de detectar anomalias por meio de aprendizado de máquina.

Impulsionado por sua visão, Naoto codificou uma solução de IA que podia identificar entradas anômalas em grandes bancos de dados. Essa tecnologia se tornou pioneira no campo da auditoria e foi posteriormente patenteada [7].

Reconhecendo a necessidade de colaboração, Naoto formou uma equipe de auditores e desenvolvedores para testar e aprimorar o método de detecção da solução, que foi posteriormente chamada de EY Helix GL Anomaly Detector ou Helix GLAD [8].

continue lendo aqui

[1] Não deixa de ser uma ferramenta de marketing. 

[2] As empresas de auditoria gostam de afirmar que isso não é tarefa delas. Parece contraditório, exceto se olharmos sob a ótica de estratégia de marketing. 

[3] Falta um rigor aqui, não? Uma pessoa da própria empresa que está vendendo a solução confirma que funciona. 

[4] Se quiser saber, compre. 

[5] Aqui destaca que a empresa já está no ramo há tempos. 

[6] Pesquisei ele no Google Acadêmico, que é uma base democrática de artigos. Posso estar enganado, mas não achei nenhum artigo na área. 

[7] Se quiser usar, pague

[8] A solução paga

21 agosto 2023

Ransomware durante a auditoria

O Banco Popular, que atua em Porto Rico, mandou a seguinte correspondência para seus clientes: 

Escrevemos para informar que um dos nossos fornecedores, PricewaterhouseCoopers (PwC), foi vítima de uma violação de cibersegurança que incluiu certas informações pessoais dos nossos clientes. A violação envolveu a comprometimento de um software, o MOVEit, usado pela PwC para transferir arquivos para um pequeno número de seus clientes, incluindo o Banco Popular de Porto Rico (Popular).


Como uma corporação pública que negocia no mercado de ações, o Popular é obrigado a utilizar os serviços de uma empresa de auditoria e contabilidade, como a PwC. A tarefa de auditar o Popular requer, devido à sua natureza, que o Popular compartilhe informações dos clientes para que a PwC possa realizar certas validações independentes necessárias para que o Popular emita demonstrações financeiras.

Ao tomar conhecimento do incidente, a PwC imediatamente lançou uma investigação e cessou o uso do software afetado. Como resultado desta investigação, foi determinado em 24 de julho de 2023, que certos arquivos comprometidos no incidente incluíam informações pessoais dos nossos clientes. As informações pessoais comprometidas incluem o seu nome, número de Seguro Social, número de empréstimo hipotecário terminando em [número], e campos relacionados a hipotecas.

Parece que a PwC não foi a única a usar o software com um ransomware (é um tipo de ataque cibernético no qual os hackers infectam um sistema e exigem um pagamento para restaurar o acesso aos dados ou sistemas afetados). No caso do Banco Popular, foram 82 mil clientes que podem ter sido infectados. Mas tudo leva a crer que Deloitte e EY – mas não a KPMG – também tiveram este problema. O Banco Popular deu detalhes do caso, o que já não ocorreu com o Bank of America, auditado pela EY, por exemplo. 

Foto: Muha Ajjan e Unsplash+

04 abril 2023

Wirecard: EY punida

Fonte da imagem: Aqui

Em 2020 comentamos aqui no blog sobre como a EY sabia da fraude da Wirecard. Como desdobramento, agora a empresa foi multada em 500 mil euros e proibida de assinar novos contratos na Alemanha por dois anos. Adicionalmente, cinco auditores, cujos nomes não foram revelados, receberam multas variando entre 20 mil e 300 mil euros.

Em “A saga da Wirecard continua”, explicamos: A empresa Wirecard entrou em colapso em 2020 e a história guarda alguns segredos ainda não revelados. Questiona-se sobre o papel de um "espião" entre os executivos da empresa, a incompetência da entidade responsável pela fiscalização do mercado de capitais do país e o lugar da contabilidade neste drama. O escândalo só foi revelado depois de uma série de reportagens do Financial Times. Logo no início, o regulador tentou frear a investigação do jornal. Mas uma investigação realizada por outra empresa de auditoria revelou uma diferença na conta caixa da empresa de quase 2 bilhões de euros.

A empresa EY era responsável pela auditoria da Wirecard e não viu a ausência de 2 bilhões.

21 fevereiro 2023

Papel da auditoria no setor público

Audits are a common mechanism used by governments to monitor public spending. In this paper, we discuss the effectiveness of auditing with theory and empirics. In our model, the value of audits depends on both the underlying presence of abuse and the government’s ability to observe it and enforce punishments,making auditing most effective in middling state-capacity environments. Consistent with this theory, we survey all the existing credibly causal studies and show that government audits seem to have positive effects mostly in middle-state-capacity environments like Brazil. We present new empirical evidence from American city governments, a high-capacity and low-impropriety environment. Using a previously unexplored threshold in federal audit rules and a dynamic regression discontinuity framework, we estimate the effects of these audits on American city finance and find no marginal effect of audits.

Apesar do trabalho não usar dados do Brasil, é interessante a modelagem do valor da auditoria. A relação entre o valor da auditoria e a capacidade do Estado encontra-se na figura abaixo:




15 janeiro 2023

Americanas

Domingo, 15 de janeiro. O grande fato da semana na área contábil brasileira, talvez o grande fato no ano, é a questão da empresa Americanas. Após minhas diversas leituras sobre o assunto, decido fazer esta postagem tratando dos principais atores do caso. 

Recapitulando, logo após assumir o cargo de principal executivo da empresa de varejo Americanas, Sérgio Rial, em conjunto com o executivo de finanças da empresa, Andre Covre, disse que a empresa estava com algumas “inconsistências contábeis”, no valor estimado de 20 bilhões de reais. A notícia pegou muitos de surpresa e, logo após o comunicado, Rial e Covre deixaram a empresa. Este seria um breve resumo da situação. Vamos olhar agora os principais personagens da história.

Sérgio Rial (e Andre Covre) – este talvez seja o personagem mais interessante do enredo. Vindo do Santander, onde comandou a importante instituição financeira durante anos, Rial foi contratado para  melhorar a empresa. Por sua rede de contatos e ter origem bancária, é possível que Rial já conhecesse o problema da empresa, antes de 2023. Em alguns textos, Rial aparece como alguém que “descobriu” as inconsistências com alguns dias no cargo. Mas eu desconfio seriamente se realmente foi uma descoberta ou se Rial talvez só tenha percebido a dimensão do problema quando assumiu o cargo. Durante a conferência, na qual a notícia chegou ao público, Rial usou a terminologia “inconsistência”, mas comentou que era “não material”. Mas um valor de R$20 bilhões de inconsistência, mesmo em uma empresa do porte das Americanas, é certamente material. 

Após o anúncio, Rial deixou a empresa e foi trabalhar na 3G. Isto é muito estranho para quem está olhando o que ocorreu nos últimos dias. Afinal, a 3G é a principal acionista da empresa e Rial foi o “responsável” por uma grande perda. 

3G – A 3G Capital possui participações na Inbev e também na Kraft, que fez uma despesa com goodwill, em razão do teste de impairment, no valor de 15 bilhões de dólares, que resultou em uma investigação da SEC e multa do regulador. Há alguns meses a 3G, grande controladora das Americanas, fez uma mudança societária, na qual sua participação foi reduzida. Logo após o anúncio sobre as "inconsistências", a 3G divulgou um reforço de capital, que irá elevar sua participação acionária. Se a 3G perdeu com a queda das ações, o reforço de capital pode ser feito em um momento propício. Mas, novamente: qual a razão de contratar Rial para a 3G? 

Governança Corporativa da empresa – Rial assumiu o posto no lugar de Miguel Gutierrez, que foi funcionário da empresa, e seu principal executivo, durante anos. A cultura da empresa era caracterizada por uma boa remuneração para seus principais funcionários em renda variável, especialmente ações da própria entidade. Uma característica de gestão da 3G é observar o comportamento dos seus funcionários através de metas e uma forte pressão para atingir os objetivos determinados. Isto cria um ambiente propício para um esforço enorme da gestão, mas também induz a todo tipo de manipulação. Se existia inconsistência contábil, onde estava o Conselho Fiscal da empresa ou os gestores anteriores? Certamente o problema começou bem antes de 2022 e cabe investigar de que forma a cultura organizacional da empresa teve seu papel de destaque. 

Reguladores – Logo após as primeiras notícias, a Comissão de Valores Mobiliários e o Conselho Federal de Contabilidade vieram a público para responder ao assunto. A CVM já instalou processos e esperamos que isto resulte em punição, inclusive pecuniária. O CFC, sempre avesso à polêmica, saiu com um comunicado usando o termo “inconsistência”, indicando que comprou o enredo da empresa. Mas não sabemos se haverá um processo instaurado. Esperamos que o CFC não seja omisso. 


Auditor – Deixe este para o final, pois a atuação da PwC tem sido criticada de várias formas. A empresa, até esta data, não tem nenhum comunicado sobre o assunto na sua página oficial, o que é uma frustração. Logo após o anúncio, algumas pessoas fizeram um prognóstico apressado sobre a sobrevivência da empresa. O caso não irá ameaçar esta Big Four. Afinal, a PwC auditava a Petrobras e todos sabemos como aquilo deveria ser o fim do poço para uma empresa auditoria e nada ocorreu. Talvez pague um pequena multa, em relação ao seu faturamento, para o regulador e tenha seus auditores suspensos da função. Mas algo mais? Não creio. Neste momento, seria importante discutir o modelo de auditoria que adotamos no mundo capitalista. Mas isto não irá ocorrer, sendo realista. 

18 dezembro 2022

Auditoria e a lavagem verde

Falando noContabilização da sustentabilidade (A4S) Summit, Jane Diplock AO, diretora da Singapore Exchange Regulatory Company, disse aos espectadores que "auditoria rigorosa" com "garantia razoável e garantia não limitada" é vital para combinar uma lavagem verde. 

"Se os dados não corresponderem a realidade, eles devem ser revelados no relatório de auditoria a investidores e outras partes interessadas", acrescentou. 



Jean-Paul Servais, presidente da Organização Internacional das Comissões de Valores Mobiliários (IOSCO), enfatizou que a auditoria de alta qualidade ajudará a mitigar a lavagem verde que ameaça "erodificar" a confiança no investimento sustentável. 

A auditoria pode ser empregada para "proteger os mercados financeiros", acrescentou Servais. 

(...) Servais delineou os planos da IOSCO de endossar os padrões globais de linha de base do International Sustainability Standards Board (ISSB) para divulgação de sustentabilidade. 

O ISSB foi criado pela International Financial Reporting Standards Foundation (IFRS) na COP26 para fornecer uma linha de base global de divulgações de sustentabilidade para atender às necessidades do mercado de capitais. 

O ISSB emitirá seus padrões para divulgação climática e requisitos gerais no início de 2023 com a Servais esperando que os padrões globais de divulgação e auditoria estejam prontos para uso pelas empresas até o final de 2024. 

Servais diz que a IOSCO e seu Grupo de Monitoramento trabalharão ao lado do ISSB para continuar o desenvolvimento de padrões globais de sustentabilidade e "aproveitar o momento". (...)

Fonte: aqui. foto: Markus Spiske

17 dezembro 2022

Auditoria de criptomoedas em crise

Logo depois dos problemas com a FTX, a Mazars, uma empresa de contabilidade, que também faz auditoria, retirou o serviço de provas de reservas. Uma empresa de auditoria tem como ativo sua reputação. A pergunta relevante: será que Mazars não estava segura do serviço que prestava? Eis a reportagem:

A corretora de criptomoedas Binance, a maior do setor, teve a auditoria de suas provas de reserva (proof-of-reserves, em inglês) removidas do site da Mazars alguns dias após a empresa realizar a comprovação de liquidez.

O site oficial da Mazars mostra que a companhia descontinuou totalmente o Mazars Veritas, uma seção dedicada a auditorias de exchanges. A plataforma foi desenvolvida para trazer “confiança e transparência ao setor de ativos digitais”, usando a ferramenta Silver Sixpence Merkle Tree Generating para complementar os relatórios PoR.

Em 16 de dezembro, a Bloomberg também relatou que a Mazars interrompeu a prestação de serviços PoR para empresas de criptomoedas. Algumas outras empresas de auditoria, como a Armanino, responsável pela auditoria da FTX, também pararam de trabalhar com exchanges como a OKX e a Gate.io.

A Mazars ficou mais conhecida por ser a firma de contabilidade que presta serviços para a empresa do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump. A companhia de auditoria foi nomeada como a auditora oficial da prova de reservas da Binance no final de novembro.

Várias corretoras de criptomoedas rivais, incluindo a KuCoin e a Crypto.com, seguiram o exemplo da Binance e contrataram a Mazars para auditar suas provas de reservas.

O CEO da Binance, Changpeng Zhao, reagiu rapidamente à notícia pelo Twitter, repostando a publicação de um usuário: “Fazer uma declaração sobre porque uma empresa de auditoria decidiu parar de trabalhar com criptomoedas? Pergunte a eles".

CZ, como o CEO é conhecido, também usou o Twitter para sugerir que as redes blockchain são transparentes por padrão, afirmando que “blockchains são registros públicos e permanentes. É um livro-razão auditável".

A Mazars havia confirmado em 7 de dezembro que a Binance possuía 575.742 bitcoins em suas reservas, no valor de cerca de US$ 9,7 bilhões. Entretanto, o relatório também foi removido do site da auditora.

Alguns especialistas em finanças viram imediatamente algumas bandeiras vermelhas no relatório auditado da Binance. Um ex-membro do Conselho de Normas de Contabilidade Financeira dos EUA argumentou que o relatório divulgado carecia de dados sobre a qualidade dos controles internos da empresa e sobre a forma que os sistemas da corretora de criptomoedas liquidam ativos para cobrir empréstimos de margem.

Em nota à EXAME, a Binance disse que "a Mazars informou que fará uma pausa temporária em seu trabalho com todos os seus clientes cripto em âmbito global, entre eles Crypto.com, KuCoin, e Binance. Infelizmente, isto significa que não poderemos trabalhar com a Mazars por enquanto".

"Nossos usuários querem saber que seus fundos estão seguros e que nosso negócio é financeiramente robusto. Sobre esse aspecto, a estrutura de capital da Binance é livre de dívidas e, na última semana, a Binance passou por um teste de estresse que dá à comunidade conforto extraordinário de que seus fundos estão seguros. Apesar do grande número de saques entre 12 e 14 de dezembro, somando US$ 6 bilhões em saques líquidos nesses três dias, fomos capazes de executá-los sem problemas", observou a corretora de criptoativos.

A empresa disse ainda que está empanhada em ser "ainda mais transparente", e está " analisando a melhor forma de fornecer essas informações nos próximos meses". "Foi a falha da FTX em garantir que os ativos da exchange fossem maiores do que seus passivos com clientes que causou sua falência. Então, é natural as pessoas quererem se certificar de várias maneiras de que isso não acontecerá novamente".

28 novembro 2022

FTX e a auditoria

O AccountingWeb traz um texto relacionando o colapso da FTX com a auditoria. Mas como lembra Philip Fisher, o autor do texto, nenhuma das Big Four estava envolvida no problema. O que talvez seja algo estranho em razão dos últimos escândalos contábeis de grande porte, com a excesso de Madoff. 

Entre os problemas contábeis encontrados na empresa FTX destaca-se a questão da entidade. Parece que o executivo maior da empresa tratava o dinheiro da FTX como seu, usando o dinheiro para comprar imóveis na Bahamas e nas apostas em criptomoedas da Alameda Research. 


A responsabilidade pela auditoria era da Armanino e Prager Metis. Não é um nome conhecido no mercado. Mas assim como o auditor de Madoff era desconhecido, a presença desta empresa pode ter facilitado a fraude. Afinal um empresa com ativos de bilhões de dólares poderia ser auditada por alguém sem reputação? Mas seria isto mesmo? Veja o que diz o texto:

Armanino é uma das 25 maiores empresas independentes de consultoria em contabilidade e negócios nos Estados Unidos, com 21 escritórios geralmente pequenos em todo o país, mas principalmente na Califórnia.

Eis o que diz a empresa:

Com Armanino pode-se pensar estrategicamente e fornecer informações sólidas que levem a uma ação positiva. Abordamos não apenas seus problemas de conformidade, mas também seus desafios comerciais subjacentes.

Já a Prager Metis “é uma empresa internacional de consultoria e contabilidade com mais de 100 parceiros e diretores, mais de 600 membros da equipe e 24 escritórios em todo o mundo”. 

Não eram tão pequenos assim os auditores da FTX. 

(É interessante notar que no verbete da FTX na Wikipedia a palavra "audit" não era citada até o dia de hoje)

11 novembro 2022

Auditorias de empresas chinesas com ações negociadas na bolsa

Segunda a Bloomberg (via aqui), as autoridades na área de auditoria nos Estados Unidos concluíram a primeira fase da inspeção de empresas chinesas com ações negociadas no mercado acionário americano. Funcionários do PCAOB estiveram em Hong Kong, cumprindo um cronograma previsto entre os dois países. Mas ainda não é possível afirmar se existe ou não aprovação da contabilidade das empresas, já que este é um estágio inicial do trabalho do PCAOB.

O trabalho começou em setembro e logo no início as autoridades chinesas solicitaram a ocultação de nomes, endereços e salários, informou a Bloomberg. Mas os funcionários que estavam fazendo a inspeção de auditoria tiveram acesso aos documentos.

O trabalho do PCAOB é previsto na legislação dos EUA desde 2002, mas a China e Hong Kong negavam o acesso às informações. Uma nova lei, de 2020, forçou um compromisso das autoridades chinesas, já que existia o risco de deslistagem das empresas asiáticas da bolsa.

13 agosto 2022

Auditoria força a saída da NYSE de estatais chinesas

Um desdobramento esperado do impasse sobre a auditoria de empresas chinesas com ações negociadas na Bolsa dos Estados Unidos: quatro estatais anunciaram que irão sair da bolsa. 

A saída da bolsa de Nova York não significa o fechamento de capital, mas o cancelamento das negociações no mercado dos Estados Unidos. Outras empresas, como Alibaba e Baidu, estão esperando o desdobramento. 

Washington têm exigido há tempos acesso completo aos registros contábeis de empresas chinesas listadas nos EUA, mas Pequim proíbe a inspeção estrangeira de documentos de auditoria por empresas de contabilidade locais, citando preocupações de segurança nacional.

11 agosto 2022

Auditoria pós pandemia

O Conselho de Relatórios Financeiros (FRC) anunciou recentemente planos revisar a governança corporativa no Reino Unido e, além disso, publicar orientações para auditores - o primeiro do gênero no Reino Unido - para ajudar a melhorar a maneira como eles exercem julgamento profissional. (...)

As auditorias que foram manchetes recentemente no Reino Unido são de contas registradas antes da pandemia ocorrer no início de 2020, supostamente quando todos os freios e contrapesos necessários estavam em vigor e práticas de trabalho firmemente estabelecidas. Consultas como essas, e revisitando padrões em intervalos regulares em geral, proporciona uma oportunidade de aprender com as experiências passadas e melhorar a orientação para o futuro, particularmente se eles não tivessem orientação ou fossem inadequados para lidar com situações que não estavam previstas quando os padrões foram elaborados ou atualizados pela última vez, que em alguns casos pode ser um tempo considerável atrás.

Pressões pandêmicas

(...) As práticas de trabalho mudaram e, com isso, controles, freios e contrapesos foram alterados, substituídos ou rasgados por equipes e funcionários de gerenciamento de clientes de auditores, geralmente em um espaço de tempo incrivelmente curto, aumentando o risco de erros e potencialmente fraudes, intencionais ou não. Olhando para trás, durante a Grande Crise Financeira (CG) de 2007/8, houve um aumento significativo na gerência intermediária cometendo fraudes, enquanto lutavam para manter seus padrões de vida na medida que os bônus caíam e os empregos eram perdidos.

Isso levanta a questão importante de saber se as expectativas existentes dos auditores e reguladores são razoáveis nessas situações extremas e existe uma lacuna crescente entre as expectativas elevadas sobre a qualidade da auditoria, principalmente quando estão envolvidas entidades de interesse público (PIEs) e seus revisores oficiais de contas? Talvez haja um novo nível de incerteza que deva ser refletido em contas que atualmente não estão alinhadas com as orientações, ceticismo e expectativas das partes interessadas. Ou eles precisam ser lembrados de que a gerência e os auditores não têm bolas de cristal e, simplesmente, porque uma empresa falha não significa necessariamente que alguém foi negligente ou não foi cético?

Qualquer que seja o resultado das revisões no ISA600 e ISA 570 (revisado) e o impacto de novas orientações, o setor de auditoria se encontra em uma posição muito diferente daquela em que entrou na pandemia e as mudanças necessárias estão no horizonte.

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