Recentemente, o presidente dos Estados Unidos demitiu Erika McEntarfer do Bureau of Labor Statistics (BLS), acusando-a de manipular os dados. Os números não eram agradáveis e isso irritou o presidente. Não foi o primeiro, nem será o último caso em que isso ocorre. E, até onde se sabe, as acusações são infundadas.
Mas a decisão de Trump traz, pelo menos, quatro consequências ruins. Em primeiro lugar, desloca o debate do assunto mais relevante — o desemprego — para outro tema, que seria a manipulação dos dados. Funciona como uma distração. Em segundo lugar, abre a oportunidade de difamar os números toda vez que eles não forem favoráveis. O fato de considerar que há parcialidade no processo, por razões políticas, poderá trazer desconfiança em resultados futuros. Em terceiro lugar, os apoiadores da visão política do presidente irão desconfiar dos dados a partir de agora e usarão esse argumento em toda discussão. Em quarto lugar, os dados são usados em decisões, inclusive de investimento. Como os números futuros estarão sob desconfiança, os tomadores de decisão podem levar isso em consideração. Geralmente, os dados de emprego afetam o mercado acionário; mas isso poderá perder força, já que os números futuros serão produzidos sob desconfiança.
O que ocorreu com as estatísticas de emprego também pode acontecer na contabilidade. Imagine que os resultados divulgados pelas empresas sejam questionados pelo principal executivo da companhia por não serem confiáveis. Seria fruto de políticas contábeis — realmente são, mas com motivações escusas e manipulações. Haveria um descrédito nos números. Na verdade, isso já ocorre com a contabilidade há anos. Os executivos, quando apresentam os resultados, não falam no lucro líquido, mas em um tal de Ebitda. Eles estão dizendo que o número contábil foi manipulado. Só ainda não demitiram o contador, o auditor e os profissionais associados ao número contábil. Mas, nas informações, o executivo e o responsável pelas relações com investidores destacam o Ebitda, e não o lucro líquido, numa atitude semelhante à do presidente dos Estados Unidos.
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