26 agosto 2025
Rir é o melhor remédio
Austrália propõe certificação para auditorias de baixo risco
Do Financial Review, eis que interessante:
A Comissão de Produtividade quer que o governo apoie a proposta da CPA Australia para introduzir uma categoria de auditores registrados de empresas (Registered Company Auditors – RCAs) voltada a auditorias de baixo risco.
A sugestão, apresentada no relatório recente Building a skilled and adaptable workforce da comissão, faz parte de um conjunto de recomendações para reformar as regras de ingresso em profissões reguladas, que, segundo o documento, muitas vezes são inconsistentes, desnecessárias e onerosas.
Atualmente, a ASIC exige que os RCAs concluam:
-
pelo menos três anos de formação em contabilidade;
-
pelo menos dois anos de formação em direito;
-
um curso específico em auditoria;
-
além de comprovar experiência prática em competências de auditoria nos últimos três a cinco anos.
A CPA argumentou, em sua submissão à comissão, que essas exigências são excessivamente restritivas e “projetadas para auditorias grandes, complexas e de alto risco, como as de companhias abertas ou multinacionais”. Segundo a entidade, embora tais requisitos sejam adequados nesses casos, também existem obrigações legais para que RCAs executem auditorias de baixo risco, onde o nível atual de exigência encarece desnecessariamente o processo.
Não surpreende que, nos últimos 20 anos, o número de RCAs tenha caído de mais de 7.000 para cerca de 3.200, enquanto a demanda aumentou.
Como alternativa, a CPA sugeriu adotar o modelo de licenciamento em dois níveis utilizado na Nova Zelândia. Nesse regime, auditores que comprovem de 300 a 500 dias de experiência prática supervisionada em auditoria nos últimos cinco anos podem realizar atividades de asseguração de menor risco.
Imagem aqui
O que é importante no mundo de hoje
Com tanta coisa acontecendo no mundo, a existência de vários meios de comunicação anunciando tudo isso, e a notícia mais lida e comentada, segundo a Bloomberg, é... Taylor Swift.
25 agosto 2025
Erro de romantizar as pequenas e médias empresas
As pequenas e médias empresas (PMEs) são frequentemente idealizadas como o coração da economia local e importantes geradoras de emprego. Os valores irão depender do que você considera como PME.
No entanto, essa visão romântica oculta limitações estruturais: a fragmentação empresarial dificulta ganhos de produtividade, crescimento, inovação e a oferta de empregos de qualidade. Países mais avançados contam com um maior número de grandes empresas, que dinamizam a economia, exportam mais, investem em tecnologia e geram base fiscal robusta.
No texto citado acima temos o exemplo da Espanha: apesar de representarem apenas 0,2 % do total de firmas, empresas como Inditex e El Corte Inglés respondem por 40 % do emprego e mais da metade do valor agregado empresarial. Além disso, trabalhadores em grandes empresas ganham até 47 % mais, contam com melhores benefícios e menor precariedade.
Veja que na contabilidade o Brasil possui três padrões contábeis, sendo dois deles voltados para este nicho. Há aqui uma enorme quantidade de esforço de adaptar as normas contábeis adotadas por grandes empresas, sendo que na realidade a maioria delas quer entregar suas obrigações, pelo menor custo (informacional) possível.
Pintura aqui
Salários altos no setor público desperdiça talentos e reduz produtividade (incluindo no Brasil)
A remuneração para cargos públicos é mais alta em relação ao PIB per capita quanto mais pobre é o país. Em outras palavras, os funcionários públicos são mais bem pagos em países pobres. A compensação excessiva no setor público em países de baixa e média renda distorce os mercados de trabalho em duas dimensões: filas (busca de renda para conquistar os cargos) e má alocação (talentos e impostos desviados do setor privado).
Em meus dois textos Massive Rent-Seeking in India’s Government Job Examination System e The Tragedy of India’s Government-Job Prep Towns, chamei atenção para a primeira dimensão, as perdas de busca de renda decorrentes das filas. Os jovens mais educados da Índia — justamente aqueles de que o país mais precisa na força de trabalho — muitas vezes dedicam anos de suas vidas decorando conteúdo para concursos públicos em vez de trabalharem produtivamente. Esses exames não cultivam habilidades práticas e cidades inteiras se especializaram na preparação para provas. Argumentei, usando um cálculo aproximado, que apenas as perdas decorrentes da busca de renda poderiam facilmente chegar a algo em torno de 1,4% do PIB ao ano. Mais tragicamente, um grande número de jovens educados acaba inevitavelmente desiludido. Por fim, como os salários são tão altos, o Estado não consegue ampliar o quadro de pessoal; a Índia possui todas as leis de um país rico, mas com cerca de um quinto dos servidores públicos per capita.
Dois artigos macroeconômicos quantificam a outra dimensão da perda: quem acaba em qual setor.
Em The unintended consequences of meritocratic government hiring, Geromichalos e Kospentaris (GK) analisam as consequências dos salários excessivamente altos no setor público da Grécia. Já em (MIS)Allocation Effects of an Overpaid Public Sector, Cavalcanti e Santos estudam o caso do Brasil.
Ambos os trabalhos modelam a alocação de trabalho entre os setores público e privado e destacam o custo de atrair trabalhadores de alta produtividade para os cargos governamentais.
GK resumem seus resultados para a Grécia:
Em muitos países, os funcionários públicos desfrutam de considerável estabilidade no emprego e esquemas de remuneração generosos; como resultado, muitos trabalhadores talentosos optam por atuar no setor público, privando o setor privado de empregados potencialmente produtivos. Isso, por sua vez, reduz os incentivos das empresas para criar empregos, aumenta o desemprego e reduz o PIB… [Ao calibrar o modelo para a Grécia], constatamos que uma queda de 10% nos salários do setor público resulta em um aumento de 3,8% na produtividade do setor privado, uma queda de 7,3% no desemprego e um aumento de 1,3% no PIB.
CS relatam distorções semelhantes no Brasil:
Nossos exercícios contrafactuais demonstram que o prêmio salarial público-privado pode gerar efeitos importantes de alocação e perdas significativas de produtividade. Por exemplo, uma reforma que reduzisse o prêmio salarial público-privado de seu valor de referência de 19% para 15% e que alinharia a aposentadoria dos trabalhadores do setor público à vigente no setor privado poderia aumentar a produção agregada em 11,2% no longo prazo, sem qualquer redução na oferta de infraestrutura pública.
Curiosamente, no modelo de GK não há desperdício com busca de renda (rent-seeking), pois assume-se que os trabalhadores conseguem prever perfeitamente os resultados dos exames e se direcionam diretamente para o setor privado ou público. No meu modelo para a Índia, em contraste, o desperdício surge justamente dos anos de preparação infrutífera para os concursos. GK também concluem que reduzir o número de cargos públicos pode aumentar a eficiência, enquanto minha visão é que, na Índia, os altos salários tornam paradoxalmente o setor público pequeno demais (limitando, em certa medida, a má alocação). CS também se concentram na questão da alocação mas, ao contrário de GK, estimam que as perdas com rent-seeking são enormes — cerca de três vezes a minha estimativa conservadora:
O custo agregado das candidaturas a cargos públicos, que denominamos custo de rent-seeking, é elevado na economia de referência… aproximadamente 3,61% do produto.
Em Índia, Grécia e Brasil, a narrativa converge: pagar em excesso os funcionários públicos distorce a educação, a busca por empregos e a dinâmica das empresas. O desperdício se manifesta em esforços socialmente improdutivos voltados a ingressar na elite do funcionalismo, enquanto o setor privado é privado de talentos de ponta, tornando-se menos produtivo e crescendo mais lentamente. Em suma, rent-seeking e má alocação, decorrentes de uma remuneração governamental excessivamente generosa, geram grandes perdas macroeconômicas. Como a compensação relativa tende a ser maior quanto mais pobre é a economia, salários elevados no setor público podem se tornar uma armadilha de desenvolvimento.
Fonte: India, Greece, Brazil: How High Government Pay Wastes Talent and Drains Productivity - Alex Tabarrok
Imagem: Marajá
Mensuração dos custos climáticos torna-se mais sofisticada
Na medida em que a sociedade se interessa pelo impacto ambiental das mudanças recentes na Terra, novas tecnologias estão sendo desenvolvidas para estimar os custos climáticos. O LiDAR é uma dessas tecnologias.
Basicamente, a tecnologia — cuja sigla vem de Light Detection and Ranging — mapeia o solo com laser de alta resolução, por meio de drones e aeronaves, comparando imagens antes e depois dos eventos para identificar mudanças, mesmo que sutis, na superfície. Assim, os danos são quantificados mais rapidamente e com maior precisão do que pelas imagens de satélite.
No caso de Los Angeles, em janeiro de 2025, a tecnologia estimou a destruição de 16 mil estruturas, com perdas calculadas em 60 bilhões de dólares.
(Parabéns para o blogueiro, que não fez nenhum trocadilho do Lidar)