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13 setembro 2025

Epstein e o contador

Jeffrey Epstein foi um criminoso condenado que morreu na cadeia em 2019; oficialmente, sua morte foi considerada suicídio. Suas ligações com políticos poderosos e pessoas famosas o tornaram conhecido, assim como o esquema de recrutamento de meninas e jovens mulheres para exploração sexual. Dizia-se executivo, mas provavelmente parte de sua riqueza vinha dos serviços que prestava e do sigilo que mantinha.


Depois de morto, Epstein ainda provoca comoções. Antes de ser eleito, o presidente Donald Trump afirmou que revelaria o “arquivo Epstein”, mas, até o momento, nada foi feito.

Se o Serviço Secreto não mostra o que tem, a imprensa conseguiu acessar e-mails dele no Yahoo e obteve mais de 18 mil mensagens, especialmente entre 2005 e 2008. Na correspondência, foi encontrada uma planilha de um contador com aproximadamente dois mil presentes, compras e pagamentos, totalizando cerca de 1,8 milhão de dólares.

Simplificação tributária é igual a desemprego? O caso de Callaghan

Encontrei a seguinte frase aqui:


Fifty years ago, in 1965, the Chancellor (Jim Callaghan) introduced his Budget Speech with the prophecy that he would so simplify the system that accountants would be put out of business. 

Mas será verdade? Jim Callaghan existiu e parece que lidou com a questão em 1965: em novembro, segundo a Wikipedia, ele anunciou um aumento no imposto sobre o lucro, sobre petróleo e a criação de um imposto de ganho de capital.  

Parece que ele realmente falou que o sistema tributário era complicado por ter dois impostos (income tax e profits tax) e, então, apresentou o corporate tax. No discurso de apresentação, parece ressaltar eficiência e simplificação, sem afirmar que os contadores estaria foram do sistema. Ele nem usou a palavra accountant.

Mas como é dito no blog que trouxe a lembrança de Callaghan:

Pouco mudou nos últimos 50 anos. Cada mudança tributária que pretende introduzir simplicidade no sistema acaba, da mesma forma, prejudicada por complexidade excessiva, omissões e “conceitos tacanhos”. 

Economia hiperinflacionária 2

Sobre a dificuldade de aplicação do IAS 29, segundo a Deloitte:


Os níveis mais elevados de inflação geral têm contribuído para o aumento do número de jurisdições sujeitas à hiperinflação (conforme definido na IAS 29 Financial Reporting in Hyperinflationary Economies). As entidades estão, portanto, enfrentando cada vez mais os seguintes desafios:

  • determinar se uma economia é hiperinflacionária, conforme definido na IAS 29, pode ser, por vezes, difícil. A definição inclui várias características da hiperinflação, como o fato de a taxa de inflação acumulada em três anos se aproximar ou ultrapassar 100%. Também pode ser desafiador decidir qual índice geral de preços deve ser aplicado aos valores nas demonstrações financeiras;

  • dificuldades em determinar a moeda funcional de uma entidade em circunstâncias nas quais tanto a moeda local quanto uma moeda internacional são de uso comum. Isso pode ser particularmente relevante quando a moeda local é hiperinflacionária. A IAS 29 aplica-se apenas às entidades cuja moeda funcional é a moeda de uma economia hiperinflacionária (e não a qualquer entidade que opere nessa economia). Deve-se observar ainda que a IAS 21 The Effects of Changes in Foreign Exchange Rates declara especificamente que “[u]ma entidade não pode evitar a reexpressão de acordo com a IAS 29 ao adotar, por exemplo, como sua moeda funcional, uma moeda diferente da determinada em conformidade com este Pronunciamento (como a moeda funcional de sua controladora)”;

  • quando há restrições às trocas entre a moeda local e moedas negociadas globalmente, pode ser difícil identificar uma taxa de câmbio adequada para a conversão de itens monetários em demonstrações financeiras individuais e para a conversão das demonstrações financeiras de uma operação no exterior para a moeda de apresentação de sua controladora. Embora essa questão não seja exclusiva de economias hiperinflacionárias, a escassez de moeda “forte” e, consequentemente, a necessidade de restrições cambiais são, frequentemente, características de economias cuja moeda local está perdendo valor.

Economias hiperinflacionárias


As economias hiperinflacionárias exigem a aplicação da norma IAS 29 'Financial Reporting in Hyperinflationary Economies'. Lembrando que a norma foi emitida pelo antigo Iasc, mas ainda está em vigor. Na norma há alguns indicativos de quando um país seria classificado como tal, a maioria subjetivos, como o uso de moeda estrangeira nas transações domésticas. E também existe uma regra objetiva, que seria uma inflação de 100% em três anos. 

Como não há uma definição expressa da classificação, na prática isso tem sido feito pelo International Practices Task Force (IPTF) do Centre for Audit Quality (CAQ), que monitora o status de economia hiperinflacionária. 

O mais recente documento do IPTF é de maio de 2025.  A lista também traz as explicações para a classificação. É bem verdade que o relatório do International Practices Task Force (IPTF) usa os critérios do ASC 830 (US GAAP). Para classificar uma economia como altamente inflacionária, considera-se uma taxa acumulada superior a 100% em três anos. De acordo com os dados do FMI, vários países se enquadram nessa categoria, incluindo Argentina, Egito, Etiópia, Gana, Haiti, Irã, Líbano, Malaui, Mianmar, Nigéria, Serra Leoa, Sudão, Suriname, Turquia, Venezuela e Zimbábue. Casos graves destacam-se no Líbano, com taxas acumuladas acima de 600%, na Venezuela, com mais de 1.400%, e no Zimbábue, que ultrapassou 8.000% em 2025. Outros países, como Burundi e Sudão do Sul, também passaram recentemente a ser classificados como altamente inflacionários. Além disso, Angola e Iêmen foram incluídos em categoria de monitoramento, com taxas entre 70% e 100% ou forte aceleração recente. 

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Educação

Fonte: aqui
 

12 setembro 2025

Palestrantes de um encontro sobre sustentabilidade: um comentário


 Eis o trecho da notícia:

A Fundação IFRS divulgou a lista de palestrantes do Simpósio Anual de Sustentabilidade IFRS, a ser realizado no dia 30 de outubro de 2025. O evento, sediado no Convene Sancroft, St. Paul's, em Londres, está com inscrições abertas para participantes virtuais e presenciais.

Entre os convidados estão a diretora de relatórios de sustentabilidade do grupo Nestlé, bem como a diretora de Relatórios de Sustentabilidade da Shell.
 

Interessante e provocativo ter duas das empresas que mais contribuem para o problema ambiental no mundo. Se a participação for no sentido de anunciar uma mudança de rumos, parece válido. Mas, se for apenas uma estratégia de marketing para suavizar o impacto das empresas, há o risco de o evento perder credibilidade.

Foto: aqui 

Efeito da desconfiança nos números

Recentemente, o presidente dos Estados Unidos demitiu Erika McEntarfer do Bureau of Labor Statistics (BLS), acusando-a de manipular os dados. Os números não eram agradáveis e isso irritou o presidente. Não foi o primeiro, nem será o último caso em que isso ocorre. E, até onde se sabe, as acusações são infundadas.


Mas a decisão de Trump traz, pelo menos, quatro consequências ruins. Em primeiro lugar, desloca o debate do assunto mais relevante — o desemprego — para outro tema, que seria a manipulação dos dados. Funciona como uma distração. Em segundo lugar, abre a oportunidade de difamar os números toda vez que eles não forem favoráveis. O fato de considerar que há parcialidade no processo, por razões políticas, poderá trazer desconfiança em resultados futuros. Em terceiro lugar, os apoiadores da visão política do presidente irão desconfiar dos dados a partir de agora e usarão esse argumento em toda discussão. Em quarto lugar, os dados são usados em decisões, inclusive de investimento. Como os números futuros estarão sob desconfiança, os tomadores de decisão podem levar isso em consideração. Geralmente, os dados de emprego afetam o mercado acionário; mas isso poderá perder força, já que os números futuros serão produzidos sob desconfiança.

O que ocorreu com as estatísticas de emprego também pode acontecer na contabilidade. Imagine que os resultados divulgados pelas empresas sejam questionados pelo principal executivo da companhia por não serem confiáveis. Seria fruto de políticas contábeis — realmente são, mas com motivações escusas e manipulações. Haveria um descrédito nos números. Na verdade, isso já ocorre com a contabilidade há anos. Os executivos, quando apresentam os resultados, não falam no lucro líquido, mas em um tal de Ebitda. Eles estão dizendo que o número contábil foi manipulado. Só ainda não demitiram o contador, o auditor e os profissionais associados ao número contábil. Mas, nas informações, o executivo e o responsável pelas relações com investidores destacam o Ebitda, e não o lucro líquido, numa atitude semelhante à do presidente dos Estados Unidos.

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Rir é o melhor remédio


 

11 setembro 2025

Estados Unidos pode exigir IFRS, mas só com conciliação com US GAAP


O presidente da SEC (Securities and Exchange Commission) dos EUA, Paul Atkins, advertiu que pode revogar a regra que permite a empresas multinacionais apresentarem seus demonstrativos financeiros segundo as IFRS sem a necessidade de reconciliação com o US GAAP.

Ele enfatizou que uma condição para manter essa dispensa é que a IFRS Foundation (entidade que supervisiona o IASB) tenha financiamento estável. Se não houver garantias de continuidade e qualidade no trabalho do IASB, ele alertou que pode ser preciso reavaliar a decisão tomada em 2007 de eliminar essa exigência de reconciliação.

Atkins também expressou preocupação sobre a expansão da missão da IFRS Foundation, principalmente com envolvimento em padrões de sustentabilidade via o ISSB (International Sustainability Standards Board). Ele defendeu que os padrões contábeis financeiros sejam mantidos focados em relatórios financeiros confiáveis, sem servir de “porta de entrada” para agendas políticas ou sociais.

Claramente um maior distanciamento com entre os Estados Unidos, leia-se Fasb, e os demais países do mundo, leia-se IFRS.  

Albânia quer colocar a IA no governo

Uma nova ministra da Albânia encarregada de cuidar dos contratos públicos será imune a subornos, ameaças ou tentativas de obter favores. Isso porque Diella, como é chamada, é um bot gerado por inteligência artificial.

O primeiro-ministro do país, Edi Rama, que está prestes a iniciar seu quarto mandato, disse nesta quinta-feira que Diella, que significa “Sol” em albanês, administrará todas as licitações públicas nas quais o governo contrata empresas privadas para vários projetos.

“Diella é o primeiro membro do gabinete que não está fisicamente presente, mas é virtualmente criado pela IA”, disse Rama durante um discurso de apresentação de seu novo gabinete. O bot ajudará a tornar a Albânia “um país onde as licitações públicas são 100% livres de corrupção“.

(...) Mas nem todo mundo está convencido da eficácia do sistema. Um usuário do Facebook disse: “Até a Diella será corrompida na Albânia.” Outro disse: “Os roubos continuarão e Diella será responsabilizada.”

Fonte: aqui


O uso de inteligência artificial na política desperta entusiasmo e desconfiança. Entre os principais desafios está a transparência: quem controla o algoritmo e define seus critérios de decisão? Sem clareza, há risco de reproduzir ou até ampliar vieses já existentes. Outro ponto crítico é a responsabilidade: se uma IA toma uma decisão equivocada, quem responde por suas consequências?

Uma leitura do livro Weapons of Math Destruction: How Big Data Increases Inequality and Threatens Democracy , de Cathy O’Neil, publicado em 2016, poderia ser útil nesse debate. 

Nesse cenário, a governança torna-se fundamental. Não se trata apenas de regular a tecnologia, mas de garantir mecanismos de supervisão humana, auditoria independente e participação social nos processos. A governança deve equilibrar eficiência e inovação com princípios democráticos, preservando a legitimidade das decisões políticas. Afinal, substituir ou apoiar políticos com IA só fará sentido se for para fortalecer — e não fragilizar — a democracia.

 

Salve o Corinthians


O Corinthians fechou o primeiro semestre de 2025 com um déficit de cerca de R$ 60 milhões, o que elevou a dívida bruta do clube para aproximadamente R$ 2,6 bilhões. O principal fator para esse resultado negativo foi o alto gasto com pessoal, incluindo salários, direitos de imagem e encargos, que superaram em muito as projeções. Apesar de contar com receitas expressivas vindas de televisão, patrocínios, bilheteria e transferências de jogadores, o montante arrecadado não foi suficiente para equilibrar as contas, sobretudo diante das despesas do clube social e dos esportes amadores.

Leia mais aqui. A impressão que tenho é que o clube precisa de um choque de gestão, o que inclui uma condução mais séria e organizada das suas finanças. Os mesmo dirigentes de sempre só fazem agravar a crise. 

XI ACG - II


Ainda sobre o evento, que ocorrerá de 17 a 19 de setembro de 2025, em Brasília. Os palestrantes presentes no evento.

O congresso conta com o patrocínio do Banco do Brasil, da Caixa e do Governo Federal, além da promoção do Sebrae e da organização da Finatec. Também recebe o apoio do CRCDF, do CFC, do CNPq e do Banco do Brasil.

Este evento surgiu no âmbito do Programa de Pós-graduação em Ciências Contábeis e ganhou muita força ao longo do tempo. Já tivemos a presença de dois nomes que fazem parte do Hall da fama da Ohio University.  

XI ACG


Entre os dias 17 e 19 de setembro de 2025, Brasília será palco de mais uma edição do UnB Accounting & Governance Conference (ACG). O evento, que chega à sua 11ª edição, já se consolidou como um dos principais espaços de debate acadêmico sobre contabilidade e governança no Brasil. A programação deste ano mostra um equilíbrio entre temas clássicos da área e discussões atuais que atravessam fronteiras acadêmicas e sociais.

Dia 17 – Abertura e Sustentabilidade em foco

O congresso começa com o Consórcio Doutoral, espaço essencial para jovens pesquisadores trocarem experiências e receberem feedback qualificado.
À tarde, a Palestra Magna será ministrada por Katherine Schipper (Duke University), referência mundial em pesquisa contábil, discutindo sustainability reporting from a financial reporting perspective. Um tema que conecta diretamente os relatórios financeiros às crescentes demandas por transparência socioambiental.
Na sequência, os participantes poderão escolher entre dois debates de peso: o Painel sobre regras fiscais, conduzido por Selene Peres Nunes, e o Workshop sobre a nova IFRS 18, com Silvio Hiroshi Nakao.

Dia 18 – Inteligência Artificial, digitalização e recursos naturais

A manhã do segundo dia abre com duas atividades paralelas. De um lado, o Painel sobre inteligência artificial e tomada de decisão, liderado por Daniel Cajueiro (UnB). De outro, o Workshop sobre pesquisa qualitativa, com Niamh Brennan (University College Dublin). Logo depois, a Plenária 1 traz Dorota Dobija (IESE Business School) discutindo os lados “claros e escuros” da digitalização na contabilidade e auditoria. À tarde, além das tradicionais sessões paralelas de artigos, o destaque é a Plenária 2, novamente com Niamh Brennan, sobre extração e esgotamento de recursos naturais no Sul Global — um tema que extrapola a contabilidade e toca dimensões sociais, políticas e ambientais. O dia se encerra com o Painel dos patrocinadores sobre risco e um coquetel de confraternização.

Dia 19 – Novas fronteiras da pesquisa

O último dia dá destaque à produção acadêmica. Pela manhã, o Fórum de Editores de Periódicos discute o uso da inteligência artificial na produção científica, enquanto Katherine Schipper conduz um workshop sobre os efeitos econômicos das normas contábeis. Depois do coffee break, Dorota Dobija retorna com um workshop inovador sobre o uso de fotografias em pesquisas qualitativas. O encerramento fica por conta de novas sessões paralelas de artigos e da cerimônia de fechamento, coroando três dias intensos de troca de conhecimento.

10 setembro 2025

Estrutura Conceitual: enxuta ou detalhada?


A Estrutura Conceitual do IASB/CPC vive um dilema curioso. De um lado, existe a tentação de mantê-la curta e objetiva, uma espécie de documento simples que orienta sem complicar. Essa escolha traz clareza, facilita a leitura e cumpre bem a função de guia geral para acadêmicos, reguladores e profissionais. Mas, ao ser concisa demais, a Estrutura corre o risco de deixar de fora pontos essenciais e abrir espaço para diferentes interpretações.

Do outro lado, há a opção de detalhar cada vez mais. Isso permitiria enfrentar lacunas que ainda persistem, como a discussão sobre manutenção de capital, a definição explícita de unidade de medida ou mesmo a questão da periodicidade. O problema é que, quanto mais a Estrutura cresce — já são cerca de 30 mil palavras — mais ela se aproxima de virar um documento denso. E grandes documentos estão mais sujeitos a erros, incoerência, falta de consistência e outros problemas. 

Quando pensamos no dilema da Estrutura Conceitual do IASB — ser curta e objetiva ou crescer para preencher lacunas — há um detalhe importante que não pode ser ignorado: a posição hierárquica da EC. Ela está abaixo de um pronunciamento e, muitas vezes, é tratada quase como um apêndice sem grande importância. Se esse papel secundário é real, faria sentido optar pelo caminho mais simples: um documento enxuto, sem ambições de resolver tudo.

Por outro lado, a história mostra que a EC já influenciou mudanças em normas, revelando que talvez não seja tão irrelevante quanto aparenta. Afinal, se ela é o fio condutor que deveria dar coesão às normas, não seria lógico aproveitar esse espaço para tratar de temas ainda nebulosos, como os princípios da evidenciação ou a distinção entre materialidade e relevância? Um documento que conseguisse esclarecer essas bases teria impacto direto na aplicação da técnica contábil.

Uma tendência recente dos reguladores é alongar as explicações, sendo redundantes, exemplificando e incorporando novas seções, como glossários ou FAQs. Tendências como essa parecem indicar que os reguladores são remunerados pelo número de palavras redigidas na estrutura, e não pela concisão e objetividade. É essa contradição que alimenta o dilema sobre seu futuro: manter-se simples ou assumir, de vez, sua relevância.

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Rir é o melhor remédio


 Fonte: aqui

Darwin e IA


Um site que documenta os maiores fracassos em tecnologia relacionados à Inteligência Artificial, destacando como a arrogância humana frequentemente colide com a ineficiência das máquinas. O portal lista os “desastres mais bobos” envolvendo IA no ano, incentivando leitores a enviar novas indicações. A ideia é transformar essas falhas em material educativo — como alerta: “A decisão de IA catastrófica de hoje pode bem ser a vencedora do Darwin Award de amanhã!”

Um dos nominados envolvendo o tema importante para contabilidade, a fraude:

A Inovação

Nosso visionário Superhost do Airbnb descobriu o que acreditava ser o casamento perfeito entre tecnologia moderna e espírito empreendedor: usar geração de imagens por IA para fabricar provas de danos à propriedade no valor de mais de £12.000. Para quê se preocupar com danos reais quando a inteligência artificial poderia criar destruição muito mais convincente?

A Catástrofe

O plano espetacular envolvia enviar imagens manipuladas digitalmente mostrando grandes danos a uma mesa de café, junto com alegações de colchões manchados de urina, eletrodomésticos destruídos e diversos outros reparos caros. A obra-prima do anfitrião incluía várias fotos da mesma mesa exibindo diferentes tipos e padrões de danos — um nível de inconsistência que faria até editores de fotos amadores chorarem.

As Consequências

Inicialmente, a equipe de investigação do Airbnb mostrou-se tão pouco criteriosa quanto o anfitrião foi criativo, ordenando que o hóspede acadêmico, baseado em Londres, pagasse £5.314 em indenização com base em sua “análise cuidadosa das fotos”. No entanto, quando o The Guardian entrou no caso e a vítima apontou as discrepâncias óbvias entre imagens do mesmo objeto, o Airbnb subitamente desenvolveu a capacidade de reconhecer que casos falsos não atendem a padrões mínimos de evidência.

Por que Foi Nomeado

Este caso representa a tempestade perfeita da má utilização da IA: um humano confiantemente usando IA para cometer fraude, combinado com sistemas de investigação assistidos por IA que não detectaram manipulações óbvias. Nosso indicado demonstrou que, com grande poder da IA, vem absolutamente nenhuma responsabilidade — enquanto os sistemas do Airbnb mostraram que a inteligência artificial é perfeitamente capaz de ser tão ingênua quanto os humanos, apenas mais cara.

Evidenciação da voz

Do JAR: 


 Examinamos a utilidade de abordagens de aprendizado de máquina para medir o tom vocal em divulgações corporativas. Documentamos uma discrepância substancial entre os dados de treinamento amplamente adotados, baseados em atores, que fundamentam essas abordagens, e a fala em divulgações corporativas. Constatamos que os modelos existentes alcançam classificação de tom vocal quase perfeita dentro de seu domínio de treinamento. No entanto, quando testados em discursos reais de executivos durante teleconferências, seu desempenho cai para níveis próximos ao acaso. Assim, introduzimos o **FinVoc2Vec**, um modelo de deep learning que se adapta a gravações de teleconferências e classifica o tom vocal de executivos de forma significativamente mais precisa do que o acaso. As estimativas do FinVoc2Vec estão associadas ao desempenho futuro das empresas e podem ser usadas para construir carteiras de ações lucrativas. Em nossas análises, as estimativas de modelos anteriores de tom vocal mostraram-se em grande parte não relacionadas ao desempenho das firmas. Nossos achados enfatizam a importância de uma abordagem específica ao domínio para a análise de voz em contabilidade e finanças.

Listen Closely: Measuring Vocal Tone in Corporate Disclosures
Jonas Ewertz, Charlotte Knickrehm, Martin Nienhaus, Doron Reichmann 

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A sazonalidade de IA


Conforme reportado pelo Sherwood News, o uso do ChatGPT começa a aumentar novamente agora que estudantes do ensino médio e universidade retornam às aulas neste outono de 2025. Dados compartilhados pelo Voronoi indicam uma queda marcante no uso durante os meses de verão: o número diário de tokens gerados passou de cerca de 97 bilhões em maio para 36,7 bilhões em junho, período que coincide com o fim dos semestres e o início das férias. Com o retorno às aulas, observa-se uma retomada do uso, sugerindo que os estudantes constituem uma porção significativa dos usuários do ChatGPT. Esse padrão ressalta como o chatbot se tornou um recurso amplamente utilizado no contexto acadêmico — possivelmente como ferramenta auxiliar em tarefas escolares — e levanta preocupações quanto à dependência da tecnologia para fins educativos.

IA fez aumentar os recibos falsos de despesas nas empresas


Uma consequência da IA: recibos falsos de despesas para serem reembolsados pelas empresas; 

A Association of Certified Fraud Examiners, que certifica cerca de 5.000 novos examinadores por ano, pede regularmente a seus membros que relatem o maior caso de fraude ocupacional investigado nos últimos 18 meses. Na pesquisa mais recente, cerca de 13% dos casos envolviam funcionários que apresentaram despesas infladas ou inventadas, o que pode levar a acusações criminais. A perda mediana foi de US$ 50.000.

Recibos falsos tornam isso mais fácil. Aproximadamente 30% dos recibos fraudulentos que a AppZen detecta agora são gerados por chatbots de IA, em vez de editores de imagem ou serviços de modelos, disse a empresa. E o número total de recibos fraudulentos detectados aumentou cerca de 30% desde maio de 2024. A Expensify afirmou que detecta centenas de recibos gerados por IA a cada mês, entre os milhões que processa. A SAP Concur sinalizou cerca de 1% dos recibos auditados pela ferramenta Verify como potencialmente gerados por IA.

“Definitivamente tenho ouvido de membros e outros especialistas em combate à fraude que a IA está resultando diretamente não apenas em um aumento desse tipo de fraude em volume, mas também tornando esse tipo de fraude mais difícil de detectar”, disse Mason Wilder, diretor de pesquisa da associação de examinadores de fraude, ao DealBook.

Falsificações convincentes provocaram uma nova escalada tecnológica. Não muito diferente de quando, por exemplo, as impressoras domésticas criaram a necessidade de novos métodos de detecção de fraude em despesas, empresas de software construíram um arsenal de técnicas para identificar um novo nível de recibos falsos gerados por IA.

Chatbots deixam uma espécie de impressão digital nos metadados das imagens que produzem, mas, se um funcionário tira uma foto ou captura de tela da imagem, esse sinal desaparece.

Um algoritmo pode comparar recibos criados por IA com recibos reais do mesmo fornecedor. Ele pode captar pequenas diferenças em fonte ou espaçamento, por exemplo, que o olho humano não perceberia.

Fonte: A cat-and-mouse game’. Sarah Kessler. NY Times, DealBook, 6 de setembro de 2025

09 setembro 2025

Governo com fins lucrativos


O que parece mais óbvio é que a maioria das pessoas detesta fortemente a ideia de um governo com fins lucrativos. Elas na verdade preferem muito mais autocratas que servem substancialmente a fins pessoais! Mesmo que a maioria das pessoas não faça questão de comprar sua comida, roupas ou carros de tais fontes. Minha melhor hipótese para isso é a mesma razão pela qual temos outras organizações sem fins lucrativos: o governo parece sagrado, enquanto o dinheiro é profano. Assim, para muitos, até autocratas parecem mais apropriados como “sacerdotes” desse tipo de sagrado do que executivos guiados pelo lucro.

Se for assim, isso sugere que o dinheiro sagrado pode ser a chave para a reforma da governança. Se conseguirmos que as pessoas aceitem organizações sagradas financiadas e movidas por incentivos de “dinheiro sagrado” em outras áreas, talvez possamos fazê-las aceitar governos administrados com fins de lucro sagrado também. E então talvez consigamos governos muito mais eficientes.

Fonte: aqui 

Um governo onde a fonte de receita é baseada em um produto aproxima-se muito da ideia de um governo com fins lucrativos. A Aramco, na Arábia Saudita, ou até mesmo as capitanias hereditárias no Brasil do passado remoto, poderiam ser enquadradas aqui. 

Rir é o melhor remédio

 

Ok, é terça. Mas não muda o humor. 

Sobre o excesso de confiança

O Excesso de confiança parece uma característica do ser humano. Mesmo quando existem informações precisas, ainda persiste. Um estudo com jogadores de xadrez mostrou esse aspecto:  

 


A autoconfiança excessiva é considerada um viés cognitivo fundamental, mas geralmente é estudada em ambientes nos quais as pessoas não dispõem de informações precisas sobre suas habilidades. Conduzimos um experimento de pesquisa pré-registrado, seguido de uma replicação, para investigar se a autoconfiança excessiva persiste entre jogadores de xadrez de torneio, que recebem feedback objetivo, preciso e público sobre seu nível de habilidade. Nossa amostra combinada incluiu 3.388 jogadores ranqueados, com idades entre 5 e 88 anos, provenientes de 22 países e com uma média de 18,8 anos de experiência em torneios. Em média, os participantes afirmaram que sua habilidade era 89 pontos Elo superior ao que suas classificações observadas indicavam — esperando superar um oponente de mesmo rating por quase 2 a 1. Um ano depois, apenas 11,3% dos jogadores autoconfiantes alcançaram o rating que haviam declarado. Os jogadores de menor classificação superestimaram mais suas habilidades, enquanto os de topo estavam bem calibrados. Padrões consistentes com excesso de confiança surgiram em todos os subgrupos sociodemográficos analisados. Concluímos que a autoconfiança excessiva persiste no xadrez de torneio, um ambiente informacional do mundo real que deveria ser inóspito a ela.

Na contabilidade, o excesso de confiança pode ser fatal para as situações onde há exigência de julgamento. Com uma contabilidade que usa cada vez mais o julgamento para suas decisões, o excesso de confiança deve ser estudo a fundo, para evitar queda na credibilidade profissional.  

(Foto: série Gambito da Rainha) 

Prática da DFC na Austrália


Eis o resumo executivo:

Em resposta ao feedback recebido na Terceira Consulta da Agenda do International Accounting Standards Board (IASB), realizada em 2022, o IASB iniciou um projeto sobre a demonstração dos fluxos de caixa para explorar possíveis melhorias no IAS 7 – Demonstração dos Fluxos de Caixa.

Este relatório de pesquisa apresenta resultados de uma análise dos relatórios anuais das 50 maiores entidades listadas na Bolsa de Valores da Austrália (ASX top 50), em 2023. Os achados foram os seguintes:

a) Métodos de reporte de fluxos de caixa operacionais: 72% das entidades apresentaram a demonstração de fluxos de caixa pelo método direto e a reconciliação do lucro com o fluxo de caixa operacional líquido (método indireto) nas notas explicativas. Os 28% restantes utilizaram apenas o método indireto na demonstração.

b) Caixa e equivalentes de caixa: 40% das entidades não forneceram informações desagregadas sobre os valores de caixa e equivalentes. Além disso, 62% e 2% definiram maturidade de curto prazo como três meses e 12 meses, respectivamente, enquanto 36% não divulgaram ou definiram o limite de curto prazo.

c) Classificação: Observou-se inconsistência na classificação de itens de fluxo de caixa, especialmente em recebimentos e pagamentos de juros e dividendos. Entre as entidades que divulgaram dividendos pagos, quase 98% os classificaram em atividades de financiamento. Houve grande variação na classificação de juros pagos, juros recebidos e dividendos recebidos.

d) Divulgações voluntárias incentivadas: A maioria das entidades divulgou informações sobre linhas de crédito não utilizadas. Contudo, informações voluntárias sobre fluxos de caixa destinados a aumentar e manter a capacidade operacional, bem como fluxos de caixa segmentados, foram menos comuns.

e) Fluxo de Caixa Livre (FCF): 52% das entidades divulgaram FCF, refletindo sua importância nos relatórios anuais. Entretanto, a forma de determinação e a localização da divulgação no relatório anual variaram.

Esses achados fornecem evidências adicionais de que há diversidade na prática sobre como as demonstrações de fluxo de caixa e informações relacionadas são apresentadas e divulgadas. Eles reforçam a necessidade de revisões no IAS 7 para melhorar a consistência e a utilidade das informações de fluxo de caixa, atendendo melhor às necessidades dos usuários.

Nepal e a relevância das mídias sociais


O Nepal foi sacudido por protestos liderados por jovens. Tudo começou quando o governo decidiu bloquear 26 plataformas de mídias sociais — incluindo Facebook, X e YouTube. Antes disso, o governo tinha decidido impor algumas regras burocráticas para o funcionamento das mídias, como o registro compulsório com o Ministério das Comunicações. 

A falta de acesso trouxe um grande número de pessoas para ruas. E os protestos começaram a ficar mais violentos, com conflitos com a polícia e registro de mortes e feridos. O Parlamento foi invadido e queimado, edifícios do governo foram atacados, indicando uma crise. Como consequência, o governo revogou a proibição e o primeiro-ministro, responsável pela medida, renunciou.  

IA, Educação e Dívida Cognitiva

 O artigo do ZeroHedge discute como a inteligência artificial está transformando profundamente a educação, levantando debates sobre seus benefícios e riscos. Desde 2022, ferramentas como o ChatGPT passaram a integrar o cotidiano dos estudantes, que muitas vezes as utilizam não como apoio ao aprendizado, mas como uma forma de evitar o esforço cognitivo tradicional. Isso gera um dilema: de um lado, a IA pode personalizar a experiência de estudo e facilitar a produção de conhecimento; de outro, pode se tornar um atalho que compromete o desenvolvimento intelectual. Um estudo conduzido pelo MIT ilustra esse ponto ao analisar a escrita de redações em três grupos — com IA, com buscadores tradicionais e sem auxílio tecnológico. Os resultados mostraram que os participantes que recorreram ao ChatGPT apresentaram menor engajamento cerebral e desempenho inferior quando tiveram de escrever sem apoio, sugerindo a criação de uma “dívida cognitiva”. Assim, a IA redefine a educação, mas também desafia sua essência.


A chegada da IA na educação trouxe uma grande mudança de hábito. Existem várias questões que poderiam ser discutidas, como a desonestidade, mas é inegável que também não devemos esquecere dos grandes ganhos. Mas como a IA pode ajudar ou atrapalhar. Muitos pesquisadores estão trabalhando agora neste assunto e a cada momento novas pesquisas surgem. 

Um novo estudo do MIT (via aqui) sugere um aspecto de dívida cognitiva e declínio na qualidade da escrita. Ou seja, as conclusões são negativas. Por mais de quatro meses, os pesquisadores estudaram 54 adultos, divididos em três grupos. O primeiro, usou o GPT; o segundo, como ferramenta de pesquisa; e o terceiro, somente para melhorar suas habilidades. A equipe monitorou a atividade cerebral e analisou os textos. O grupo de dependia mais da IA mostrou menor engajamento cerebral e mais dificuldade de lembrar o seu próprio texto. E quando solicitado a escrever um texto sem ajuda, mostraram um desempenho ruim. 

O estudo foi realizado com um grupo pequeno e provavelmente não será definitivo. Isto faz lembrar as primeiras pesquisas que analisaram o efeito dos quadrinhos sobre os jovens, condenando como leitura. Ou, conforme aqui, as calculadoras. 

O verdadeiro desafio é que as instituições não atualizaram seus padrões ou sequer sabem como fazê-lo. Os professores ainda atribuem as mesmas tarefas e esperam os mesmos resultados de cinco anos atrás, ignorando o fato de que agora existe uma nova e poderosa ferramenta.

É essencial que as gerações atuais e futuras saibam pensar de forma crítica e criativa e resolver problemas. No entanto, a IA redefine o que isso significa. Escrever redações à mão já não é a única maneira de demonstrar pensamento crítico, assim como fazer contas de divisão longa não prova automaticamente habilidades numéricas.

08 setembro 2025

Kakeibo ou método de finanças pessoais


O Kakeibo é um sistema de finanças pessoais criado em 1904 por Motoko Hani (foto), uma das vozes feministas do Japão daquela época. Concebido como uma “contabilidade doméstica”, o método permite controlar gastos e economizar sem custo, sendo resgatado atualmente por aplicativos que digitalizam o modelo original.

A proposta consiste em registrar todos os gastos — mesmo os mais pequenos — com constância e precisão. No início de cada mês, anotam-se os rendimentos e despesas fixas (aluguel, luz, hipoteca etc.), para depois categorizar as despesas variáveis (alimentação, lazer, vestuário, moradia), com data e tipo especificados. Isso oferece uma visão completa das finanças e ajuda a identificar gastos supérfluos, favorecendo o acúmulo de poupança.

Hani criou o Kakeibo em um contexto de empoderamento feminino: ela defendia que mulheres, cuja autonomia financeira era limitada, conquistassem poder por meio do controle econômico — sugerindo economizar até 15% dos rendimentos.

Origens da tributação e da sonegação

Foram os egípcios que criaram o primeiro sistema tributário conhecido por volta de 3000 a.C. Nos primórdios, o imposto era coletivo, sendo calculado pela água do Rio Nilo. Se o volume de água fosse acima ou abaixo do normal, pagava-se menos imposto. Com a alfabetização e o aumento dos escribas, a tributação passou a ser individual. Isso ocorreu no Novo Reino. 


Junto com a arrecadação, o Egito conheceu também a evasão fiscal e a corrupção.  Mas na maior parte da sua história, o imposto era sobre bens, o que incluia a arrecadação de grãos, tecidos, gado e outras mercadorias. Os tributos eram ajustados de acordo com a produtividade da terra e o tamanho da colheita.

Escribas e nomarcas frequentemente cooperavam para subnotificar valores ao Estado e ficar com o excedente, ou cobravam dos camponeses mais do que o devido. Ao mesmo tempo, os contribuintes inventavam formas criativas de evitar o pagamento. Balanças usadas para pesar grãos, por exemplo, podiam ser facilmente manipuladas.

“As pessoas escondiam pedras no grão para atingir o peso tributado de seus campos”, diz Wilkinson. “O problema tornou-se tão comum que foram emitidos éditos reais ordenando que não se trapaceasse o sistema.”

Por volta do século XIII a.C., o faraó Horemheb, da 18ª dinastia, emitiu um decreto determinando que tanto a extorsão quanto a evasão de impostos poderiam ser punidas com a remoção do nariz e o exílio. Essa declaração reafirmava o dever da população de pagar ao faraó e ao reino, já que tudo no Estado era entendido como pertencente ao soberano.

A ocupação estrangeira trouxe a moeda metálica a partir da metade do primeiro milênio antes de Cristo. E isto facilitou muito o processo de cobrança pela praticidade.  

Era também comum o governante isentar os templos e outras camadas da população quando precisava obter o apoio político.  A famosa pedra de roseta (foto), que ajudou a decifrar os hieróglifos, era um texto que falava da isenção fiscal aos templos. 

leia mais sobre a importância do Egito na história da contabilidade aqui

Saúde, desemprego e poluição


Primeiro, vamos detalhar a pesquisa, conduzida pelos economistas Amy Finkelstein, Matthew Notowidigdo, Frank Schilbach e Jonathan Zhang. Eles analisaram o impacto da Grande Recessão de 2007-2009 nas taxas de mortalidade em diferentes regiões dos EUA, algumas das quais sofreram aumentos mais acentuados no desemprego. Descobriram uma correlação impressionante: quando a taxa de desemprego sobe um ponto percentual em uma das 741 regiões metropolitanas ou “zonas de deslocamento” dos EUA, a taxa de mortalidade naquela área cai 0,5%. Esse benefício persiste por pelo menos uma década e se distribui uniformemente entre as faixas etárias, embora, em termos absolutos, os idosos — por estarem mais sujeitos à morte — tenham usufruído do maior benefício. (...)


O ar fica mais limpo em áreas onde a economia desacelera. Os pesquisadores estimam que esse ar mais limpo explica mais de um terço da redução da mortalidade. Isso pode surpreender, porque não estamos acostumados a considerar a poluição atmosférica como um problema em países ricos — o clichê é que cidades em industrialização na Ásia estão cobertas de smog, mas que, para América e Europa, o único poluente preocupante seria o gás de efeito estufa dióxido de carbono.

Fonte: aqui

Resultado dos Correios


Os Correios registraram um prejuízo recorde de R$ 4,37 bilhões no primeiro semestre de 2025, quase o triplo do resultado negativo do mesmo período de 2024. Apenas no segundo trimestre, o déficit foi de R$ 2,64 bilhões, quase cinco vezes maior que o de um ano antes. A queda de receita líquida, de R$ 9,28 bilhões para R$ 8,18 bilhões, somada ao aumento expressivo de despesas administrativas (de R$ 1,2 bi para R$ 3,4 bi) e financeiras (de R$ 3 mi para R$ 673 mi), agravou a situação. A estatal atribuiu a crise, em parte, à retração do segmento internacional, afetado por novas regras sobre importados, como a chamada “taxa das blusinhas”, além da maior concorrência no setor. Para reverter o quadro, a empresa lançou um plano de contingência com foco na diversificação de serviços, corte de custos e expansão no e-commerce, incluindo um marketplace próprio. Também obteve autorização para uma linha de crédito de R$ 4 bilhões junto ao NDB, banco dos Brics. O governo pressiona por medidas como o Plano de Desligamento Voluntário, que deve gerar economia anual de R$ 1 bilhão.

A falha na responsabilização em países em desenvolvimento


O resumo: 

Este capítulo examina por que as democracias no mundo em desenvolvimento frequentemente apresentam baixo desempenho na oferta de uma governança eficaz. Argumentamos que essas deficiências decorrem de fragilidades nos mecanismos de accountability, que deixam os governos vulneráveis à corrupção, ao clientelismo e à captura por elites. Nosso arcabouço distingue três canais de accountability: vertical (o controle dos cidadãos sobre os políticos), horizontal (os freios e contrapesos entre as instituições estatais) e diagonal (a supervisão pela mídia e pela sociedade civil). Sintetizamos a literatura teórica e empírica recente para avaliar como cada canal opera, em quais condições tem sucesso e por que frequentemente falha. Uma constatação central é que as instituições de accountability raramente fracassam sozinhas; em vez disso, são ativamente minadas por atores políticos que buscam preservar rendas e consolidar poder. Essa dinâmica enfraquece a competição eleitoral, erode a independência judicial e restringe a liberdade da mídia, produzindo um ciclo mutuamente reforçador de accountability fraca. Além disso, sustentamos que reformas sustentáveis não podem ser alcançadas fortalecendo apenas um canal isoladamente. Como a accountability vertical, horizontal e diagonal são interdependentes, uma reforma eficaz exige o fortalecimento simultâneo dos três. Concluímos discutindo as implicações dessa perspectiva para pesquisas futuras, incluindo o papel das novas tecnologias, da polarização política e da seleção de candidatos na reconfiguração da accountability em democracias em desenvolvimento.

Há vários exemplos citados no texto do Brasil. Afinal um dos autores é da PUC Rio.  

UKEB irá avaliar o impacto de uma norma contábil

O UKEB (UK Endorsement Board) está adotando um critério para avaliar o impacto da adoção de uma norma contábil. Isto parece ser inédito e muito bom para evitar que um país, no caso o Reino Unido, adote uma norma ruim. 

O UKEB está pensando em avaliar os efeitos na alocação de capital. O documento do Board contém os critérios, o que inclui, por exemplo, um acompanhamento do efeito sobre o modelo de Gordon. Se uma norma reduzir o custo do capital, podemos inferior, a princípio, que é uma boa norma. 

Mas o próprio documento é realista quanto o alcance da medida, já que é muito difícil de isolar o efeito de uma norma: 

A falta de inferência causal na literatura é atribuída a:

a) Falta de um grupo de controle: os pesquisadores enfrentam dificuldades em identificar um “grupo de controle”, ou seja, um grupo comparável de empresas que não aplicaram/aplicam as IFRS. Isso ocorre porque a adoção das Normas Contábeis IFRS geralmente exige a aplicação por todas as empresas listadas em uma determinada jurisdição ao mesmo tempo, o que torna praticamente impossível identificar um grupo de controle de empresas com informações públicas disponíveis e características semelhantes.

b) Fatores de confusão: fatores de confusão dificultam o isolamento do efeito das IFRS:
i. em nível macro, isso se deve muitas vezes a regulações financeiras introduzidas ao mesmo tempo que as IFRS. Por exemplo, no momento da adoção em 2005, muitas jurisdições iniciaram reformas relacionadas ao mercado de capitais para apoiar a adoção das IFRS. As estimativas de estudos sobre a adoção das IFRS em 2005 provavelmente capturam também o efeito dessas reformas concomitantes; e
ii. em nível micro, os desenhos de pesquisa normalmente não isolam o efeito dos requisitos contábeis do desempenho econômico subjacente de uma empresa e da aplicação que a própria empresa faz dos referidos requisitos. 

c) Dificuldades em identificar o período correto de tratamento: a identificação de um período apropriado de tratamento nem sempre é simples. É plausível, por exemplo, que os mercados financeiros antecipem mudanças nas normas contábeis e precifiquem essas mudanças antes que uma nova norma entre em vigor. Portanto, a magnitude ou até mesmo o sinal do coeficiente associado a uma variável do período pós-adoção pode não capturar totalmente o efeito das IFRS.

d) Desenho de pesquisa: alguns artigos utilizam desenhos de pesquisa que não produzem estimativas causais. Por exemplo, alguns estudos baseiam-se em modelos simples de regressão por Mínimos Quadrados Ordinários (OLS), que não são adequados para estabelecer causalidade.

e) Viés sistemático em direção às grandes empresas: a maioria dos estudos foca no impacto das IFRS no custo de capital das grandes empresas. Empresas menores são frequentemente excluídas dessas análises, já que bases de dados comerciais geralmente têm cobertura muito mais limitada dessas companhias, o que gera viés sistemático nos resultados. Por exemplo, se empresas maiores experimentarem um benefício marginal mais elevado com as Normas Contábeis IFRS, as conclusões podem superestimar de forma incorreta os efeitos da adoção dessas normas.

Um grande avanço. Mas fica a pergunta: se chegarem a conclusão que a norma aumenta o custo do capital, o regulador deixará de endossá-la?  

07 setembro 2025

Consumo e dívida

 O Brasil iniciou um grande programa de expansão do crédito por meio de bancos estatais em 2011. O programa teve como principal alvo os trabalhadores do setor público, oferecendo empréstimos consignados. Usando dados administrativos em nível individual, constatamos que o programa levou a um aumento de 15 pontos percentuais na razão dívida/renda inicial para os servidores públicos. Desenvolvemos um novo método para estimar o crescimento esperado da renda dos trabalhadores e mostramos que o “suavizamento do consumo” não pode explicar o aumento do endividamento. Em vez disso, as evidências apontam para um “excesso de consumo”: trabalhadores menos sofisticados financeiramente tomaram mais empréstimos a taxas de juros reais elevadas e acabaram experimentando tanto maior volatilidade no consumo quanto menor consumo médio.

Link aqui 

Rir é o melhor remédio

Quando a estratégia vence a força
 

Falando em impostos, Lady Godiva ...


(...) uma nobre anglo-saxã do século XI, teria cavalgado nua pelas ruas de Coventry para protestar contra os impostos opressivos que seu marido, o conde Leofric de Mercia, impunha aos habitantes da região. De acordo com a lenda, após as repetidas súplicas dela, Leofric finalmente concordou em reduzir a tributação, mas impôs uma condição incomum: que ela fizesse o trajeto completamente nua. Assim, Lady Godiva aceitou o desafio, anunciando que os cidadãos deveriam manter-se em suas casas e fechar as janelas. Apenas um homem, mais tarde apelidado de "Peeping Tom", desobedeceu — e foi, conforme a tradição, punido por isso. Como resultado, Leofric cumpriu sua promessa e reduziu os impostos.

Fonte: Wikipedia 

Imposto e a lógica de Morton

A lógica de Morton era a seguinte: se o súdito vivia no luxo e gastava muito consigo mesmo, obviamente tinha renda suficiente para contribuir com o rei. Por outro lado, se o súdito vivia de forma frugal e não mostrava sinais de riqueza, então devia ter economias substanciais — e, portanto, também podia pagar ao rei.

Fonte: aqui 

Relação dívida PIB em 25 anos


Desde 2000, especialmente após a crise financeira de 2008 e a pandemia de COVID-19, os níveis de endividamento público cresceram significativamente em diversas economias avançadas. O indicador dívida/PIB mede quanto um país deve em relação ao tamanho de sua economia e reflete sua capacidade de administrar e pagar obrigações futuras.

Segundo dados do FMI, os países com maiores aumentos foram Japão (+116 pontos percentuais), Singapura (+86 pp) e Estados Unidos (+71 pp). Apesar de possuírem economias estáveis e pouco risco de calote, enfrentam o peso crescente dos pagamentos de juros.

Em contrapartida, apenas Bélgica (-2,8 pp), Islândia (-21,2 pp) e Israel (-20,6 pp) reduziram sua relação dívida/PIB desde 2000. Os dados da figura acima estão desatualizados, mas isto não afeta a análise da tendência. 

A relação para o Brasil acompanha o crescimento mundial. Em 2000, no governo FHC, a relação era de 62%. Agora, em 2025, está em 92%, com estimativa, para 2030, de 99,4%, ainda abaixo das economias mais avançadas.  

A evolução da relação dívida/PIB está diretamente ligada à contabilidade pública, pois esse indicador resulta da mensuração e do registro das obrigações financeiras do Estado em comparação com a riqueza gerada pela economia. A contabilidade pública não apenas cumpre uma função técnica de registro, mas também exerce um papel estratégico: oferece transparência, subsidia análises sobre solvência e capacidade de endividamento e orienta tanto os órgãos de controle quanto a sociedade sobre a viabilidade das políticas fiscais e a necessidade de reformas estruturais.

Efeitos da obrigação de divulgação ESG no mundo


 Eis o resumo:

Compilamos um novo conjunto de dados sobre a divulgação obrigatória de informações ambientais, sociais e de governança (ESG) ao redor do mundo para analisar os efeitos dessas exigências na liquidez das ações. Documentamos um efeito positivo das exigências de divulgação ESG sobre a liquidez das ações em nível de empresa. Os efeitos são mais fortes quando os requisitos de divulgação são implementados por instituições governamentais, não em regime de “cumprir ou explicar”, e quando estão associados a uma forte aplicação por instituições informais. Empresas com ambientes informacionais mais frágeis se beneficiam mais das exigências de divulgação ESG. Nossos resultados apoiam a visão de que a regulação da divulgação ESG melhora o ambiente informacional e gera efeitos benéficos nos mercados de capitais. 

Fonte: The Effects of Mandatory ESG Disclosure Around the World - Philipp Krueger et al

06 setembro 2025

Rir é o melhor remédio

Como você lia um jornal - antes e depois da tecnologia. 
 

Reputação e valor


Este artigo investiga como o consumo da obra criativa de um artista é impactado quando há um movimento de “cancelamento” do artista nas redes sociais devido a sua má conduta. Diferentemente de marcas de produtos, marcas humanas são particularmente vulneráveis a riscos de reputação, mas ainda se entende pouco sobre como a má conduta afeta seu consumo. Usando o caso de R. Kelly, examinamos a demanda por sua música após choques inter-relacionados de publicidade e sanções de plataformas — especificamente, a remoção de suas músicas das principais playlists da maior plataforma global de streaming. Uma análise superficial do consumo após esses escândalos poderia levar à conclusão equivocada de que os consumidores estão intencionalmente boicotando o artista em desgraça. Propomos uma estratégia de identificação para distinguir os efeitos da curadoria da plataforma dos da escuta intencional, explorando a variação no status de remoção das músicas e a demanda geográfica. Nossas descobertas mostram que a queda no consumo é motivada principalmente por fatores do lado da oferta devido às remoções de playlists, e não por mudanças na escuta intencional. A cobertura midiática e os apelos ao boicote têm efeitos promocionais, sugerindo que boicotes nas redes sociais podem, inadvertidamente, aumentar a demanda musical. A análise de outros casos de cancelamento envolvendo Morgan Wallen e Rammstein não mostra queda de longo prazo na demanda, reforçando os potenciais efeitos promocionais dos escândalos na ausência de sanções pelo lado da oferta.

Fonte: aqui . Imagem aqui

Pensando no valor do artista como sendo a geração de caixa, a remoção de playlist pode afetar o ativo. Mas veja que o boicote como fator para aumentar a demanda parece estranho, já que não é este o objetivo.  

Trabalho mais chato perto da extinção

Neste semestre, na minha primeira aula da graduação, apresentei um slide com alguns motivos para se ter orgulho da contabilidade. E agora, passando por textos publicados recentemente sobre o assunto, deparei com este artigo da Business Insider com o título de America's most boring job is on the brink of extinction. Eis uma ideia do conteúdo do texto:

A contabilidade carrega um estereótipo persistente: o profissional entediante, preso em um cubículo, sem glamour. Embora os CPAs possam atuar em áreas estratégicas, como auditorias em grandes empresas ou investigações no FBI, a imagem negativa da profissão continua forte. Para a Geração Z, esse estigma pesa ainda mais. Jovens buscam propósito no trabalho e rejeitam carreiras vistas como seguras, mas pouco estimulantes. O contraste com as redes sociais, que valorizam experiências “interessantes” e visíveis, também afasta muitos da contabilidade.

Além da questão de imagem, tornar-se CPA é um processo árduo: exige mestrado, quatro exames rigorosos e um período de prática supervisionada. Ao mesmo tempo, a remuneração inicial é inferior à de outros cargos em finanças, como o de banqueiro de investimento, que pode ultrapassar US$ 100 mil já no primeiro ano. Assim, a profissão enfrenta tanto desafios de atratividade quanto barreiras estruturais de formação, agravando a atual escassez de contadores.

É bem verdade que o título é bem sensacionalista. Mas a crise de credibilidade é somente em alguns países? Precisamos de pesquisa sobre o assunto.  

Ensino online versus presencial

Pesquisas recentes destacaram os efeitos prejudiciais do ensino on-line para alunos mais jovens, mas, no nível universitário, há poucas evidências sobre se a instrução virtual é tão eficaz quanto a experiência educacional presencial em sala de aula.

Em um artigo publicado na American Economic Review: Insights, os autores Michael S. Kofoed, Lucas Gebhart, Dallas Gilmore e Ryan Moschitto apresentam os resultados de um experimento em um curso introdutório universitário e constatam que o aprendizado on-line reduziu as notas finais em meio grau de letra.

No semestre do outono de 2020, a Academia Militar dos EUA em West Point transferiu alguns alunos para o ensino on-line a fim de ajudar a conter a disseminação da COVID-19. Naquele momento, os pesquisadores organizaram um experimento para comparar os resultados de desempenho, designando aleatoriamente 551 estudantes entre 12 instrutores em 36 turmas de um curso obrigatório de Princípios de Economia. Ao comparar os estudantes alocados em turmas presenciais com aqueles em turmas virtuais, foi possível isolar o impacto da instrução on-line


 

Como Trump ganhou bilhões com a política

Um texto da Forbes mostra depois de deixar a presidência em 2021, Donald Trump viu seu patrimônio cair para cerca de US$ 2,4 bilhões, quase saindo da lista Forbes 400. No entanto, sua fortuna se recuperou quando ele abraçou novos modelos de negócio vinculados à política. 

Trump entrou no setor de mídia e tecnologia com uma proposta de participação de 90% sem investimento inicial, o que o impulsionou de volta ao topo dos bilionários com um patrimônio estimado em US$ 4,3 bilhões. Grande parte dessa valorização vem da Trump Media & Technology Group, dona da Truth Social, que abriu capital em março, elevando sua fortuna a US$ 2,2 bilhões apenas desse negócio. A renda operacional total estimada de seus empreendimentos saltou 58% em relação ao período em que estava na Casa Branca. Seus clubes e campos de golfe também triplicaram de valor, chegando a US$ 1,1 bilhão em patrimônio. Ele também capitalizou sua imagem, vendendo de NFTs a pedaços do terno usado em debates, reforçando a estratégia de monetizar sua presença política como marca pessoal. 

Ceticismo saudável em pesquisas contábeis


O resumo:

Examinando estatísticas de testes em artigos de seis dos principais periódicos de contabilidade, detectamos descontinuidades em suas distribuições em torno dos limiares convencionais de significância (valores de p de 0,05 e 0,01) e encontramos uma abundância incomum de estatísticas de teste que são apenas significativas. Análises adicionais revelam que essas descontinuidades são mais proeminentes em estudos com amostras menores e mais marcantes em estudos experimentais do que em estudos arquivísticos. A discrepância de descontinuidade entre estudos experimentais e arquivísticos relaciona-se a vários indicadores de graus de liberdade dos pesquisadores. No entanto, essa evidência não implica que a pesquisa experimental seja mais propensa a práticas questionáveis do que os estudos arquivísticos. De modo geral, nossos achados dialogam com a preocupação de que pesquisadores em contabilidade possam exercer discricionariedade não revelada para obter e relatar resultados estatisticamente significativos. Com base em nossos resultados, um ceticismo saudável em relação a algumas estatísticas de teste “apenas significativas” é justificado. 

O artigo é de março deste ano, mas os achados estão dentro do esperado.  

Discontinuous Distribution of Test Statistics Around Significance Thresholds in Empirical Accounting Studies - XIN CHANG, HUASHENG GAO, WEI LI. Imagem aqui

05 setembro 2025

Fábrica de mosquito


Uma “fábrica de mosquitos” em Curitiba, Brasil, produz semanalmente até 100 milhões de ovos de Aedes aegypti infectados com a bactéria Wolbachia. Essa estratégia — chamada de “wolbitos” — ajuda a reduzir a transmissão de doenças como dengue e zika. Segundo um texto da Nature, em Niterói, houve queda de 69% nos casos nas áreas onde foram liberados mosquitos modificados, comparado os locais sem essa intervenção.  

Acho que o assunto poderia dar um belíssimo estudo sobre finanças públicas, onde o apoio a uma técnica científica permite (ou não) a economia de recursos em saúde pública.