Translate

05 setembro 2025

Blueskyismo


De Nate Silver 

O Bluesky, derivado do Twitter e que já foi promovido como uma alternativa mais gentil e acolhedora ao que hoje é conhecido como X, provavelmente não está à beira da morte. Mas, após um surto de crescimento em torno das eleições, a plataforma vem encolhendo e perdendo influência de forma constante, mesmo enquanto outros setores da esquerda prosperam durante o segundo mandato de Trump.

A vida e a morte das plataformas de mídia social são ditadas pelos efeitos de rede. Embora às vezes possam existir pontos de inflexão, em geral sua trajetória é previsível. Você entra porque outras pessoas estão entrando, o que as torna progressivamente mais úteis. E você permanece nelas por hábito até que, ou a menos que, uma massa crítica migre para outro lugar.

O Twitter/X vem declinando lentamente em influência, segundo evidências externas — apesar das alegações ocasionais em contrário de Elon Musk. Ainda assim, apesar de características extremamente problemáticas já documentadas pelo *Silver Bulletin*, o X permanece relativamente estável, em parte porque sua queda tem sido lenta após um pico elevado alcançado em anos anteriores de crescimento exponencial.

Alternativas como o Threads da Meta, o Truth Social de Trump e o independente Mastodon não conseguiram ganhar força. E, neste ponto, é provavelmente seguro assumir que o Bluesky também não substituirá o Twitter.

Nate Silver destaca o que ele chama de Blueskyismo, como uma atitude cultural, que corresponderia ao "politicamente correto", com uma atitude agressiva de censura interna, usando o que seria uma superioridade moral. É uma atitude excludente, que termina por dificultar o dialogo. O Blueskyismo não é exclusivo da plataforma Bluesky.  

Nvidia e a concentração nas receitas


As informações contábeis do segundo trimestre de 2025 da Nvidia revelaram que cerca de 40% da receita total — 47 bilhões de dólares — advêm de apenas dois grandes clientes, identificados como “Cliente A” (23%) e “Cliente B” (16%). A grande dependência de uma empresa na geração de receita para dois clientes pode ser um fator de risco: se um dos clientes reduzir suas compras, o fato poderá afetar as receitas reportadas e, como consequência, o resultado.

Acredita-se que esses dois clientes sejam gigantes de tecnologia, como Microsoft ou Apple. O problema é que quatro outros clientes também foram representativos na geração de receita, indicando que a soma dos seis representa 85%.

Ativos Culturais repugnantes são ativos?


O turismo sombrio parece existir na Alemanha. Uma notícia (via blog de Al Roth) informa que algumas pessoas que visitam Berlim procuram o local onde ficava o bunker de Hitler. Hoje, o local é somente um estacionamento, mas mesmo assim não desestimula os turistas. O governo sempre resistiu em transformar o local em atração turística, mas, em 2006, uma placa informativa foi colocada no espaço. Dez anos depois, um museu de história de Berlim construiu uma réplica completa do bunker. 

O Nobel Al Roth propôs o conceito de mercados repugnantes. Mesmo que a sociedade tenha aversão a certos tipos de atividades, podendo proibir ou reprimir sua existência, o mesmo existe. A prostituição, a venda de órgãos humanos, o mercado de ingressos para eventos, o aumento de preços após um desastre são exemplos. O turismo sombrio também seria um exemplo. Mesmo com todo esforço de reprimir a demanda, sempre haverá pessoas interessadas em consumir o produto. 

Aqui uma dificuldade para o contador: seria o local um ativo cultural? Creio que a resposta envolve uma discussão sobre ética do reconhecimento. 

Multa de 3 bilhões de euros para o Google


A União Europeia impôs à Google uma multa recorde de € 2,95 bilhões (aproximadamente US$ 3,5 bilhões) por práticas anticompetitivas na área de tecnologia de publicidade (ad tech), incluindo o favorecimento de seus próprios serviços, um comportamento conhecido como “self-preferencing”. Essa penalidade representa o quarto grande processo antitruste contra a empresa no mercado europeu nos últimos anos. A Comissão Europeia determinou que a Google deve cessar tais práticas em até 60 dias, sob risco de enfrentar ações mais rigorosas, incluindo a obrigatoriedade de vender parte do seu negócio de ad tech, segundo notícia do Financial Times (via aqui).

Google anunciou que irá apelar.

A força da Wikipedia


No Pluralistic leio que a razão pela qual  a Wikipédia funciona tão bem na prática, mesmo que, em teoria, pareça caótica: em vez de verificar os editores, passou a verificar as fontes. Ou seja, o critério de confiabilidade repousa nas referências citadas, e não na identidade ou qualificação dos editores. 

A Nupedia, que antecedeu a Wikipédia, exigia que os autores fossem especialistas e demorava a produzir conteúdo (apenas 20 artigos no primeiro ano). O mesmo ocorria com a Britânica - isto é uma afirmação minha, não do Pluralistic. 

Assim, uma página pode afirmar algo não porque seja um fato incontestável, mas porque uma fonte confiável publicou essa informação e isso pode ser verificado por qualquer pessoa. Essa estrutura fundamentada em fontes verificáveis sustenta a credibilidade da Wikipédia, mesmo com milhares de colaboradores anônimos ou pseudônimos empenhados na criação coletiva de conhecimento. 

04 setembro 2025

Método científico é relevante?


As conclusões são impactantes:

Usando dados sobre todas as principais descobertas científicas — incluindo tanto as que receberam o Prêmio Nobel quanto outras grandes descobertas — podemos abordar a questão do quanto o “método científico” é de fato aplicado na realização das pesquisas mais inovadoras e se precisamos ampliar esse conceito central da ciência. Este estudo revela que 25% de todas as descobertas desde 1900 não aplicaram o método científico comum (com seus três elementos). Especificamente, 6% das descobertas não usaram observação, 23% não usaram experimentação e 17% não testaram uma hipótese. Assim, as evidências empíricas desafiam a visão tradicional do método científico.

O texto original pode ser obtido aqui  . Imagem aqui

Pilares de Esperança

“Pilares da Esperança” é um nome irônico dado às barras de aço de arranque — também chamadas de vergalhões de espera ou extensões de armadura — que ficam projetadas dos telhados das casas após a construção. Deixar essas barras expostas é uma solução prática, pois economiza tempo e dinheiro na hora de acrescentar um novo andar: a estrutura já está parcialmente preparada para a expansão. A “esperança” no nome reflete a expectativa e o otimismo de ampliar a casa no futuro, seja pelo crescimento da família ou pela melhora da situação financeira.

Crescendo no Reino Unido, nunca me deparei com a prática de deixar vergalhões expostos em casas. No entanto, ao viajar pela América Central e pela Ásia, fiquei surpreso ao ver essas hastes em muitas cidades e vilarejos. No começo, não entendia por que tantos prédios pareciam inacabados, deixando o horizonte um tanto desordenado. Só quando alguém me explicou sua finalidade tudo fez sentido.

As barras de aço no concreto combinam a resistência à tração do aço com a resistência à compressão do concreto, criando um método de construção extremamente eficaz e amplamente utilizado. Os vergalhões embutidos e projetados da estrutura existente fornecem uma conexão forte e estável entre a nova adição e o edifício já construído. Eles transferem as cargas e ancoram os dois juntos.

Os Pilares da Esperança são um exemplo evidente de futureproofing (preparação para o futuro). Outros exemplos em construções são instalações elétricas ou hidráulicas, em que se deixam canos tampados ou pontos de conexão elétrica previstos para trabalhos futuros. Laptops e desktops com slots de expansão vazios também seguem essa lógica, assim como a primeira edição de um software que já inclui um gerenciador de atualizações.

No desenvolvimento de software e na metodologia ágil, gosto da ideia do livro Rework: “Um meio-produto incrível é melhor do que um produto inteiro malfeito.” Não tenha partes do seu produto visivelmente inacabadas ou “em construção” para os usuários. Não deixe vergalhões aparentes em seu software. E evite resolver problemas que ainda não existem. Embora possa parecer útil acrescentar algo agora para facilitar uma função futura, o equilíbrio é delicado. Muitas vezes, opta-se por outro caminho e ficam pelo código alguns pilares da esperança — dívida técnica que poderá ter de ser paga mais tarde.

Se, à primeira vista, aquelas barras de aço aleatoriamente expostas nos telhados me pareceram caóticas e desordenadas, hoje, ao pensá-las como Pilares da Esperança, vejo nelas uma certa beleza — um horizonte que esboça as aspirações e o futuro desenvolvimento de famílias, casas e da própria cidade. 


Edit: Várias pessoas me disseram que deixar os vergalhões expostos no telhado faz com que o prédio seja considerado “inacabado” e, assim, não sujeito a impostos sobre a obra. Embora isso seja repetido em muitos lugares, não tenho 100% de certeza sobre a veracidade. Se você tiver experiência com isso, entre em contato! 

Fonte: aqui