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02 setembro 2025

Vantagem da padronização

Mas o que tornou Whitworth [foto] mais famoso foi algo chamado British Standard Whitworth – BSW.


Até então, diferentes fabricantes de máquinas-ferramenta usavam diferentes designs para suas peças. Para os usuários finais – na verdade, qualquer pessoa envolvida na indústria naquele momento – isso era enlouquecedor. Se você tivesse uma máquina a vapor feita pela Empresa X e um dos parafusos fosse danificado, ele só poderia ser substituído por um parafuso fornecido pela Empresa X ou por um de seus vendedores. Caso contrário, o parafuso não serviria.

Junto com Clement, Roberts e outros ex-alunos de Maudslay, Whitworth foi um forte defensor da padronização de peças como porcas, parafusos e fixadores. Assim, em 1841, ele se sentou e escreveu o que acreditava que deveriam ser os padrões. As roscas dos parafusos deveriam ser feitas em um ângulo de 55 graus, com profundidades e raios muito específicos. Na década de 1870, à medida que as ferrovias se tornaram cada vez mais frustradas com os diferentes sistemas em uso, disseram: “sim, Whitworth estava certo”. Na década de 1890, todos já usavam o BSW.

[Whitworth morreu em 1887] [Via aqui]

A padronização permitiu que as empresas de fabricação de motores não precisassem concentrar na produção de parafusos, podendo terceirizar com a especificação determinada por ele. 

De certa forma, ele antecedeu ao ISO. O exemplo pode ser usado para lembrar a vantagem da padronização.  

01 setembro 2025

Olimpíada Brasileira de ESG

Interessante 

Para os interessados há um guia preparatório
 

Riso online

 

Uma pesquisa com 30 milhões de postagens georreferenciadas no X (antigo Twitter) (via aqui) mostrou que o Filipinas lidera em expressões de riso online, com 119,6 risadas a cada 1.000 postagens, cerca de uma em cada oito. O Brasil tem uma média de 50,7, metade do país asiático e bem abaixo do Paraguai, o maior número da América do Sul.  

Algoritmo elimina a discriminação? Caso da seguradora de automóvel


Eis o resumo de uma pesquisa interessante: 

 As seguradoras frequentemente usam atributos dos consumidores, como gênero ou idade, ao definir o preço de seus serviços. Motoristas homens jovens, por exemplo, costumam pagar mais do que mulheres jovens pelo seguro de automóvel, já que são considerados mais arriscados. Em 2019, a Califórnia proibiu as seguradoras de automóveis de utilizarem informações de gênero em seus algoritmos de precificação. Eu estudo como essa proibição afeta a diferença de preços entre os gêneros, usando uma estratégia de diferenças-em-diferenças com indivíduos mais velhos e outros estados como grupos de controle. Constatei que a medida reduziu a diferença de gênero nos prêmios pagos por motoristas jovens em cerca de 55%, mas não conseguiu eliminá-la completamente. Minha análise do algoritmo de precificação de uma grande seguradora na Califórnia indica que os algoritmos foram ajustados de modo que características correlacionadas com o grupo de maior risco (homens jovens) receberam maior peso após a política. Por exemplo, motoristas com modelos de carro associados a homens jovens passaram a pagar até 22% a mais depois da proibição. Meus resultados ilustram as limitações de políticas antidiscriminação que impõem precificação “cega ao grupo”, com implicações para a formulação de regulações mais justas para algoritmos.

Can Gender-Blind Algorithmic Pricing Eliminate the Gender Gap?
Ozge Demirci - Harvard Working Paper, June 2024  

Sendo um blog de contabilidade, o que podemos aprender com este tipo de pesquisa? Muitas vezes, a contabilidade é chamada a atuar no sentido de reduzir a discriminação no trabalho. Um exemplo é a evidenciação, junto às demonstrações, da composição da força de trabalho por gênero, idade e raça. O problema é que isso não resolve. Veja o caso da Fundação IFRS e sua demonstração do ano passado: a maioria do corpo técnico é composta por mulheres — de diferentes idades, o que parece positivo. Mas observe quem está no board, responsável pelas decisões: majoritariamente homens. A divulgação pode ter contribuído para melhorar as políticas de contratação, o que é bom, mas não reduziu o acesso das mulheres ao poder, no caso, ao board. 

 Imagem aqui

Frustração com a seção de métodos dos artigos científicos


Lendo Gelman sobre os problemas da seção de Métodos em artigos científicos. Ele apontam algumas razões:

  1. Os estudantes estão acostumados a ler livros-texto e outros materiais escritos em termos gerais. É natural que imitem esse estilo quando começam a escrever para publicação.
  2. O objetivo final da escrita científica é ampliar o entendimento coletivo, mas o objetivo imediato é a aceitação (pelos editores da revista, pela banca da tese, pelo chefe ou por quem decide se o relatório avança). E, por várias razões, não parece que essa aceitação exija — ou sequer seja facilitada por — uma descrição completa e clara do que realmente foi feito.
  3. Muitas vezes os resultados empíricos não estão à altura da narrativa que se deseja contar. Uma forma de fechar essa lacuna é mentir sobre o que foi feito ou fazer afirmações sem boas evidências. Outra é caracterizar o estudo de modo tão vago que seus resultados não possam ser claramente interpretados. Acho que isso pode ocorrer sem que os autores percebam, como naquele artigo que afirmava que os participantes “mantiveram a mesma dieta e nível de atividade física”, mesmo quando os dados autorrelatados mostravam um grande aumento na percepção de exercícios. 

Acrescento outra coisa: falhamos em ensinar como escrever esta parte. Damos ênfase a classificação da pesquisa - qual o sentido?, a indicar a base de dados - sem detalhar as escolhas que fizemos, entre outras razões. Há bons manuais de métodos, mas talvez nossa escolha não seja a mais adequada. 

Imagem aqui 

Atendimento remoto e qualidade do serviço


Será que a prestação de serviço por telefone é pior que a prestação de serviço presencial? Um estudo na área de medicina mostra que não; na verdade, é melhor.  

O resumo: 

 O uso da telemedicina tem aumentado. Embora a telemedicina tenha ampliado o acesso aos cuidados de saúde, pouco se sabe sobre como o meio altera a tomada de decisão médica dos profissionais. Para avaliar como a telemedicina difere do atendimento presencial, comparamos a qualidade e o custo de consultas presenciais em clínicas e de consultas virtuais por telefone para condições comuns em Ruanda. Para controlar a seleção de pacientes, conduzimos um estudo de auditoria com 2.532 visitas de pacientes padronizados, em que indivíduos representando pacientes reais apresentaram casos padronizados de malária e infecção respiratória superior (IRS). Constatamos que a qualidade do atendimento virtual é superior à do presencial para IRS e igualmente boa para malária. Profissionais de telemedicina também fizeram mais perguntas sobre sintomas e histórico médico e prescreveram mais medicamentos opcionais para manejo dos sintomas do que os profissionais presenciais. Além disso, verificamos que a telemedicina é mais eficiente: consultas virtuais foram mais rápidas, tiveram menor tempo de espera, resultaram em menos medicamentos e exames desnecessários e custaram menos para os pacientes. Controlando um conjunto abrangente de características dos profissionais, mostramos que a seleção dos provedores não parece explicar os resultados. Em vez disso, a melhor comunicação entre profissional e paciente por telefone surge como mecanismo-chave. Os profissionais relatam ser mais fácil tratar, obter informações e se relacionar com pacientes por telefone. Também relatam sentir menos pressão social durante as consultas telefônicas. Em consonância com evidências de pesquisas, constatamos que os profissionais prescrevem antibióticos desnecessários quando solicitados por pacientes presencialmente, mas não por telefone.

É interessante que o estudo foi feito em um país subdesenvolvido, com prestação de serviço para pessoas em situação de fragilidade. E tudo leva a crer que há um grande ganho para sociedade como um todo: melhor qualidade do serviço, menor receita desnecessária, etc.  

Será também válido para serviço de um profissional como o contador? 

Bolsa e Guerra


Empresas envolvidas em guerra e acusações de genocídio seriam punidas pelo mercado? A lógica parece indicar que sim. Mas eis o trecho final de um texto onde isto não ocorre:

Desde outubro de 2023, a rentabilidade de investir em empresas israelenses tem sido muito superior à de investir em outras regiões geográficas, duplicando ou quase triplicando o retorno de outros índices de ações. Entre outubro de 2023 e agosto de 2025, o TA35 se revalorizou em média 31% ao ano, um crescimento muito maior do que o dos índices dos Estados Unidos (18%), Europa (16%), Japão (18%) ou Reino Unido (12%).

Nesse sentido, a evolução do índice Tel Aviv 35 foi marcada por dois pontos de inflexão. Embora nos primeiros dias após o atentado de 7 de outubro de 2023 a bolsa israelense tenha apresentado retornos negativos, essa tendência rapidamente mudou no fim de outubro, após o início da invasão em larga escala de Gaza pelo exército israelense. O segundo ponto de inflexão, que acelerou o crescimento do índice, ocorreu no último trimestre de 2024. Durante esse ano ficou evidente que Israel dominava o conflito na região. Naquele verão, Israel havia matado os líderes do Hamas — Mohammed Deif, em 13 de julho, e Ismail Haniyeh, em 31 de julho —, assim como o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, em 28 de setembro. Nos dias 17 e 18 de setembro, dezenas de busca-pessoas e rádios walkie-talkie explodiram, matando supostos militantes palestinos. Além disso, os ataques do Irã a Israel nessas datas, com mísseis balísticos, foram repelidos sem causar danos significativos. Para alguns analistas, essas ações representaram uma virada geopolítica na região, indicando que Israel voltava a dominar sua segurança e restaurando a confiança dos investidores no país.