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21 julho 2025

Correios: análise das demonstrações mostra que o problema é antigo


A decisão dos Correios de suspender pagamentos que somam R$ 2,75 bilhões evidencia um cenário financeiro delicado, mas a análise do fluxo de caixa ajuda a compreender a raiz desse problema. O fluxo de caixa operacional (FCO), que demonstra a capacidade da empresa de gerar recursos a partir de suas atividades principais, vinha apresentando sinais de deterioração ao longo dos últimos anos. Entre 2020 e 2023, embora positivo, o FCO seguiu uma tendência de queda, culminando em 2024 com um resultado negativo de R$ 2,35 bilhões. Esse déficit só não foi mais grave porque houve uma redução nos investimentos, que gerou um fluxo de caixa de atividades de investimento positivo. Entretanto, recorrer à venda de ativos ou à redução de investimentos é uma estratégia insustentável no longo prazo. Uma empresa precisa gerar caixa com suas operações, e não depender de ajustes pontuais para manter a liquidez. Mas sendo estatal, é dinheiro do contribuinte...

O fraco desempenho operacional, especialmente em 2024, encontra explicações em diversos fatores. O prejuízo contábil aumentou, passando de R$ 634 milhões para R$ 2,6 bilhões. Isso ocorreu em um contexto de queda na receita, que recuou 1,7%, enquanto os custos operacionais cresceram 4,7%. A análise comparativa entre 2023 e 2022 mostra que esse movimento não foi isolado: já naquele período a empresa havia registrado redução de 2,9% na receita e aumento de 5,2% nos custos. A alta nas despesas administrativas e de vendas também contribuiu para o agravamento do resultado.

O fluxo indireto indica ainda outras pistas. Houve aumento em contas a receber, o que pode significar que os Correios estejam concedendo mais prazo aos clientes para tentar reter mercado em meio à queda de receitas, ou que estejam enfrentando dificuldades de cobrança. Já a redução no saldo de fornecedores, mesmo com custos maiores, sugere que a empresa pode ter reduzido prazos de pagamento ou que os fornecedores estejam mais restritivos na concessão de crédito, reflexo da piora na percepção de risco.

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