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10 agosto 2025

História da Contabilidade: Guarda-livros


Sempre tive a impressão de que o termo “guarda-livros” e seu uso na língua portuguesa eram bastante antigos. Por isso, foi com surpresa que não o encontrei no Dicionário de Moraes, mesmo este tendo sido editado no final do século XVIII. Já no Aulete (p. 884), encontramos:

Empregado que, em qualquer casa de comércio, registra nos livros todo o movimento comercial da mesma casa.

Trata-se de um verbete bastante curto. Figueiredo (p. 983), mesmo sendo um dicionário mais extenso, também não dedica muito espaço ao termo:

Empregado comercial que registra o movimento do comércio em uma ou mais casas.

Chama atenção o fato de Figueiredo considerar que o profissional guarda-livros poderia trabalhar em mais de uma casa comercial. Essa situação é natural para um contador moderno que possua escritório próprio, mas soa incomum ao se imaginar o contexto da virada do século XIX para o XX.

E é só isso. Nada que desperte grande curiosidade ou atenção.

Pesquisando na obra literária de Machado de Assis (imagem), encontrei o uso do termo em Helena:

Minha vida começou a ser um mosaico de profissões; aqui onde me veem, fui mascate, agente do foro, guarda-livros, lavrador, operário, estalajadeiro, escrevente de cartório; algumas semanas vivi de tirar cópias de peças e papéis para teatro.

Em Memorial de Aires:

Aguiar casou guarda-livros. D. Carmo vivia então com a mãe, que era de Nova Friburgo, e o pai, um relojoeiro suíço daquela cidade. Casamento a grado de todos. Aguiar continuou guarda-livros, e passou de uma casa a outra e mais outra, fez-se sócio da última, até ser gerente de banco, e chegaram à velhice sem filhos. É só isto, nada mais que isto.

Em Quincas Borba:

Não me respondeu, fingiu que estava absorvido em uma conta, chamou o guarda-livros e pediu explicações.

Nos contos e outros escritos, o termo também aparece. Pelo visto, o nosso grande escritor evitava usar a palavra “contabilidade”, mas recorria com frequência a “guarda-livros”.


Referências

Aulete, F. J. C. (1881). Diccionario contemporaneo da lingua portugueza. Lisboa: Imprensa Nacional.

Figueiredo, C. de. (1913). Novo diccionario da língua portugueza (10ª ed.). Lisboa: Livraria Editora.

Moraes Silva, A. de. (1789). Diccionario da lingua portugueza (2ª ed.). Lisboa: Typographia Lacerdina.

Assis, M. de. (1876). Helena. Rio de Janeiro: B. L. Garnier.

Assis, M. de. (1908). Memorial de Aires. Rio de Janeiro: Garnier.

Assis, M. de. (1891). Quincas Borba. Rio de Janeiro: B. L. Garnier.

(Para fins desta postagem, adaptei a ortografia da época para facilitar a compreensão do leitor.)

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