Obviamente, não queremos aqui dizer que a ocupação de tesoureiro seja igual ao que conhecemos hoje como contador. Na verdade, o termo thesoureiro corresponde ao mesmo tesoureiro de nossa época, ao contrário dos termos “guarda-livros” ou “contador”. Mas, em torno do tesoureiro, havia alguns outros termos similares ou próximos, que os dicionários de antigamente procuravam especificar.
Um deles é “guarda-mor”, que, segundo Figueiredo (p. 983), corresponde a um empregado superior de algumas repartições públicas e tribunais. Fica a dúvida, para pesquisa futura, se “guarda-mor” poderia ser uma espécie de tesoureiro.
Outra palavra que parece ter relação com “tesoureiro” é “fiel” ou “fiel do armazém”. O mais antigo dicionário, Moraes (p. 638), indica ser um oficial que vigia sobre a exatidão dos pesos e, ao mesmo tempo, uma pessoa de confiança, “de quem se fia”. Já Aulete (p. 795) define como oficial público que tem a seu cargo algum depósito de gêneros ou de dinheiro, complementando como “ajudante de tesoureiro”. Finalmente, Figueiredo (p. 876) registra: empregado que tem a seu cargo a guarda de gêneros, papéis ou dinheiro, também com a indicação de que pode ser ajudante de tesoureiro.
Chegamos então ao termo “tesoureiro”. Segundo Moraes (p. 458), é o “guarda do tesouro”. Ele também indica “thesourado”, que seria o ofício do tesoureiro. E “tesouro” seria a área onde se guardam dinheiro, joias e preciosidades, bem como “multidão de dinheiro” ou “burra”.
Aulete (p. 1753) define “tesouraria” como escritório de bancos, companhias etc., onde se operam transações monetárias, e também como o cargo ocupado pelo tesoureiro. Este seria a pessoa “que guarda o tesouro ou cofre de uma associação; o indivíduo que tem a seu cargo fazer todas as operações monetárias de um banco, de uma companhia etc. [há também tesoureiro pagador]”.
Figueiredo (p. 1943) detalha um pouco mais. “Tesouraria” seria:
Casa ou lugar onde se guarda ou administra o tesouro público. Repartição onde funciona o tesoureiro. Escritório de companhia ou casa bancária, em que se realizam transações monetárias.
E “tesoureiro” é:
Empregado superior da administração do tesouro público. Aquele que é encarregado das operações monetárias numa casa bancária, companhia, associação etc.
É interessante notar que o mesmo Figueiredo, na página 1942, apresenta o termo “tesoiraria”:
f. O mesmo que tesoirado. Casa ou lugar onde se guarda ou administra o tesoiro público. Repartição onde funciona o tesoireiro. Escritório de companhia ou casa bancária, em que se realizam transacções monetárias.
Da mesma forma, há “tesoireiro”:
m. Guarda de tesoiro. Empregado superior da administração do tesoiro público. Aquele que é encarregado das operações monetárias numa casa bancária, companhia, associação etc. (Do lat. thesaurarius)
Citando aqui o grande Machado de Assis:
Assim, pois, esta irmandade tem um tesoureiro para recolher o dinheiro, um procurador para ir cobrá-lo e um meirinho para compelir os remissos.
(Balas de Estalo — Texto-fonte: Obra Completa de Machado de Assis. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, Vol. III, 1994. Publicado originalmente na Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, de 02/07/1883 a 04/01/1886.)
Referências
Aulete, F. J. C. (1881). Diccionario contemporaneo da lingua portugueza. Lisboa: Imprensa Nacional.
Figueiredo, C. de. (1913). Novo diccionario da língua portugueza (10ª ed.). Lisboa: Livraria Editora.
Moraes Silva, A. de. (1789). Diccionario da lingua portugueza (2ª ed.). Lisboa: Typographia Lacerdina.
Assis, M. de. (1994). Balas de Estalo. In Obra completa (Vol. III). Rio de Janeiro: Nova Aguilar. (Publicado originalmente na Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, de 02/07/1883 a 04/01/1886).
(Para fins desta postagem, adaptei a ortografia da época para facilitar a compreensão do leitor.)
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