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20 agosto 2025

Exemplo de como o interesse financeiro pode prejudicar a qualidade da informação: Rotten Tomatoes

O Rotten Tomatoes é uma das plataformas de crítica mais conhecidas do cinema e da televisão. Criado em 1998, reúne resenhas de críticos profissionais e avaliações do público, atribuindo notas que resultam no índice “Tomatometer”. Esse indicador tornou-se referência global para medir a recepção de filmes e séries, influenciando tanto a decisão de espectadores quanto o desempenho comercial de produções. Sua importância está em condensar múltiplas opiniões em uma métrica simples e acessível, permitindo rápida percepção sobre a qualidade percebida de uma obra no mercado audiovisual.

O Rotten Tomatoes é uma referência, juntamente com o ImdB. Com seu crescimento, o Rotten terminou sendo comprada pela Fandango Media. Esta empresa, por sua vez, é especializada na venda de ingressos de cinema, controlada pela NBC Universal (75%) e pela Warner (25%). A aquisição ocorreu em 2016. 

Na newsletter de Daniel Parris, de hoje, ele faz uma análise sobre o impacto da compra pela Fandango. Eis a evolução das notas do Rotten ao longo do tempo:

Veja que a média das notas, em torno de 50 a 60 entre 1998 a 2014, aumentam com o tempo e hoje estão mais próximas dos 70 do que antes. Será que os filmes melhoraram? 

Há algo adicional na análise de Parris: a correlação entre as notas dos críticos e as notas do público. É certo que nem sempre o público entrega uma nota alta para Cidadão Kane, que os críticos adoram. Mas a divergência não é tão expressiva assim, conforme o gráfico:

A correlação entre as notas, entre 0,6 e 0,8 em todos os anos, começa a cair a partir de 2016 e agora está em 0,4. O que ocorreu? Parece que não mudaram a metodologia, algo que poderia ser feito, mas poderia significar a perda de credibilidade na informação. 

Se antes de 2016 a média de críticas por filme estava entre 100 a 130, com a aquisição a Fandango ampliou o número de pessoas que opinam. E muitos dos novos "críticos" não eram provenientes de uma fonte "confiável". Ou seja, o aumento da nota dos filmes decorre da incorporação de novos avaliadores, muitos deles sem um bom preparo para tal. 

Como afirma o autor: 

Segundo uma análise da Vulture em 2023, agências de PR passaram a cortejar ativamente críticos de veículos menores para inflar as notas do Tomatometer antes do lançamento de um filme. Surgiu, aparentemente, uma espécie de “indústria paralela” voltada a recrutar não–Top Critics para garantir o selo “fresh” na fase pré-lançamento — recurso que os estúdios então usam como gancho de marketing.

O resultado: o Rotten deixou de ser confiável como fonte confiável sobre a qualidade de um filme. 

Nos anos recentes as fontes de avaliação de obras de arte foram criticadas. O Imdb, concorrente do Rotten, agiu de forma estranha no filme Pequena Sereia. O próprio Rotten já está sendo olhado com desconfiança há tempos. 

Não deixa de ser um alerta sobre a relevância da reputação na contabilidade. No primeiro capítulo de Teoria da Contabilidade, Niyama e Silva recordam que as empresas de auditoria costumam afirmar que seu maior fiscalizador é justamente a reputação. Para o profissional, o simples medo de perdê-la seria suficiente para induzir atitudes de busca pela qualidade.

Apesar das críticas ao Rotten Tomatoes, a ferramenta continua sendo utilizada por falta de um substituto à altura. De modo semelhante, ainda associamos a Big Four à qualidade, mesmo quando o temor de perder reputação já não parece exercer o mesmo peso.

Nos anos 1980, a contabilidade foi sacudida pelo livro Relevance Lost, que acusava a área de ter perdido importância. A crítica dialoga com a história recente do Rotten: ambos enfrentam questionamentos sobre sua relevância, ainda que continuem sendo referências em seus campos.

 

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