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30 junho 2025

Fortuna no lixo


Em 2013, James Howells, um britânico de Newport, País de Gales, descartou acidentalmente um disco rígido contendo cerca de 8.000 bitcoins — hoje avaliados em aproximadamente 742 milhões de dólares. Desde então, ele travou uma longa batalha com as autoridades locais para obter permissão para escavar o aterro sanitário municipal onde acredita que o disco foi parar. Após anos de tentativas, planos elaborados e até propostas milionárias para financiar a busca, o conselho municipal negou definitivamente a autorização. Com isso, a busca foi oficialmente encerrada, e a fortuna perdida permanece irrecuperável.

Leia aqui também

Sentimento e Economia através das pinturas ao longo do tempo


O resumo é promissor: 

Este artigo analisa 630.000 pinturas produzidas a partir do ano 1400 para investigar como a arte visual reflete seu contexto socioeconômico. Os autores desenvolvem um algoritmo de aprendizado para prever nove emoções básicas expressas em cada obra e isolam um “efeito de contexto” — ou seja, o sinal emocional compartilhado entre obras criadas no mesmo local e ano — controlando por influências do artista, gênero e época. As distribuições dessas emoções codificam informações sutis, porém significativas, sobre os padrões de vida, a incerteza ou a desigualdade do contexto em que as obras foram produzidas. Os autores propõem essa medida baseada em emoções, derivada de obras de arte históricas, como uma nova forma de examinar como as sociedades vivenciaram grandes transformações socioeconômicas, incluindo variabilidade climática, dinâmicas comerciais, mudanças tecnológicas, transformações na produção de conhecimento e transições políticas.

A arte tem muito para dizer sobre uma época. E traduz os sentimentos, como na figura abaixo, retirada do artigo. Há emoção no quadro. 


A seguir, a identificação dessa emoção através do "calor" do software, onde a raiva (figura f) está nítido na expressão em torno dos olhos. 


Quando analisaram por país e ao longo do tempo, a arte reproduz esses sentimentos. Veja o caso do medo: 


O texto completo está aqui. Lembrou do livro de Jacob Soll, onde ele usa pinturas, ao longo do tempo, para contar um pouco sobre a história da contabilidade. 

Fórmula especial


O filme F1: The Movie, uma superprodução financiada pela Apple, estreou com grande repercussão global. Com um orçamento estimado entre US\$ 200 milhões e US\$ 300 milhões. A Apple financiou a produção e manteve os direitos de streaming para sua plataforma Apple TV+

Além disso, a detentora dos direitos da corrida está apostando que o filme possa reverter um recuo na popularidade da F1 no maior mercado de esportes do mundo, os Estados Unidos. A falta de competição em um campeonato recente reduziu o interesse. 

Mas o desempenho da Fórmula ainda é tímido em comparação a outros esportes: a NFL trouxe quase 7x mais receita do que a Fórmula 1 no ano passado, mesmo o automobilismo tendo 825 milhões de fãs em todo o mundo. 



Derrotando Barbie, Transformers e Hello Kitty


A Pop Mart, empresa chinesa de brinquedos colecionáveis, superou em valor de mercado gigantes como Mattel (Barbie), Hasbro (Transformers) e Sanrio (Hello Kitty), alcançando cerca de US\$ 34 a 46 bilhões. Seu sucesso se deve ao modelo de vendas “blind-box” — caixas surpresa com bonecos de design exclusivo — e à popularidade de personagens como o elfo Labubu, descrito como “feio, mas fofo”. Celebridades como Rihanna e Dua Lipa ajudaram a impulsionar a fama da marca globalmente, gerando filas e frenesi em lojas de cidades como Londres, Los Angeles e Seul. Em 2024, a Pop Mart dobrou suas vendas para US\$ 1,8 bilhão e triplicou seus lucros, sendo negociada a 33 vezes o lucro esperado, o que indica forte confiança do mercado. Apesar disso, analistas apontam que a sustentabilidade do crescimento depende de inovação constante e da expansão internacional, que hoje representa 39% das vendas.

29 junho 2025

Emissão de CO2


Até 2030, os centros de dados de IA poderão representar uma parcela maior das emissões de carbono do que os voos atualmente.

O boom da inteligência artificial trouxe uma série de efeitos colaterais, mas além das implicações sociais, geopolíticas e econômicas, o número crescente de centros de dados utilizados para alimentar essa tecnologia pode ter um impacto ambiental devastador — e isso pode acontecer mais cedo do que imaginávamos.

Novas projeções da Accenture, divulgadas pela Axios na quarta-feira, mostram que as emissões de carbono provenientes dos centros de dados de IA podem aumentar 11 vezes ao longo da década, representando uma participação de 3,4% no total das emissões globais de CO₂ até 2030, no cenário “base”.

Fonte: aqui 

Sobre as regras de contabilidade de cripto do Bacen

A proposta de regulamentação, anunciada na terça, 24, pela autoridade monetária, trata da definição de critérios de reconhecimento e mensuração, assim como do tratamento contábil, de ativos virtuais emitidos ou sob custódia. O documento também aborda temas como as exigências de notas explicativas sobre variações do valor.

A Resolução que será criada a partir da CP 122/2025 servirá para saber o valor realizável dos criptoativos detidos. “A Resolução proposta segue tendência internacional de regulamentação de práticas contábeis para registro de criptoativos e tem pontos que demandam atenção, como a alta volatilidade que a constante avaliação a valor justo causará nos resultados contábeis”, aponta [o advogado Guilherme Peloso] Araujo.

Apesar de tratar da regra de contabilidade, o texto não mencionou nenhum especialista não jurídico da área. 

Fim das agências bancárias físicas


Há 25 anos, bancos na Alemanha operavam cerca de 60 000 agências; dez anos atrás, eram 35 000; hoje restam apenas 18 933 — uma redução de quase dois terços em um quarto de século. Apenas em 2023, foram fechadas 560 agências, representando uma redução de 2,8% no ano. 

A união de digitalização, taxas de juros baixíssimas e a concorrência de serviços como o euro digital e stablecoins está levando os bancos a enxugar custos e migrar clientes para atendimento digital. 

Os números mostram que a digitalização das finanças europeias está acelerando o fechamento de agências físicas, enquanto projetos de moeda digital centralizada — como o digital euro — impõem ajustes contábeis e operacionais que podem custar bilhões aos bancos tradicionais.

Em termos de balanço, menos ativo imobilizado e mais investimento em intangível, como softwares. O fechamento irá significar efeito sobre o resultado das instituições financeiras. Outro ponto, provavelmente o que está ocorrendo na Alemanha deve estar ocorrendo também em outros países. 

O Caso Dinamarquês contra Deepfakes


É interessante notar que a discussão sobre redes sociais no Brasil encontra agora um certo paralelo na Dinamarca. O governo dinamarquês está propondo uma regra inovadora: o cidadão teria direito autoral sobre sua imagem, voz e traços faciais. Isso permitiria evitar o uso indevido por tecnologias como a de inteligência artificial. A proposta parece contar com apoio parlamentar e prevê que qualquer pessoa possa solicitar a remoção de conteúdo gerado por IA. As plataformas que não cumprirem a determinação estarão sujeitas a compensar os indivíduos prejudicados.

A norma será submetida à consulta pública ainda este ano e pode entrar em vigor até o final de 2025. Há uma exceção importante: paródias e sátiras continuarão protegidas, o que garante um espaço para a liberdade de expressão. O descumprimento da regra poderá resultar em multas e até em intervenção das autoridades. A Dinamarca espera que essa iniciativa sirva de exemplo para outros países, especialmente durante sua presidência no Conselho da União Europeia.

Essa proposta também traz implicações relevantes para a contabilidade, especialmente no que diz respeito ao reconhecimento de passivos nas plataformas digitais. Ao atribuir direitos autorais à imagem, voz e traços faciais dos indivíduos, cria-se a possibilidade de obrigações legais e financeiras que precisarão ser mensuradas e registradas.

    28 junho 2025

    Tecnologia que não muda

    Já que na postagem anteriormente foi mostrado um exemplo de tecnologia e sua evolução, eis três exemplos de tecnologia que não evoluíram com o tempo:




     

    Previsão sobre o telefone portátil em 1919

    De 1919
     

    A lição não aprendida da Wirecard


    No artigo Europe’s Short Sellers Are Still Unloved Post‑Wirecard, de Chris Hughes, o autor lembra o papel dos short sellers e indica que as regras da União Europeia, que exige divulgação de posições vendidas que atinjam 0,5 % ou mais sejam divulgadas individualmente, expondo os investidores, pode ser prejudicial para evitar novos escândalos. 

    O autor alerta que ambientes hostis podem enfraquecer a atividade dos short sellers, que exercem papel essencial na identificação de fraudes e desequilíbrios de mercado - como ocorreu em Wirecard. Para o autor, 

    a Wirecard conseguiu enganar seus auditores e inflar seus números por anos - algo que foi finalmente desmascarado graças à atuação de vendedores a descoberto e jornalistas investigativos.

    Assim, a lição da Wirecard parece que não foi apreendida pelo mercado europeu.

    Rir é o melhor remédio

    Fonte: aqui
     

    27 junho 2025

    Desvio de dinheiro público deixa de ser pena de morte no Vietnã


    O Vietnã aboliu a pena de morte para oito crimes - incluindo desvio de fundos públicos, fabricação de medicamentos falsos, espionagem e tráfico de drogas - como parte de uma reforma legal aprovada em 25 de junho de 2025 (via aqui). Sob a nova legislação, sua pena será convertida automaticamente em prisão perpétua sem possibilidade de condicional, após decisão final da Suprema Corte. A mudança também se estende a outros condenados ainda não executados até 1º de julho, que terão suas sentenças reduzidas para prisão perpétua . No entanto, o Vietnã ainda mantém a pena capital para dez crimes graves, como assassinato, abuso sexual de crianças, traição e terrorismo.

    A medida beneficia a empresária Truong My Lan, condenada à morte por envolvimento em um esquema de fraude financeira de US$ 12,5 bilhões, equivalente a quase 3% do PIB do país em 2022. Sobre essa empresária, postamos anteriormente o escândalo envolvendo a figura

    Rede Social 2: o filme


    O filme A Rede Social, que conta a história da criação e do sucesso do Facebook, terá uma sequência. Aaron Sorkin, responsável pelo roteiro do filme de 2010, deverá desenvolver a continuação. Desta vez, Sorkin usará reportagens do Wall Street Journal — os chamados "Facebook Files" — como inspiração para o novo enredo.

    Se for realmente esse o caminho, a história se passará em 2021, quando documentos internos revelaram que a empresa tinha conhecimento dos efeitos negativos que a rede social estava provocando nos usuários, mas optou por priorizar o lucro. O Facebook possuía estudos mostrando que jovens estavam sofrendo com o conteúdo publicado no Instagram e na própria plataforma. Além disso, a rede teria causado prejuízos a países em desenvolvimento, ao disseminar discursos de ódio em várias regiões.

    A pessoa que fez a denúncia, Frances Haugen (foto), chegou a ser acusada de fraude pela SEC. 


    EUA pune três instituições financeiras do México pelo comércio de fentanil


    A área de crimes financeiros do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos puniu três instituições financeiras do México por envolvimento na lavagem de dinheiro de cartéis ligados ao comércio de fentanil. As instituições são o CIBanco S.A., o Intercam Banco S.A. e a Vector Casa de Bolsa S.A. Juntas, elas administram ativos de 7, 4 e 11 bilhões de dólares, respectivamente.

    Os bancos teriam facilitado o pagamento de produtos químicos oriundos da China, utilizados na produção da droga. O CIBanco estaria ligado aos cartéis de Jalisco, Beltrán-Leyva e do Golfo; o Intercam, ao cartel de Jalisco; e a Vector, aos cartéis de Sinaloa e do Golfo.

    As punições estão fundamentadas no Fentanyl Sanctions Act e no FEND Off Fentanyl Act. Essas normas permitem que o Tesouro dos EUA puna operações de lavagem de dinheiro associadas ao tráfico de fentanil e de outros opioides sintéticos.

    Limites da IA

    Um artigo publicado agora pela Rand procura investigar os limites que os os computadores superinteligentes irão enfrentar. O texto acredita que a inteligência artificial irá revolucionar a capacidade de invenção tecnológica, mas existem leis da "física" que irá delimitar esse avanço. Com base nisso, os autores propõe uma estrutura para avaliar a chance de certas tecnologias se tornem viáveis ou permanentes, dadas as limitações da física. A tentativa é prever quais avanços terão uma barreira intransponível. 

    Fonte: Geist, E., & Moon, A. (2025). What even superintelligent computers can’t do: A preliminary framework for identifying fundamental limits constraining artificial general intelligence (RAND Working Paper WR-A3990-1). RAND Corporation. https://www.rand.org/pubs/working_papers/WRA3990-1.html


    Terceira onda de transformação digital


    Apesar do anglicismo desnecessário no início do texto, interessante o ponto de vista: 

    Esse shift [mudança] marca o início da terceira onda de transformação digital. A primeira foi web-first, centrada em sites. A segunda, mobile-first, baseada em apps. A terceira é conversational-first, protagonizada por agentes inteligentes, acessíveis a partir de qualquer canal de mensagem. E mais do que isso: hiperpersonalizados, contextuais, disponíveis 24 horas por dia e aprendendo continuamente a partir de grandes modelos de linguagem (LLMs) e dados acumulados ao longo de décadas.

    Fonte: aqui. Tenho dúvidas da afirmação do texto que o Whatsapp seria a tecnologia que pode avançar nesse novo mundo. 

    Rir é o melhor remédio

    Café, sempre café
     

    26 junho 2025

    IA e o ambiente

     


    Já sabemos do impacto ambiental da IA. Mas as vantagens precisam ser consideradas: 

    A IA está começando a desempenhar um papel cada vez maior na forma como observamos, analisamos e respondemos às mudanças climáticas. Em diferentes ecossistemas, que vão de densas florestas tropicais a oceanos profundos, a tecnologia está nos ajudando a monitorar o planeta com precisão e a agir com rapidez.

    Durante muitos anos, foram feitos esforços para tentar salvar diferentes espécies da extinção. No entanto, essas iniciativas sempre foram muito manuais, demoradas e difíceis. Agora, os exercícios de conservação estão recebendo um impulso importante com a ajuda da IA. Ferramentas com inteligência artificial conseguem analisar imagens de drones, armadilhas fotográficas e satélites para identificar diferentes espécies de animais, estimar o tamanho das populações e sinalizar padrões incomuns de movimento ou comportamento.

    Esses sistemas conseguem até detectar sinais de caça ilegal ou invasão de habitats, permitindo que guardas florestais e ambientalistas intervenham antes que seja tarde demais. O resultado? Respostas mais rápidas, menos achismos e uma proteção mais eficaz para espécies ameaçadas e ecossistemas frágeis.

    Continue lendo aqui

    Sobre o efeito da IA


    Em resposta para algumas pesquisas indicando efeitos nocivos da IA:

    A maioria das formas de tecnologia da informação, incluindo os modelos de linguagem (LLMs), permite que realoquemos nossas energias mentais conforme preferirmos. Se você usa um LLM para diagnosticar a saúde do seu cachorro (como minha esposa e eu fizemos), isso libera tempo para refletir sobre o trabalho e outros assuntos familiares de forma mais produtiva. Isso nos poupou uma ida ao veterinário. Da mesma forma, aguardo com expectativa um LLM que faça minha declaração de impostos, pois isso me permitiria gravar mais podcasts.

    Se você olhar apenas para a energia mental economizada com o uso de modelos de linguagem (LLMs), no contexto de um experimento artificialmente gerado e controlado, parecerá que estamos pensando menos e nos tornando mentalmente preguiçosos. E foi exatamente isso que o experimento do MIT fez, pois, se você realiza certas tarefas com mais facilidade, sua carga cognitiva provavelmente diminuirá.

    Mas é preciso também considerar, em um contexto do mundo real, o que fazemos com todo esse tempo e energia mental liberados. Esse experimento sequer tentou medir a energia mental que os participantes poderiam redirecionar para outras atividades; por exemplo, o tempo que economizariam em situações reais ao usar LLMs. Não é de se admirar que tenham parecido tão preguiçosos.

    Nós postamos sobre a pesquisa aqui. Mais críticas aqui

    Sobre o uso de IA

     


    A amostra é específica para um setor, mas são conclusões interessantes:

    Em dezembro de 2024, a IA escreveu cerca de 30,1% das funções Python de colaboradores dos EUA, contra 24,3% na Alemanha, 23,2% na França, 21,6% na Índia, 15,4% na Rússia e 11,7% na China. Os usuários mais recentes do GitHub usam mais a IA do que os veteranos, enquanto os desenvolvedores masculinos e femininos adotam taxas semelhantes. Os modelos (...) coloca o valor anual da codificação assistida por IA nos Estados Unidos em 9,6–$14,4 bilhões de dólares, aumentando para 64–$96 bilhões se assumirmos estimativas mais elevadas dos efeitos de produtividade relatados por ensaios de controle aleatórios. Além disso, a IA generativa estimula a aprendizagem e a inovação, levando a aumentos no número de novas bibliotecas e combinações de bibliotecas que os programadores utilizam. Em suma, o uso de IA já é generalizado, mas altamente desigual, e a intensidade do uso, não apenas o acesso, impulsiona ganhos mensuráveis na produção e na exploração.

    (Tradução do Vivaldi) Via aqui. A pesquisa original está aqui. Imagem aqui

    Como a lei pode realmente afetar o ambiente

    De uma postagem sobre fronteiras, eis duas imagens interessantes:

    Acima, a fronteira da Alemanha e República Checa. Ocorreu uma infestação de besouro nas árvores e a Alemanha adotou uma política ativa de proteção da fauna, mas a República Checa, do lado direito, nada fez. 

    Dois país que fazem parte da mesma ilha e o impacto das leis de proteção ambiental. Da esquerda, Haiti, sem proteção. Na direita, República Dominicana, com lei de proteção ambiental. 

    25 junho 2025

    Casamento e imposto

    Amanhã é o casamento de Bezos, em Veneza. Ele fundou e possui o controle da Amazon. A empresa é conhecida por ter um planejamento tributário que consegue a redução no pagamento de impostos. Se você pode alugar Veneza para seu casamento, você pode pagar mais impostos. 
     

    Rir é o melhor remédio

     

    O ano é 1967. A justificativa da licença para um soldado: Minha esposa está planejando engravidar neste fim de semana e eu realmente gostaria de estar presente quando isso acontecer.

    PCAOB multa Big Four na Holanda por fraude em exames

    A PCAOB (Public Company Accounting Oversight Board) multou as filiadas da Holanda da Deloitte e PwC em US$ 3 milhões cada, e da EY em US$ 2,5 milhões – totalizando US$ 8,5 milhões – por fraude massiva em exames internos, incluindo testes de ética, entre 2018 e 2022. Centenas de funcionários, desde auditores juniores até sócios, combinaram respostas ou fizeram os testes juntos. No caso da Deloitte, o diretor de qualidade renunciou após acessar respostas antes do exame; na PwC, um sócio deixou um cargo de liderança por comportamento semelhante. 

    A PCAOB ressaltou que a cultura dessas empresas permitiu corrupção ética. O órgão agradeceu a cooperação e destacou que os valores poderiam ter sido maiores sem isso. Em 2024, a KPMG Holanda havia sido multada em US$ 25 milhões por esquema similar . As empresas estão sob supervisão intensiva da autoridade neerlandesa AFM e adotando reformas – de advertências a demissões – para restaurar a integridade e confiança do mercado

    Fonte: aqui

    Trabalho no Egito Antigo: contabilidade como fonte de informação


    O artigo "Work, wages and apprenticeships: sifting for clues about the lives of girls in ancient Egypt", publicado no The Conversation, explora evidências arqueológicas que revelam aspectos da vida de meninas no Egito Antigo. Papiros e registros administrativos indicam que meninas participavam de atividades econômicas, como tecelagem e produção de alimentos, e algumas recebiam salários por seu trabalho. Há também indícios de que meninas podiam ser aprendizes em ofícios especializados, sugerindo que o aprendizado profissional não era exclusivo dos meninos. 

    Essas descobertas desafiam a visão tradicional de que as mulheres no Egito Antigo estavam restritas ao ambiente doméstico, mostrando que elas desempenhavam papéis ativos na economia e na sociedade. Uma das fontes da pesquisa, os registros administrativos, são os registros contábeis de pagamentos de salários. 

    24 junho 2025

    Tráfico de escravos, marinha real e ideologia


    Durante grande parte do século XIX, a Grã-Bretanha lutou para suprimir o tráfico transatlântico de escravos, enviando navios da Marinha Real para interceptar negreiros ao longo da costa africana. Ao digitalizar dados de arquivos históricos, mostramos que essa campanha de repressão começou de forma modesta, mas foi ganhando força ao longo do tempo, chegando a envolver mais de 14% da frota da Marinha. Explorando a distância entre as rotas dos navios negreiros e as bases britânicas, bem como o momento em que essas bases foram estabelecidas, constatamos que a campanha aumentou a probabilidade de captura dos negreiros, mas não conseguiu interromper o tráfico de escravos como um todo. Na verdade, as mudanças na demanda por escravos desempenharam um papel mais relevante no fim do tráfico. Por fim, fornecemos evidências sugestivas de que a Grã-Bretanha manteve sua custosa campanha naval por motivos ideológicos. 

    O papel da campanha foi importante, conforme destacam os autores em um determinado trecho:

    Para esclarecer o papel dos fatores do lado da demanda, exploramos uma mudança significativa de política em um dos principais destinos do tráfico negreiro: a promulgação da Lei Eusébio de Queiroz pelo Brasil, em 1850, que proibiu o tráfico de escravos com outras nações. Ao comparar o Brasil com outros países, observamos uma queda acentuada nas viagens de tráfico destinadas ao primeiro após a entrada em vigor da nova lei. Portanto, os fatores do lado da demanda foram cruciais para o fim do tráfico de escravos. No entanto, isso não significa que o trabalho da Marinha Real no lado da oferta tenha sido em vão. A mudança de política do Brasil pode ser atribuída, em parte, aos ataques da Marinha Real contra os negreiros brasileiros, uma ação que aumentou a pressão sobre o país para encerrar seu comércio de escravos. 

    O artigo original está aqui. O resumo foi obtido inicialmente aqui . Imagem aqui

    Competência do profissional expandida


    Em junho de 2025, o Institute of Management Accountants (IMA) anunciou a ampliação de seu Competency Framework para profissionais de contabilidade e finanças. A atualização incorpora habilidades essenciais para o ambiente de negócios atual, incluindo análise de dados, operações empresariais, tecnologia da informação e gestão de projetos. A nova versão será detalhada em conferências do IMA e da American Accounting Association, promovendo a integração entre contadores e profissionais de áreas correlatas. 

    O IMA é uma das maiores associações profissionais dedicadas à contabilidade gerencial. Fundado em 1919, promove educação, certificação e desenvolvimento profissional. Oferece a certificação CMA (Certified Management Accountant) e publica pesquisas, guias e frameworks que fortalecem competências estratégicas, financeiras e tecnológicas dos profissionais de finanças. 

    23 junho 2025

    Iasb propõe uma versão revisada do Relatório de Administração


    Em 23 de junho de 2025, o International Accounting Standards Board (IASB) publicou uma versão revisada da IFRS Practice Statement 1: Management Commentary. Essa atualização visa aprimorar a qualidade e a consistência global dos relatórios narrativos que acompanham as demonstrações financeiras, atendendo às demandas dos investidores por informações mais relevantes e específicas. O IASB colaborou estreitamente com o International Sustainability Standards Board (ISSB) para alinhar os requisitos de ambas as entidades, promovendo uma integração eficaz entre os relatórios financeiros e as divulgações relacionadas à sustentabilidade. A nova declaração incorpora inovações em relatórios narrativos, incluindo elementos do Integrated Reporting Framework, e destaca a importância de fornecer informações materiais sobre questões de sustentabilidade para compreender o desempenho e as perspectivas futuras da empresa. Além disso, a IFRS Foundation divulgou orientações sobre divulgações relacionadas à transição climática, auxiliando as entidades na aplicação do IFRS S2. Essas iniciativas reforçam o compromisso com a transparência e a integração das informações financeiras e de sustentabilidade, beneficiando investidores e outras partes interessadas. 

    Eneva divulga relato integrado de 2024

    Eis a notícia:


    A Eneva (ENEV3) divulgou nesta segunda-feira, 23, seu novo Relato Integrado, contendo, pela primeira vez, o Databook ESG (Environmental, Social, and Governance), que contempla os indicadores das diretrizes da Global Reporting Initiative (GRI), do Sustainability Accounting Standards Board (SASB) e do Task Force on Climate-related Financial Disclosures (TCFD). Neste ciclo a companhia também revisou suas metas públicas de ESG a fim de garantir um melhor alinhamento dos compromissos com o seu modelo de negócios, uma abordagem mais pragmática e permitir uma mensuração mais clara do impacto de suas operações nas comunidades e ambientes em que atua. Segundo a companhia, o novo plano estratégico está fundamentado em três pilares essenciais, diretamente alinhados ao seu modelo de negócios, ao seu propósito e ao foco de seus projetos socioambientais, que se desdobram em eixos de atuação com metas e indicadores específicos, com prazos definidos. 
     

    O relatório pode ser obtido aqui. Mais sobre a empresa aqui

    A habilidade desejável no mundo da IA


    Quais habilidades os modelos de IA como o ChatGPT tornarão mais importantes? (...) sua resposta [de John List] foi “habilidades de pensamento crítico”! (...)

    Mas para mim, ainda mais importante do que essa resposta foi seu raciocínio econômico: o pensamento crítico é mais essencial do que nunca porque os modelos de IA reduziram o custo de criar informações para quase zero. Nas próprias palavras do professor List, “no passado havia valor na criação de grandes quantidades de informação. Isso agora é sem custos. A nova moeda é como gerar, assimilar, interpretar e tornar essa grande quantidade de informação acionável. 

    Fonte: aqui 

     

    Incerteza Regulatória pode melhorar a qualidade


    Eis o resumo 

    Os responsáveis pela elaboração de demonstrações financeiras frequentemente equilibram o benefício de reportar estimativas enviesadas com as potenciais penalidades por informações incorretas. Ao fazer esse equilíbrio, esses profissionais frequentemente enfrentam incertezas sobre possíveis mudanças nas normas contábeis (“incerteza regulatória”), que podem afetar os benefícios futuros do reporte enviesado. Nosso experimento documenta dois efeitos comportamentais inéditos da incerteza regulatória sobre as estimativas dos preparadores. Primeiro, a incerteza faz com que os preparadores produzam estimativas menos enviesadas, mesmo que a redução do viés contrarie seus incentivos financeiros no nosso contexto. Segundo, a incerteza aumenta a sensibilidade dos preparadores à imprecisão das mensurações, o que é fundamental para a qualidade dos relatórios financeiros. Embora a incerteza regulatória seja frequentemente criticada, nossa teoria e nossos resultados sugerem que ela pode gerar, de forma não intencional, um aumento na qualidade dos relatórios financeiros, como consequência natural de um processo normativo criterioso e deliberativo.

    O artigo (The Effect of Uncertainty About Future Accounting Standards on Financial Reporting Quality - Ben Van Landuyt & Brian White, Management Science) ainda não foi publicado. Dica daqui

    Onde estão os imigrantes

     

    Os dados do mapa acima mostram que os países onde a população de imigrantes é maior. É surpreendente saber que na América o país com maior número percentual de imigrante é Antigua e Barbuda

    Veja que o Brasil, que no passado era conhecido por receber muitos imigrantes,  já não se destaca - quanto mais azul a cor, menos imigrantes. Já fomos atrativos, com garantia de emprego e riqueza. 

    22 junho 2025

    Contador e o desenvolvimento


    Contador faz bem para economia:  

    Investigamos se e como o aumento no número de contadores afeta a atividade econômica, utilizando dados de mais de 1,1 milhão de estabelecimentos. Aplicando o método de Bartik (1991) para lidar com endogeneidade, constatamos que o aumento do emprego contábil em um condado leva a um crescimento do produto interno bruto, do emprego, da atividade empresarial e dos salários. Além disso, os contadores contribuem incrementalmente para o crescimento econômico em comparação com profissionais de negócios ou de outras ocupações. A melhora na atividade econômica agregada está relacionada ao aumento na criação de empregos e na abertura de estabelecimentos, ao crescimento dos empréstimos para pequenas empresas e aos ganhos de produtividade. Reforçamos nossas conclusões utilizando o requisito de 150 créditos para o exame de CPA e a loteria de vistos H-1B como choques no emprego contábil. Nossos resultados destacam os benefícios econômicos de aumentar o número de contadores na economia.

    O texto pode ser encontrado aqui, a partir da dica daqui . No Brasil, há uma pesquisa equivalente, aqui.

    IA e o Impacto no cérebro

    Pesquisadores do MIT fizeram uma pesquisa entre usuários do ChatGPT e avaliaram a influência sobre a cognição dos usuários. A pesquisa ainda não foi publicada, mas as conclusões estão disponíveis. Basicamente há diferenças entre a atividade cerebral das pessoas que usam o GPT para escrever e as pessoas que não usam. 

    Usando uma amostra de 54 adultos, com idades entre 18 e 39 anos, os pesquisadores solicitaram a um grupo que usasse o GPT para ajudar a escrever um texto, a outro grupo que utilizasse o Google para ajudar na escrita e outro que não usava tecnologia de IA. O estudo demorou quatro meses e cada grupo deveria escrever um ensaio por mês. 


    O grupo de usou o GPT apresentou um desempenho neural inferior, assim como linguístico e comportamental. As descobertas são novas, mas pode ser um alerta sobre o efeito da IA sobre o cérebro e a mente das pessoas. Mas é preciso notar que a pesquisa ainda não foi revisada por pares e a amostra usada foi relativamente pequena. 

    Grande vazamento de senhas


    O maior vazamento de dados da história expôs mais de 16 bilhões de senhas e logins, segundo a Cybernews. O material foi compilado a partir de 30 bases de dados diferentes, muitas delas recentes, e inclui credenciais obtidas principalmente por meio de golpes de phishing, infostealers (malwares que roubam dados) e ataques de ransomware. Cerca de 3,5 bilhões dos registros seriam de usuários de língua portuguesa. As informações ficaram disponíveis por pouco tempo, mas foram rapidamente copiadas e estão sendo comercializadas na dark web. Empresas como Apple, Google e Meta foram questionadas, mas não confirmaram oficialmente o incidente. Especialistas alertam para os riscos de sequestro de contas, fraudes, roubo de identidade e ataques a sistemas bancários e governamentais. As recomendações incluem trocar senhas, usar gerenciadores de senhas, ativar autenticação de dois fatores e manter sistemas atualizados. O caso revela a gravidade dos riscos digitais e a falta de percepção pública sobre o problema. 

    Fonte: aqui 

    Sobre a obra de Jensen

    Um texto de Fama e French sobre a obra do falecido Jensen 

     Grande parte da pesquisa de Mike Jensen é fundamental, incluindo suas primeiras publicações, que se concentram na precificação empírica de ativos. Por exemplo, o alfa de Jensen, que ele desenvolve em Jensen (1968 e 1969) para avaliar gestores de fundos mútuos, é a base para a maioria das métricas de desempenho de investimentos. Da mesma forma, em Fama et al. (1969), Jensen e seus coautores apresentam o primeiro estudo de evento. A partir daí, os estudos de evento passam a desempenhar um papel central nas pesquisas em finanças, contabilidade e direito. Por fim, Black, Jensen e Scholes (1972) desenvolvem uma percepção chave sobre a importância da interdependência dos erros amostrais na precisão dos testes de precificação de ativos.

    21 junho 2025

    Os efeitos da guerra na Gazprom

    A Gazprom, uma das grandes empresas russas, está enfrentando uma grave crise em razão da guerra com a Ucrânia. Os governos da Europa deixaram de comprar o produto da empresa e isso representava 40% da sua receita. Além disso, a explosão dos gasodutos NordStream contribuiu para a redução. 

    Os dados indicam que em 2023 a empresa teve prejuízo, o primeiro desde 1999, de 583 bilhões de rublos ou algo em torno de 7 bilhões de dólares. Os números de 2024 são divergentes, existindo estimativa de prejuízo do dobro do ano anterior e também estimativa de lucro, no mesmo valor. 

    A empresa tenta reduzir custos, cortando cargos administrativos e reduzindo despesas administrativas. Mas provavelmente somente uma paz pode contribuir para um período de bonança para a empresa. 

    Contabilidade e a idade medieval europeia

    A escrituração contábil durante a Idade Média evoluiu em várias direções distintas. O desenvolvimento, no norte da Itália, das sociedades de risco e do comércio ultramarino levou ao surgimento do sistema de partidas dobradas que utilizamos hoje. É tentador fazer da história da contabilidade apenas a história da escrituração por partidas dobradas, ignorando rapidamente os mil anos entre a queda de Roma e a publicação da Summa de Arithmetica de Luca Pacioli, em 1494.

    Por estarem fora da linha de eventos que levou diretamente às partidas dobradas, os detalhes das práticas medievais fora da Itália tendem a ser negligenciados ou tratados apenas como curiosidade histórica.

    Em contraste com os procedimentos contábeis codificados do Império Romano, os registros medievais eram geralmente locais e centrados em uma série de instituições especializadas. Embora seja difícil isolar as influências romanas, em ambos os períodos os registros eram mantidos, principalmente, porque os empregadores precisavam monitorar seus subordinados que atuavam como seus agentes.

    O paralelo mais próximo do método romano de escrituração está na contabilidade de recebimentos e pagamentos da Igreja Católica, que, por centenas de anos, cobrava e arrecadava impostos em toda a Europa. Já no século VI, diáconos eram designados para administrar as propriedades da Igreja e prestar contas de suas receitas. Agentes do tesouro papal estavam localizados nas províncias e tinham a responsabilidade de enviar os recebimentos para Roma.

    O valor da contabilidade como ferramenta para a gestão sistemática de propriedades foi reconhecido desde cedo. No século IX, Carlos Magno elaborou o Capitulare de Villis, uma série de instruções detalhadas para seus administradores sobre a supervisão das terras reais e o envio de relatórios ao soberano. Embora os métodos de cálculo fossem primitivos e os períodos contábeis irregulares, Jack (1966) observou que “Carlos Magno enfatizava a necessidade de organização, de agrupar temas semelhantes sob um único título e de revisar de forma ordenada as prováveis fontes de receita”. Fazia-se um inventário anual das propriedades e dos bens móveis do rei. Receitas e despesas eram registradas em livros separados, e qualquer saldo era enviado ao monarca.

    Na Inglaterra pré-normanda, a alfabetização era tão rara — até mesmo entre a nobreza — que um sistema escrito de contabilidade dificilmente justificaria seus custos. Até o século XI, os dados financeiros eram quase sempre comunicados e verificados oralmente, sendo os documentos escritos apenas complementares à palavra falada, que era considerada mais importante. Naquela época, a introdução do ábaco e outras melhorias nas técnicas aritméticas coincidiu com um renascimento do interesse pela linguagem escrita. Um sistema de registros escritos foi, então, gradualmente formalizando uma tradição contábil que até então era essencialmente oral.

    Os métodos contábeis medievais ingleses merecem atenção por diversas razões. Os primeiros registros fiscais do governo e os livros de contas senhoriais estão entre os documentos mais antigos preservados na língua inglesa, e as abordagens adotadas para resolver problemas nessas áreas possuem paralelos evidentes na prática moderna. A contabilidade de agência da Idade Média lançou as bases para os atuais princípios de stewardship (responsabilidade fiduciária) e conservadorismo. Ela também ajudou a criar as condições para o rápido avanço das tecnologias contábeis ocorrido durante a Renascença.

    Além disso, a ampla disseminação e durabilidade desses sistemas sugerem que a contabilidade por partidas dobradas não é a única forma eficiente de organizar dados financeiros — e que, em muitos casos, métodos mais simples podem produzir resultados igualmente úteis.

    A sociedade feudal é frequentemente representada como uma pirâmide em múltiplos níveis, na qual os indivíduos de cada nível inferior recebiam certos direitos em troca do cumprimento de determinados deveres. Esse sistema exigia diversas delegações de autoridade e a transferência de direitos sobre terras dos proprietários nominais para os possuidores e usuários efetivos. O problema contábil característico desse contexto era o da comunicação e verificação vertical entre o principal e seu agente.

    Nas finanças reais inglesas, isso levou ao sistema de proffer, utilizado para registrar e verificar a arrecadação de impostos, enquanto na contabilidade dos feudos deu origem ao demonstrativo de charge and discharge, preparado pelo administrador da propriedade (steward) em nome de seu senhor.

    Até o final da Idade Média, o trabalho humano era o fator produtivo mais dinâmico, e os sistemas sociais feudais eram projetados para manter a mão de obra fixa na terra. Os manors — as propriedades da nobreza — eram as fazendas e oficinas da Grã-Bretanha medieval. A contabilidade senhorial na Inglaterra descrevia os recebimentos e pagamentos de uma entidade econômica autossuficiente, e os resultados de suas transações com terceiros eram classificados como “externos” nas contas.

    Outra característica da vida senhorial era a administração por procuração. O senhor feudal, como um duque ou conde, frequentemente dependia, para seu sustento, da produtividade de grandes extensões de terra e dos esforços de centenas de pessoas que ele não podia supervisionar pessoalmente. A gestão do dia a dia ficava, normalmente, a cargo de uma hierarquia de funcionários e chefes de departamento. O incentivo do senhor para manter registros contábeis surgia de sua necessidade de fiscalizar a integridade e a confiabilidade de seus administradores, evitar perdas e furtos, e, de modo geral, estimular a eficiência. Do ponto de vista do steward, os registros contábeis serviam como prova de que ele havia cumprido suas obrigações de forma honesta e adequada.

    A autossuficiência dos feudos e a relação de agência são fundamentais para compreender as diferenças entre os registros patrimoniais da época e os registros contábeis atuais. A independência econômica e a ausência de necessidade de prestar contas a terceiros significavam que pouco do que hoje chamamos de contabilidade financeira era necessário. As vendas a crédito eram raras. Os ativos eram inventariados, mas balanços patrimoniais dificilmente eram elaborados. As ferramentas do senhor podiam ser contabilizadas juntamente com os bens pessoais de seus arrendatários, e os valores monetários, às vezes, eram combinados com quantidades físicas de bens nas demonstrações de ativos do feudo. Não havia uma distinção clara entre despesas de capital e despesas operacionais — o custo de um cavalo era registrado da mesma forma que o custo do feno que ele consumia.

    As despesas podiam ser alocadas em detalhes entre várias atividades, de modo a demonstrar os resultados de cada uma, mas o lucro ou prejuízo geral normalmente tinha pouca relevância. Por vezes, a narrativa das contas era interrompida para incluir estimativas sobre o que poderia ter sido obtido caso uma decisão diferente tivesse sido tomada.

    Os administradores senhoriais mantinham registros não em benefício da entidade econômica, como se faz hoje, mas sim para sua própria proteção. Em grandes propriedades, um surveyor (fiscal de terras) organizava um livro contendo os aluguéis de terras e taxas devidas, que era utilizado pelo receiver-general, responsável pela arrecadação efetiva dessas receitas e pelo seu registro por fontes. Outros funcionários pagavam e controlavam salários e despesas. Auditores examinavam periodicamente e resumiam todas essas contas, que eram essencialmente registros dos indivíduos envolvidos, e não do feudo em si. Como seu objetivo era apenas demonstrar que as obrigações haviam sido devidamente cumpridas, havia uma tendência natural para que cada administrador registrasse apenas os itens pelos quais era responsável, apresentando cada tipo de receita em contraposição aos respectivos pagamentos.

    Poderia haver ainda mais diversidade na escrituração medieval do que, de fato, existiu. As razões modernas para a consistência e a comparabilidade contábil praticamente não existiam. No entanto, parece que o ambiente feudal, como qualquer outro, favorecia certas técnicas. Governos municipais, propriedades monásticas e laicas, residências e guildas de ofício — ou worshipful companies — compartilhavam uma tradição de escrituração no modelo de charge and discharge e auditorias de prestação de contas. Todos os tipos de registros eram sincronizados com os ciclos agrícolas, sendo o dia de Michaelmas (29 de setembro) a data que marcava a colheita e o encerramento do ano contábil natural.

    A escrituração de entrada simples no Japão feudal seguia um padrão semelhante de registros descentralizados, uso do ábaco para numeração visual, ênfase no controle e responsabilização pessoal dos agentes encarregados da contabilidade.

    A autossuficiência do feudo impôs limites ao seu desenvolvimento como instituição. A Inglaterra, que havia sido isolada geograficamente do comércio com o Oriente Próximo durante a Renascença, encontrou-se em uma posição mais favorável após a descoberta da América. No século XVII, as cidades começaram a substituir os feudos como centros da vida econômica, e os fabricantes independentes passaram a competir com os artesãos rigidamente regulamentados pelas guildas. A expansão do comércio ultramarino criou novos mercados e fontes de suprimento. O foco passou da administração dos ativos senhoriais para a proteção dos investidores corporativos e para questões relativas à apuração de resultados e ao pagamento de dividendos.

    A contabilidade de agência permaneceu, mas começou a assumir a forma sofisticada que já havia se desenvolvido, séculos antes, no norte da Itália, onde a acumulação de capital e as longas distâncias comerciais favoreciam operações por filiais, arranjos de crédito e transações por consignação.

    Não se pode culpar os contadores senhoriais por não produzirem dados de que não precisavam. O executivo típico da Idade Média praticamente não escrevia e lia muito pouco. As contas do Exchequer (Tesouro Real) e dos feudos eram mantidas, normalmente, sob o pressuposto de que nem o rei nem o barão jamais as leriam. Assim, a contabilidade tendia a se encerrar no ponto em que o chefe de cada departamento dispunha de informação suficiente para seu próprio uso.

    Homens desse contexto dificilmente desenvolveriam um método contábil que colocasse ativos e patrimônios líquidos em oposição, porque não possuíam um conceito real de capital. O feudo era o seu capital. A terra raramente era comprada ou vendida; eles só podiam atribuir-lhe valor com base em algum múltiplo da produção líquida anual. Com a produção tão interligada ao consumo, havia pouco incentivo para determinar a renda total. Tampouco havia necessidade de uma contabilidade de custos sistemática, pois a maioria dos feudos seguia um padrão repetitivo e pouco variável de receitas e despesas.

    No entanto, nas áreas de controle interno e auditoria, a prática senhorial estava muito à frente do “Método de Veneza” de Pacioli. Demonstrava como registros feitos principalmente para apurar um balanço anual podiam ser adaptados para ajudar na gestão diária dos negócios. A doutrina do conservadorismo era uma forma de autoproteção para o administrador do feudo (steward) diante da auditoria; essa mesma tendência à subavaliação é central na contabilidade corporativa moderna. Inventariantes e administradores de bens continuam utilizando o demonstrativo de charge and discharge para prestar contas da gestão de ativos sob sua responsabilidade fiduciária.

    Até mesmo o sistema moderno de pesos e medidas — com todas as suas imperfeições — tem origem naquela época, quando uma jarda correspondia à distância do nariz do rei até a ponta de seu braço estendido. Se muitas coisas mudaram, há ainda semelhanças suficientes que fazem com que nossa herança contábil da Idade Média seja rica em formas, técnicas e ideias.


     

    Michael Chatfield - The History of Accounting

    Preferi não usar o termo "grandes civilizações" aqui, pois o verbete trata de várias situações, especialmente Inglaterra e, em menor quantidade, o Japão. Mas é interessante a posição do autor, que destaca a importância da contabilidade medieval e o fato de cumprir seu papel.  Imagem: aqui

    Grandes civilizações e a contabilidade: os arábes

     


    O sistema de numeração arábico se originou na Índia. O sistema moderno de números arábicos, incluindo o zero, começou a ser utilizado no mundo muçulmano a partir do século IX. Eles aparecem em manuscritos europeus datados de 976 e 1143. No Liber Abaci (1202), Leonardo de Pisa demonstrou a superioridade dos números arábicos ao apresentar registros nos quais os numerais romanos apareciam no texto, contrastando com os números arábicos organizados em colunas à direita.

    Em apenas uma geração, os números arábicos passaram a ser amplamente utilizados pelos comerciantes italianos. A contabilidade por partidas dobradas surgiu não mais tarde do que no século XIII, mas os numerais romanos continuaram sendo utilizados nos registros contábeis quase sempre até o século XVI. Portanto, a ampla adoção dos números arábicos não foi uma condição prévia para o desenvolvimento da contabilidade por partidas dobradas.

    No entanto, as características aditivas dos números arábicos proporcionaram uma vantagem para o formato bilateral das contas, no qual recebimentos e pagamentos eram colocados em duas colunas lado a lado. G.E.M. de Ste. Croix argumenta que essa separação em colunas pode ter dado origem à noção de débito e crédito, facilitando, assim, o surgimento da contabilidade por partidas dobradas.

    Michael Chatfield no verbete de The History of Accounting 

    Veja também a discussão sobre a importância dos números na série sobre Roma. Figura daqui 

    Grandes Civilizações e a Contabilidade: Peru

    Peru 


    O cordão com nós pode ser o dispositivo contábil mais antigo do mundo. Lyle Jacobsen descreveu seu uso na pré-história do Havaí, nas Ilhas Marquesas e na China antiga, onde o uso de cordões com nós para registros aparentemente antecedeu o surgimento da linguagem escrita, por volta de 3300 a.C.

    O uso mais bem documentado da numeração por cordões com nós ocorreu no Peru. O quipu foi utilizado pelos incas, a partir de aproximadamente 1200 d.C., como um dispositivo de contagem e registro. Consistia em um cordão de algodão ou lã, com comprimento que variava de alguns centímetros a mais de um metro, ao qual eram presos um ou mais cordões secundários com nós. As cores desses cordões muitas vezes indicavam os tipos de itens registrados, enquanto o tamanho de cada nó e sua distância em relação ao cordão principal representavam números específicos, baseados em um sistema decimal. Um único nó na extremidade inferior do cordão representava um; dois nós na mesma posição indicavam dois; um nó mais próximo do cordão principal representava dez; um nó ainda mais próximo indicava cem, e assim sucessivamente. Foram encontrados quipus com nós que registravam centenas de milhares de itens.

    Os homens especializados na confecção e leitura dos quipus eram chamados de quipucamayocs. Eles acumulavam as funções de escribas, contadores, estatísticos e historiadores. Assim como os recenseadores modernos, eles contavam os habitantes de cada aldeia, registravam nascimentos e mortes e especificavam o número de homens disponíveis para o serviço militar. Também ajudavam na alocação de recursos dentro do império, registrando impostos devidos, receitas do governo, inventários dos armazéns e até as quantidades de matérias-primas distribuídas aos tecelões e os volumes de tecidos produzidos. Todas essas informações eram registradas nos quipus e enviadas, por mensageiros, à capital, Cuzco.

    O Império Inca era um paradoxo: uma economia altamente centralizada e planejada que funcionava sem linguagem escrita ou moeda cunhada. O quipu e os quipucamayocs eram elementos centrais de sua administração.

    Michael Chatfield para The History of Accounting

    Já postamos sobre o assunto aqui e aqui. Um verbete bem extenso sobre os quipus pode ser encontrado aqui

    Grandes civilizações e a Contabilidade: Roma

    Roma (509 a.C. – 476 d.C.)

    A cidade de Roma foi o centro da República Romana (509–27 a.C.) e do Império Romano (27 a.C.–476 d.C.). Após derrotar e destruir Cartago em 146 a.C., a República Romana passou a controlar o Mediterrâneo, abrangendo desde o Norte da África, Síria, Macedônia, Grécia até o Egito. Figuras notáveis desse período foram Mário, Sula, Pompeu, Cícero e Júlio César. O primeiro imperador foi César Augusto, em 27 a.C.; outros imperadores de destaque nos primeiros 200 anos foram Trajano, Adriano, Antonino Pio e Marco Aurélio. Ao final do segundo século, o Império Romano se estendia pelas regiões do Reno, Danúbio, Ásia Menor, Síria, Palestina, Egito, África, Espanha, França e Grã-Bretanha. Havia 43 províncias a serem administradas, todas conectadas por um complexo sistema de estradas. Aquedutos forneciam água — muitos dos quais ainda existem hoje. O cristianismo tornou-se a religião oficial do império em 313, sob Constantino I. Em 395, o império foi dividido em duas partes: o Império Romano do Oriente, governado em Constantinopla, e o Império Romano do Ocidente, governado em Roma. Em 410, Roma foi saqueada, e em 476 o chefe germânico Odoacro depôs o último imperador do Império Romano do Ocidente. O Império Romano do Oriente continuou até 1453, quando Constantinopla caiu. Roma possuía uma língua altamente desenvolvida e versátil, o latim, e seus habitantes escreviam com escrita cursiva em papiro. Roma também contava com um excelente sistema jurídico e utilizava a moeda da Grécia como sua moeda internacional. A paz romana vigorou por muitos anos.


    O comércio altamente desenvolvido de Roma foi descrito por Herbermann (1880). Os banqueiros eram considerados com grande respeito e mantinham correspondentes em várias partes do império. Formavam-se companhias para arrecadação das receitas públicas. O empréstimo de dinheiro a altas taxas de juros era bastante comum. Os banqueiros romanos estavam sob controle do Estado; a lei exigia que mantivessem livros contábeis para servirem como prova legal em tribunal, além de determinar que esses livros estivessem abertos à inspeção dos oficiais da cidade.

    Littleton (1933) considerou que havia sete fatores necessários para a prática da escrituração contábil por partidas dobradas: (1) propriedade privada, (2) capital, (3) comércio, (4) crédito, (5) escrita, (6) dinheiro e (7) aritmética. Littleton, renomado historiador e teórico da contabilidade da Universidade de Illinois, acreditava que a complexidade da aritmética — agravada pelo uso dos numerais romanos — e a ausência da noção de capital produtivo tornavam improvável que a escrituração por partidas dobradas existisse em Roma. Os registros das famílias romanas eram pouco mais do que anotações de recebimentos e pagamentos.

    Littleton escreveu que o equilíbrio e a dualidade precisariam ser adicionados ao elemento de propriedade comercial antes que a contabilidade por partidas dobradas pudesse ser implementada. Como o comércio era visto como indigno para um patrício romano — trazendo, inclusive, implicações negativas para seus direitos políticos como cidadão —, é provável que apenas escravos instruídos cuidassem dos negócios e dos registros, utilizando um sistema de contas baseado na lógica de “entrada e saída” (charge-discharge).

    O desenvolvimento avançado do direito e do sistema bancário romano certamente teve um papel significativo na manutenção dos registros. Littleton acreditava que os bancos romanos, bem desenvolvidos, poderiam ter levado naturalmente a um sistema autossuficiente de lançamentos duplos em contas bilaterais. Contudo, é questionável se esse conhecimento sobreviveu no sistema bancário durante os longos Séculos Escuros (476–1000 d.C.), que antecederam a retomada do comércio nas cidades-estado italianas.

    O fascínio pela contabilidade por partidas dobradas e pelos registros antigos também influenciou outros estudiosos da contabilidade, além de Littleton.

    Kats (1929, 1930), que tinha a vantagem de ser fluente em diferentes idiomas, trabalhou com os escritos de Fabio Besta (em italiano), Rudolph Beigel (em alemão) e Raymond de Roover (em francês). Em um artigo de 1930, Kats escreveu que não encontrou valores monetários associados aos registros de mercadorias em Roma, mas que valores em dinheiro eram registrados para caixa, contas a receber e contas a pagar. Ele também destacou os seguintes registros de uma família romana abastada: adversaria (livro rascunho ou livro diário provisório); codex accepti et expensi (livro-caixa); codex rationum mortalium (um razão contendo contas pessoais); e codex rationum domesticarum (registros apenas de quantidades).

    Em um artigo de 1929, Kats concluiu que a contabilidade por partidas dobradas surgiu devido à relação entre escravo e senhor na economia romana: “A contabilidade por partidas dobradas começou quando, pela primeira vez, os créditos do senhor e as obrigações do devedor foram balanceados entre si nos livros de um escravo romano.”

    Peragallo (1938) destacou a continuidade da cultura romana durante toda a Idade Média, argumentando que, como a propriedade privada não desapareceu, o sistema contábil romano permaneceu. Peragallo acreditava que a contabilidade por partidas dobradas poderia ter estado presente de forma embrionária no sistema contábil romano.

    Por outro lado, De Ste. Croix (1956) foi bastante enfático ao afirmar que os romanos não utilizavam partidas dobradas. Ele defendia que o sistema econômico romano não havia se desenvolvido a ponto de exigir esse tipo de contabilidade, além de considerar que os numerais romanos eram inadequados para esse fim, uma vez que não eram organizados em colunas. De Ste. Croix argumentava que a contabilidade na Antiguidade existia sobretudo para expor perdas causadas por fraudes ou ineficiências dos servos e outros agentes do proprietário. No entanto, ele relatou a anomalia de uma conta bilateral encontrada em Karanis, datada de 191–192 d.C., na qual lançamentos no formato atual de partidas dobradas parecem ter ocorrido.

    De Ste. Croix também apresentou o exemplo do uso, por Columela — autor de um tratado agrícola de 12 livros, De Re Rustica, por volta de 60 d.C. —, de uma estimativa conservadora dos lucros provenientes do cultivo de vinhas. Além disso, escreveu que o famoso orador e advogado romano Cícero mencionou, em um julgamento, os registros domésticos de uma família rica. Marcus Porcius Cato (234–149 a.C.), em seu tratado sobre agricultura De Agri Cultura, recomendava que o proprietário rural revisasse os registros de caixa e os diversos inventários sempre que visitasse sua fazenda, além de conferir frequentemente as contas do escravo administrador, como também observado por De Ste. Croix.

    Most (1979) questionou algumas das premissas de De Ste. Croix. Most considerava que o sistema econômico romano era altamente desenvolvido e argumentava que a ausência de colunas para os números não tornava impossível a prática da contabilidade por partidas dobradas. Ele também fez referência a uma obra alemã de B.G. Niebuhr, que estudou fragmentos da oração Pro Fonteio de Cícero, preservados na Biblioteca do Vaticano, e concluiu que esses documentos sugeriam a existência de partidas dobradas.

    A controvérsia sobre as partidas dobradas não deve obscurecer o fato de que diferentes formas de documentação contábil, controles e informações foram componentes importantes da civilização romana. Manuais de agricultura, leis, registros de argumentos jurídicos e documentos governamentais evidenciam essa importância.

    Richard Vangermeersch para The History of Accounting

    O texto discute a existência ou não de partidas dobradas. Há outros elementos interessantes na história de Roma que possuem consequências contábeis, como os aspectos relacionados com as finanças públicas do império.