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01 junho 2025

Grandes nomes da história da contabilidade mundial: Dicksee


Dicksee, Lawrence (1864–1932) - Lawrence Dicksee nasceu em Londres e cresceu em uma família de artistas com sucesso modesto. Em 1881, aos 17 anos, tornou-se assistente de contabilidade por meio de um contrato de aprendizagem, e, em 1886, qualificou-se por exame como membro do Institute of Chartered Accountants in England and Wales. Em seguida, abriu seu próprio escritório de contabilidade em Cardiff, onde também lecionava contabilidade nas escolas técnicas locais. Em 1902, foi nomeado professor titular de contabilidade na Universidade de Birmingham. No mesmo ano, passou a atuar como professor em tempo parcial na London School of Economics, onde continuou a lecionar até sua aposentadoria, em 1926.

Dicksee foi um dos escritores mais prolíficos de contabilidade de sua época, com uma impressionante variedade de interesses e conhecimentos. O mais conhecido de seus 17 livros foi Auditing (1892), que teve 19 edições no Reino Unido e serviu de modelo para o livro Auditing Theory and Practice (1912), de Robert H. Montgomery, nos Estados Unidos. Dicksee também foi o primeiro contador a escrever livros sobre goodwill e depreciação. Publicou obras especializadas sobre conversão de moeda estrangeira, contabilidade de leiloeiros, advogados, companhias de gás, hotéis, minas e garagens. Seu livro sobre organização empresarial e gestão de escritórios antecipou a revolução no processamento de informações em quase 50 anos.

Hoje, a reputação de Dicksee se baseia principalmente em seus escritos teóricos. Ao contrário da maioria de seus contemporâneos, ele explorava os problemas contábeis com base no que chamava de “princípios fundamentais”. Foi um dos primeiros a realizar esforços sistemáticos para formular uma base racional para avaliação de ativos e mensuração do resultado.

Antes de considerar as propostas de Dicksee, é necessário compreender a prática contábil de sua época. No final do século XIX, a maioria das empresas manufatureiras ainda utilizava o método da conta única ou método de inventário para avaliação de ativos, tratando os ativos fixos como mercadorias não vendidas. Os ativos eram avaliados ou reavaliados no final de cada exercício contábil, e para a maioria das empresas que usavam esse método, o lucro correspondia à variação do valor de todos os ativos, qualquer que fosse a causa. Não se fazia distinção entre despesas de capital e de receita, entre ativos circulantes e de longo prazo, ou entre aumentos inflacionários e lucro real.

As ferrovias inglesas e algumas empresas de utilidade pública eram legalmente obrigadas a usar o método da conta dupla. Os custos de aquisição de ativos de longa duração eram capitalizados e nunca depreciados. Como essas empresas precisavam manter seus ativos fixos de forma permanente, assumia-se que os valores dos ativos permaneciam constantes enquanto estivessem em boas condições de uso. Isso tornava natural capitalizar melhorias e acréscimos aos ativos, enquanto substituições e reparos eram lançados diretamente como despesas. Como o momento da substituição de ativos era uma decisão gerencial, a depreciação também o era. Quando registrada, a depreciação era vista não como despesa operacional, mas como uma retenção de receita para repor o valor do ativo perdido.

O principal alvo de Dicksee era o método da conta dupla, que ele criticava por não exigir depreciação e por assumir que o consumo de capital não superaria a taxa de reposição de ativos. Ele argumentava que o principal objetivo das empresas era sua continuidade, e que a avaliação dos ativos deveria refletir esse fato. Mesmo empresas que não registravam depreciação enfrentavam a inevitabilidade da reavaliação de ativos quando estes eram vendidos ou quando a empresa mudava de proprietário. Assim, não eram apenas os preços correntes dos ativos — valores de liquidação — que importavam, mas também os preços futuros.

Para antecipar esses valores o mais precisamente possível, Dicksee acreditava que os ativos precisavam ser avaliados como “entidade em funcionamento”, ou seja, “pelo valor que teriam nos livros se a depreciação adequada tivesse sido registrada” (Auditing, 5ª ed., 1902).

A suposição de Dicksee de vida útil indefinida para a empresa também descartava o uso de preços de liquidação nos balanços de empresas manufatureiras. Se uma empresa mantinha seus ativos fixos permanentemente, parecia ilógico determinar lucros por meio de avaliações anuais baseadas em valores de revenda. Como não havia intenção de vender esses ativos, as flutuações de seus preços de mercado não podiam ser consideradas ganhos ou perdas. Ativos de longo prazo deveriam ser avaliados pelo custo de aquisição menos a depreciação. A justificativa de Dicksee para ignorar variações de valor que não fossem causadas pelo “tempo e uso” era que não se pretendia realizar tais ativos. Eles haviam sido adquiridos para uso, e não para revenda com lucro.

No entanto, a lógica da continuidade operacional exigia que os ativos circulantes fossem avaliados pelo valor líquido realizável. Como eram comprados ou produzidos para venda, eram sensíveis a variações de valor, e qualquer queda nos preços, segundo Dicksee, deveria ser registrada como perda. Pela mesma lógica, valorização dos ativos deveria ser creditada como receita — mas Dicksee não foi tão ousado. Como antes da venda “sempre há dúvida se tal realização de fato ocorreu, é mais prudente postergar o reconhecimento do lucro presumido até que este tenha sido efetivamente realizado” (Advanced Accounting, 1903).

Na virada do século, essas ideias eram revolucionárias. O fato de hoje parecerem ortodoxas é evidência de sua aceitação generalizada. Dicksee, mais do que qualquer outro indivíduo, estabeleceu o princípio da continuidade como um conceito contábil significativo. Ao fazer isso, ajudou a mudar o foco da contabilidade de uma visão puramente histórica de avaliação — baseada em preços de liquidação e conservadorismo — para a visão de que os valores dos ativos dependem de eventos futuros. Isso, por sua vez, abriu caminho para a síntese de outros princípios contábeis — custo histórico, objetividade, competência e realização — em torno do conceito de entidade em continuidade.

Michael Chatfield - The History of Accounting

Dicksee foi o autor do verbete Accounting para a edição da Enciclopedia Britannica de 1911, uma das melhores edições já produzidas. A foto está na pesquisa da Dicksee Family

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