Translate

31 março 2025

Poluição

Três gráficos analisando a história recente da poluição do ar. O primeiro mostra o comparativo do número de mortes em decorrência da poluição. O Brasil está na parte debaixo e há uma melhoria no número. Ou seja, morrem uma menor quantidade de pessoas.

O segundo gráfico apresenta de onde é a origem da emissão de um dos gases tóxicos, o metano. Sendo um país agrícola, a principal fonte é a agricultura. Mas veja que 10% da emissão de metano no mundo tem sua origem nas nossas terras. 

O terceiro gráfico é mais realista. Novamente o número de mortos por conta da poluição. O Brasil está na parte de baixo do gráfico. Enquanto alguns países desenvolvidos do mundo obtiveram uma redução substancial, aqui, na figura, parece que a nossa conquista foi bem menor.



IA e Contabilidade

Segundo um texto da Accounting Web, a inteligência artificial (IA) está transformando a auditoria contábil. Anteriormente, auditores verificavam manualmente amostras aleatórias de transações; agora, com a IA, é possível analisar todos os dados de uma empresa em segundos, identificando rapidamente transações de alto risco e aprimorando a precisão dos dados. ​

Apesar dessas melhorias, é improvável que os custos de auditoria diminuam, pois ter essas tecnologias é caro. Outra consequência é que a implementação da IA pode reduzir a demanda por certas funções tradicionais na auditoria.

8 nomes da história mundial da contabilidade

Eis uma relação dos grandes nomes da história mundial da contabilidade. Considerei somente os nomes que marcaram a contabilidade até o século XIX.

1 – Kushim – O nome mais antigo de que se tem notícia é este. Aparece em uma tábua encontrada onde ficava a cidade de Uruk. Somente com o surgimento da escrita é que começamos a conhecer os nomes de pessoas que viveram no passado remoto, e Kushim é o mais antigo deles. Tudo leva a crer que era um contador.

2 – Amatino Manucci – Novamente, alguém de quem não se sabe ao certo quando nasceu ou morreu. Era contador da empresa Giovanni Farolfi, na filial de Salon, na França. É dele o mais antigo registro contábil conhecido em que se utilizam as partidas dobradas. Este documento, datado entre 1299 e 1300, sobreviveu até os dias atuais. Apesar de incompleto, os registros incluem o uso de débito e crédito.

3 – Benedetto Cotrugli (1416–1469) – Escreveu, em 1458, o livro Libro de l'Arte de la Mercatura (Livro sobre a Arte do Comércio), com a primeira descrição sobre as partidas dobradas. Oriundo da cidade-estado de Ragusa, atual Dubrovnik, Croácia, era de uma família de comerciantes e formou-se na Universidade de Bolonha.

4 – Luca Pacioli (1447–1517) – Matemático, frei franciscano, astrólogo e professor universitário, Pacioli talvez seja o nome mais conhecido da lista. Em 1494, publicou um livro de matemática que continha trechos sobre as partidas dobradas. Muitos dos conhecimentos transmitidos por ele ainda são relevantes nos dias atuais. A data da publicação é conhecida como o Dia Internacional da Contabilidade.

5 – Simon Stevin (1548–1620) – Holandês, era matemático e cientista, com grandes contribuições em diferentes áreas do conhecimento. Conhecedor da obra de Pacioli, Stevin trabalhou para que a contabilidade de partidas dobradas fosse também adotada na área pública, tendo influenciado o príncipe Maurício de Nassau.

6 – Josiah Wedgwood (1730–1795) – Além de ter criado muitas estratégias modernas de marketing, Wedgwood desenvolveu e aplicou em suas empresas o cálculo do custo de produção, incluindo depreciação e juros sobre o capital. Observando os trabalhadores, ele mudou o sistema de pagamento, trocando a diária por um sistema de pagamento por peça.

7 – Benjamin Franklin (1706–1790) – Durante o domínio inglês, trabalhou nos correios, onde reorganizou o sistema de contabilidade do serviço. Nessa época, escreveu um mini manual de contabilidade de partidas dobradas, com o objetivo de permitir que qualquer pessoa que trabalhasse nos correios pudesse aprender o básico da contabilidade.

8 – Jacques Necker (1732–1804) – Escreveu um livro de sucesso chamado Compte rendu au roi, no qual alardeava ter conseguido obter um superávit enquanto atuava como burocrata do rei francês. Embora o livro tenha vendido muito, a verdadeira herança de Necker permanece em cada político que proclama sucesso na gestão financeira do governo com base em números imprecisos e questionáveis.

Imagem: aqui

Rir é o melhor remédio

Quando você faz um bom trabalho
 

30 março 2025

Fragmentação regulatória

O resumo



A fragmentação regulatória ocorre quando várias agências federais supervisionam uma mesma questão. Utilizando o texto completo do Federal Register, a publicação oficial diária do governo, fornecemos as primeiras evidências sistemáticas sobre a extensão e os custos dessa fragmentação regulatória. A fragmentação aumenta os custos das empresas ao mesmo tempo em que reduz sua produtividade, lucratividade e crescimento. Além disso, ela desencoraja a entrada em um setor e aumenta a probabilidade de que pequenas empresas deixem o mercado. Esses efeitos decorrem da redundância e, mais significativamente, das inconsistências entre as agências governamentais. Nossos resultados revelam uma nova fonte de ônus regulatório e mostram que os custos entre agências reguladoras contribuem para esse ônus.

A origem pode ser uma disputa de poder entre as agências. Será que isso aumentaria nos países onde o governo não tem uma burocracia forte, existe um grande número de cargos que são de nomeação política e há loteamento de cargos do alto escalão entre diferentes partidos de apoiam o governo?  

Foto: aqui

Sobre a Escrita e IA

Algumas coisas em que acredito:

1. A combinação de humor impulsionado pelo LLM e geração de imagens significa que estamos prestes a entrar na era de ouro dos memes.

2. Os melhores escritores ficarão bem. Robert Caro e Dostoiévski não vão ser interrompidos pelo ChatGPT.

3. Como são os diferentes modelos? ChatGPT é seu amigo que faz muitos pontos positivos, mas é meio chato, Claude é seu amigo hippie que adora ficar vulnerável, mas leva toda a coisa de "se expressar" um pouco longe demais, e Grok é seu amigo desequilibrado que se inclina um pouco demais para teorias de chapéu de papel-alumínio, mas é sempre uma viagem para curtir ideias.

4. Pessoas que dizem que a escrita de IA é de baixa qualidade não percebem que a qualidade existe em duas dimensões: (1) a qualidade absoluta da escrita e (2) quão adaptada a escrita é aos seus interesses no momento.

5. Vou te dizer uma coisa: o que os escritores estão fazendo com IA a portas fechadas está muito à frente do que é publicamente compreendido. Não espero que isso mude tão cedo por causa do estigma social associado à escrita aprimorada por IA. Por isso, se você quiser ver o que há de mais moderno, terá que juntar as peças por meio de conversas privadas e chats em grupo.

6. Se você quiser acompanhar o que está acontecendo em IA, lembre-se desta citação de William Gibson: “O futuro está aqui, só não está distribuído uniformemente ainda.” Você pode ter um vislumbre do futuro observando como uma pequena porcentagem de escritores já está usando IA.

7. Sou pessimista em relação aos escritores que atualmente usam IA para escrever para eles, e otimista em relação aos escritores que atualmente usam IA para escrever com eles.

8. Que tipos de escrita continuarão a ser escritos por humanos? Aqueles que falam com a nossa humanidade. As pessoas estão interessadas em pessoas. Suas histórias, suas lutas, suas emoções, seu drama.

9. Quase toda a escrita utilitária, cujo objetivo é transmitir informações, não fazê-lo de forma bonita, será escrita por IA.

10. De certa forma, a IA é o fim da desleixo. Muitos resultados de pesquisa do Google são desleixo. Postagens do LinkedIn são desleixo. A forma como o Twitter foi tomado pelo Threadbois em 2021 também foi desleixo. A escrita gerada por IA já é melhor do que todas essas coisas, então por que você as leria agora?

11. A IA será mais dura com escritores do que com leitores. Os leitores serão expostos a alguma sujeira, mas a Internet será boa em filtrá-la. Os escritores, no entanto, agora estão competindo com LLMs em constante aprimoramento, que estão ficando cada vez melhores a cada mês.

12. Os humanos contribuirão com dados ou perspectivas únicas. A famosa pergunta da entrevista de Peter Thiel também funciona como um bom prompt de escrita: “Qual verdade muito importante poucas pessoas concordam com você?”

13. Novas tecnologias criam novos tipos de arte. Já notou como a arte medieval do século XIII ou XIV parece plana? E quão diferente essa arte parece da arte renascentista criada nos séculos XV e XVI? Inovações técnicas como a câmera escura e grades de perspectiva estão por trás disso. Mudanças profundas semelhantes ocorrerão no mundo da escrita por causa da IA ​​(crédito a @jmrphy  pela ideia aqui).

14. Satya Nadella diz: “O novo fluxo de trabalho para mim é pensar com IA e trabalhar com meus colegas.” Quando se trata de descobrir ideias, também descobri que improvisar com um LLM é mais produtivo do que fazê-lo com a maioria das pessoas que conheço (exceto por alguns conversadores com cérebros gigantes).

15. Experimento mental: a escrita de IA será mais parecida com música ou xadrez? Com ​​música, não nos importamos com a forma como uma canção é feita. Queremos apenas que seja boa. Com xadrez, há um mercado enorme para assistir seres humanos jogando, embora os computadores já sejam melhores. Acho que a escrita de não ficção seguirá o caminho da música. As pessoas não se importarão com a forma como foi feita. Elas só se importarão que seja boa.

16. A IA inverteu as regras da adoção de tecnologia. Gerentes experientes geralmente arrastam os pés para adotar novas tecnologias, mas os que eu conheço amam a IA, enquanto os trabalhadores da linha de frente lutam para ver o ponto. Minha teoria é que a IA corresponde à forma como os gerentes já operam. A gestão sempre foi um tipo de engenharia rápida: definir uma visão, delegar, dar feedback, iterar. Mas os LLMs removem o drama que costumava vir com uma equipe. Sem 1-on-1s. Sem emaranhados emocionais. É como a gestão sem a dor de cabeça. Para os funcionários da linha de frente, as coisas são diferentes. Eles não estão tão acostumados a definir uma visão e dar feedback, então o prompting do LLM é um tipo de trabalho assustador e desconhecido para eles.

17. Editores de IA já são muito bons. Claro, eles não são tão bons quanto os melhores editores do mundo, mas são uma fração do custo, eles lhe darão feedback instantaneamente do 80º percentil e trabalham 24 horas por dia, 7 dias por semana. Como um romancista me disse recentemente: "Pagar um editor para revisar meu romance me custa US$ 7.000 e um tempo de resposta de 4 a 6 semanas, enquanto Claude me custa US$ 1,25 e me dá resultados alguns minutos depois." As edições definitivamente não são tão boas, mas há uma virtude na velocidade (e esse cara não é um escritor idiota).

18. A maneira como os céticos da IA ​​odeiam os LLMs enquanto usam modelos antigos é como dirigir um Honda 92 e odiar um Tesla autônomo.

19. Ficção gerada por IA deixa as pessoas muito chateadas. Um amigo insiste que é como fazer sexo com um robô. Não importa o quão bom seja. Não é gerado por humanos, e há algo unicamente repulsivo nisso.


Muitas ideias boas e interessantes. De David Perell, via X. Foto aqui

Importância da pesquisa básica


A grande ironia é que muitos comentários nas redes sociais criticando a ciência “frívola” ou a pesquisa básica são feitos em um celular. Esses dispositivos onipresentes surgiram a partir de pesquisas básicas sobre física, circuitos, elétrons, transferência de calor e inteligência artificial. Nossa vida é melhor hoje por causa dos medicamentos, do GPS e, sim, até mesmo dos celulares.

Fonte: Forbes

Redes Sociais e o Jejum das redes


A pesquisa ainda está começando, mas a conclusão promete: 

Abster-se das redes sociais tornou-se uma estratégia popular de desconexão digital adotada por indivíduos para melhorar o bem-estar. No entanto, até o momento, não está claro se a abstinência das redes sociais é realmente eficaz para promover o bem-estar, uma vez que os estudos apresentam resultados inconsistentes. Por isso, esta revisão sistemática e meta-análise pré-registrada tem como objetivo fornecer uma resposta mais precisa sobre o impacto da abstinência das redes sociais no bem-estar. As bases de dados PubMed, Scopus, Web of Science, Communication Source, Cochrane Library e Google Scholar foram consultadas em busca de estudos que investigassem o efeito da abstinência das redes sociais sobre três desfechos: afeto positivo, afeto negativo e/ou satisfação com a vida. Ao todo, dez estudos (N = 4674) foram incluídos, permitindo a análise de 38 tamanhos de efeito relacionados a esses três desfechos. As análises não revelaram efeitos significativos das intervenções de abstinência das redes sociais sobre o afeto positivo, o afeto negativo ou a satisfação com a vida. As relações entre a duração da abstinência e os três desfechos também não foram significativas. Os achados, portanto, sugerem que se afastar temporariamente das redes sociais pode não ser a estratégia mais eficaz para melhorar o bem-estar individual, destacando a necessidade de mais pesquisas sobre estratégias alternativas de desconexão. Ainda assim, importantes diferenças metodológicas entre os estudos devem ser consideradas ao interpretar esses resultados.

A amostra pareceu pequena. 

29 março 2025

Rir é o melhor remédio

 

Mídia social e amizade

Palavrões pode fazer bem à saúde


Uma dica de saúde: existem efeitos positivos de expressar palavrões para a saúde humana. A ciência está descobrindo que a prática provoca um aumento da tolerância à dor, fortalecimento de laços sociais, melhoria da memória e alívio de dores emocionais. Estudos indicam que o uso de palavrões pode desencadear respostas fisiológicas semelhantes às de situações de "luta ou fuga", aumentando a frequência cardíaca e liberando adrenalina, o que contribui para uma maior resistência física e mental. Além disso, essa expressão verbal pode promover um estado de desinibição, permitindo que indivíduos se esforcem mais em tarefas físicas e suportem melhor desconfortos. Pesquisadores sugerem que, quando usados de forma adequada, os palavrões podem servir como uma ferramenta psicológica eficaz para lidar com situações estressantes e dolorosas

Foto: aqui

Quando a cor importa


O Everton Football Club, tradicional rival do Liverpool na Inglaterra, adotou uma medida curiosa para evitar a cor vermelha associada ao seu adversário: o clube utiliza ketchup de cor azul em seu estádio. É mais um exemplo de como a paixão é importante no futebol, já que a medida mostra a rivalidade entre os dois times. O Everton deseja eliminar a presença da cor vermelha em suas instalações.

Isso me faz lembrar do Corinthians, que no seu balanço não usa a cor verde. Em um passado recente, o clube chegou a solicitar que seu gramado pudesse ter a cor preta e não a cor do rival. A Fifa decidiu que tudo tem um limite e não concordou.  

Foto aqui

Quando a métrica importa

Um artigo de Fernando Reinach para o Estado de S Paulo discute como reduzir o preconceito racial em avaliações de desempenho, destacando um estudo realizado por uma empresa de serviços domésticos nos EUA e Canadá. Inicialmente, a empresa utilizava um sistema de avaliação de cinco estrelas, no qual prestadores de serviço brancos frequentemente recebiam notas mais altas do que colegas de outras etnias, apesar de possuírem qualificações equivalentes. Para enfrentar essa disparidade, a empresa adotou um sistema binário de avaliação — "satisfeito" ou "insatisfeito" — resultando na eliminação das diferenças de avaliação entre os grupos raciais. A pesquisa sugere que sistemas de avaliação simplificados podem minimizar a influência de preconceitos inconscientes, promovendo maior equidade nas avaliações de desempenho.


Veja que isso é próximo ao que aconteceu com a Netflix, que eliminou o sistema de cinco estrelas e passou a adotar a avaliação binária. Mais recentemente, mudou para "não gostei", "gostei" e "gostei muito". 

 

28 março 2025

Chat e a Literatura acadêmica

Contexto 
Os chatbots de inteligência artificial (IA) são programas computacionais inovadores capazes de gerar textos ou conteúdos em linguagem natural. Os editores acadêmicos estão se adaptando ao papel transformador dos chatbots de IA na produção e facilitação da pesquisa científica. Este estudo teve como objetivo examinar as políticas estabelecidas por editores acadêmicos das áreas científica, técnica e médica para definir e regulamentar o uso responsável de chatbots de IA pelos autores.  


Métodos
Este estudo realizou uma auditoria transversal sobre as políticas publicamente disponíveis de 162 editores acadêmicos, indexados como membros da Associação Internacional de Editores Científicos, Técnicos e Médicos (STM). A extração de dados das políticas disponíveis nas páginas da web dos editores foi realizada de forma independente e em duplicata, com análise de conteúdo revisada por um terceiro colaborador (setembro de 2023 – dezembro de 2023). Os dados foram categorizados em elementos de política, como "revisão de texto" e "geração de imagens". Foram contabilizados e expressos em porcentagens os casos em que a política permitia o uso ("sim"), proibia ("não") ou não fornecia informações disponíveis ("NAI") para cada elemento.  

Resultados
Um total de 56 dos 162 editores acadêmicos da STM (34,6%) possuíam uma política publicamente disponível orientando o uso de chatbots de IA pelos autores. Nenhuma política permitia a atribuição de autoria a chatbots de IA (ou outras ferramentas de IA). A maioria (49/56 ou 87,5%) exigia a divulgação específica do uso de chatbots de IA. Quatro editores impuseram uma proibição completa ao uso de chatbots de IA pelos autores.  

Conclusões 
Apenas um terço dos editores acadêmicos da STM possuíam políticas publicamente disponíveis até dezembro de 2023. Uma nova análise de todos os membros da STM dentro de 12 a 18 meses pode revelar abordagens em evolução para o uso de chatbots de IA, com um número maior de editores adotando políticas específicas.
 

Fonte: Policies on artificial intelligence chatbots among academic publishers: a cross-sectional audit. Foto: aqui

SEC diz adeus as regras de divulgação relacionada ao clima

Durante o governo Biden, a entidade que regula o maior mercado de capitais do mundo, a SEC, colocou em discussão a questão da divulgação ligada ao clima. Uma enxurrada de comentários apareceu, com uma clara divisão entre os favoráveis e os desfavoráveis a obrigatoriedade de regras de evidenciação. 


Novo presidente e a SEC aprovou agora o recuo nas regras. Isso ocorreu também em razão da judicialização promovida por grupos econômicos e a acolhida da reclamação por parte dos tribunais. O atual presidente da SEC, Mark Uyeda, que tinha sido contrário a proposta, decidiu encerrar o assunto. Uyeda citou um memorando presidencial do governo Trump e indicou claramente que os órgãos reguladores não irão se envolver na questão da sustentabilidade. 

Eis o comunicado da SEC: 

A Comissão de Valores Mobiliários (SEC) votou hoje para encerrar sua defesa das regras que exigem a divulgação de riscos relacionados ao clima e emissões de gases de efeito estufa.  

O presidente interino da SEC, Mark T. Uyeda, declarou: “O objetivo da ação da Comissão hoje e da notificação ao tribunal é cessar o envolvimento da Comissão na defesa das regras de divulgação sobre mudanças climáticas, que são onerosas e desnecessariamente intrusivas.”  

As regras, adotadas pela Comissão em 6 de março de 2024, estabelecem um regime especial detalhado e extenso para a divulgação de riscos climáticos por empresas emissoras e de relatórios financeiros.  

Os estados e entidades privadas contestaram essas regras. O litígio foi consolidado na Oitava Vara de Apelação (*Iowa v. SEC, No. 24-1522 (8th Cir.)*), e a Comissão já havia suspendido a aplicação das regras até a conclusão desse processo. As argumentações foram apresentadas antes da mudança de governo.  

Após a votação de hoje, a equipe da SEC enviou uma carta ao tribunal informando que a Comissão está retirando sua defesa das regras e que seus advogados não estão mais autorizados a sustentar os argumentos anteriormente apresentados. A carta também declara que a Comissão renuncia ao tempo destinado a argumentos orais, devolvendo-o ao tribunal.

Vida longa ao Contabilidade Financeira

Ao ler um artigo do Napkin Math, refleti sobre o futuro da Contabilidade Financeira. Desde sua criação, o blog tem divulgado ideias e fatos sobre contabilidade e áreas afins. Em muitos casos, notícias de interesse da contabilidade, que não recebiam o devido reconhecimento na mídia tradicional, puderam ser divulgadas aqui. Nos últimos anos, no entanto, temos falhado em manter uma regularidade, talvez como reflexo do novo ambiente de produção, transmissão e acesso ao conteúdo.

A chegada da IA realmente transformou a forma como trabalhamos, e isso inclui a produção de conteúdo em um blog. Como destaca o Napkin Math, a IA reduziu significativamente o custo de produção de conteúdo. Uma postagem como esta, feita por um ser humano, demanda pelo menos uma hora de reflexão, redação e revisão. Já a IA gera um texto em questão de segundos — ainda que, muitas vezes, vazio de substância. Temos utilizado essa tecnologia para a tradução de textos, mas não para a produção do conteúdo original do blog. Apesar da IA, não estamos publicando um número maior de postagens. Já os publishers, sim, inundando o mercado com textos e mais textos, ajustados ao gosto do freguês: basta solicitar à IA que produza um texto emotivo, engraçado ou convincente.

Outro fenômeno já perceptível é que as pessoas estão recorrendo à IA para responder às suas dúvidas, em vez de lerem o texto original ou mesmo consumirem conteúdos sem uma demanda específica. Nas palavras do Napkin Math, a IA se tornou um "agregador de atenção". Recentemente, mostramos que muitas pessoas deixaram de consultar o Stack Exchange e passaram a recorrer diretamente ao GPT. No entanto, a fonte do GPT é o próprio Stack Exchange, e essa migração pode desestimular especialistas a participarem de comunidades colaborativas.

Confesso que não acompanho as estatísticas de tráfego do blog, mas é perceptível que perdemos espaço para o TikTok e o Instagram. E agora devemos estar perdendo espaço para o GPT. Também reconheço que um grande motivador — egoísta, é verdade — para continuar escrevendo no blog é o fato de que essa atividade me ajuda a redigir melhor, a estruturar melhor meus argumentos e me dá prazer ao saber que algo que publiquei foi lido e absorvido, ainda que por um único leitor. Gosto de imaginar que, talvez, uma resposta dada pelo GPT neste exato momento tenha se baseado em algo que escrevi aqui. Vida longa ao blog.


27 março 2025

Doutorado da UFG foi aprovado


A CAPES aprovou o curso de doutorado da UFG! Uma grande conquista para a universidade, que já tinha o mestrado e agora amplia as oportunidades para seus alunos.

Tenho uma ligação especial com esse programa: fui da primeira banca do mestrado e orientei diversos docentes da UFG. Nos últimos anos, muitos mestres formados lá ingressaram no doutorado da UnB, sempre com profissionalismo e excelência. Uma grande conquista, sem dúvida nenhuma.

Rir é o melhor remédio

Via aqui.
 

Tesla tem contabilidade questionada

Um texto da Fortune, publicado no site Estadao,  afirma existir uma diferença de 1,4 bilhão na Tesla. Essa diferença estaria entre as despesas de capital da empresa e a avaliação dos ativos nos quais esse dinheiro foi gasto. O questionamento foi feito pelo Financial Times, mas alguns especialistas dizem existir explicações:

Vários especialistas em contabilidade, no entanto, dizem que há justificativas plausíveis para a variação que pode não aparecer nos demonstrativos financeiros da Tesla. Você esperaria que os números relevantes somassem para uma empresa doméstica sem grandes vendas de ativos ou prejuízos, disse Tim Morrison, professor de contabilidade na Notre Dame e ex-parceiro de auditoria na Ernst & Young. A Tesla, claro, vende carros em todo o mundo e tem fábricas em três continentes. A PwC auditou os demonstrativos financeiros da Tesla desde 2005.

Desonestidade

 O resumo

Uma suposição fundamental sobre o comportamento humano, que sustenta as teorias dos traços de personalidade, é que, em certa medida, os indivíduos se comportam de maneira consistente em situações estruturalmente comparáveis. No entanto, especialmente no que diz respeito a comportamentos antiéticos, essa suposição de consistência tem sido severamente questionada, pelo menos desde o início do século XIX. Neste estudo, oferecemos um teste rigoroso dessa suposição de consistência em um exemplo proeminente de comportamento antiético — a desonestidade — com uma amostra ampla (N = 1.916) e demograficamente diversa. O comportamento desonesto foi medido três vezes — com até três anos de intervalo — utilizando diferentes variantes de paradigmas bem estabelecidos e incentivados de trapaça. Uma vantagem central desses paradigmas é que mentir é lucrativo individualmente, mas não leva à autoincriminação. Além de variar a tarefa específica em cada medição, também manipulamos experimentalmente a natureza dos incentivos (ou seja, dinheiro vs. evitar tarefas tediosas), assim como sua magnitude.

A consistência do comportamento desonesto foi estimada por meio de um modelo estatístico recém-desenvolvido. Os resultados mostraram forte consistência do comportamento desonesto entre os diferentes contextos na maioria dos casos. Além disso, traços de personalidade teoricamente relevantes (como Honestidade-Humildade e o Fator Sombrio) apresentaram relações significativas tanto com a desonestidade quanto com sua consistência. Assim, contrariando suposições de longa data, há uma consistência notável no comportamento desonesto que pode ser atribuída a fatores disposicionais subjacentes. De modo geral, os achados atuais têm importantes implicações para a compreensão teórica da desonestidade, ao fornecerem evidências robustas de que (des)honestidade pode ser entendida como um traço de personalidade, bem como para a prática (por exemplo, intervenções voltadas à promoção da honestidade). Além disso, a nova abordagem estatística desenvolvida pode ser útil para pesquisas futuras em diversas áreas científicas.

Imagem aqui

IA e economia

Why LLMs are so good at economics

Consigo pensar em algumas razões:

Pelo menos por enquanto, mesmo os LLMs muito bons não podem ser considerados confiáveis em termos de originalidade. E, pelo menos por enquanto, um bom raciocínio econômico não exige originalidade — muito pelo contrário.

Boas cadeias de raciocínio em economia não são muito longas nem complicadas. Se se estendem por demais, provavelmente há algo errado com o argumento. O comprimento dessas cadeias eficazes de raciocínio está bem dentro das capacidades dos melhores LLMs atualmente.

Grande parte da boa economia exige uma síntese entre considerações teóricas e empíricas. Os LLMs são especialmente bons em fazer sínteses.

Em argumentos e explicações econômicas, frequentemente há múltiplos fatores envolvidos. Os LLMs são muito bons em listar múltiplos fatores — às vezes são “bons até demais” nisso, “aargh! não aguento mais uma lista, por favor…”

Artigos de periódicos econômicos costumam ter alta qualidade e, em geral, são consistentes entre si, baseando-se em ideias comuns como curvas de demanda, custos de oportunidade, ganhos com o comércio, e por aí vai. As chances são de que um bom LLM tenha sido treinado com “o material certo”.

Muitas ideias centrais da economia são “difíceis de perceber do zero”, mas “fáceis de entender uma vez que você as vê”. Isso também favorece os modelos, que são excelentes em digerir conteúdo.

E, por isso, LLMs de qualidade tendem a se sair melhor em economia do que em muitas outras áreas de investigação.

Penso que muito se aplica na área de contabilidade. 

26 março 2025

Estranho argumento

 Lendo notícias passadas encontrei isso:

“Temos uma nova administração compatível com criptografia e Bitcoin, com discussões em andamento para uma reserva em bitcoin dos EUA, e também regras do FASB Financial Accounting Standards Board que agora permitem que as empresas mantenham Bitcoin em seus balanços sem penalidade”, disse James Lavish, sócio-gerente do Bitcoin Opportunity Fund, observou. “Isso legitima ainda mais o Bitcoin como um ativo corporativo.”

De acordo com os padrões contábeis implementados pelo FASB, as entidades devem mensurar ativos criptográficos a valor justo a cada período de relatório. A nova regra começou a valer em 15 de dezembro. As alterações também exigem que uma entidade forneça divulgações sobre participações significativas, restrições contratuais de venda e alterações durante o período de relatório.


 

Utilizar o custo histórico — uma regra antiga — foi considerado uma penalidade. O motivo é que, quando o Bitcoin está se valorizando, esse aumento não aparece nos resultados da empresa. Da mesma forma, uma eventual perda também não é registrada quando há desvalorização. Além disso, Lavish considera que a forma de mensuração tem o poder de legitimar algo como um ativo. No entanto, acredito que essa legitimação está presente no reconhecimento do item em si, e não no montante registrado como ativo.

Mudança econômica

 O bilionário fundador e presidente da Amazon, Jeff Bezos, anunciou sua mudança da região de Seattle para a Flórida no final de 2023. No anúncio, Bezos mencionou que as operações de sua empresa de foguetes, a Blue Origin, estavam cada vez mais concentradas em Cabo Canaveral. O que não foi mencionado na publicação é que o bilionário economizaria uma fortuna em impostos. Só em 2024, ele poupou cerca de US$ 1 bilhão (R$ 6,18 bilhões) em tributos.

Com isso, na segunda metade de 2023, ele desembolsou US$ 234 milhões (R$ 1,447 bilhão) para comprar três mansões em Indian Creek, uma ilha artificial conhecida como o “bunker dos bilionários” da Flórida; registrou-se para votar no estado; e apresentou uma declaração de domicílio na Flórida — três passos cruciais para estabelecer residência legal no estado, que é famoso por não cobrar impostos sobre renda, ganhos de capital ou herança.


continue lendo aqui

Quando a contabilidade entra em campo

O artigo "Manchester City could cripple football", publicado no UnHerd, discute as acusações enfrentadas pelo Manchester City por supostas violações das regras de Fair Play Financeiro (FFP) entre 2009 e 2018. Essas acusações incluem inflacionar artificialmente o valor de patrocínios de empresas ligadas à propriedade do clube e realizar pagamentos a terceiros para complementar os salários oficiais de jogadores e técnicos. Se consideradas procedentes, tais infrações podem resultar em penalidades severas, como multas substanciais, dedução de pontos ou até mesmo rebaixamento do clube. ​




O artigo destaca que, sob as Regras de Lucro e Sustentabilidade introduzidas pela Premier League, os clubes podem perder no máximo £105 milhões em um período de três anos. Recentemente, outro clube, o Everton foi penalizado com a dedução de pontos por exceder o limite permitido de perdas financeiras. Há outros antecedentes também. Caso o Manchester City seja considerado culpado, as sanções podem ser ainda mais severas, dada a magnitude das acusações e a alegada falta de cooperação durante as investigações. ​

O que torna a discussão interessante é que o City seria um clube atuando em um setor onde deveria prevalecer o aspecto esportivo, mas a discussão sobre a não esportividade financeira é crucial. Além disso, dado que o City é propriedade de um governo e parece estranho falar em fair-play financeiro com a presença do estado entre os atores.

A relação com a contabilidade é evidente, pois as acusações centram-se na manipulação de demonstrações financeiras para aparentar conformidade com as regulamentações financeiras. 

Balanço do Estado de São Paulo não representam sua situação financeira


Este estudo tem o objetivo de analisar se existem inconsistências contábeis nos balanços patrimoniais do Estado de São Paulo nos anos de 2022 e 2023, utilizando a Teoria da Divulgação como suporte teórico. Os dados desta investigação foram extraídos do Portal de Transparência do Estado de São Paulo, do Sistema de Informações Contábeis e Fiscais do Setor Público Brasileiro – SICONFI, do site Visão Integrada das Dívidas da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e do Sistema de Análise da Dívida Pública, Operações de Crédito e Garantias da União, Estados e Municípios – SADIPEM. Os resultados revelaram a existência de inconsistências contábeis nos Balanços Patrimoniais
dos anos 2022 e 2023 do Estado de São Paulo: divergência entre os valores do Passivo Exigível com o Passivo Real; inconsistências nos valores dos Restos a Pagar processados e não processados; o ativo e o passivo não representam a situação financeira e patrimonial do Estado de São Paulo, pois foram encontradas divergências nos valores divulgados. Por fim, com base na Teoria da Divulgação (Theory of Disclosure), conclui-se que os valores registrados nos balanços patrimoniais dos anos de 2022 e 2023 não refletem adequadamente a real situação do Patrimônio Público do Estado de São Paulo.

Fonte: aqui

25 março 2025

Tradução e Tradutor


Avanços em inteligência artificial estão transformando rapidamente o mundo do trabalho. Esta coluna investiga os efeitos da tradução automática sobre (1) o emprego e os salários no setor de tradução e (2) a demanda por habilidades em línguas estrangeiras em diferentes cargos e setores. Utilizando variações no uso da tradução automática entre os mercados de trabalho locais nos EUA após o lançamento do aplicativo móvel Google Tradutor, os autores constataram que as áreas com maior adoção do Google Tradutor apresentaram uma queda no emprego de tradutores. Os autores também mostram que os avanços na tradução automática reduziram, de forma geral, a demanda por habilidades em línguas estrangeiras.

Veja que o texto acima foi traduzido pelo GPT. Honestamente, tenho pena dos trabalhadores, mas para quem precisa, o avanço é muito bom. 

Brasil e ORCID

O ORCID é um dos pilares da pesquisa científica atual. A figura abaixo registra a participação de 3900 pesquisadores em 28 eventos virtuais. O Brasil teve 2% dos participantes (algo como 80 interessados) no último ano.

Diz muito sobre nossa ciência.


Transparência, antes e depois da pandemia, dos Institutos Federais

Eis o resumo

Pesquisas recentes se propuseram a observar, por meio da comparabilidade entre dois períodos, pré e pós-pandemia, o comportamento e os reflexos na sociedade advindos da pandemia COVID-19. O objetivo deste estudo é comparar o nível de transparência dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia em dois momentos distintos, pré e pós-pandemia do COVID-19. A amostra é composta por 38 Institutos Federais (IF), 02 Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFETs) e 01 colégio, o Pedro II. Em relação aos procedimentos metodológicos, utilizou-se da análise de conteúdo e análise estatística descritiva para comparação dos dados. Como resultado, foi identificado que os IFs evoluíram significativamente no quesito transparência pública no período pós-pandemia, em comparação aos dados do período pré-pandemia. O Instituto Federal de Alagoas (IFAL), 1º lugar do ranking pós-pandemia, atingiu um resultado expressivo de 97,5% de transparência, sendo que o seu percentual pré-pandemia era de 53,4%. Esta pesquisa revelou a importância de os órgãos públicos cultuarem a manutenção perene da disponibilidade de informações de toda a estrutura governamental de forma tempestiva. A enorme quantidade de dados gerados a partir dos portais do governo podem oferecer oportunidades para fornecer monitoramento contínuo de uma série de dados, os quais propiciam aos pesquisadores e à sociedade informações substanciais, a partir dos dados coletados, que podem potencialmente mitigar assimetrias informacionais e elevar o controle social.

Eis a tabela com os resultados de 2023:



Halloween e o diagnóstico de TDAH


O que podemos aprender com a subjetividade de uma opinião? Há muitas decisões que o contador toma que são subjetivas. Ao olhar para outras profissões é possível ver que fatores externos podem influenciar casos como diagnóstico de uma doença. Eis a pesquisa

A prática da medicina depende de um diagnóstico preciso. No entanto, o diagnóstico de muitas condições médicas envolve avaliações que convidam a diferentes graus de subjetividade. Fatores externos e arbitrários podem influenciar as avaliações diagnósticas dos médicos em condições que vão desde ataques cardíacos a condições de neurodesenvolvimento, como transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Quantificar essa subjetividade é um desafio, no entanto, particularmente para as condições do neurodesenvolvimento e psiquiátrica, onde as avaliações subjetivas do comportamento são comuns e importantes. O Halloween, um feriado caracterizado por excitação entre as crianças, poderia apresentar um experimento natural para estudar a subjetividade no diagnóstico, se alguma mudança comportamental resultante influenciar as taxas de diagnóstico de TDAH. Usando dados de mais de 100 milhões de consultas médicas, comparamos as taxas de diagnóstico de TDAH, por dia, entre as crianças atendidas pelos médicos nos 10 dias úteis em torno de sete feriados de Halloween. A taxa de novo diagnóstico de TDAH foi de 62,7 por 10.000 visitas infantis no Halloween, em comparação com 55,1 durante os dias úteis circundantes, um aumento de 14%. Não houve aumento nos diagnósticos de vários distúrbios neuropsiquiátricos com critérios diagnósticos que são menos focados no comportamento hiperativo. Nossos achados destacam a subjetividade no diagnóstico de TDAH e apoiam a necessidade de considerar fatores externos que podem influenciar o diagnóstico.

Imagem: aqui

Jorge Luiz Hennemann - Contador da FEE

Via Alexandre Alcântara. Trabalhei com gelatina, pequeno e aprendiz do meu pai, técnico em contabilidade.

Rir é o melhor remédio

Adaptado pelo blog
 

24 março 2025

Quando a Auditoria Falha: Como um Software Mudou as Regras do Bitcoin


Um desenvolvedor de software, Roman Storm, criou um mecanismo para ajudar as pessoas a manter suas transações com criptomoedas de forma privativa. Esse mecanismo impedia o rastreamento de doações para países em guerra, como a Ucrânia, mas também permitiu que a Coreia do Norte lavasse um bilhão de dólares em Bitcoin.

Roman acabou preso e agora corre o risco de pegar até 40 anos de cadeia. Em sua defesa, Storm argumentou que sua tecnologia é neutra, como uma planilha ou um telefone celular. Basicamente, ninguém condenou Bill Gates pelo fato de terroristas usarem o Excel.

Na prática, o software envia sua criptomoeda para um endereço onde ela é misturada com os valores de outras pessoas, quebrando a trilha de auditoria. Lembram quando diziam que uma das vantagens do Bitcoin era justamente permitir o acompanhamento de todas as transações feitas com uma determinada moeda? O software de Storm mudou esse conceito.

reCAPTCHA e seu custo para sociedade

O CAPTCHA (Completely Automated Public Turing test to tell Computers and Humans Apart — ou Teste de Turing Público e Automatizado para Diferenciar Computadores de Humanos) foi criado para proteger sites contra ataques automatizados. Em 2007, essa tecnologia passou a ser utilizada também para ajudar na digitalização de textos escaneados de livros e jornais, quando os computadores ainda tinham dificuldade em reconhecer certos caracteres. Assim, surgiu o reCAPTCHA, com um propósito nobre.


Para se ter uma ideia, o New York Times digitalizou seu arquivo de 13 milhões de artigos com o auxílio dessa ferramenta. No entanto, atualmente, já é possível burlar o reCAPTCHA com certa facilidade. Ainda assim, ele continua em uso — agora, cada vez mais, como uma ferramenta de rastreamento, coletando dados dos usuários.

Um estudo revelou que o reCAPTCHA monitora extensivamente os cookies dos usuários, o histórico de navegação e o ambiente do navegador (incluindo renderização de canvas, resolução da tela, movimentos do mouse e dados do user-agent) — tudo isso podendo ser usado para fins de publicidade e rastreamento. Ao analisar mais de 3.600 usuários, os pesquisadores descobriram que os desafios baseados em imagens levam 557% mais tempo para serem resolvidos do que os desafios de caixa de seleção e concluíram que o reCAPTCHA custou à sociedade cerca de 819 milhões de horas de tempo humano, o que equivale a aproximadamente 6,1 bilhões de dólares em salários - enquanto gera lucros massivos para o Google por meio de suas capacidades de rastreamento e coleta de dados.

Rir é o melhor remédio

Fonte: aqui
 

23 março 2025

Diamantes, tecnologia e custo de produção

Um texto longo da Bloomberg analisa o caso da De Beers, que chegou a ter 90% do mercado de diamantes do mundo. Em cinco anos, uma revolução da tecnologia colocou em dúvida o futuro da empresa. Eis um trecho

Manish Shah trabalha na indústria de diamantes de Nova York há 25 anos e é dono da GEMXO, uma empresa atacadista que fornece pedras preciosas soltas para revendedores, fabricantes e grandes varejistas, operando a partir de um escritório no distrito de diamantes. Até cerca de cinco anos atrás, todos os diamantes que fluíam através de seu negócio tinham sido desenterrados de uma mina.
Hoje, esse número caiu para metade. O resto foi feito em laboratório.
“Agora isso é sem precedentes. Isso é algo inovador, isso nunca aconteceu antes”, disse Shah em uma entrevista. “Toda a indústria está em um tumulto.”
(...) Ao contrário das gemas de imitação, como a zircônia cúbica, os diamantes cultivados em laboratórios têm as mesmas características físicas e composição química que as pedras minadas. Eles são feitos de uma semente de carbono colocados em uma câmara de microondas e superaquecidos em uma bola de plasma brilhante, criando partículas que podem eventualmente cristalizar em diamantes. A tecnologia é tão avançada que os especialistas precisam de uma máquina para distinguir entre gemas sintetizadas e minadas.
Jóias de moda baratas foram especialmente atingidas – os clientes que anteriormente gastariam algumas centenas de dólares por pedras erradas agora podem obter diamantes sintéticos perfeitos pelo mesmo preço. O Boston Consulting Group estima que a produção de diamantes cultivados em laboratório cresceu 10 vezes em seis anos, arrastando para baixo tanto a demanda quanto os preços de seus equivalentes naturais.
E enquanto a produção de pedras cultivadas em laboratório explodiu, o preço despencou. Fontes dizem que os preços no atacado caíram mais de 90% na última meia década e agora estão acima do custo de produção.

Rir é o melhor remédio

 

Fonte: aqui

Novilíngua existe

 Ontem comentamos da Interpol mudando o nome dos crimes. Eis que deparo com a seguinte pesquisa:

Em muitos países, o controle sobre a linguagem tem sido um elemento importante do regime autoritário: ao rotular fenômenos sociais de determinadas formas, ditadores tentam influenciar a percepção que seus súditos têm desses eventos. O Newspeak (ou "Novilíngua") de Orwell é a descrição literária mais poderosa dessas práticas. Embora a existência de Newspeak em muitas autocracias seja indiscutível, há pouquíssimas pesquisas empíricas investigando sua eficácia — os indivíduos realmente reagem à escolha das palavras ou percebem as intenções do regime em manipulá-los?

Usando o caso da Rússia de Putin em 2024 e aplicando um experimento online pré-registrado e inédito (N = 4.000), demonstramos que o Newspeak tem impacto político. Em particular, analisamos como os participantes reagem à escolha específica das palavras usadas para descrever a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia. O governo russo proibiu legalmente o uso do termo "guerra", exigindo que se utilize a expressão "operação militar especial" em seu lugar.

Demonstramos que os entrevistados expostos à formulação "operação militar especial", em contraste com "conflito militar", demonstraram menos ansiedade e mais orgulho em relação aos acontecimentos em curso. Além disso, esses participantes expressaram níveis mais baixos de engajamento cívico e menor disposição para participar de protestos com demandas políticas ou econômicas.

Nossas conclusões contribuem para a literatura sobre narrativas de propaganda autoritária e destacam o papel do Newspeak na formação da apatia política em contextos autocráticos.


Lembrando que as empresas, quando divulgam seus resultados, são adeptas a Newspeak.

Uberização do setor de saúde


existem no mercado em outros países aplicativos que estão introduzindo o modelo de trabalho sob demanda no setor de enfermagem, oferecendo aos profissionais de saúde a flexibilidade de escolher turnos em hospitais e casas de repouso. No entanto, essa tendência trouxe desafios semelhantes aos enfrentados por motoristas de aplicativos como Uber. Muitos hospitais utilizam essas plataformas para reduzir custos, resultando em condições de trabalho precárias para os enfermeiros. Problemas incluem remuneração baixa, desativação de contas sem explicação e falta de orientação adequada nos locais de trabalho, o que pode comprometer a segurança dos pacientes. Além disso, enfermeiros relatam discrepâncias salariais significativas e a necessidade de complementar a renda com outros empregos. 

Isso também está ocorrendo em diversos mercados, mas em muitos casos os aplicativos estão criando um mercado. Se você está planejando um futebol entre amigos, mas falta um goleiro, é possível contratar um através de um aplicativo. Isso não existia antes. Recentemente postamos e perguntamos aqui sobre a possibilidade disso chegar à contabilidade. 

22 março 2025

Alterar o nome dos crimes: uma nova estratégia no combate à criminalidad

O título pode parecer estranho, mas é exatamente isso que está acontecendo com a agência mundial que combate o crime em mais de 190 países. A Interpol acredita que, ao emitir alertas sobre crimes, a escolha dos nomes usados para tipificar os delitos pode melhorar a qualidade de seu trabalho.

Esses nomes dizem respeito a crimes como o pig butchering (ou "abate de porcos"), um termo já conhecido para um tipo específico de golpe. A Interpol agora propõe substituí-lo por romance baiting (ou "isca romântica"). Na visão da agência, muitas vezes a vítima perde uma quantia significativa de dinheiro — e o prejuízo financeiro se soma a um suposto dano psicológico causado pela comparação com um porco.

Faz sentido? As palavras têm poder, mas a mudança proposta pela Interpol não é respaldada por nenhuma pesquisa que a justifique.

Restauração e custo de reposição

O trecho:

Escondida acima das abóbadas de pedra de Notre-Dame de Paris, a estrutura de madeira do século XIII que uma vez sustentou o telhado íngreme da catedral era tão extensa que era conhecida como “a floresta”. Quando a catedral pegou fogo em 2019, as chamas se espalharam rapidamente pela rede de vigas de carvalho, cada uma escavada de uma árvore individual por carpinteiros medievais. Cerca de dois terços do telhado foram destruídos no incêndio.

Em março de 2024, toda a estrutura do telhado – la charpente em francês – havia sido identicamente reconstruída por um pequeno exército de carpinteiros do século XXI treinados na técnica tradicional de trabalhar “madeira verde” recém-colhida à mão com um machado. (Desta vez, no entanto, o quadro é protegido contra riscos de incêndio por um sistema de neblina automática, batimentos de telhado mais espesso e treliças resistentes ao fogo que separam a torre da nave e do coro em ambos os lados.)


Depois de gerações de mecanização, esta habilidade antiga quase desapareceu na França quando uma associação chamada Charpentiers Sans Frontiéres (Carpenters Without Borders) começou a promover seu renascimento em 1992. As oficinas do movimento agora atraem voluntários de todo o mundo. 

Comentamos no blog sobre o incêndio de Notre Dame e o conceito de custo de reposição. Veja, no exemplo, que não há um reposição no sentido literal, pois o telhado foi reconstituído usando a técnica medieval, mas somado com um aparato moderno para evitar novos incêndios:

A estimativa do custo de reposição irá depender das decisões sobre restaurar ou replicar e o nível de detalhe na reconstrução do prédio.

Produção mundial de automóveis

 

Eis a produção de automóveis em 2023. Cerca de um terço foram fabricados na China, a nova potência mundial. Estados Unidos e Japão somam outros 20,9%. Lá atrás, em nono, o Brasil tem 2,5%.

Street View resolve um crime

O Street View é uma ferramenta do Google Maps que permite visualizar imagens reais das ruas. Um carro equipado com câmeras percorre os locais tirando fotografias, possibilitando que o usuário tenha uma noção do trajeto, dos prédios e da paisagem ao seu redor. Há diversas histórias curiosas envolvendo o Street View, como fotos de pessoas com roupas inadequadas ou sendo flagradas em situações inusitadas.

Mas uma história recente está entre as mais surpreendentes. Na pequena cidade de Tajueco, na Espanha, com cerca de 100 habitantes, o carro do Google voltou a registrar imagens após quinze anos. Em uma das fotos captadas, a cena foi a seguinte:

Aparentemente, alguém estaria colocando um corpo no porta-malas de um automóvel. E essa não foi a única imagem intrigante: o Street View também registrou o suspeito transportando o corpo em um carrinho de mão. As imagens serviram de pista para a investigação, que resultou em duas prisões e na descoberta do cadáver.

Aprovação é igual a qualidade?

 

Lendo um comunicado antigo do CFC, da retrospectiva 2024:

A contratação da Fundação Getulio Vargas (FGV) para realizar as duas edições do Exame de Suficiência trouxe grandes ganhos à qualidade da avaliação dos futuros profissionais. Na primeira edição, foi alcançado o quantitativo de 18.898 aprovados, com um índice de 47,30%.

Como está no mesmo parágrafo, o texto passa a impressão de que qualidade na avaliação dos profissionais é igual ao aumento no número de aprovados.  Será que minha leitura estaria correta? 

Em outro trecho leio: 

Além dos exames, a área avançou em resultados relativos a outras iniciativas, como a aprovação da Resolução CFC n.º 1.246, de 2009

Inicialmente achei que a data estava incorreta. Mas parece que é isso mesmo. Eu não colocaria isso em um texto de retrospectiva.