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10 abril 2011

Neurocontabilidade

Por Pedro Correia

O título deste artigo é interessante:Is Neuroaccounting Waiting in the Wings? .


De acordo com o resumo, o working paper disserta sobre a utilização da neuroeconomia e amplia a discussão para as razões pelas quais esta disciplina emergente, deve ser de interesse para pesquisadores da contabilidade comportamental.


Os autores avaliaram a contribuição e potencial da neuroeconomia para o estudo do comportamento econômico humano. Outrossim, examinaram o que os contadores comportamentais podem aprender com neuroeconomia[1] e se devemos esperar que um sub-campo semelhante surja dentro da contabilidade comportamental num futuro próximo.


No entanto,os autores concluíram que um sub-campo separado dentro da contabilidade comportamental, não é provável num futuro próximo,principalmente, por razões práticas. Assim, os autores sugerem que os pesquisadores da contabilidade comportamental sigam de perto a neuroeconomia, que é ramo da medicina e economia que procura determinar como as decisões são tomadas no cérebro das pessoas.


Em verdade, sugerem uma integração entre contadores comportamentais e neuroeconomistas de modo a examinar questões de interesse mútuo.


[1] George Lowenstein fez um comentário interessante sobre neuroeconomia:


Neuroeconomics is still in its infancy, and many of the existing findings are speculative or contradictory. (…) I believe that there is a danger that the field has been oversold, and perhaps “over-bought,” leading to inevitable disappointment and disillusionment.


Postagens sobre neuroeconomia.

31 julho 2008

Neuroeconomia

Na The Economist da semana uma extensa reportagem sobre a Neuroeconomia (Do economists need brains?)

O texto lembra que a neuroeconomia é uma tentativa de usar o Homo sapiens no lugar do homo economicus da teoria econômica. A origem está nas finanças comportamentais (que o texto denomina de behavioural economics):

Desde a década de 1980 pesquisadores neste ramo da disciplina utilizaram a psicologia para desenvolver idéias mais "realistas" dos modelos de tomada de decisões individuais, nas quais muitas vezes as pessoas fizem coisas que não representam seus melhores interesses. Mas a neuroeconomia tinha o potencial que alguns acreditavam de ir mais longe e incorporar a economia em processos químicos que ocorrem no cérebro.


Um exemplo citado é o ultimatum game, onde uma pessoa recebe uma quantia em dinheiro para dividir com um desconhecido. O segundo jogador pode aceitar ou não a oferta, mas se rejeitar ambos não recebem nada. Pela teoria econômica tradicional, qualquer valor proposta para o segundo jogador seria racionalmente interessante.

Suponha que o primeiro jogador proponha ficar com $99 e o segundo com $1. Esta proposta seria interessante para o segundo jogador, que ficaria $1 mais rico. No entanto, nas pesquisas empíricas, o segundo jogador tende a recusar essa proposta. A recusa é uma forma de punição para uma proposta que é considerada injusta.

Usando uma máquina chamada MRI, a neuroeconomia tenta verificar o que passa no cérebro dos jogadores através da visão do fluxo do sangue. Já foi encontrado que a rejeição do ultimatum game ocorre numa parte do cérebro onde as decisões de premiação e punição é realizada.

O texto lembra as críticas que a neuroeconomia (e as finanças comportamentais) estão sujeitas. Para Faruk Gul e Wolfgang Pesendorfer (The Case for Mindless Economics), o que ocorre dentro do cérebro é irrelevante para economia. O que importante são as preferências das pessoas.

Para outros, a razão da racionalidade nos modelos econômicos era a inexistência de ferramentas para entender o comportamento humano.

13 novembro 2021

Consumo e comportamento


Como nosso cérebro pode nos deixar mais pobres (e o que fazer para evitar) Estudos têm mostrado que tomamos decisões irracionais que prejudicam nossa saúde financeira com frequência. Entenda quais são os erros mais comuns e como evitar essas 'armadilhas' mentais.

Por João da Mata, BBC

Você está navegando em uma loja online e fica tentado a comprar um produto.

É um pouco mais caro do que a sua conta bancária permite, mas se torna a coisa mais urgente do mundo naquele momento. E se o preço aumentar e você perder a oportunidade? E se esgotar?

Tomado pelo impulso, você faz as contas de cabeça e decide comprar. Não precisa nem colocar o número de cartão, que já está salvo no navegador. Dias depois, vem o arrependimento. Ou pior, o endividamento.

"A economia tradicional olhou por muito tempo para o indivíduo como alguém racional, frio e objetivo e que vai querer maximizar o seu bem-estar, seu lucro, seu ganho financeiro e interesse próprio", afirma a professora Renata Taveiros, coordenadora do Curso de extensão em neurociência e neuroeconomia na FIA.

As tomadas de decisão inconsistentes, que fogem da racionalidade, eram consideradas anomalias. Ou seja, não viravam objeto de estudos. Mas no final dos anos 70, um grupo de pesquisadores revolucionou a economia ao olhar justamente para essas anomalias.

Surgia o campo da economia comportamental, cujo maior nome é o psicólogo - isso mesmo, um psicólogo - Daniel Kahneman, vencedor do prêmio Nobel em 2002.

"Eles abrem esse espaço de conversa para que a gente possa perceber que tem outras coisas que influenciam a tomada de decisão, e não só a ideia de maximização da utilidade, do bem-estar e do lucro. Que coisas são essas? As emoções", explica Renata.

No final dos anos 1980, outro campo de estudos vai ainda mais fundo.

Unindo as descobertas da economia comportamental e as técnicas da neurociência, a neuroeconomia tenta desvendar o que acontece no cérebro dos indivíduos na hora que ele decide fazer uma compra desnecessária, por exemplo.

"Agora a gente tem a possibilidade de abrir a caixa preta, que é como os economistas se referiam à mente das pessoas. Você consegue de fato olhar e entender o que vai acontecendo no processamento cerebral na hora que o indivíduo vai tomar uma decisão", diz Renata.

"Quando você estuda neuroeconomia, cai por terra a ideia de que podemos controlar o comportamento, a tomada de decisão, tudo o que fazemos. Porque o motivador da tomada de decisão não é o aspecto racional, cortical, lógico e analítico. Ele está muito mais ligado à emocionalidade."

Aprenda a dizer 'não' a si próprio

Antes de tudo, é bom deixar claro que os afetos e emoções não são necessariamente ruins. Pelo contrário, são de suma importância para nossa sobrevivência.

"A seleção natural nos trouxe a combinação do afeto com a razão. E não foi à toa. Isso maximiza nosso acoplamento com o mundo. Quando a gente tira emoção, a gente tira empatia pelo outro. Nossas decisões se tornam mais egoístas, e a sociedade como um todo desfalece", diz o neurocientista Álvaro Machado Dias, da USP.

Mas é fato que emoções também podem nos levar a cometer erros graves, que levam ao sentimento de culpa e ao endividamento. É nesse sentido que os ensinamentos economia comportamental e a neuroeconomia podem nos ser úteis: tornar nossa irracionalidade previsível e evitar decisões ruins.

A primeira dica parece simples, mas na prática é bem difícil. Você deve aprender a dizer não para si mesmo.

"Não faça nada por impulso sem antes avaliar se a culpa não vai estragar a festa. Entenda melhor seu 'eu futuro', com suas agendas e cobranças. Dizer não para si é como dizer não para um filho: é difícil, mas pode ser engrandecedor", aconselha Álvaro. Segundo Renata Taveiros Saboia, um dos motivos que tornam tão difícil essa negação dos próprios impulsos é a facilidade cada vez maior de fazer pagamentos. QR Codes, Pix, cartões de crédito que ficam salvos em sites de compras são alguns exemplos.

Além disso, o neurotransmissor chamado dopamina, que ativa o chamado "sistema de recompensa" do cérebro, também pode atrapalhar.

"Quando a dopamina está trabalhando, ela estimula o comportamento impulsivo. Como funciona? Você tem lá uma expectativa de ganhar algo. Pode ser dinheiro, bem-estar, prazer, uma imagem bacana diante dos outros, etc. E esse comportamento impulsivo te faz querer imediatamente aquela recompensa", explica.

Um exemplo de como esse sistema de recompensa é explorado atualmente é a gamificação do consumo. Ou seja, a transformação do ato de comprar em um jogo.

Aplicativos de supermercados e lojas online prometem recompensas (descontos, produtos grátis, etc.) ao se atingir um determinado número de pontos, por exemplo.

No Brasil, esse tipo de decisão ruim pode ser identificada nos nossos altos níveis de endividamento, diz Renata.

Um estudo da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), de agosto de 2021, aponta que um em cada quatro brasileiros (25,6%) não conseguia quitar as dívidas no prazo naquele mês.

"A gente tem problemas muito sérios no Brasil, e todo esse estímulo para consumo que estimula o comportamento impulsivo piora ainda mais essas condições", diz a neuroeconomista.

Por isso, uma dica de ouro para evitar esse tipo de decisão impulsiva é sempre "dar uma volta a mais".

"Eu costumo colocar um adesivo no cartão de crédito dos clientes dizendo 'dê mais uma volta, espere mais um pouco, respire'. Quando a pessoa vai fazer outra coisa e volta, a dopamina baixa, já que é uma substância química que tem efeito por um tempo determinado. Logo, a sensação de 'quero, quero' vai passar e ela chegará à conclusão que pode usar esse dinheiro para outra coisa. Mas tem que ser depois, na hora não dá", explica.

Não faça contas de cabeça

Só que essas decisões ruins podem ser evitadas antes mesmo da compra. Renata Taveiros explica que quando você tem a exata noção de como anda a sua vida financeira, é mais difícil ficar endividado.

"É muito importante a pessoa ter coragem e saber que vai ser muito bom se aproximar da vida financeira e olhar as contas. Muitos dizem que é difícil, mas depois que você faz isso, vem uma sensação de alívio. Se você tiver medo de olhar, vai cair em todo tipo de armadilhas mentais.", diz ela.

Uma dessas armadilhas é a "contabilidade mental" - aquela mania de fazer contas de cabeça, na maioria das vezes erradas, sobre a nossa situação financeira.

"A gente faz contas de caixinha. 'Eu ganho 100, então eu posso gastar 50 no supermercado, 20 no barzinho, só 10 no lanche, também posso ter uma parcela mensal de 15...'. Você compara 15 com 100, 10 com 100, mas não soma tudo. Depois, leva um susto e vê que está no vermelho", alerta a neuroeconomista.

Ou seja, coloque seus gastos na ponta do lápis. Some todos os seus ganhos e os seus custos de vida. Só assim você terá a real noção de quanto dinheiro pode gastar.

Cuide do seu 'eu futuro'

Uma das decisões mais importantes que precisamos tomar, pensando no nosso futuro, é a de guardar dinheiro.

É claro que o contexto da economia brasileira - com desemprego, informalidade e inflação em alta - torna isso proibitivo para muita gente.

Mas por que é tão difícil fazer isso mesmo quando há condições?

Um efeito conhecido como "desconto intertemporal" na economia comportamental pode explicar:

"Imagina que você pega um binóculo e vira ao contrário. O que acontece? O que tá lá longe fica pequenino. E o que está perto ganha um valor, um tamanho gigante", explica Renata Taveiros.

"A gente quer a recompensa imediata, agora, já, porque ela aparenta ser muito maior do que uma recompensa que é muito misteriosa, que você não sabe o que vai acontecer, lá no futuro."

Estudos neuroeconômicos mostram que algumas áreas do cérebro acionadas quando você pensa em guardar dinheiro para o seu futuro são as mesmas de quando você pensa em dar dinheiro para um estranho.

O que pode significar que, para o nosso cérebro, guardar dinheiro para o Eu futuro e dar a mesma quantia para outra pessoa é quase a mesma coisa.

Segundo Renata Taveiros de Saboia, uma solução pode ser criar um "nudge", ou seja, um empurrãozinho para que você pense com mais carinho no seu futuro.

"Uma ideia que eu costumo aplicar é usar um desses aplicativos que te deixam mais velho em uma foto. Isso te faz se conectar com aquela imagem. Aí você deve fazer o exercício de pensar o que quer para a vida daquela outra pessoa. Assim, vai criar um circuito neural que conecta o seu eu do futuro com o seu eu de hoje", diz ela.

Aprenda também a dizer 'sim' a si próprio

Mas o neurocientista Álvaro Machado Dias faz um alerta. Ainda que seja importante guardar dinheiro, é necessário também saber se permitir.

"Não assuma que se permitir é sempre ruim e nem caia na falácia de que devemos adiar continuamente o prazer para um dia poder usufruir do mesmo em intensidades maiores. Hoje, o que vemos é um mar de gente sem tesão de viver. Saia deste mar", diz ele.

De acordo com Álvaro, nem todas as decisões que tomamos na vida, sejam elas econômicas ou não, podem ser realizadas de maneira puramente racional - e nem é desejável que isso aconteça.

"Às vezes a gente é tomado por componentes emocionais, e de fato isso pode gerar desfechos ruins, inclusive arrependimento", diz ele. "Mas a entrada em jogo desses componentes que não são formalistas, lógicos, é o que no final das contas torna as nossas decisões melhores para o grupo, espécie e cultura como um tudo", completa.

Por isso, a dica é saber alocar melhor as suas energias e preocupações:

"Não dá tempo - nem faz qualquer sentido - tentar otimizar todas as decisões. Escolha as suas batalhas. Foque nas escolhas que mais importam; são elas que, ao fim e ao cabo, definirão quem você é". 

Fonte: aqui

13 setembro 2011

Neuroeconomia



John Coates, um pesquisador sênior de neurociências e finanças da Universidade de Cambridge, tem uma teoria. Ele diz que haveria menos bolhas e crashes no mercado de ações se mulheres e homens mais velhos conduzissem a maioria dos negócios. "Há menos diversidade no mundo financeiro que no militar", ironiza ele. "Em Wall Street, temos uma parcela da população - homens jovens - conduzindo os pregões. Isso leva a um comportamento extremo: eles ficam selvagens."


Isso não é bom para as ações. Tal comportamento provavelmente contribuiu para o crash da internet em 2000 e o crash de 2008-2009, alimentado pelas hipotecas subprime. Portanto, Coates, que passou 12 anos negociando derivativos de renda fixa para o Goldman Sachs e o Deutsche Bank em Nova York, está agora examinando os hormônios dos operadores, em busca de pistas sobre o grau de risco que as mulheres e os operadores mais velhos se dispõem a assumir.


Em 2007 Coates dirigiu-se a um pregão e recolheu repetidas vezes amostras de saliva de 250 operadores, a maioria homens jovens. Ele constatou que no período da manhã, quando seus níveis de testosterona estão altos, a confiança dos operadores também é alta. Na medida em que fazem negócios bem-sucedidos, seus níveis de testosterona sobem ainda mais, levando a lucros na parte da tarde.


Os homens jovens começam a se sentir infalíveis, assumindo um comportamento cada vez mais arriscado, como comprar ações a preços sobrevalorizados. Mas, em algum momento, testosterona demais e um excesso de julgamentos equivocados levam os mercados a níveis de alta insustentáveis. Então o ciclo termina. As ações sobrevalorizadas sofrerão um crash e os níveis de testosterona voltarão ao normal. "A testosterona é a molécula que explica a exuberância irracional", afirma Coates. "Uma certa quantidade de testosterona pode ser saudável, mas o excesso pode levar a uma bolha."


Para a maioria dos pesquisadores que trabalham com a neurociência, o "Santo Graal" é descobrir como regenerar os neurônios do cérebro. Tal feito ajudaria os cientistas a acabar com doenças como o mal de Parkinson e o mal de Alzheimer. Mas outros estão usando as técnicas desse campo em crescimento nas finanças comportamentais, que por si só é uma mistura de economia com psicologia. O resultado é um novo campo chamado neuroeconomia, que tenta explicar como as pessoas gerenciam riscos e por que elas sempre tomam decisões irracionais.


A importância das emoções não é nenhuma novidade. Benjamin Graham, considerado o pai do "value investing", certa vez disse: "Os indivíduos que não conseguem dominar suas emoções estão mal adaptados para lucrar com o processo de investimento". Mas as principais teorias do campo hoje conhecido como finanças comportamentais foram desenvolvidas por Richard Thaler, professor de economia e ciências comportamentais da Booth School of Business da Universidade de Chicago, e Daniel Kahneman, da Universidade Princeton, cujos trabalhos sobre essas questões, com o falecido Amos Tversky, lhes renderam o Nobel em Ciências Econômicas em 2002. [Na verdade só Kahneman ganhou o Nobel]


Kahneman e Tversky constataram que as pessoas sofrem mais com a perda de dinheiro do que sentem prazer ganhando dinheiro. Portanto, elas tendem a se agarrar a ações perdedoras, ao invés de vendê-las e evitar uma perda maior.


A irracionalidade também pode assumir a forma de um afeiçoamento emocional a um determinado ativo. R. J. Weiss, o fundador de 26 anos do blog Gen Y Wealth, recentemente postou que foi pego em uma armadilha de comportamento. Quando seu avô faleceu, ele herdou ações que eram negociadas a US$ 25. As ações caíram para US$ 20, US$ 10 e depois para US$ 5, mas Weiss não conseguiu se desfazer do presente que recebeu do avô. Finalmente, em abril, ele vendeu as ações por US$ 3,04, arcando com uma perda de 90%. "O tempo todo que o mercado caía eu sabia que manter as ações era a coisa errada a ser feita, mas eu não conseguia vendê-las", escreveu Weiss.


Dan Ariely, um economista comportamental do Massachusetts Institute of Technology (MIT), diz que as pessoas precisam ser cautelosas com essa irracionalidade, e que talvez seja até mesmo preciso estabelecer mecanismos que impeçam as pessoas de agir de maneira imprudente. "Sabemos que precisamos criar um mecanismo que impeça as pessoas de enviar mensagens de texto pelo celular enquanto estão dirigindo", afirma Ariely. "Mas, no mercado, não estamos levando em conta o caráter humano, e isso está nos levando para o mau caminho."


Primeiro, porém, os neuroeconomistas precisam entender o papel da emoção nas tomadas de decisões. Brian Knutson, um neurocientista da Universidade Stanford, e Camelia Kuhnen, uma professora de finanças da Kellog School of Management da Northwestern University, rastreiam os cérebros dos investidores enquanto eles tomam decisões de compra e venda. Eles constataram que os investidores com o maior apetite pelo risco aumentam a atividade cerebral em uma área chamada núcleo acumbente. Esta é a parte que é ativada em um animal quando ele encontra comida, ou em um predador quando ele parte para uma caçada.


Ao mesmo tempo, há um aumento da dopamina, responsável pela sensação de bem-estar. Ela inunda nosso cérebro quando antecipamos algo prazeroso ou excitante como ouvir música, fazer sexo ou pular de paraquedas. Um aumento da dopamina pode levar os investidores a adotar comportamentos de risco.


Os investidores que são mais avessos ao risco - e menos inclinados a comprar uma ação em grande demanda - mostram um aumento da atividade em uma parte diferente do cérebro, a ínsula anterior, que tem um papel muito importante em emoções como ansiedade e dor. Ela é a parte que é ativada quando sentimos o cheiro de um ovo podre ou o silvo de uma cobra. "Ao desconstruir os motivos que levam os investidores a ficarem entusiasmados, e por que eles fazem o que fazem, vamos desenvolver ferramentas que poderão ajudar as pessoas e tomar decisões melhores", afirma Knutson.


Uma das ferramentas em que Knutson está trabalhando é uma maneira de ajudar a impedir os investidores de se tornarem vítimas de fraudes financeiras. Knutson, cujo trabalho é bancado pela Financial Industry Regulatory Authority (FINRA), está usando a tecnologia de imagens cerebrais para ver o que acontece quando os investidores são seduzidos por golpistas. Ele diz que pode parecer que as vítimas são simplesmente pessoas ignorantes. No entanto, pode ser que as vítimas sejam pessoas cujos cérebros ficam tão animados com os ganhos em potencial que não conseguem evitar a tomada de risco. Ou talvez essas vítimas não sintam medo. Suas constatações poderão levar a uma ferramenta para salvaguardar os investidores.


Para onde tudo isso vai? Talvez um dia investidores e operadores tenham um dispositivo biométrico conectado aos seus computadores. Ele poderá escanear o córtex pré-frontal do cérebro, determinar os níveis de testosterona e medir a quantidade de suor nas palmas das mãos em microssegundos, antes de alertar você para não fazer determinado negócio. Ou as pesquisas atuais poderão resultar em medicamentos que tornarão as pessoas mais racionais.


"Dentro de poucas décadas, medicamentos que reforçam o desempenho serão uma parte integrante de nosso mundo", afirma Hersh Shefren, professor de finanças comportamentais da Santa Clara University. "No momento isso é ficção científica, mas a ficção científica sempre acaba virando ciência." (Tradução de Mario Zamarian)


Neuroeconomia busca desvendar a cabeça do investidor - Por Nikhil Hutheesing | Da Bloomberg - Publicado no valor Econômico


16 setembro 2008

Loteria esportiva e Racionalidade


Existe uma racionalidade na decisão de uma pessoa resolve jogar na loteria esportiva? Analisando a questão das probabilidades, não. Entretanto, muitas pessoas arriscam seus recursos e consideram um bilhete como uma necessidade semanal.

Numa entrevista para Scientific American via Economist View), George Lowenstein (What Does Neuroeconomics Say about Lotteries and Credit Cards?) analisa a racionalidade desta decisão sob a ótica a neuroeconomia.

Uma das questões apresentadas informa que pessoas pobres compram mais bilhetes de loteria. A loteria seria um “equalizador social”, o que faz com que se acredite na chance de mudar de vida com o resultado do sorteio. Quanto mais pobre uma pessoa se sente, maiores as chances de ser um jogador. Além disto, muitos sorteios estão voltados para “temas” populares, como é o caso da nossa loteria, associada ao futebol.

Sob a neuroeconomia, Lowenstein faz um comentário interessante:

Neuroeconomics is still in its infancy, and many of the existing findings are speculative or contradictory. (…) I believe that there is a danger that the field has been oversold, and perhaps “over-bought,” leading to inevitable disappointment and disillusionment.

19 setembro 2008

Neuroeconomia

Em Neuroeconomics: a Sober (but hopeful) appraisal Douglas Bernheim faz uma análise da neuroeconomia, examinando seu potencial para resolver questões econômicas tradicionais. O autor acredita que o campo pode contribuir com a economia de muitas formas.

24 março 2009

Neuroeconomia

Aquiles Mosca tem escrito muitos textos sobre Finanças Comportamentais. Possui inclusive um livro sobre o assunto. Guardei o texto abaixo para uma postagem especial, pois com o passar do tempo surgiram diversas citações que complementam as afirmações de Mosca. Primeiro o texto:

Investimentos
De que forma a mente influencia as decisões futuras?
Valor Econômico – 18/2/2009


Com os avanços da neurociência, abriu-se uma empolgante forma de estudar a mecânica mental por trás do processo decisório. Cientistas são capazes de mapear em tempo real quais regiões do cérebro são estimuladas quando somos colocados diante de diversas situações. Profissionais de marketing têm recorrido a isso para identificar que tipo de mensagem tem maior probabilidade de ficar registrada de forma positiva no cérebro para criar estratégias de comunicação para influenciar consumidores. O mesmo pode ser feito quando lidamos com investidores. Que parte do cérebro reage ao observarmos ganhos e perdas? De que forma ficam registradas em nossa mente e como influenciam decisões futuras?

Sempre que uma região do cérebro é estimulada, ela é irrigada por um fluxo adicional de oxigênio. Ao monitorar esse fluxo de oxigênio - e sabendo que regiões são responsáveis por quais sentimentos (prazer, medo, frustração etc) -, podemos saber o efeito que determinado estímulo causa sobre nós.

Além disso, a descoberta dos marcadores somáticos permitiu compreender de que forma tais impressões ficam registradas e como são recuperadas quando precisamos tomar novas decisões. Os marcadores somáticos são relevantes se lidamos com estímulos que causam sentimentos de recompensa e punição. Por exemplo, se você alguma vez retirou um bolo recém-preparado do forno e queimou seu dedo, essa experiência ativará seus marcadores somáticos, que gravarão uma impressão duradoura em seu cérebro que será recuperada sempre que você precisar lidar com um forno. Esse tipo de influência sobre o processo decisório é mais relevante quanto mais complexa, conflitante e ambígua for a decisão. Desnecessário dizer que o mercado financeiro está repleto de decisões desse tipo.

A teoria financeira comportamental tem bem registrado que o desprazer associado à perda é superior à sensação de recompensa quando há ganho da mesma proporção. Registramos de forma mais significativa experiências de perdas - a atividade cerebral no hemisfério que reage à sensação de punição e perdas é mais intensa - do que em situações de ganhos. Essa assimetria explica porque temos aversão a perdas e não ao risco. O problema ocorre quando o risco se materializa, traduzindo-se em prejuízo.

Foi exatamente isso que observamos na segunda metade do ano passado, quando as bolsas recuaram ao redor do mundo. Contudo, de 2003 à primeira metade de 2008, observamos um mercado acionário em alta contínua. Nesse período, o Ibovespa acumulou alta superior a 450%. O investidor que tinha ações experimentou uma sensação de acerto e satisfação. Viu seu patrimônio subir e, contagiado pelo entusiasmo com tais retornos, elevou ainda mais a parcela de sua poupança aplicada na bolsa. Não foi raro vermos aplicadores com mais de 80%, ou até mesmo todos os recursos aplicados na Bovespa, em um claro sinal de excesso de confiança e diversificação deficiente.

Como consequência da crise internacional, a bolsa brasileira teve queda na segunda metade do ano passado. Em 2008, o recuo do Ibovespa foi superior a 44%. Essa queda pegou parte dos aplicadores com mais recursos investidos em bolsa do que seria recomendado para seu perfil de risco. Naquele instante, o investidor passou a registrar aumento na atividade no hemisfério do cérebro responsável pela sensação de perda e punição. Os marcadores somáticos entram em ação, gravando a impressão de perda em sua mente de maneira intensa, duradoura e mais do que proporcional ao prazer que sentia durante períodos de alta.

Foi muito comum vermos investidores que, observando a queda da bolsa na segunda metade de 2008, resolveram zerar suas posições no final de novembro, quando os maiores movimentos de saques foram registrados na bolsa brasileira. Ao agir dessa forma, venderam suas ações após uma queda, isto é, venderam barato. E pior, observaram a bolsa retomar o movimento de alta nos meses de dezembro e janeiro.

A dinâmica mental descrita é um argumento a favor da disciplina. A forma como nosso cérebro registra, armazena e recupera experiências que envolvem perdas e ganhos nos induz a um excesso de iniciativa que é prejudicial à boa gestão. Impele-nos a vender na baixa e comprar na alta. Leva-nos a superestimar nossa propensão ao risco durante a alta e a subestimá-la nas quedas. Ganha mais quem define uma alocação em ativos de risco compatível com sua tolerância e as mantem com disciplina. O investidor precisa estar disposto a enfrentar flutuações e eventualmente perdas em horizontes mais curtos para que não esteja fora da bolsa nos momentos de recuperação que, via de regra, ocorrem de maneira concentrada no tempo.

Aquiles Mosca é estrategista de investimentos pessoais e superintendente de vendas da Santander Asset Management. É autor dos livros "Investimento sob medida" e "Finanças Comportamentais"


Aqui uma pesquisa prática sobre a neuroeconomia Calendário de mulher nua torna mais provável o homem tratar a mulher como objeto.

Outra pesquisa é a neurociência da jogatina

Com respeito a bolsa de valores, uma interessante explicação está no livro Nudge, de Thaler e Sunstein, onde os autores explicam o comportamento sob a ótica da contabilidade mental. [Embora não recomende o livro, não pela qualidade do assunto e dos autores, mas pelo estilo, árido demais.]

Outra pesquisa mostra a influência das redes sociais no cérebro das crianças.

09 fevereiro 2012

Dopamina


As pesquisas que atualmente estão sendo realizadas para tentar entender o mercado podem ser classificadas em dois tipos. Na primeira, procura-se analisar friamente os dados existentes, tentando descobrir, por exemplo, padrões de comportamento nas séries históricas. Esta abordagem é tradicional nos estudos sobre o mercado e envolvem um grande conjunto de dados em que serão aplicadas técnicas estatísticas.

Outro grupo tentar entender o que está por trás do mercado. Ou seja, o ser humano. Neste grupo, os pesquisadores eventualmente podem até usar os dados do mercado, mas o objetivo final é procurar verificar como a ação do homem influencia no comportamento do mercado. Existem três grandes subgrupos de pesquisas. No primeiro, o foco é o indivíduo específico e seu processo decisório. Boa parte dos achados de finanças comportamentais está neste grupo. Assim, a conclusão de que as pessoas sentem muito mais a perda do que o prazer do ganho, que conhecemos como aversão à perda, é uma situação típica de comportamento humano, que irá explicar certos movimentos do mercado.

Um segundo subgrupo de pesquisadores tem-se dedicado ao comportamento social. A preocupação é tentar verificar como as interações de grupos de pessoas afetam o mercado. Esta tendência das pessoas de seguirem o comportamento de um grupo irá refletir no chamado efeito manada. O desenvolvimento recente das redes sociais tem facilitado as pesquisas nesta área.

Podemos dizer que enquanto o primeiro subgrupo é “derivado” da psicologia, o segundo tem sua raiz na “sociologia”.

Um terceiro subgrupo, que é o objeto desta postagem, está mais interessado na parte física do comportamento. Aqui a preocupação é saber em que parte do cérebro uma decisão é tomada. As pesquisas são realizadas usando máquinas modernas que conseguem ver o que está ocorrendo dentro da cabeça das pessoas enquanto decisões são tomadas. Esta área tem sido denominada como neuroeconomia. Há tempos já se sabe, por exemplo, que a forma como as pessoas tomam decisões possuem um comportamento genético. O efeito do testosterona nos investidores já é conhecido (aqui, aqui e aqui). Acredita-se que os banqueiros tenham em grande quantidade um gene chamado AFL11 numa taxa de 84% deles, versus 2,7% da população.

Uma pesquisa mais recente avaliou os genes de 60 traders que trabalham em Wall Street. O objetivo era estudar o efeito da dopamina, um neurotransmissor do cérebro, responsável, entre outras coisas, pela dependência do jogo, sexo, álcool e outras drogas.

Pesquisas anteriores já apontavam para o efeito na dopamina no mercado acionário (aqui, aqui e aqui). Agora, dois pesquisadores Claremont Graduate University estudaram o efeito da dopamina na oferta pública inicial de ação. Este tipo de oferta é muito excitante e tende a aumentar a atividade da dopamina no cérebro. Mas sabemos também que em geral estas ofertas não são um bom investimento, tendo um retorno abaixo do esperado. Ou seja, liberar muita dopamina pode levar a péssimas decisões de investimento.

Os pesquisadores encontraram que os investidores de maior sucesso são aqueles que conseguem “controlar” a atividade da dopamina. Estes profissionais conseguem compensar o risco de uma oferta pública por uma visão de longo prazo graças a gene específico.

Talvez no futuro os traders devam fazer um exame completo na sua estrutura de genes para saber se conseguem controlar ou não sua dopamina.

Para ler mais: The Wall Street Gene, Jonah Lehrer, The Wall Street Journal, 4 fev 2012

02 fevereiro 2007

Links

1. Israelenses são donos de 10% da lua. Cerca de 10 mil já compraram seu terreno - clique aqui

2. Uma solução engenhosa - clique aqui para ler

3. Problemas com a Escala Likert - clique aqui para ler

4. Razões para postergar - clique aqui

5. Neuroeconomia - clique aqui

14 agosto 2013

Behavioral Economics for Dummies

A série de livros “for dummies” é muito interessante para aqueles que desejam iniciar num determinado assunto ou para os que gostariam de uma abordagem mais palatável do tema. O texto é carregado de piadinhas, o que faz com que a leitura seja bastante agradável. E é acompanhada por desenhos humorísticos que permite que o tempo passe fácil com a obra.

Comprei o livro Behavioral Economics for Dummies, de Morris Altman, com esta expectativa. Tenho também muitas obras sobre o assunto, mas até hoje não consegui ler um livro que tenha uma estrutura dos temas mais relevantes didática. A obra de Altman divide o assunto em cinco partes, com vinte capítulos no total.

Entretanto a obra é uma grande decepção. O texto não é “leve”, como outros da série “for Dummies”, o assunto não é apresentado de forma agradável ao leitor, existem poucos cartoons para animar a obra e a estrutura realmente não é boa. Por exemplo, o tema “neuroeconomia”, um assunto recente na área, aparece no capítulo 3, bem no início do livro. A última parte do livro, uma lista de “top tens” deveria ser atrativa, mas não atrai.

Em resumo, se você deseja conhecer o assunto, tente outro livro. O de Kahneman pode ser uma boa alternativa. Ou quem sabe qualquer um do Dan Ariely. Mas evite este.

Parceiros do blog:
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26 dezembro 2008

O Outro lado da Moeda

Terminei a leitura do livro O Outro Lado da Moeda. Existem diversos trechos ligados a Finanças Comportamentais, alguns usando informações já conhecidas. O autor também comenta sobre a neuroeconomia (ramo da medicina e economia que procura determinar como as decisões são tomadas no cérebro das pessoas), economia, psicologia e outros assuntos. A leitura não é agradável e talvez seja decorrente do lay-out do livro (a letra usada pela editora é pouco amigável). Mas o texto é muito pesado, ao contrário do livro Previsilmente Irracional, este sim uma leitura agradável.

Apesar disto, achei interessante alguns trechos, como a discussão da ajuda do governo aos produtores (como está ocorrendo agora no mundo) e não aos consumidores. (O livro defende que o governo deve ajudar os consumidores).

Um conselho do livro, que pode ajudar as pessoas a reduzir seus gastos e aumentar a capacidade de poupança, diz respeito ao uso de cartão de crédito:

“Os cartões de crédito reenquadram o dinheiro em uma categoria de contabilidade mental distinta, o que faz com que seja muito mais fácil gastá-lo. Os professores de marketing do MIT, Drazen Prelec e Ducan Simester, testaram esse princípio participando como apresentadores de um leilão com propostas fechadas para a venda de ingressos dos jogos da equipe de basquete do Boston Celtics. Metade das pessoas foi informada de que, se ganhasse o leilão, teria de pagar pelos ingressos em dinheiro vivo. A outra metade foi informada de que, se ganhasse, poderia pagar com cartão de crédito. Os lances dos que pagariam em dinheiro foram praticamente 50% menores do que aqueles oferecidos pelos que poderiam pagar com cartão de crédito.”
SHERMER, Michael. O outro lado da Moeda. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008, p. 89.

05 novembro 2006

Hipótese dos Mercados Adaptáveis

Este é um dos temas que provavelmente ainda vamos ler muito no futuro. Desde que foi criada a Teoria de Carteiras (CAPM, em particular), esta teoria vem recebendo inúmeras críticas. Na década de 1970 apareceu as Finanças Comportamentais como uma tentativa de explicar certas anomalias no comportamento humano. Uma possível vertente deste estudo tem sido realizado pela neuroeconomia, que estuda como o ser humano toma suas decisões.

Recentemente apareceu uma nova linha de estudos, promovida por Andrew Lo, da Hipótese dos Mercados Adaptáveis. A reportagem a seguir, publicada no Valor Econômico de 19/9, faz um breve resumo do que seria isto:

Viver e aprender

Por Danilo Fariello
Quando dois aviões atingiram o World Trade Center, em um dos maiores atentados terroristas da história, os mercados mundiais desabaram. Seus efeitos duraram vários dias e alguns analistas acharam que nada voltaria ao que era antes pelo receio de novos ataques. Cinco anos e vários atentados depois - incluindo um em Madri e outro em Londres -, os agentes do mercado já não reagem com a mesma apreensão aos riscos do terrorismo. Esse comportamento ratifica uma nova teoria que estuda a ação dos investidores no ambiente econômico e que pode ajudar na montagem de estratégias de investimento tendo em vista mudanças globais, permitindo até tirar proveito delas.

As teorias que pregam que decisões econômicas não são pautadas apenas por motivos racionais já são bastante respeitadas entre agentes do mercado financeiro. Prova disso é seu desenvolvimento e questionamento, que resultaram na criação da nova Hipótese dos Mercados Adaptáveis (HMA), consolidada em artigo recente de Andrew Lo, economista do MIT Sloan School of Management. Sua tese é um meio do caminho entre aqueles que acham que o mercado é puramente racional - adeptos da Hipótese dos Mercados Eficientes (HME) - e os que acham que ele seria totalmente irracional, dadas as características psicológicas inatas de cada agente. A nova tese, segundo Lo, permitiria entender melhor fenômenos cíclicos da economia, como bolhas, e melhorar a administração de investimentos.

A HMA prevê, em resumo, que o mercado financeiro tende à racionalidade até que surjam alterações de conceitos básicos que tornem as previsões irracionais. Os agentes econômicos passariam por processos de adaptação a novas realidades. Exemplos recentes são a bolha da internet e reviravoltas do mercado com os atentados.

A tese clássica prevê que os agentes do mercado sempre agem racionalmente ao aplicar recursos, buscando a melhor relação entre retorno e risco. Já a psicologia comportamental diz o contrário, ou seja, que os agentes sempre agem movidos por emoções pessoais, como egoísmo, competição, medo e euforia. A HMA prevê ciclos, que, quando alterados, elevam a motivação irracional dos agentes do mercado, explica Ilan Ryfer, sócio responsável por estratégias de investimento da corretora Hedging-Griffo. Conforme a situação se acomoda ou torna-se mais corriqueira, os agentes vão retomando a racionalidade. Até que ocorra uma nova ruptura, como nos atentados.

Avanços tecnológicos, como a bolha das empresas pontocom no início da década, seriam o motivo mais comum de mudanças de ciclos econômicos que aumentam a irracionalidade do mercado. "No começo da onda de internet, as empresas do setor eram avaliadas muito acima de seu valor patrimonial e, atualmente, muitas não valem tanto ou desapareceram", diz o economista Ryfer. No entanto, ele avalia que a identificação de um novo período irracional, como o da atual bolha dos imóveis americanos, é difícil de ser comprovado ao longo do processo.

Segundo a tese dos mercados adaptáveis, pequenos ciclos em mercados e setores específicos ocorrem sistematicamente, oferecendo brechas para a busca de lucros mais altos com possíveis distorções irracionais o tempo todo. Mas a tese pura da psicologia comportamental prevê que não necessariamente um mercado com valores distorcidos por questões irracionais migrará para a racionalidade, lembra Vera Rita Ferreira, psicóloga econômica e representante nacional da Associação para Pesquisa em Psicologia Econômica (Iarep, na sigla em inglês). Exemplos são a bolha da internet, que demorou anos para estourar ou a bolha imobiliária nos EUA atualmente, já sinalizada há anos.

A HMA tem raiz na psicologia evolucionista, que prevê o aprendizado das pessoas, num paralelo com a teoria de Charles Darwin, explica Roberta Muramatsu, pesquisadora de finanças comportamentais e professora de economia do Ibmec-SP e do Mackenzie. Por essa teoria, certas pessoas teriam traços que os auxiliariam a identificar melhor os movimentos do mercado. "Esse é um dos motivos porque alguns gestores e investidores prosperam e outros não."

Copiar estratégias desses vencedores ajuda, mas é preciso compreender também que o ambiente econômico está em constante mutação e a mesma estratégia poderia não funcionar numa segunda vez, diz a economista. "Não dá para termos a pretensão de nos adaptarmos na mesma velocidade do ambiente", afirma Roberta, acrescentando porém que "também não somos fadados à irracionalidade".

A tese dos mercados adaptáveis traz aos estudos das finanças comportamentais o entendimento de que não são apenas as pessoas que interferem na economia, mas que o próprio ambiente é fator que influencia o comportamento financeiro, diz Roberta. "Hoje, temos de responder muito rápido a decisões econômicas, portanto podemos agir mais irracionalmente frente a uma novidade" explica. "Mas acredito na otimização e maximização das decisões com o tempo."

A tese evolucionista já é antiga nos debates sobre psicologia, embora controversa, mas sua incorporação reforça a aceitação de temas relativos à mente no universo dos economistas, diz Vera Rita. A tendência é que a discussão se amplie para além da psicologia econômica tradicional. Na semana passada, o psicólogo Waldemar Magaldi Filho lançou o livro "Dinheiro, saúde e sagrado", sobre o valor cultural, consciente e inconsciente, do dinheiro na vida das pessoas, tendo base nas teorias de Carl Gustav Jung, dissidente das teses de Sigmund Freud.

22 setembro 2017

Previsão do Nobel

Colin F. Camerer (Caltech) e George F. Loewenstein (Carnegie Mellon) - pesquisa em economia comportamental e neuroeconomia

Robert E. Hall (Stanford) - produtividade, recessão e desemprego

Michael C. Jensen (Harvard), Stewart C. Myers (MIT, fotografia) e Raghuram G. Rajan (Chicago) - finanças

Outras previsões aqui