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29 abril 2012

Correlação

O gráfico mostra a evolução histórica da correlação entre o mercado brasileiro (medido pelo Ibovespa) e o mercado dos Estados Unidos (Dow Jones) no período de 2001 até os dias de hoje. Cada ponto do gráfico corresponde a um dia de negociação nestes mercados. Para cada ponto foi calculada a correlação dos retornos dos mercados, usando os dados acumulados anuais. (a título de ilustração: no dia 25 de abril de 2005 calculou-se a correlação dos mercados entre 26 de abril de 2004 a 25 de abril de 2005)

Observe que em setembro de 2001 a correlação entre os mercados reduziu, voltando a aumentar logo após. Até meados de 2006 a correlação entre os dois mercados estava em torno de 0,4. Após este período a correlação sobe de patamar, sendo normal ultrapassa a 0,7. A crise de 2008 teve seus efeitos, reduzindo a correlação para valores abaixo de 0,6.

Isto significa dizer que os mercados possuem cada vez mais reações próximas. Para o investidor estrangeiro, o ganho de diversificação por investir no mercado brasileiro é cada vez menor no tempo. Para o investidor brasileiro, o comportamento do mercado está cada vez mais atrelado ao que ocorre no exterior.

20 julho 2009

A Eficiência do Mercado

A eficiência do mercado tem sido objeto de estudo da contabilidade desde que o trabalho de Fama foi publicado. Para este economista, o mercado seria mais ou menos eficiente em razão da reação a informação. Fama entendia que a contabilidade era uma das fontes de informação, embora não fosse a única.

As EMH (Hipóteses de Eficiência de Mercado) têm sido objeto de estudo pelos pesquisadores. Fama classificava suas hipoteses em tres grupos: fraca, semi-forte e forte. Um grupo extenso de pesquisas surgiu no sentido de classificar o mercado num destes grupos. Ou seja, verificar em situações específicas se o mercado agia de forma mais ou menos eficiente.

Neste texto irei comentar três aspectos da EMH: a crença atual, a suposição da correlação e a relação entre eficiência e previsão.

Crença Atual

Um artigo recente, analisado pelo blog Financial Rounds, concluiu, por exemplo, que existem evidências que o mercado de ações dos EUA são altamente ineficientes.

A questão da eficiência já era questionada com a expansão das finanças comportamentais. A constatação que as pessoas não são plenamente racionais abriu uma nova perspectiva em termos de tentar explicar como se comporta o mercado. Existia uma velha piada sobre dois pesquisadores que acreditam na EMH e que um deles, por acaso, encontra uma nota de 50 reais na calçada. Ele diz: “nao é uma nota de 50 dólares no chão?” O outro afirma: “Parece, mas se fosse alguém já teria passado e ficado com ela”.

A crise financeira aumentou o debate sobre a eficiência dos mercados. Diversos textos interessantes foram divulgados nos últimos dias tratando do assunto. Além da crise contribui o lançamento recente do livro The Myth of The Rational Market (de Justin Fox).

Robert Waldmann, em The REH vs the EMH, destaca que a eficiência do mercado não significa necessariamente a hipótese de expectativa racional (REH). Para Waldmann, a EMH não trata de comportamentos individuais ou assume que os investidores possuem, isoladamente, carteiras eficientes.

Ja Gillian Tett, no Financial Times (Credit crunch causes analysts to rethink rational market theory, 16 de junho de 2009, p. 17) cita uma pesquisa realizada entre os membros britânicos do CFA. Quando questionados se acreditam na eficiência do mercado dois terços responderam que já não acreditam que o preço do mercado reflete toda informação disponível. Além disto existe uma elevada discordância que o investidor é racional.

Esta mudança é mais significativa quando imagina que a eficiência do mercado é fundamental para pontos relevantes da contabilidade financeira, como a remuneração dos executivos. Isto naturalmente tem despertado o interesse pelas finanças comportamentais.

Esta conclusão dos estudo do Chartered Financial Analyst Institute também foi destacada por Tom Stevenson em Investors are finally seeing the nonsense in the efficient market theory (Daily Telegraph, 18 de junho de 2009).

Em EMH - The Dead Parrot of Finance, Neil Hume lembra que James Montier, do Soc Gen, deseja que a EMH seja banida da industria de investimento. Isto inclui CAPM, administração de risco entre outros.

A questão da Correlação

John Lounsbury - em The (In)Efficient Market Hypothesis - destaca um problema específico da EMH: questão da existência de correlação constante entre dois ativos no tempo. Lounsbury faz uma correlação entre o dólar e a SP 500 para os últimos 38 anos e encontrou o seguinte resultado:



Pode ser observado que a correlação entre os dois investimentos varia ao longo do tempo. Usando os dados do Banco Central para taxa de câmbio e variação do índice Bovespa fiz este cálculo para o Brasil. O resultado encontra-se abaixo:



A correlação da figura refere-se a variação diária para cada um dos anos. É possível perceber que a correlação entre estas duas variáveis muda com o passar do tempo. Isto significa dizer que a objeção de Lounsburry provavelmente também é válida para o Brasil.

EHM e Previsão
Uma questão que sempre incomodou as mentes mais críticas de finanças refere-se a relação entre a EHM e a bola de cristal. Lembro-me de um livro recomendado por meu mestre e orientador, Alexandre Assaf, que abordava este assunto. Trata-se de Modern Portfólio Theory, The Capital Asset Pricing Model & Arbitrage Princing Theory, de Diana Harrington. Harrington comenta a questão controversa de usar a teoria de finanças para fazer projeção.

Mais recentemente Timmermann e Granger (em Efficient Market Hypothesis and Forecasting) comentam a contradição: os modelos pressupõem um mercado eficiente, onde a existência do chamado lucro anormal não seria possível; mas os “práticos” usam para tentar obter este lucro.

18 julho 2009

Diversificação

Diversificação de portfólio fracassa e força investidor a rever conceitos
Tom Lauricella, The Wall Street Journal
13/7/2009 - The Wall Street Journal Americas

Diante de um grupo de colegas do ramo de consultoria financeira, Carl Mahler expressou recentemente sua frustração com a descoberta de que um dos dogmas do mundo dos investimentos estava errado.

"Oi. Meu nome é Carl, e sou um alocador de ativos em recuperação", brincou Mahler, consultor da administradora de recursos americana Raymond James Financial.

A alocação de ativos, há décadas um dos fundamentos do mundo dos investimentos, foi um fracasso total em 2008. A crença compartilhada pela maioria dos investidores — de que eles devem distribuir seus recursos numa miríade de ativos diferentes para minimizar as perdas — foi abalada quando praticamente todos os mercados desabaram em uníssono.

A crise financeira empurrou vários consultores financeiros, acadêmicos e investidores de volta à estaca zero em termos de estratégias de aplicação. Mahler disse ao grupo que foi obrigado a reescrever as regras que seguiu durante a maior parte de seus 41 anos de experiência no mercado. "A alocação de ativos não funcionou", diz ele. "Foi tudo para o buraco."

Muitos investidores saíram da carnificina acreditando que o ano passado foi apenas uma anomalia — e que, em tempo de turbulência grave como a ocorrida em 2008, mercados díspares desabam em conjunto quando os investidores correm para vender tudo que têm para aumentar a liquidez das aplicações.

Mas alguns investidores e analistas influentes, de gestores de fundos gigantescos como a Pacific Investment Management Co., ou Pimco, a pequenos fundos de universidades, argumentam que os fundamentos das estratégias de alocação de ativos estão errados. Não foi um fracasso anômalo, dizem eles, mas algo que está em desenvolvimento há muito tempo.

"Temos visto cada vez mais um colapso" dos relacionamentos pressupostos entre as classes de ativos, diz Mohamed El-Erian, um dos diretores de investimentos da Pimco. "E já era assim bem antes da última fase dos mercados, que acentuou os problemas."

Investidores como El-Erian admitem que os problemas os obrigaram a repensar esses relacionamentos, para levar em conta como as amplas mudanças na economia mundial e as inovações financeiras mudaram a maneira como as pessoas investem.

Nem todo mundo concorda que as práticas de alocação de ativos tenham falhas. A Fidelity Investments enviou mês passado um relatório aos clientes em que defendeu a estratégia. "A diversificação não fracassou durante a última baixa do mercado. Ela funcionou — apenas num grau menor", afirma o relatório.

Superficialmente, a diversificação é um conceito simples: combine investimentos que não sobem ou descem ao mesmo tempo, ou que pelo menos são separados em algum grau. O objetivo é suavizar as oscilações dos retornos, protegendo as carteiras contra perdas pesadas em investimentos individuais e mantendo os investidores no lucro quando algum rincão do mercado apresentar ganhos extraordinários.

A ciência da alocação de ativos surgiu nos anos 50, quando economistas como Harry Markowitz, que depois seria agraciado com o Prêmio Nobel por seu trabalho, desenvolveram modelos matemáticos que apontavam meios de incrementar as carteiras de investimento.

Desde então alocar ativos ficou entranhado em praticamente todos os cantos de Wall Street. Para corretores, mexer na alocação ajudava a justificar a cobrança de comissões fixas dos clientes ano após ano. Os consultores de fundos de pensão erigiram um negócio lucrativo de seleção de gestores de patrimônio.

Para as administradoras de fundos, a alocação de ativos representou a base de seu mantra de comprar e esperar, pois justificava a manutenção de suas aplicações. Elas expandiram seus negócios para além das ações mais manjadas e rumo a fundos com tarifas de gestão maiores. Os fundos de ciclo de vida se tornaram a base da maioria dos planos de aposentadoria privada dos Estados Unidos.

Mas enquanto Wall Street promovia a diversificação como a alma do negócio, qualquer pessoa que estudasse a fundo os números por trás das fórmulas sofisticadas descobriria nos últimos anos que o relacionamento entre as classes de ativos estava mudando. Investimentos que deveriam ter pouca ou nenhuma conexão, como bolsas localizadas em lados opostos do mundo, começaram a se movimentar no mesmo sentido. Os benefícios da alocação de ativos começaram a desaparecer.

A correlação é uma medida estatística do nível em que os retornos dos investimentos se movem juntos. Em 1994, a correlação entre o índice de 500 ações da Standard & Poor's e os títulos de dívida de alto rendimento era baixa, de 0,2 ou 0,3, segundo estatísticas da Pimco. (Uma correlação de 1 indica que os retornos se movem em perfeita sincronia.) As ações de fora dos EUA tinham uma correlação com o S&P 500 de 0,3 ou 0,4, e para os fundos de investimento imobiliário ela era de 0,3, segundo dados da Pimco. As commodities não tinham nenhuma correlação com as ações.

No início de 2008, praticamente todas as classes de aplicação se moviam muito mais em sincronia com o S&P 500. A correlação das bolsas internacionais e dos títulos de alto risco subiu para 0,7 ou 0,8, e a dos fundos de investimento imobiliário para 0,6 ou 0,7. A essa altura, as commodities tinham uma correlação negativa — os retornos moviam-se no sentido oposto — de 0,2 ou 0,3, segundo os dados da Pimco.

Aí veio o colapso de 2008.

Num ano em que o S&P 500 perdeu 37%, o índice MSCI das maiores bolsas da Europa, Ásia e Austrália caiu 45%. O índice MSCI de mercados emergentes caiu 55%. Os fundos de investimento imobiliário tiveram declínio de 37%, os títulos de alto risco caíram 26% e as commodities caíram 37%.

Na Pimco, o diretor de análise da firma, Vineer Bhansali, aponta para as commodities como um exemplo de como as estratégias de diversificação podem desmoronar. Até mesmo quando as bolsas e o mercado de renda fixa começavam a cair, no início de 2008, as cotações da commodities caminhavam para uma alta histórica. As firmas de Wall Street divulgavam análises mostrando a falta de correlação entre ações e commodities.

Mas essa explicação não levou em consideração um elemento importante. Antes desta década, investir em commodities era um processo difícil, devido à grande complexidade do mercado futuro. Com o advento dos fundos negociados em bolsa, ou ETF na sigla em inglês, ficou fácil comprar e vender commodities com um simples clique do mouse. Em meados de 2008 os investidores de ETF tinham aplicado bilhões em commodities em poucos meses.

Quando a crise financeira piorou e bolsas e títulos desmoronaram, os investidores de ETF descobriram que também era fácil desovar as commodities. O resultado foi a queda de 37% em 2008 no Índice de Commodities Dow Jones AIG. "Quando todo mundo começa a comprar um ativo, o simples ato de diversificar a carteira torna o ativo em questão menos diversificador", diz Bhansali, da Pimco.

26 março 2007

Correlação e crise

A crise dos mercados de capitais em decorrência da queda da bolsa da China mostrou a existência de um problema de risco devido a existência de uma alta correlação entre os mercados globais. Conforme informa a The Economist (10/3/2007, p. 68, We All Fall Down) a correlação está elevada. O índice Russell 2000 de pequenas empresas norte-americanas tem uma correlação de 94% com a SP500, o principal índice de Wall Street. Mais ainda, o índice internacional já não oferece qualquer diversificação: correlação de 95%.

A correlação mede a existência de relação entre duas variáveis. Variando entre -100% e +100%, quanto mais próxima de 100% maior a relação direta entre as variáveis. Isso indicaria que as duas variáveis caminham na mesma direção. Uma das máximas da gestão de risco é a necessidade de diversificação: os investidores terão menor risco, com retornos próximos, quando fazem diversificação.

Entretanto, a crise mostrou que isso já se tornou difícil.

Um outro aspecto destacado pela revista é que nos momentos de crise geralmente os investidores tendem a vender suas ações de forma conjunta. Esse efeito é danoso principalmente para os ativos com poucas negociações: nesses casos, a venda tem um grande impacto no preço.

21 maio 2014

Correlação espúria

A correlação espúria é um grande inimigo da pesquisa científica. Ela surge de maneira inesperada, sem qualquer explicação plausível. Aqui um link para um sítio com diversos exemplos de correlação espúria. Na figura abaixo, a relação entre a taxa de divórcio no Maine e o consumo per capita de margarina nos Estados Unidos. O comportamento das duas variáveis é quase perfeito: uma correlação de 0,9926, sendo 1 o valor máximo. Mas não existe, aparentemente, nenhuma relação entre as duas variáveis, o que indica ser este um caso de correlação espúria.

Quando a correlação espúria aparece na pesquisa, a tendência é tentar criar uma teoria para explicar a existência de relação entre as duas variáveis. E que não possui explicação: a relação estatística deve-se ao acaso.

22 março 2010

Correlação



A figura mostra o comportamento da correlação entre os diversos mercados acionários do mundo. As linhas correspondem a correlação - grau de relação entre duas variáveis - entre o mercado de cada país e (a) o mercado do mundo desenvolvido; (b) o mercado mundial; (c) o mercado emergente. É fácil perceber que a correlação tem aumentado gradativamente ao longo dos anos.

Uma consequência é a perda do poder da diversificação. Conforme demonstrado pelo CAPM, a existência de investimentos com baixa correlação ou correlação negativa, propicia que o investidor possa obter ganhos com a diversificação: mesmo retorno, para menor risco.

Resta saber se este fato é provisório (provavelmente não é) ou diz respeito a uma consequencia do fato dos mercados mundiais estarem mais conectados.

Mais, aqui.

26 fevereiro 2019

B3 e a Montanha Mágica 3


  • O desempenho da B3 deve considerar que a empresa é um monopólio
  • Além disto, nos últimos anos, enquanto a receita aumentava, o número de empresas que participava do mercado de capitais diminuía
  • Isto é incoerente com a missão da empresa e com o que a sociedade espera de uma bolsa de valores

Nós postamos que o desempenho financeiro da B3 é entre muito bom e excelente. Mostramos que seus índices correspondem a um bônus AAA; mostramos que a margem líquida média é acima de 50%.

Dois aspectos importantes sobre esta discussão. Em primeiro lugar, a B3 é um monopólio. Tem conseguido barrar a entrada de concorrentes e é praticamente a única porta de entrada para uma empresa que deseje abrir o capital no Brasil ou para um investidor que deseje investir em ação. Sendo monopólio, o desempenho só pode ser ameaçado quando existem novos competidores. Observe que enquanto a margem da B3 é de 50%, a margem de um supermercado é menos de 5%; uma grande diferença entre a empresa e o comércio varejista é justamente a competição.

O segundo aspecto refere-se a missão da empresa. No site da B3 nos encontramos a missão da empresa:

promover a sustentabilidade e o investimento social privado alinhados à estratégia, contribuindo para o fortalecimento institucional da B3

Se um dos objetivos é promover o investimento social privado, será que a B3 está cumprindo com sua missão? Neste sentido, busquei o número de empresas com ações negociadas na bolsa (fonte: Séries Temporais, Banco Central) e calculei a correlação com a receita líquida da empresa. A correlação mede a relação, direta, inversa ou inexistente, entre duas variáveis. Atenção: a correlação não mede a relação de causa ou efeito entre duas variáveis. O valor da receita foi corrigido pela inflação, usei o IPCA do IBGE, e transformado em logaritmo.

A relação entre as duas variáveis foi de -0,4411. Como foram usadas 42 observações, o parâmetro crítico, a 5%, era de 0,3044, positivo ou negativo. Ou seja, existe correlação entre a geração de receita por parte da B3 e o número de empresas que participam do mercado acionário no Brasil. Até aqui, tudo bem. O problema está no sinal negativo. Ele indica que quanto maior a receita da B3, menor é o número de empresas participantes no mercado acionário brasileiro. No período, quando o número de empresas estava diminuindo - caiu de 396 empresas em 2008 para 339 em 2018 - a receita da B3 estava aumentando. E o lucro em níveis elevados.

Em razão do monopólio, das elevadas margens líquidas da empresa e do número decrescente de empresas com ações na bolsa, caberia a pergunta: será que a B3 está promovendo o investimento social privado? Não seria melhor, para o mercado de capitais brasileiro, que a empresa reduzisse sua “receita”, prejudicando seus “acionistas”, mas beneficiando a sociedade (acreditando que um mercado de capitais fortalecido é importante para um país)?

Nota Técnica: calculei a correlação entre a receita líquida da B3 e o valor total do mercado acionário brasileiro e o resultado não foi significativo (correlação igual a 0,288). Mas usar o comportamento do mercado como um todo pode ser complicado, em razão das grandes variações ocorridas durante o período: crise financeira de 2008/2009, problemas políticos no Brasil, recessão etc.
Fiz também o cálculo de modelos de regressão e as conclusões obtidas foram aproximadamente as mesmas que foram relatadas aqui.
A série histórica da B3 é afetada nos últimos anos pelo fato da empresa ter abocanhado outras entidades. Levei em consideração este fato, mas não encontrei relevância nos dados, já que afeta somente os dois últimos anos da série.

29 setembro 2007

Correlação espúria

Correlação espúria é o nome que se dá para a existência de relação estatística entre duas ou mais variáveis, mas sem significado teórico. Por este motivo é comum afirmar que a correlação não significa causação.

Uma notícia interessante aqui afirma que a melhor medida de correlação com o índice da bolsa de valores norte-americana (SP 500) é a produção de manteiga em Bangladesh. Este é um exemplo de correlação espúria.

24 novembro 2019

Emprego em Contabilidade continua em baixa

Mensalmente atualizamos o gráfico acima. Ele compara a relação entre admissão e demissão na economia e no setor contábil, de forma acumulada. O gráfico começa em 2014 e depois disto tivemos a maior recessão de nossa história. Na metade do gráfico é possível perceber que o número de admissões na economia começa a aumentar, sendo maior que as demissões. A linha vermelha aponta para cima, indicando que o Brasil está gerando mais emprego a cada mês. Os números ainda são inferiores aos existentes antes da crise econômica, mas tudo indica que em alguns meses iremos recuperar o nível existente antes de abril de 2015, quando a linha indicou um acumulado negativo.

Agora observe a linha azul, do setor contábil. Consideramos aqui os contadores e auditores, escriturários e técnicos em contabilidade. A partir de 2016/2017, a linha azul continuou apontando para baixo, enquanto a economia revertia a tendência. E assim persiste até os dias atuais. Em outras palavras: a crise continua a afetar o emprego na área contábil.

Até 2017 o comportamento das duas curvas era próximos. A relação entre as duas, medidas pelo coeficiente de correlação, era de 0,90, sinal positivo. Ou seja, seguiam no mesmo rumo. Entre o final de 2017 (correlação igual 0,90) a outubro de 2018 (correlação igual a -0,21) tudo mudou. (Medimos esta correlação para os últimos vinte e quatro meses). Os últimos números, de outubro de 2019, a correlação foi de -0,65, a maior - em módulo - da série. Em outras palavras, nunca antes o comportamento entre as duas linha foi tão diferente.

16 março 2010

Correlação espúria

A correlação espúria diz respeito a existência de um vínculo estatístico entre duas variáveis, mas onde não existe nenhuma explicação lógica para tal fenômeno. Em termos mais técnicos, o coeficiente de correlação – medida que mensura a relação existente entre duas variáveis – é elevado, muito embora não seja possível estabelecer uma relação de causa e efeito.

Existem muitos exemplos de correlações espúrias. Entretanto, algumas delas talvez não sejam efetivamente espúrias. Uma delas associa o comportamento do mercado de ações com o tamanho da saias das mulheres. Esta correlação, destaque no livro de Malkiel sobre a irracionalidade dos mercados, é uma das mais clássicas existentes. Entretanto, seria efetivamente espúria? Um ex-aluno apresentou em sala de aula uma explicação interessante para esta relação: as aplicações em ações são investimentos tipicamente de risco, indicando uma confiança na economia. Além disto, a ação é tipicamente um investimento liberal, que nos costumes é refletido por saias menores.

Outra relação interessante refere-se ao consumo de cuecas e crescimento da economia. Existe o consumo de roupas íntimas como aproximação para o comportamento da economia foi proposto pelo ex-presidente do Banco Central dos EUA, Alan Greenspan. Em situações de crise, os homens evitam renovar seu guarda-roupa de cuecas, já que é uma roupa que não "aparece" para o público.

Em outros casos, existe uma explicação bastante razoável para uma pretensa correlação espúria. Existe uma relação entre capa de revista e desempenho de uma empresa. Na realidade, esta relação foi constatada inicialmente nos esportes. Observou-se que os atletas que eram capas nas revistas esportivas tinham um desempenho pior após ser destaque. Quando comento sobre este assunto em sala de aula, digo aos meus alunos que isto se refere ao índice Obina, uma justa homenagem ao artilheiro do Clube Atlético Mineiro. Quando Obina faz quadro gols numa partida torna-se destaque na imprensa esportiva. Mas nos jogos seguintes, o desempenho de Obina volta ao seu normal. Isto é que os estatísticos chamam de "reversão à média". Do mesmo modo, quando uma empresa é destaque na capa de uma revista, provavelmente isto ocorre em razão do desempenho passado. Neste caso, é hora de vender da ação daquela empresa.

Em geral, as correlações espúrias não são consideradas de forma séria pelos pesquisadores. É o caso, por exemplo, da relação entre o preço do ouro e a quantidade de jóias existentes no pescoço de Mr. T. Outros casos mostram que estas correlações podem ser representações de superstições, como as irracionalidades associadas aos números: na China, por exemplo, o número oito é sinal de sorte. Assim, uma empresa que consiga fazer uma associação com este número deverá ter um bom desempenho pela própria crença dos investidores de que o número está associado a uma boa superstição.

16 janeiro 2014

Correlação espúria

A correlação espúria é um grande inimigo da ciência e um amigo dos apressados. Um texto publicado no The Atlantic (When Correlation Is Not Causation, But Something Much More Screwy, Gabriel Rossman)
mostra uma situação onde é possível surgir uma correlação espúria.

Considere que a população de atores que aspiram um papel num filme não possua correlação entre a qualidade como ator e a atração física. É razoável supor que os diretores do cinema possuem uma predileção por atores bonitos e que atuam bem. Observe a figura a seguir:

Cada ponto é um ator, classificado pela sua qualidade em atuar e sua beleza física. Os pontos estão distribuídos, existindo aspirantes a atores de todo tipo (ruins e bons; feios e bonitos). Como os diretores preferem certo padrão de atores, em termos de qualidade e atração física, da população de aspirantes a atores somente alguns serão escolhidos. Na figura, dos inúmeros pontos, os atores que conseguem papel num filme provavelmente estão numa escala superior em termos de qualidade e atração física (os pontos mais escuros da figura).

Suponha que um cientista deseje estudar os atores. Apesar de o conjunto ser cada ponto do gráfico, este cientista provavelmente irá compor sua amostra pelos atores que estão trabalhando, ou seja, os pontos escuros do gráfico. Mas esta amostra não é representativa da população; pelo contrário, é enviesada. Uma pesquisa poderia concluir, por exemplo, que existe uma relação inversa entre atração física e qualidade do ator, baseado nesta amostra (novamente, os pontos mais escuros do gráfico). Temos aqui um típico caso de correlação espúria.

29 dezembro 2011

O melhor do Blog Contabilidade Financeira

Observação: para abrir os links em outra aba ou janela, clique com o botão direito do mouse sobre o link e selecione a opção desejada.

Bom, hoje é meu aniversário então posso publicar mais uma postagem com viés. Alguém comentou anteriormente que é difícil escolher postagens preferidas e tenho que concordar! Por isso escolhi, para esta retrospectiva, as que mais me marcaram (que acabam entrando para as mais preferidas também) – e que, adicionalmente, não fui eu que escrevi. ;) As minhas já foram na “retrospectiva pessoal”.

Quando eu comecei a seguir o blog (que hoje é unificado e faz parte do blogspot – mas já caminhou por várias estradas até chegar aqui) eu me apaixonei pela parte comportamental. Na época em que eu estava na graduação não havia muito espaço para matérias com esse foco, o que aumentou o meu deslumbramento. Eu me lembro que a postagem que mais me marcou foi uma sobre contabilidade criativa, que não mais está disponível nos arquivos.

De qualquer forma, um dos textos mais importantes, que se eu pudesse obrigaria a leitura (que os meus futuros alunos se preparem) é o “correlação espúria”. (Sempre que eu ouço algo sobre isso me lembro do professor César e dessa postagem). De forma simplificada e resumida: para saber se há associação entre as variáveis, realiza-se um teste de correlação – todavia, o coeficiente de correlação não mede a relação causa-efeito entre as variáveis, apesar de que possa estar presente. Uma correlação fortemente positiva entre X e Y não autoriza afirmar que variações em X provocam variações em Y, ou vice-versa (esta recente postagem ilustra bem – só porque existe correlação entre o aumento de usuários do Facebook e da dívida na Grécia, não significa que uma causa a outra. Alguém discorda?).

Outra linha surpreendente de postagens é a que envolve a contabilidade do tráfico brasileiro. Esta fala sobre como os cadernos são organizado. Há contabilização de conserto de armas, cestas básicas (quem diria), pagamento a presos, armas e munição. Já esta comenta sobre como sempre que um policial encontra a lista de clientes, afirma que é a contabilidade dos traficantes. Já aqui é apresentada uma estimativa do valor do “negócio” do tráfico no Rio de Janeiro – comparável a grandes empresas listadas na BMF&Bovespa.

Entretanto, a minha paixão maior recai sobre as postagens que envolvem dicas ou comentários sobre pesquisa. Cito algumas: “conselhos de um econometrista”, “conselhos para um orientando”, “evolução” (sobre a forma das apresentações em Power Point), “como achar um tema para a sua pesquisa?”, “o que deve conter um resumo?”, e várias outras mais *adusem dos mecanismos de busca disponibilizados pelo blog).

Acho que já relembrei muitas postagens para vocês lerem neste fim de ano né? Então hoje fico por aqui. Espero que gostem das indicações, das releituras, das lembranças.

Ah! E relembrando: hoje é meu aniversário. De presente? Espero boas energias e a sua presença constante por aqui.

24 julho 2017

Celeridade dos periódicos científicos

Quem tem que publicar sabe a importância deste artigo!


Análise da celeridade dos periódicos da área de Ciências Contábeis no processo de avaliação dos artigos científicos

O presente estudo tem como o objetivo geral verificar quais os periódicos, que publicam artigos na área de ciências contábeis, com maior celeridade no processo de avaliação. Além disso, teve como objetivos específicos: a) averiguar, mediante correlação, se, no decorrer do período de 2013 a 2016, os periódicos aumentaram a celeridade no processo de avaliação dos artigos; e b) verificar a existência de correlação entre o conceito Qualis/Capes e a celeridade no processo de avaliação dos artigos. Quanto aos aspectos metodológicos, foi realizado um levantamento de dados em 26 dos principais periódicos da área de Ciências Contábeis, no período de 2013 a 2016, totalizando 2.377 observações/artigos. Para a análise dos dados, foi utilizada estatística descritiva e Correlação de Pearson. Os resultados indicaram que os periódicos com maior celeridade média no período estudado foram: Revista Evidenciação Contábil & Finanças com 96 dias, Revista Mineira de Contabilidade com uma média de 111 dias e revista Pensar Contábil com um tempo médio de 117 dias. No que concerne os resultados da correlação, verificou-se que: 13 periódicos apresentaram correlação significativa, no nível de 5%, entre a celeridade no processo de avaliação e o decorrer dos anos (2013 a 2016); e, que as revistas com melhor conceito Qualis/Capes possuem menor celeridade entre o envio e o aceite dos artigos. Destaca-se que apenas 7 (sete) periódicos do estudo haviam publicado toda as edições de 2016 no período de coleta dos dados. Palavras chave: Revista, Período de Avaliação, Publicações Acadêmicas.

RUFINO, M. A.; DA SILVA, P. Z. P.

Fonte: Aqui (compartilhado no Facebook pela prof. Cláudia Cruz do Ideias Contábeis)

10 abril 2008

Modelos de Risco


Em complemento a postagem sobre a falha dos modelos de risco para bancos (aqui), um interessante comentário de John Kay sobre o mesmo assunto denominado In Times of Complexity, Common Sense Must Prevail (aqui). (O texto foi publicado também no Financial Times de 9 de abril de 2008)

Kay começa lembrando o artigo de Alan Greenspan (também publicado no Financial Times, em 16 de março de 2008, aqui) que observa que os modelos existentes não são tão complexos o suficiente para captar a realidade. Kay acredita que esse comentário é um erro, pois implica que somente com modelos complexos - que incorpora mais aspectos da realidade - será possível evitar desastres.

A questão é que os modelos de gestão de risco possuem uma estrutura comum. Esses modelos calculam os riscos associados com as carteiras de ativos usando retornos reais e volatilidade. Mas o elemento central, lembra Kay, é o grau com que os retornos de diferentes ativos estão relacionados entre si, denominado co-variância ou correlação. A correlação é relevante nos modelos já que é a chave para diversificação, um conceito de meados do século passado.

A questão central é que correlação não significa causação. (Aqui, várias postagens sobre o tema neste blog). Uma situação com correlação hoje pode não persistir no futuro.

E mudanças estruturais pode invalidar correlações históricas. As vezes, o simples fato de uma correlação ser observada pode alterar o resultado, afirma Kay.

28 abril 2010

PIB e Estoque



Já postamos anteriormente que existe uma relação entre a economia e o nível do estoque de uma empresa. Quando analisamos os últimos trimestres da Cia Brasileira de Distribuição (CBD) é possível visualizar esta relação claramente. Usando as informações de estoques de cada trimestre da maior empresa nacional de varejo podemos verificar uma forte relação com o valor do Produto Interno Bruto (PIB), a principal medida de uma economia de um país. Isto significa dizer que o comportamento desta conta do ativo de curto prazo comporta-se de modo aproximado ao valor do PIB trimestral. (Os dados dos estoques foram obtidos no sítio da Bovespa e os valores do PIB no sítio do Ipea).

A correlação entre os estoques no final do trimestre da CBD e o PIB entre 2002 a 2009 foi de 0,891. Lembrando que a correlação varia entre -1 e 1, sendo que quando mais próximo dos extremos maior a correlação. Esta relação está no gráfico 1. Neste caso, a correlação foi significativa, o que significa dizer que existe uma relação entre as duas variáveis.

Calculei também uma regressão da seguinte forma:

PIB = a + b1 Tempo + b2 Estoque Médio/Receita + b3 Deflator + b4 Estoque + b5 Receita

O modelo que calculei elimina as variáveis que não são adequadas, deixando somente as melhores variáveis. O modelo final ficou:

PIB = 170 919 + 14 652,7 Tempo + 472 746 Estoque Médio/Receita

Este resultado é interessante pela presença da variável estoque/receita. Usei esta variável para medir se o peso do estoque manteve-se constante, em termos da receita, no tempo. E o resultado mostra que a resposta é não. O gráfico 2 mostra o comportamento do estoque médio sobre a receita no tempo para a CBD. Apresenta também uma linha de tendência, neste caso crescente. Isto significa dizer que a empresa está investindo proporcionalmente mais em estoques. (Uma razão disto pode ser a abertura de novas lojas, que pode ter conduzido a uma deseconomia de escala)


07 fevereiro 2010

Salário, Notícia e Demanda de Vestibular



Quando se toma a demanda do vestibular para profissões diferentes encontramos cursos, como medicina, são altamente concorridos. Na Universidade de Brasília a relação entre candidato e vaga para o futuro doutor é de 81: para cada vaga, 80 não irão passar. Por outro lado, outros cursos possuem uma demanda reduzida. É o caso de contábeis, onde na UnB a concorrência é de seis candidatos por vaga. Se considerar que a UnB possui um curso com programa de mestrado e doutorado, com tradição no mercado e muitos professores na graduação com mestrado e doutorado, esta concorrência é bastante reduzida.

O que poderia estar gerando esta distorção? O gráfico 1 faz uma comparação entre a demanda do vestibular e o salário do profissional. A informação do salário do profissional foi obtida no IBRE, que faz parte da Fundação Getúlio Vargas. É possível perceber visualmente uma relação entre os dois, onde quanto maior o salário, maior a demanda no vestibular. Ou seja, os futuros profissionais estão atrás do dinheiro. Em termos estatísticos a relação, medida pelo coeficiente de correlação de Pearson, nome em homenagem ao grande estatístico de criou esta medida, é 0,72. Este coeficiente de Pearson varia entre -1 e +1, sendo que valores próximos a zero indicam uma baixa correlação e valores próximos aos extremos possuem elevada correlação.

Uma medida auxiliar do coeficiente de Pearson é o grau de significância. Ele mede a qualidade de Pearson. Neste caso, a significância é de 2,9% e quanto menor maior a qualidade da relação. Outra forma de analisar é afirmar que existem 97,1% (ou 100 menos 2,9) de chance da relação entre salário e demanda do vestibular estar correta.

O segundo gráfico (abaixo) mostra a relação entre a demanda do vestibular e o número de vezes que a profissão apareceu nos jornais nos últimos dois anos. Esta relação é melhor ainda, pois o coeficiente de Pearson é de 0,945, muito perto de 1. Em termos mais claros, a quantidade de notícias sobre uma profissão aparentemente possui uma relação com a demanda do vestibular. O ponto sozinho no gráfico é o curso de medicina. O termo "médico" aparece muito nos jornais e a demanda do vestibular é também elevada. Como a significância do coeficiente de Pearson é muito próxima de zero, podemos afirmar que existe uma relação entre as duas variáveis.

No segundo gráfico está marcado um ponto, que se refere ao curso de Contabilidade. Apesar do termo "contador" aparecer muito nos jornais, a demanda é reduzida. Existem duas explicações para isto, uma decorrente da falha da pesquisa e outra mais técnica.

A falha da pesquisa é a seguinte: o termo contador não está somente associado à profissão. É comum aparecer no jornal termos como "contador de história", "contador de número de vezes que um sítio é acessado" e até "Contador", um famoso ciclista espanhol. Então, parte do número de vezes em que a palavra aparece não deveria se considerado. Mas o termo "contador" também aparece nos jornais nas páginas policiais, quando a polícia prende um grupo de bandidos e um deles é o "contador". Este é um caso onde a profissão não é bem representada.

De qualquer forma, os dois gráficos devem ser considerados com ressalvas em razão da pequena amostra (só dez profissões, com demanda limitada a UnB) e pelo fato de que correlação não é sinal de relação causa-efeito.


22 maio 2014

Curso de Contabilidade Básica: Contas a Receber

Existem vários instrumentos que o usuário pode dispor para acompanhar uma política de crédito no longo prazo. Uma alternativa simples é acompanhar o comportamento do volume de contas a receber da empresa ao longo dos anos. Outra é verificar o DVR (Dias de Vendas a Receber), que é um índice bastante útil. Com o DVR é possível determinar se a variação no volume de contas a receber da empresa decorreu da variação das vendas ou da mudança na política de cobrança.

Voltamos ao caso da Hering, que fornece para o usuário uma série histórica bastante longa do seu balanço e DRE. Inicialmente nós plotamos os valores de contas a receber da empresa, desde 2007:

É possível observar que a empresa tem apresentado valores cada vez maiores de contas a receber. Outro aspecto interessante é o fato do comportamento não seguir uma linha reta, mas uma linha “dentada”. Ou seja, quando o valor aumenta num trimestre ele reduz no período seguinte.

Uma forma de verificar isto é calcular o Dia de Vendas a Receber ou DVR. O DVR é obtido pela divisão de Contas a Receber pelas Vendas Diárias. Para evitar a sazonalidade, calculamos o DVR usando a receita de vendas, anualizada, dividida por 360. (Assim, no segundo trimestre de 2008 somamos as vendas do terceiro e quatro trimestre de 2007 e primeiro e segundo trimestre de 2008 e dividimos por 360).

É possível observar que no início da série a empresa tinha DVR variando entre 100 e 120 dias. A partir de 2009 o DVR ficou entre 80 a 100 dias, mas com algumas variações significativas. Por exemplo, no terceiro trimestre de 2012 o DVR era de 81 dias; no quarto trimestre foi para 104 dias.

Uma forma de analisar a política de crédito é calcular a razão para variação do volume de contas a receber da empresa, através de três fórmulas simples:

Variação do Contas a Receber = Variação de Vendas + Variação de Cobrança
Variação de Vendas = (Vendas diárias do período t – Vendas diárias do período anterior) x DVR do período anterior
Variação de Cobrança = (DVR do período t – DVR do período anterior) x Vendas diárias do período t

Este cálculo permite que seja atribuído a variação do “contas a receber” ao crescimento das vendas ao a mudança na política de crédito e cobrança. Observe no gráfico o que foi obtido:

A variação do “contas a receber” está de verde. Já a variação na cobrança está de vermelho e praticamente acompanha a variação da conta. Já a variação decorrente das vendas parece não ter nenhuma influencia sobre o “contas a receber” da empresa. Com efeito, a correlação entre “variação de cobrança” e “soma” é de 0,99, enquanto a correlação da soma com “variação de vendas” é de 0,20.

Isto ocorreu pelo fato das vendas estarem em valores anuais. Ao retirar o peso da sazonalidade, a influencia da cobrança apresentou-se muito clara na série. O gráfico abaixo é o mesmo do anterior, apenas os valores não estão anualizados. Os valores da correlação se alteram: 0,96 a correlação entre “variação de vendas” e soma e -0,70 entre “variação de cobrança” e soma.


Curso de Contabilidade Básica - Editora Atlas - César Augusto Tibúrcio Silva e Fernanda Fernandes Rodrigues (prelo)

08 abril 2009

Correlação e Causalidade


O gráfico mostra dados históricos e comparativos entre o número de mortes nas estradas dos EUA e, no eixo "x", a importação de limão do México. A correlação é elevada. Mas existe causalidade? (Fonte, aqui)

Em pesquisas empíricas é necessário tomar cuidado com a existência de correlação, mas ausência de relação causa-efeito. A chamada correlação espúria.

21 junho 2007

Correlação entre mercados




As duas figuras (fonte aqui) mostram a existência de uma forte correlação entre o mercado brasileiro e o mercado norte-americano. Esta correlação era de 0,6 há dez anos e hoje atinge a 0,73. Maior correlação significa menos diversificação para o investidor ao compor uma carteira.

09 março 2017

Desemprego: análise comparativa

Este blog tem realizado mensalmente uma análise do mercado de trabalho no setor contábil. Usando dados do mercado formal de emprego, disponibilizado pelo Ministério do Trabalho, fazemos uma compilação dos dados de contadores e auditores, técnicos em contabilidade e escriturários, além de uma análise específica dos professores.

O trabalho tem mostrado uma crise profunda no mercado de trabalho do profissional, com um grande número de vagas sendo reduzida. Outros aspectos também estão presentes neste levantamento. A nossa análise é temporal e coletados dados desde janeiro de 2014. Esta postagem procura comparar o comportamento do setor contábil com a economia como um todo. A comparação será sempre feita com os dados gerais, do qual o setor contábil representa uma parcela menor que 1% do total. Fizemos a comparação de três variáveis mais relevantes: a destruição de vagas no mercado formal com a crise econômica, a diferença salarial entre o admitido e o demitido e o tempo médio de emprego do trabalhador demitido.

Saldo do Emprego – A relação entre o número de funcionários admitidos nas empresas e o número de demitidos apresenta um excelente índice sobre o mercado de trabalho. Quando a relação numérica é positiva isto significa que estão sendo criados novas vagas; sendo negativo, existe um processo de destruição de vagas, seja por conta de uma crise econômica ou por outros motivos, como a automação de postos de trabalho. Numa economia com taxa de crescimento populacional positiva espera-se que o saldo do emprego seja positivo, já que é necessário criar novos postos de trabalho para as pessoas que estão entrando no mercado de trabalho.

O que temos observado no setor contábil é uma grande destruição de vagas. Em outras palavras, o saldo do emprego tem sido negativo, em especial nos últimos meses. De janeiro de 2014 até o último mês este saldo indica um valor negativo acima de 30 mil negativos, sendo este o número de vagas destruídas no setor. Isto contradiz os otimistas que gostam de afirmar que não existe crise de emprego na contabilidade ou que sempre haverá emprego para o profissional.
O gráfico a seguir faz um comparativo entre o setor contábil e a economia como um todo. Para fazer este gráfico tivemos um problema: a diferença entre as unidades. Enquanto no setor contábil estamos falando de milhares de empregos, na economia são milhões. Para possibilitar a comparação, dividimos os valores do geral por cem e os valores ficaram, pelo menos visualmente, bastante aproximados.

O que interessa observar no gráfico é se o comportamento do saldo do emprego no setor contábil tem sido aproximadamente o mesmo da economia. Caso a destruição de vagas no setor contábil seja mais drástica, podemos ter aqui outros aspectos explicando a crise de emprego, como a automação do trabalho, que é um problema estrutural.

A figura mostra que o comportamento do mercado de trabalho do setor contábil tem sido aproximadamente o mesmo da economia como um todo. O saldo do emprego tornou-se, de forma acumulada, negativo a partir de 2015. Inicialmente o comportamento foi aproximadamente o mesmo; posteriormente, o setor contábil teve uma grande piora neste índice e posteriormente ocorreu o inverso. De qualquer forma, a correlação existente entre os dois grupos é de 0,98, um valor muito elevado.

Entretanto, o fato de usarmos os valores acumulados termina por disfarçar as diferenças. Por exemplo, em janeiro a economia teve um saldo negativo de 41 mil vagas, enquanto o setor contábil teve um saldo positivo, pela primeira vez desde outubro de 2015, de 1.017. Quando se calcula a regressão com os dados mensais (e não acumulados desde janeiro de 2014), a correlação cai para 0,45. De qualquer forma, podemos dizer que de uma maneira geral o comportamento do mercado de trabalho do profissional contábil tem seguido o desempenho da economia.

Diferença salarial entre Admitido e Demitido – O salário médio do profissional demitido tem sido mais elevado que o novo empregado. Em situação de crise, com o mercado de trabalho com uma grande oferta de trabalhadores, as empresas se aproveitam para cortar custos. Para calcular isto, dividimos o salário médio do demitido pelo salário médio do novo contratado e subtraímos a unidade. Expressamos os valores em percentuais.

No setor contábil, a diferença percentual média de salário tem sido de 18%, mas já chegou a 28%. Esta diferença também existe na economia como um todo: o salário do demitido é maior que o novo contratado.

Entretanto, a diferença percentual entre os salários tem sido menor: 12%, com um valor máximo de 20% em dezembro de 2016. A correlação desta diferença, ao longo do tempo, foi de 0,39.

Existem várias possíveis razões para explicar o fato da diferença ser maior no setor contábil. Primeiro lugar, talvez os níveis mínimos de remuneração determinados na economia sejam mais relevantes do que aqueles praticados na contabilidade. Uma convenção coletiva de um porteiro determina sua remuneração e o valor praticado no mercado talvez não seja tão distinto do montante da convenção coletiva. Assim, as possibilidades de economia são maiores num escritório de contabilidade do que num condomínio. Segundo lugar, e como iremos perceber mais adiante, o tempo médio do empregado demitido no setor contábil é maior que no geral. Assim, este empregado deve ter incorporado a sua remuneração algumas gratificações, que não serão pagas para o recém contratado. Terceiro, talvez a concorrência no setor contábil seja mais acirrada do que imaginamos. Um pequeno escritório pode aproveitar este momento para demitir o funcionário com maior custo e contratar outro por um valor menor; reduzindo custo, poderá manter o custo dos serviços a um nível mais compatível que as empresas podem pagar. Quarto, pode estar existindo uma substituição de cargos. Talvez esteja existindo uma demissão de profissionais mais caros (contadores, por exemplo) e sendo contratados auxiliares, que irão exercer a mesma função do demitido.




De qualquer forma calculamos o salário médio do demitido no setor contábil e comparamos com esta informação para a economia. Em média, o salário do demitido na contabilidade é de quase 60% maior que da economia como um todo, refletindo o fato de ser um emprego com uma remuneração adequada. Mas esta diferença já foi de 70% no final de 2014 e chegou a 47% em janeiro último.

Tempo Médio de Emprego – O tempo médio de emprego reflete quantos meses o empregado que foi demitido estava no emprego. Profissionais com elevada rotatividade possuem um tempo médio reduzido. A medida que a crise persiste, profissionais mais antigos também são demitidos. Em média o tempo de emprego dos demitidos no setor contábil tem sido de 32 meses, mas existe uma tendência de aumento ao longo do tempo. (O coeficiente angular entre este índice e o tempo é de 0,28, indicando que a cada mês o tempo médio de emprego cresce 0,28)

A correlação entre as variáveis é de 0,51 e o tempo de emprego da economia tem sido menor que no setor contábil: média de quase 20 meses. (além disto, o coeficiente angular é de 0,20, indicando uma taxa de crescimento menor que no setor contábil)

Assim, de uma maneira geral, o tempo médio de emprego do demitido do setor contábil é maior que da economia. Na nossa área, os demitidos são funcionários com maior tempo de casa, que deveriam ter mais estabilidade. E que ao longo do tempo já receberam mais promoções – com impacto no salário.

Conclusão – De uma forma geral, o comportamento do mercado de trabalho do setor contábil está coerente com o que tem ocorrido na economia. As diferenças parecem muito mais resultantes das características do emprego, que conduzem a um salário maior que a média e um tempo de emprego mais elevado.