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30 abril 2025

Mapas

Mapas são representações nem sempre fidedignas da realidade. Mas alguns mapas, sem essa preocupação, apresentam de forma didáticas informações interessantes. A seguir um conjunto de mapas curiosos:

Bueiro de uma cidade, que informa, no ponto destacado, onde você está. 

O mapa do mundo e o animal representativo do local.
Um mapa mundi abstrato
Mapa com as rodovias do mundo. Não deixa de ser um mapa com a presença do ser humano.
Mapa dos locais fotografados. 
Mapa de cada país, com a proporção da população local. 
Mapa da Europa e os sobrenomes mais comuns. Almeida em Portugual. 
Mapa dos assentamentos do império romano. 
Mapa com a universidade mais antiga de cada país. Bolonha, na Itália, é a campeã. Em Portugal, Coimbra. 

PCAOB


A presidente do Public Company Accounting Oversight Board (PCAOB), Erica Williams (foto), manifestou-se contrária a um projeto de lei proposto por legisladores republicanos que visa eliminar o PCAOB e transferir suas funções para a Securities and Exchange Commission (SEC). Uma das razões apontadas por Williams é a falta de experiência técnica da SEC, em comparação com a expertise acumulada pelo PCAOB ao longo de duas décadas.

A justificativa apresentada pelos republicanos é a necessidade de redução dos gastos federais. Já os opositores da medida afirmam que a eliminação do PCAOB pode comprometer a qualidade das auditorias, prejudicando os investidores.

Problemas contábeis do Corinthians 2

 

O texto da postagem anterior é de 28 de abril. Acaba de sair o balanço do Corinthians, com passivo de 2,5 bilhões. 

Mas o destaque está a seguir:


Esse é do Conselho Fiscal, mas a reprovação também foi feita pelo CORI e pelo Conselho Deliberativo. 

Diferente foi a posição do Auditor que afirma:

exceto pelos efeitos e pelos possíveis efeitos dos assuntos descritos na seção a seguir intitulada "base para opinião com ressalva", as demonstrações financeiras acima referidas apresentam adequadamente, em todos os aspectos relevantes, a posição patrimonial e financeira ...

E quais são os itens? Por exemplo, falta de divulgação de demonstrações consolidadas com a Arena e a própria empresa diz que isso afeta alguns elementos das demonstrações financeiras de forma relevante, mas não consegue determinar esse impacto. Também incerteza com respeito a continuidade operacional. Não parece ser contraditório? 

Problemas contábeis no Corinthians


Uma reportagem da Trivela discute os problemas financeiros do clube Corinthians. Basicamente, há divergências entre os números que a gestão apresentou e os números que o Conselho de Orientação (CORI), do próprio clube, chegou. Além de uma diferença no passivo de 231 milhões de reais entre os números, há problemas na estrutura da contabilidade do clube. 

Além da diferença dos números, o CORI apontou os seguintes problemas, segundo o texto do site Trivela:

  • Ausência de divulgação dos balancetes mensais; 
  • Falta de atualização e/ou revisão orçamentária do clube;
  • Falta de apresentação das faturas de cartões de crédito corporativos, que somam o montante de R$ 7 milhões; 
  • Ausência de resposta sobre a solicitação da documentação comprobatória dos chamados ajustes gerenciais, na ordem de R$ 192 milhões;
  • Divergências de saldos entre controles gerenciais e de sistema;
  • Contratação tardia de empresa de auditoria;
  • Falta de reconhecimento dos demonstrativos contábeis da Neo Química Arena; 
  • Lançamento dos valores arrecadados pela torcida para a quitação da arena como receita;
  • Falta de critério no critério e procedimentos de contratação dos prestadores de serviço; 
  • Falta de apresentação de contrato do atacante Memphis Depay; 
  • Demonstrativo de utilização dos valores arrecadados, bem como os captados junto à XP, tendo como garantia o contrato com a Liga Forte União (LFU);
  • Falta de providências junto ao caso “Vai de Bet”;
  • Ausência de contestação judicial do valor de R$ 40 milhões pela rescisão, assumindo mais de R$ 4 milhões de honorários advocatícios;
  • Ausência de apresentação das composições dos materiais esportivos da “Nike”. 
O valor de 231 milhões não parece tão elevado quando é feita a comparação com o total da dívida do clube, adicionado à dívida do estádio: 1829 milhões ou 12%.

29 abril 2025

Provisão na Meta


A multa de 200 milhões de euros imposta pela Comissão Europeia à Meta, empresa proprietária do Facebook, Instagram e WhatsApp, não apanhou a gigante tecnológica norte-americana de surpresa. A Meta Platforms Ireland Limited, holding que concentra na Irlanda os negócios europeus da companhia, criou uma provisão de contingência de 4.155 mil milhões de euros [1], de acordo com as últimas demonstrações financeiras públicas, referentes ao exercício de 2023 [2].

A empresa explica no relatório anexado às contas que “as provisões (…) referem-se a valores identificados para multas administrativas decorrentes de diversas investigações em curso sobre o cumprimento normativo ou decisões das autoridades competentes de proteção de dados e outros órgãos reguladores”. [3] (...) 

Do texto Meta cria provisão de quatro mil milhões de euros

[1] Isso representa 4 bilhões de euros na linguagem brasileira. 

[2] Parece estranho terem obtido a inferência com demonstrações defasadas e informando que a empresa criou a provisão a partir do processo que está sendo notícia agora.

[3] Veja que a nota é genérica nesse sentido.

IA no setor público

Eis o resumo:


Neste artigo, nosso principal objetivo é descrever e debater se a evolução da adoção de IA nas  administrações públicas em todo o mundo está evoluindo de forma consistente. O artigo é baseado na teoria Neoinstitucional. Em termos metodológicos, optamos por analisar, com base na literatura e relatórios recentes, os avanços na implementação de IA na gestão pública, com ênfase nos países membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Buscamos identificar as principais ações para melhorar a eficiência e a produtividade dos serviços públicos por meio da automatização de processos administrativos e redução da burocracia; otimização da tomada de decisão com base na análise de dados em tempo real e prestação de serviços personalizados aos cidadãos. Os resultados das discussões e análises da literatura e dos relatórios mostram que a evolução do uso de inteligência artificial no setor público está intimamente relacionada à estruturação de um governo inteligente, capaz de responder às demandas da sociedade por uma melhor gestão pública. Por fim, pode-se argumentar que as perspectivas para o uso de inteligência artificial (IA) nas administrações públicas ao redor do mundo são variadas e complexas, refletindo tanto as oportunidades quanto os desafios associados a essa tecnologia. Essas mudanças estão tendo um impacto positivo no funcionamento dos governos, pois a IA cria novas oportunidades para melhorar o desempenho da administração pública. 

Pesquisadores encontraram uma falha de segurança grave nas ferramentas de IA

Os investigadores da empresa IA HiddenLayer descobriram que existe uma maneira de fazer com que os modelos de IA, como Gemini, Claude e OpenAI, possam ser induzidos a gerar resultados prejudiciais ao ser humano. A estrategia combina técnicas que termina por induzir a ferramenta a gerar conteúdo perigoso. 

Em um dos prompts, as ferramentas de inteligência artificial geraram um roteiro para House, uma série de TV, onde existiam instruções sobre como enriquecer urânio ou cultivar amostras de neurotoxina. Obviamente os riscos são grandes aqui.

Fonte: aqui

Trump, Yale e Eficiência


Eis a notícia:

Yale tem aproximadamente um administrador para cada aluno de graduação. Anos de tensão latente sobre o crescimento da administração em relação ao corpo docente foram agora antecipados. O presidente Trump ameaçou cortar o financiamento para Yale, a administração de Yale ameaçou parar de contratar professores e alguns docentes agora estão ameaçando revolta.

Mais de 100 professores de Yale pedem que a administração da Universidade congele novas contratações administrativas e encomende uma auditoria independente liderada pelo corpo docente para garantir que a Universidade priorize os acadêmicos.

Na minha universidade, o número de funcionários administrativos é superior ao número de docentes, mas bem abaixo do número de alunos. Mas a discussão é mais complexa, já que conheço alguns funcionários administrativos que estão em sala de aula, assim como conheço professores que estão sentados na burocracia. Contando os terceirizados, a relação "funcionários administrativos e terceirizados / professores" deve superior a um, o que parece estranho. Agora, uma relação de um funcionário administrativo por aluno de graduação é ruim. 

28 abril 2025

Frase


Lucille Ball

Nem sempre é o que parece

 


Eis o resumo:

Durante a primeira metade do século vinte, muitos estados dos EUA promulgaram leis que restringem as oportunidades do mercado de trabalho das mulheres, incluindo restrições de horas máximas, leis de salário mínimo e proibições de turnos noturnos. A era das chamadas leis trabalhistas protetoras chegou ao fim na década de 1960, como resultado das reformas dos direitos civis. Neste artigo, investigamos a economia política por trás da ascensão e queda dessas leis. Argumentamos que o principal motor por trás das leis trabalhistas protetoras era o desejo dos homens de se protegerem da concorrência no mercado de trabalho. Definimos o mecanismo através de um modelo político-econômico em que solteiros e casais trabalham em diferentes sectores e votam em legislação protetora. As restrições são apoiadas por homens solteiros e casais com homens solteiros que competem com mulheres por empregos. Mostramos que as previsões da teoria sobre quando a legislação protetora será introduzida são bem apoiadas por evidências em nível estadual dos EUA.

Dez problemas contábeis e financeiros do Vaticano hoje


1. Estrutura Financeira Fragmentada

  • Os diversos órgãos do Vaticano (Secretaria de Estado, APSA, Banco do Vaticano, governo da Cidade do Vaticano) operam de maneira independente, dificultando a consolidação e controle das contas.
  • Não há um sistema unificado de gestão financeira, permitindo sobreposição, lacunas e feudos internos.

2. Falta de Prestação de Contas e Transparência

  • Resistência dos monsenhores e altos funcionários a mecanismos de accountability (ex.: reclamações sobre prestação de contas até de despesas pequenas como cappuccinos).
  • Suspensão arbitrária de auditorias (por exemplo, a auditoria comandada por George Pell foi interrompida pelo Cardeal Becciu).

3. Corrupção e Má Gestão de Recursos

  • Envolvimento de altos membros da Cúria em escândalos financeiros (ex.: caso do Cardeal Becciu e a compra suspeita do antigo depósito da Harrods).
  • Uso indevido de recursos do Vaticano em despesas pessoais (ex.: bolsas de luxo adquiridas com verbas destinadas à missão secreta, no caso de Cecilia Marogna).

4. Problemas com o Portfólio Imobiliário

  • Muitos imóveis do Vaticano são alugados a preços abaixo do mercado para funcionários, reduzindo a receita patrimonial.
  •  Falta de gestão ativa para maximizar o valor e rendimento dos ativos imobiliários.

5. Fontes de Receita em Queda

  • O Óbolo de São Pedro, principal fonte de arrecadação, está diminuindo drasticamente.
  • Algumas operações que deveriam gerar receita acumulam prejuízos (como a Rádio Vaticano).

6. Persistência de Práticas de Lavagem de Dinheiro

  • Apesar dos escândalos antigos (como o caso Roberto Calvi nos anos 1980), ainda persiste a suspeita de lavagem de dinheiro envolvendo o Banco do Vaticano.

7. Governança Deficiente

  • Nomeações diretas e pouco criteriosas de bispos e gestores, muitas vezes ignorando processos de verificação e diligência prévia.
  • Casos de má administração em dioceses e nas estruturas internas de governo, gerando instabilidade e escândalos.

8. Falha em Implementar Reformas Estruturais

  • Apesar das intenções de reforma e da criação do Dicastério para a Economia, houve falta de apoio interno, sabotagem e ausência de continuidade nas medidas propostas.
  • A prisão e o afastamento de reformadores como Libero Milone ilustram a resistência sistêmica.

9. Judicialização e Impunidade

  • Processos canônicos de figuras envolvidas em crimes (como Zanchetta e Rupnik) foram mal conduzidos, atrasados ou arquivados, perpetuando a percepção de impunidade dentro da Igreja.

10. Cultura Institucional de Feudos e Clientelismo

  • Prevalência de redes de proteção interna que dificultam a responsabilização individual e protegem membros comprometidos, enfraquecendo as tentativas de saneamento financeiro e administrativo.
Baseado, livremente, nos textos da Forbes, Unheard e Estadão

Os Cinco avanços do Vaticano - na área financeira - com o Papa Francisco


O Papa Francisco adotou algumas medidas interessantes durante o período que governou o Vaticano. Eis uma lista com os cinco avanços que ele obteve nesse período:

1. Criação do Dicastério para a Economia - Ele criou o Dicastério para a Economia para centralizar o controle financeiro, reunir os departamentos dispersos e promover auditorias e maior transparência. E então escolheu o cardeal George Pell, conhecido pela rigidez e disciplina, para liderar esse processo. 

2. Primeiras Tentativas de Prestação de Contas - Houve um esforço inicial para exigir justificativas detalhadas de despesas, mesmo para gastos pequenos. Pela primeira vez, monsenhores e cardeais foram obrigados a prestar contas formalmente de seus gastos.

3. Congelamento de salários - Francisco enfrentou um grave problema com a redução dos recursos (receitas) e o grande volume de despesas com pessoal. Para amenizar o problema, ele reduziu o salário dos cardeais, assim como congelou o salário de vários funcionários. Também não expandiu o seu pessoal, tentando equilibrar as contas com os recursos humanos através da redução natural do quadro. 

4. Melhoria na punição de escândalos financeiros - Isso incluiu o o julgamento e condenação do Cardeal Becciu. Isso trouxe a consciência de que era necessário uma melhor gestão patrimonial, incluindo a profissionalização de algumas áreas. Além disso, melhorou a qualidade do Banco do Vaticano, que já não é tão susceptível a fraudes e desvios como foi no passado.

5. Melhoria da contabilidade - O Vaticano ainda registra seus bens culturais por um euro, é verdade, mas a qualidade da contabilidade melhorou com a contratação de auditores e a tentativa de que todas as movimentações financeiras fossem registradas pela contabilidade. 

Baseado, livremente, nos textos da ForbesUnheard e Estadão

27 abril 2025

Cinco exemplos recentes que mostram que o Vaticano precisa de um bom gestor


1. Suspensão da Auditoria Geral de Pell - O cardeal George Pell, nomeado por Francisco para reformar as finanças, contratou uma auditoria profissional independente.  Em razão de denúncias, que parecem ter sido plantadas na imprensa, o cardeal teve que se afastar do cargo. O Cardeal Becciu (foto) suspendeu a auditoria arbitrariamente, alegando que a Secretaria de Estado não deveria ser auditada. Posteriormente esse Cardeal foi afastado de suas funções. 

2. Compra Irregular do Imóvel de Londres - A Secretaria de Estado usou recursos do Vaticano para investir na compra do antigo depósito da Harrods, em Londres, operação marcada por contratos confusos e suspeitas de superfaturamento. O prejuízo foi calculado em R$750 milhões. 

3. Desvios de Recursos por Cecilia Marogna - Cecilia Marogna (foto), ligada ao Cardeal Becciu, recebeu meio milhão de euros sob justificativa de "operações humanitárias secretas", mas gastou o dinheiro em artigos de luxo. Isso mostra que muitos gastos do Vaticano estão sem controle. 

4. Má Gestão do Patrimônio Imobiliário - O Vaticano possui uma carteira imobiliária extremamente valiosa, mas muitos imóveis são alugados a preços muito abaixo do mercado para funcionários. Em muitos casos, os valores estão contabilizados no balanço por 1 euro. 

5. Política de nomeação para área financeira - As pessoas responsáveis pela gestão financeira nem sempre possuem experiência e capacidade para lidar com as complexidades dos negócios. Somente recentemente o Vaticano contratou uma empresa de auditoria e começou a nomear gestores com melhor qualidade para fazer tarefas da administração. 

Baseado, livremente, nos textos da ForbesUnheard e Estadão

Grandes nomes da história mundial da contabilidade: Datini

Datini, Francesco de Marco (1335-1410) - Francesco de Marco Datini realizou, em vida, a transição de um negócio local utilizando a escrituração de partidas simples para operações de grande escala com filiais que empregavam um sistema completo de partidas dobradas. Ele foi varejista, importador, banqueiro, agente comissionário e fabricante, vendo na diversificação uma proteção contra os riscos que haviam levado outros, que cresceram rapidamente demais, à falência. Datini expandiu seus negócios abrindo filiais em toda a Europa, utilizando registros contábeis para revisar e controlar suas operações. Os livros contábeis de Datini cobrem ininterruptamente o período de 1366 a 1410. Após 1390, um sistema completo de partidas dobradas, incluindo balanços patrimoniais, passou a ser utilizado na maioria de suas filiais no exterior e em seu escritório principal em Florença.

A principal inovação nos livros contábeis de Datini foi a conversão do formato vertical para o formato bilateral das contas. Tradicionalmente, nas contas dos livros contábeis florentinos, as seções de débito e crédito eram dispostas uma acima da outra, em vez de lado a lado como em Veneza. Isso significava, por exemplo, que, ao registrar um débito no topo de uma determinada página do livro, era necessário deixar um espaço em branco abaixo para a entrada do pagamento. A disposição dos débitos e créditos com base na posição lateral da página era impossível, e o sistema florentino jamais poderia ter evoluído para as entradas contábeis “taquigráficas” usadas atualmente. Após a introdução das contas bilaterais vindas de Veneza, nenhuma mudança importante ocorreu na técnica de escrituração florentina, evidência de que ambos os sistemas eram, em essência, semelhantes.

Michael Chatfield do livro The History of Accounting

Da Wikipedia, um acréscimo importante:


Em 1870, 500 livros contábeis e 150.000 papéis relacionados aos negócios de Datini foram descobertos em uma escada da mansão do casal em Prato.[8] Esses artigos fornecem informações sobre os negócios de Datini, bem como sobre a classe mercantil em geral, tal como existia nos séculos XIV e XV.

Dois outros aspectos relevantes:

1. Datini já conhecia o  conceito de Goodwill

2.  Francesco Datini escrevia em seus livros de contabilidade: "Em Nome de Deus e do Lucro" 

Grandes nomes da história da contabilidade mundial: May

May, George Oliver (1875–1961)


George Oliver May nasceu em 22 de maio de 1875, em Teignmouth, Devonshire, Inglaterra. Ingressou no escritório de Londres da Price Waterhouse em 1897 e, ainda naquele ano, mudou-se para os Estados Unidos, onde se juntou à equipe da Jones, Caesar and Company, uma firma afiliada à Price Waterhouse nos EUA. Foi admitido como sócio da Price Waterhouse em 1902, nomeado sócio sênior em 1911 e continuou nessa função até 1927, quando se afastou da prática ativa para dedicar suas energias a questões profissionais, principalmente através do American Institute of Accountants. Aposentou-se da Price Waterhouse em 1940, mas continuou ativo na profissão quase até sua morte, em 25 de maio de 1961.

Suas contribuições mais significativas para o desenvolvimento do pensamento contábil ocorreram após sua saída da prática ativa em 1927, coincidindo com o que provavelmente foi o período mais importante no desenvolvimento da contabilidade — a década de 1930. May era um intelectual interessado em uma ampla variedade de áreas além da contabilidade, incluindo economia, tributação, direito e filosofia.

Provavelmente devido à sua formação britânica, May era pragmático. Sua influência pragmática é claramente visível no trabalho do Special Committee on Cooperation with Stock Exchanges (1932–1934), presidido por ele. Essa influência também se reflete nos resultados do Committee on Accounting Procedure, do qual May foi o líder ativo nos primeiros quatro anos desde sua criação em 1936 e do qual permaneceu membro até 1944.

May considerava seu trabalho no Special Committee on Cooperation with Stock Exchanges como sua maior contribuição para a profissão. A correspondência entre esse comitê e o Committee on Stock List da Bolsa de Valores de Nova York reflete claramente suas ideias. May acreditava ser importante educar o público sobre tanto a importância quanto as limitações das demonstrações financeiras. Ele argumentava que essas demonstrações refletem eventos que ocorrem em um mundo de incertezas e, portanto, não podem transmitir um grau de certeza maior do que o dos próprios eventos. May enfatizava a natureza convencional da contabilidade e defendia que as corporações deveriam escolher seus próprios métodos contábeis, divulgá-los e aplicá-los de forma consistente. Acreditava que a contabilidade é amplamente convencional, deve servir a um propósito social útil e deve evoluir conforme mudam as condições econômicas e as políticas sociais.

A influência pragmática de May foi sentida na abordagem adotada pelo Committee on Accounting Procedure no desenvolvimento dos princípios contábeis. Uma corrente de pensamento defendia que nada fosse publicado até que se acumulasse um corpo de doutrina. May, por outro lado, sustentava que o comitê deveria tratar de questões individuais até que um corpo razoável de doutrina fosse alcançado. Foi esta última abordagem que o comitê adotou. Ele se opunha a qualquer tentativa de promulgar regras uniformes de contabilidade. Acreditava que padrões uniformes significariam necessariamente padrões mais baixos e estava convencido de que a contabilidade uniforme levaria à criação de burocracias para sua imposição, o que seria prejudicial tanto ao interesse público quanto à profissão contábil. Em seu julgamento, o apropriado seria desenvolver novos métodos de análise e apresentação que resultassem em demonstrações financeiras mais significativas, além de adaptar a prática contábil às necessidades de três classes de corporações. Ele as classificava como: pequenas corporações, grandes corporações de capital aberto e corporações reguladas.

May acreditava que não haveria vantagem em aplicar padrões uniformes às pequenas corporações e que, dado que as grandes corporações estavam em constante crescimento e mudança, qualquer tentativa de uniformidade sustentada seria fútil. Além disso, argumentava que qualquer tentativa de uniformidade encerraria o progresso no desenvolvimento da profissão e enfatizaria a forma em detrimento do conteúdo. Em sua opinião, havia o risco de se criar a crença em um grau de uniformidade e comparabilidade que não poderia ser alcançado.

Ao longo de sua vida profissional, May manteve interesse na determinação do lucro, dedicando considerável reflexão ao tema. Em 1947, foi fundamental na organização do Study Group on Business Income e atuou como consultor de pesquisa do grupo até a publicação de seu relatório final em 1952. May enfatizava a necessidade de uma abordagem interdisciplinar para definir o conceito de lucro e acreditava que o papel do contador era aconselhar e cooperar com membros de disciplinas correlatas na formulação dessa definição, além de implementar o conceito aceito. O contador deveria tornar claro para os demais o significado da renda apurada.

May estava principalmente interessado no conceito de lucro empresarial e acreditava que ele consistia em dois componentes — um gerado pelas operações do negócio e um segundo oriundo de lucros e perdas resultantes de mudanças no nível de preços. Observava que o método LIFO (last in, first out) de avaliação de estoques, essencialmente, permitia a apuração do lucro em valores correntes. Defendia que a depreciação deveria ser tratada da mesma maneira — um afastamento do princípio do custo histórico.

Devido à estreita relação com a determinação do lucro, May também se interessava profundamente por tributação e acreditava que os impostos deveriam ser divulgados como item separado na demonstração de resultados. Em sua opinião, o principal valor das demonstrações de resultados estava na luz que lançavam sobre a capacidade futura de geração de lucros. Essas demonstrações deveriam destacar tendências significativas, sendo o aumento da tributação uma tendência relevante nas décadas de 1930 e 1940.

George Oliver May foi uma luz orientadora para a profissão.

Por Henry Francis Stabler para o verbete The History of Accounting

O verbete da Wikipedia destaca que a influência de May foi responsável pela SEC, criada nos anos 30, delegasse para profissão contábil a responsabilidade de emitir as normas contábeis, fato esse que influenciou a contabilidade nas décadas seguintes. É importante lembrar que May está no Hall of Fame, uma honraria para alguns grandes nomes da contabilidade dos Estados Unidos. Mais do que isso, foi um dos três primeiros homenageados, juntamente com Patton e Montgomery 

Apesar do impacto de May ter ocorrido especialmente nos Estados Unidos, estou usando nessas postagens o local de nascimento para classificá-lo como um grande nome da história da contabilidade mundial. 

Grandes nomes da história mundial da contabilidade: Savary

Savary, Jacques (1622–1690) - Jacques Savary foi o principal autor de uma ordenança do governo francês de 1673 que exigia que todo comerciante e banqueiro mantivesse registros escritos de suas transações em um livro assinado por um oficial público, além de preparar inventários semestrais "de todos os seus bens imóveis e móveis, bem como de todas as suas dívidas a receber e a pagar." O Código Savary tinha como objetivo revelar a capacidade de um comerciante de pagar suas dívidas com seus ativos existentes em caso de falência, facilitando assim uma distribuição justa de seus recursos entre os credores. Se um comerciante não mantivesse registros autenticados, sua falência era considerada fraudulenta e ele estava sujeito à pena de morte. O Código Savary também autorizava sociedades de responsabilidade limitada semelhantes às commendas italianas. As disposições de falência dessa ordenança de 1673 foram incorporadas ao Código Napoleônico de 1807.


Em 1675, Savary publicou Le Parfait Négociant (O Perfeito Comerciante), no qual comentou sobre o Código Savary e apresentou exemplos de técnicas de escrituração do comércio varejista de tecidos, onde ele havia feito sua fortuna. Savary passou a defender a preparação de inventários anuais, em vez de semestrais, e recomendava o fechamento dos livros "em um mês de menor atividade, a fim de se ter mais tempo para avaliar as mercadorias." A sexta edição de Le Parfait Négociant (1712) [depois de sua morte] defendia a avaliação dos estoques pelo preço de mercado corrente, a menos que estes começassem a se deteriorar ou sair de moda, caso em que seu valor contábil deveria ser reduzido. O valor contábil também deveria ser reduzido se o custo de reposição fosse inferior ao preço de aquisição.  

Vance (1943) considerou Savary a pessoa mais responsável pela promoção da regra do menor valor entre custo e mercado.

Verbete de Michel Chatfield para The History of Accounting

Um aspecto importante é que o livro de Savary foi traduzido para várias línguas, o que aumentou o impacto da sua obra. 

Grandes nomes da história mundial da contabilidade: Payen


Payen, Anselme (1795–1871) - A primeira descrição abrangente de sistemas de contabilidade fabril foi feita pelo fabricante francês Anselme Payen em Essai sur la tenue des Livres d'un Manufacturier (1817). Payen ilustrou registros de custos para um fabricante de carruagens, uma fábrica de cola e um fabricante com dois produtos principais e um subproduto.

No exemplo da fabricação de carruagens, Payen estruturou um sistema de custo por encomenda, utilizando um diário e um razão em valores monetários para transações com terceiros, e um diário e um razão em quantidades para transações internas. Seu razão externo acumulava os custos de materiais e mão de obra para cada uma das três carruagens e comparava o custo total de cada carruagem com seu preço de venda, deixando o lucro ou prejuízo como saldo final.

O exemplo da fábrica de cola de Payen ilustrava o custeio por processo. Novamente, valores monetários e quantidades eram registrados em livros separados, mas os custos totais de processamento, incluindo juros e depreciação, eram reunidos no equivalente a uma conta de produtos em elaboração.

O terceiro e mais complexo exemplo de Payen detalhava a divisão dos custos de fabricação entre dois produtos principais (nenhum custo era atribuído ao subproduto). De forma significativa, os custos alocados aos produtos principais incluíam não apenas despesas com materiais e salários fabris, mas também aluguel, juros, desgaste de ferramentas e depreciação dos fornos.

Em todos os três exemplos, as tentativas de Payen de comparar os custos totais com o custo das mercadorias vendidas ou com os preços de venda o aproximaram mais do que qualquer um de seus predecessores de uma integração entre a contabilidade de custos e a contabilidade financeira. Paul Garner sugeriu que o único elo faltante era um lançamento contábil que vinculasse o inventário registrado no razão em quantidades à conta de fabricação no razão em valores monetários. Como disse A.C. Littleton, Payen "conseguiu trazer as contas de fabricação para o controle da escrituração por partidas dobradas."

Michael Chatfield

Payen foi químico importante e industrial francês, um dos responsáveis pela descoberta da celulose. A obra citada no verbete acima foi produzida quando ele tinha 22 anos, mas sequer aparece no verbete da Wikipedia, que destaca os feitos na área de química. 

Um adendo: Littleton citava Payen na sua obra Accounting Evolution to 1900, disponível gratuitamente na internet.

26 abril 2025

Grandes nomes da história da contabilidade mundial: Most

Kenneth S. Most (1924-2017?) Um aprendiz contratado que se tornou um tradutor e escritor de história e pensamento contábil de grande mérito, Kenneth S. Most recebeu o título de Bachelor of Laws pela Universidade de Londres em 1955, um M.A. em Contabilidade em 1968 e um Ph.D. em Economia em 1970, ambos pela Universidade da Flórida. Em 1989, Most foi presidente da Seção de Contabilidade Interna da American Accounting Association e editor do Accounting Historians Journal de 1984 a 1986. Atuou como professor de Contabilidade na Florida International University.

Most realizou uma tradução bastante completa da obra Der Moderne Kapitalismus do economista político alemão Werner Sombart e, posteriormente, respondeu a interpretações desse texto feitas por Basil S. Yamey, que tendia a minimizar a tese de Sombart sobre a importância da escrituração por partidas dobradas para o desenvolvimento do capitalismo. Most elogiou a escrita holística de Sombart e defendeu uma interpretação baseada em planejamento e controle da sua tese.

Most demonstrou sua habilidade linguística, formação internacional, mente inovadora, interesse histórico e suas opiniões sobre contabilidade na segunda edição de Accounting Theory. Nessa edição, por exemplo, ele questionou a ênfase no fluxo de caixa, conforme defendido pelo Trueblood Report do FASB. Most acredita que a microeconomia não é uma abordagem adequada para aplicação na contabilidade. Ele também utilizou seu domínio da língua alemã em uma resenha da obra de Schmalenbach, bem como em uma análise da perspectiva gerencial do grande teórico contábil holandês, Limperg.

Most publicou um trabalho reflexivo sobre sua longa experiência, intitulado The Future of the Accounting Profession: A Verbal Perspective (1993).

Ele trouxe para a contabilidade a perspectiva de um verdadeiro "Homem da Renascença" dos tempos modernos.

Richard Vangermeersch

Busquei na internet alguma informação se ele ainda estava vivo. Não encontrei nenhuma referência. Fiz a pesquisa no GPT e ele informou o falecimento de Most em 2017, citando um artigo que não tive acesso. 

Grandes nomes da história da contabilidade mundial: Wedgewood


Josiah Wedgwood (1730–1795) foi um ceramista e empreendedor inglês. Desenvolveu produtos cerâmicos por meio de experimentação no processo de produção. Seus produtos mais caros eram muito procurados pelas classes altas, mas ele comercializava itens mais baratos para o restante da sociedade. Além de se preocupar com a eficiência na produção, buscou melhorias nas vendas e na distribuição. Foi um pioneiro do marketing moderno, com práticas como mala direta, garantia de devolução do dinheiro, autoatendimento, entrega gratuita, promoções de "compre um e leve outro grátis" e catálogos ilustrados.

Em 1763, ele já recebia encomendas de pessoas de alta posição, incluindo a rainha Charlotte. Wedgwood convenceu a rainha a permitir que a linha de cerâmica que ela havia adquirido fosse chamada de "Queen's Ware" e divulgou amplamente a associação real em seus documentos e materiais de promoção. Mais importante, a cerâmica Wedgwood estabeleceu tendências, e a loja de Wedgwood em Londres tornou-se um local sofisticado. Em alguns casos, ele produzia itens que geravam prejuízo, mas que ofereciam valor publicitário. Por exemplo, a imperatriz Catarina, da Rússia, encomendou um conjunto com quase mil peças e a mesma quantidade de pinturas para o Palácio Kekerekeksinen e pagou apenas 2.700 libras.

É bom lembrar que a contabilidade desenvolvida pelos cambistas no início dos anos 1200 nas cidades italianas era adequada para as operações comerciais. A complexidade do processo industrial representava um desafio, já que havia dificuldade em apurar o custo de produção. A Revolução Industrial não podia contar com uma contabilidade desenvolvida para o comércio. É nesse sentido que Wedgwood tem um papel importante: ele desenvolveu técnicas que incluíam os custos de mão de obra, de máquinas e de insumos. Calculou, segundo Soll, a depreciação, os custos administrativos, as despesas de venda e os juros sobre o capital. Segundo o mesmo autor:

Não apenas criou Wedgwood uma contabilidade detalhada de custos, que lhe permitiu gerir os custos de produção, mão de obra e preços, mas também desenvolveu teorias contábeis. Seus escritos sobre contabilidade de custos estão entre os mais fundamentais da história da economia. Wedgwood criou uma taxonomia ou classificação de custos para prever os custos prováveis. Assim, a probabilidade entrou em suas equações e em seu método de gestão.

Já na Wikipedia tem a seguinte passagem: 

Por ter desenvolvido diversos métodos de venda, a historiadora Judith Flanders, no The New York Times, o chamou de "um dos maiores e mais inovadores varejistas que o mundo já viu". Ele também é reconhecido como um dos primeiros adotantes e fundadores dos princípios da contabilidade gerencial, segundo Anthony Hopwood, professor de contabilidade e gestão financeira da London School of Economics, em The Archaeology of Accounting Systems. O historiador do V&A, Tristram Hunt, descreveu Wedgwood como um "empreendedor difícil, brilhante e criativo, cuja determinação pessoal e talentos extraordinários mudaram a maneira como trabalhamos e vivemos". O Adam Smith Institute afirma: "Steve Jobs e Elon Musk são os herdeiros espirituais de Josiah Wedgwood, desenvolvendo e promovendo novos produtos e processos que enriquecerão nosso mundo com novas oportunidades".

Grandes nomes da história mundial da contabilidade: Hopwood


Hopwood, Anthony G. (1944-2010) - Professor de contabilidade na London School of Economics and Political Science, Anthony G. Hopwood possui uma reputação internacional devido aos seus compromissos e envolvimentos institucionais e aos seus escritos pioneiros sobre os aspectos comportamentais, organizacionais e sociais do pensamento e da prática contábil.

Os envolvimentos institucionais de Hopwood foram variados e significativos, complementando seus interesses intelectuais e educacionais. Seu trabalho de formulação de políticas incluiu a recomendação e o estabelecimento do Fórum Europeu de Consultoria Contábil em 1991. Seu envolvimento em políticas contábeis sempre se baseou na premissa de que não deveria haver uma grande divisão entre o trabalho de formulação de políticas e a atividade acadêmica. Isso se reflete em seus escritos sobre a relação entre a pesquisa contábil e a prática, bem como em sua preocupação em explorar a contabilidade em ação.

O interesse de Hopwood pela contabilidade europeia foi formalizado na década de 1970. Desde 1972, ele organizou um programa de seminários e workshops de pesquisa contábil para o Instituto Europeu de Estudos Avançados em Administração, em Bruxelas. Essa atividade levou à criação da European Accounting Association (EAA), na qual Hopwood atuou como presidente fundador (1977-1979) e novamente como presidente em 1987-1988.

Essa rede europeia de pesquisadores contábeis colocou Hopwood em contato com diferentes tradições de pesquisa e compreensões teóricas da contabilidade. Por exemplo, sua compreensão da contabilidade como uma prática fundamentada organizacionalmente foi influenciada, em parte, pela tradição escandinava de pesquisa em contabilidade e gestão. A ideia da natureza interativa entre a contabilidade e as organizações, bem como a exploração da contabilidade em ação, não era novidade para Hopwood.

Seus estudos de doutorado na Universidade de Chicago (M.B.A., 1967; Ph.D., 1971) foram marcados pelo interesse nos aspectos comportamentais dos sistemas contábeis e no funcionamento organizacional da contabilidade. Sua estratégia e desenho de pesquisa de campo eram novos para a contabilidade naquela época, e o estudo resultante foi significativo ao focar nas diferentes maneiras pelas quais os gestores utilizavam o mesmo sistema contábil, nos estilos de liderança e nas consequências comportamentais dos orçamentos na avaliação de desempenho. Esse estudo deu origem a um número significativo de pesquisas sobre os efeitos comportamentais da contabilidade.

Seus cargos subsequentes, de volta à Grã-Bretanha, ampliaram a compreensão organizacional de Hopwood sobre a contabilidade, em contraste com a perspectiva adquirida nos Estados Unidos, que era excessivamente focada na literatura da psicologia social e sua consequente orientação individualista. Hopwood ocupou os seguintes cargos: Lecturer em Contabilidade Gerencial na Manchester Business School (1970-1973); Membro Sênior da equipe do Administrative Staff College, em Henley-on-Thames (1973-1976); Professor e Fellow no Oxford Centre of Management Studies (1976-1978); e Professor de Contabilidade e Relatórios Financeiros do Institute of Chartered Accountants na London Business School (1978-1985).

Essas experiências reforçaram sua perspectiva cada vez mais europeia, interdisciplinar e a necessidade de estudar a contabilidade no contexto em que ela opera.

O livro Accounting and Human Behavior (1974) deu a Hopwood a oportunidade de refletir com mais profundidade sobre a natureza organizacional da contabilidade. A obra explorou os efeitos comportamentais da contabilidade em questões organizacionais, como orçamentação, avaliação de desempenho, controle de custos e tomada de decisão. Tornou-se um trabalho frequentemente citado no campo da contabilidade comportamental.

A contribuição institucional mais significativa de Hopwood, bem como algumas de suas importantes contribuições intelectuais, ocorreram por meio da revista Accounting, Organizations, and Society (AOS). Ele dirigiu e influenciou a revista como editor-chefe desde sua fundação, em 1976. A revista consolidou-se como um importante fórum internacional para a disseminação e discussão de pesquisas de qualidade sobre os aspectos comportamentais, organizacionais e sociais da contabilidade.

A compreensão emergente sobre a natureza organizacional e social da contabilidade se deve, em grande parte, à preocupação de Hopwood em publicar pesquisas substantivas que refletissem uma diversidade intelectual, conectando a prática contábil a desenvolvimentos importantes nas ciências humanas.

Além dessa preocupação em posicionar a contabilidade dentro da comunidade mais ampla das ciências humanas, ele também se mostrou crítico em relação a qualquer tipo de imperialismo intelectual ou de reivindicação epistemológica que pudesse limitar a compreensão da contabilidade ou restringir sua agenda de pesquisa.

Seu próprio trabalho na AOS investigou diferentes racionalidades e a natureza multifacetada da contabilidade. Hopwood enfatizou tanto os aspectos reflexivos quanto constitutivos da contabilidade, refletiu sobre as mudanças na prática contábil e manteve sempre um enfoque interdisciplinar.

Sua contribuição para a contabilidade foi a de um caminho de investigação questionador, voltado para observar a contabilidade em ação, em vez de simplesmente propagá-la — um caminho que valoriza as consequências reais da contabilidade, em detrimento das racionalizações declaradas, e que explora suas bases organizacionais e sociais, em vez de presumir uma autonomia técnica para a contabilidade.

Ross E. Stewart

Ele foi agraciado no Accounting Hall of Fame. Faleceu em 2010, aos 65 anos de idade.

Fonte: Verbete da The History of Accounting. Veja também aqui e aqui

Grandes nomes da história mundial da contabilidade: Farolfi

Há diversas figuras na história da contabilidade que são relevantes, mas sobre as quais pouco sabemos quanto às suas origens e trajetória. Ainda assim, serão mencionadas na lista dos grandes nomes. Giovanni Farolfi é um deles.

Não se tem informação detalhada sobre quem foi Farolfi, onde nasceu, viveu ou morreu. O sobrenome pertence a uma família de mercadores e banqueiros de Florença, que residia em Nîmes. Essa família atuava como banqueira do arcebispo de Arles.

Também não sabemos qual foi o papel real de Giovanni Farolfi no desenvolvimento da contabilidade. Pelo nome e pelas pistas deixadas, presume-se que ele tenha nascido no território que hoje conhecemos como Itália. Seu nome sobreviveu ao tempo em razão de uma empresa mercantil com sede em Florença e presença em outras cidades, denominada Giovanni Farolfi e Irmãos. O legado de Farolfi é significativo: sua empresa é associada a um dos primeiros registros contábeis em partidas dobradas.

Na virada do século, entre os anos 1200 e 1300, a empresa possuía operações na cidade de Salon, na França. Sabe-se que lidava com produtos agrícolas, e que um de seus livros-razão sobreviveu ao tempo. Esse livro-razão era mantido por um contador chamado Amatino Manucci.

A empresa utilizava um sistema abrangente e articulado de partidas dobradas, o que nos permite afirmar com segurança que esse método já era uma realidade em 1300. O livro-razão incluía uma conta da matriz (capital) e contas para diferentes tipos de estoques. Havia relação entre os diversos livros da empresa, sendo que pelo menos cinco outros livros contábeis eram utilizados. Já existia, também, uma conta de lucros e prejuízos e o procedimento de encerramento do exercício. Outro ponto que evidencia a evolução contábil da empresa é a existência de quatro contas de aluguel pago antecipadamente, tratadas corretamente como despesas diferidas. Observa-se, ainda, uma clara evolução no que se refere à mensuração monetária.

As referências são escassas, mas cito:

Chatfield, M. (1996). Farolfi Company Ledger. In M. Chatfield & R. Vangermeersch (Eds.), The history of accounting: An international encyclopedia. New York: Garland Publishing.

Kuter, M., & Gurskaya, M. (s.d.). The reconstruction of the head office account in the general ledger of Giovanni Farolfi’s company (1299–1300). Kuban State University.

Lee, G.A. "The Coming of Age of Double Entry: The Giovanni Farolfi Ledger of 1299-1300," Accounting Historians Journal, Fall 1977, pp. 79-96. 

Sangster, A. (2025). The emergence of double entry bookkeeping. Economic History Review, 78(2), 499–528. https://doi.org/10.1111/ehr.13358 

Wikipedia contributors. (n.d.). Amatino Manucci. Wikipedia. Retrieved April 26, 2025, from https://en.wikipedia.org/wiki/Amatino_Manucci

25 abril 2025

Papa e a idade

 

Eis a idade do papa ao longo do tempo

Terra de oportunidade

 


Uma análise dos dados da plataforma de empregos da Springer Nature sugere que cientistas dos Estados Unidos estão buscando oportunidades no exterior, à medida que o sistema científico do país sofre os impactos do governo do presidente Donald Trump. Por exemplo, as candidaturas de cientistas norte-americanos a vagas na Europa aumentaram 32% em março, em comparação com o mesmo mês do ano anterior. Em contrapartida, as candidaturas de pesquisadores europeus a instituições dos EUA caíram 41%. No entanto, muitos pesquisadores fora dos EUA afirmam que seus países não estão preparados para aproveitar essa oportunidade, citando baixos salários, falta de segurança no emprego e financiamento insuficiente como principais preocupações.

Da newsletter da Nature 

Sete conselhos para um doutorando


Para Gauthier Weissbart, os desafios psicológicos, como a incerteza e a autocrítica, foram mais difíceis de superar do que as questões técnicas ou científicas enfrentadas durante seu doutorado em biofísica. Ele compartilha seis dicas principais para atravessar o doutorado “não apenas como pesquisador, mas como ser humano”:

- Abrace a incerteza — ela alimenta a curiosidade  

- Equilibre o pensar com o fazer  

- Pare de buscar a perfeição  

- Argumente com respeito e ouça com atenção  

- Faça pausas  

- Encontre sentido fora do trabalho

Fonte: aqui

As pesquisas mais citadas do novo milênio


Até agora, o século XXI nos trouxe as primeiras vacinas de mRNA em humanos, técnicas de edição genética baseadas em CRISPR e a descoberta do bóson de Higgs. Mas, quando se trata dos artigos mais citados, nenhuma dessas descobertas entrou na lista. Usando dados de cinco bases de rastreamento de citações, uma análise da Nature revela que, entre os milhões de artigos publicados desde o ano 2000, os que receberam mais citações tratam de avanços em inteligência artificial (IA); métodos para melhorar a qualidade da pesquisa ou revisões sistemáticas; estatísticas sobre o câncer; e softwares de pesquisa. No topo da lista está um artigo da gigante da tecnologia Microsoft sobre redes de “aprendizado residual profundo”, ou ResNets, que sustentam o aprendizado profundo, com mais de 250.000 citações, segundo a estimativa mais generosa.

Fonte: aqui

Frase


A coisa importante é não parar de questionar.

Albert Einstein

24 abril 2025

Um novo bilionário chinês


A China tem um novo homem mais rico. Zhang Yiming, fundador da ByteDance, empresa-mãe do TikTok, liderou a lista de bilionários da Bloomberg, com uma fortuna de US$ 57,5 bilhões.

É uma honra duvidosa, mesmo que Zhang consiga mantê-la, já que o destino das operações valiosas do TikTok nos EUA permanece incerto. O governo de Xi Jinping tem se aproximado do setor privado enquanto sua economia vacila, mas possui um passado complicado com os empresários mais ricos da China. No início deste mês, Jack Ma [Aliba] foi visto em público pela primeira vez desde 2021 — um aviso aos elites que voam muito perto do sol.

Do Semafor

Francisco e o mundo dos negócios

À medida que o mundo enfrenta o falecimento do Papa Francisco, parte de seu legado claro é seu contato com — e críticas à — comunidade empresarial global.

Desde o início de seu sacerdócio, mergulhado na teologia jesuíta, o ex-Jorge Mario Bergoglio sempre enfatizou as preocupações dos pobres. Mas como um embaixador global do catolicismo romano, Francisco frequentemente se encontrou com líderes empresariais globais, construindo pontes ao mesmo tempo em que repreendia o que via como excessos do capitalismo moderno.

(Isso é além de seus encontros com líderes políticos nacionais, mais recentemente com o Vice-Presidente JD Vance ontem, após o pontífice criticar políticas anti-imigração, visto como um repreensão à administração Trump.)

Francisco se encontrou frequentemente com líderes corporativos, incluindo magnatas da tecnologia como Tim Cook da Apple e Eric Schmidt, antes da Alphabet; chefes financeiros como Brian Moynihan do Bank of America e Steve Schwarzman da Blackstone; e líderes da Exxon Mobil, Chevron e BP.

Ele também firmou alianças com grandes empresas, incluindo a bênção a um grupo focado em causas ambientais, o Conselho para o Capitalismo Inclusivo com o Vaticano, que trabalhou com empresas avaliadas em trilhões de dólares em valor de mercado.

O papa elogiou elementos do negócio moderno. Ele descreveu a internet como um "presente de Deus" em 2014, examinou as promessas da inteligência artificial e descreveu o negócio de forma ampla como uma "vocação nobre".

Sua disposição para se aproximar preocupou alguns críticos, que temiam que suas raízes teológicas o tornassem antagonista do capitalismo.

Mas Francisco consistentemente lembrou aos líderes corporativos para não esquecerem os pobres. "Nunca devemos permitir que a cultura da prosperidade nos endureça, nos torne incapazes de 'sentir compaixão diante do clamor dos pobres, chorar pela dor dos outros e sentir a necessidade de ajudá-los, como se tudo isso fosse responsabilidade de outra pessoa e não nossa própria'", escreveu ele em uma carta ao Fórum Econômico Mundial em Davos, Suíça, em 2016.


No ano passado, ele disse a um grupo de empresários que "um pouco de filantropia" não era suficiente para compensar as obrigações das empresas com os necessitados.

O foco de Francisco nas questões climáticas incluiu pressionar CEOs de energia e seus investimentos para trabalharem rumo a um futuro com menos carbono. "Não temos o luxo de esperar que outros deem o primeiro passo ou de priorizar benefícios econômicos de curto prazo", disse ele em 2019.

Ele também alertou sobre como a inteligência artificial poderia ampliar a desigualdade global e contribuir para uma "crise crescente da verdade no fórum público". Em um discurso na reunião de Davos deste ano, Francisco afirmou: "A dignidade humana nunca deve ser violada em nome da eficiência".

O próximo papa seguirá essa abordagem? Francisco elevou muitos dos cardeais que escolherão seu sucessor, embora alguns tenham sido céticos em relação aos seus esforços para se envolver com o mundo secular. Os principais candidatos ao trono de São Pedro, de acordo com o mercado de previsões online Polymarket, incluem o Cardeal Pietro Parolin, visto como um candidato de continuidade; e Luis Antonio Tagle, que é considerado estar no mesmo molde teológico de Francisco.

Também vale ressaltar: Francisco reformou as finanças do Vaticano. Isso incluiu a retirada de um escritório poderoso de significativos ativos financeiros após anos de investimentos duvidosos terem provocado uma investigação por corrupção. 

Da newsletter do NYTimes

Verde e Dívida nos Brics


Eis o resumo

Este estudo tem como objetivo analisar a relação entre práticas de inovação verde e desempenho ESG na estrutura de dívida de empresas nos países BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), considerando o nível de governança desses países. Utilizamos regressão multinível em uma amostra de 854 empresas desses cinco países emergentes de 2009 a 2019. Os resultados mostram que inovação verde, construção sustentável e certificação ISO14001 estão negativamente relacionadas com a dívida da empresa. O desempenho ESG reduz restrições financeiras e eleva a dívida para patrimônio líquido e prazo longo, quando seus respectivos países têm melhor qualidade de governança. O estudo preenche uma lacuna na literatura ao abordar as implicações da inovação verde e do desempenho ESG na dívida corporativa no contexto dos BRICS. Portanto, os resultados podem contribuir para verificar o impacto das práticas de inovação verde nas dívidas das empresas para identificar quais recursos elas estão utilizando para financiar projetos ambientais e se aspectos de governança ajudam a reduzir as restrições de recursos. As evidências encontradas neste estudo fornecem suporte aos gestores em suas estratégias de dívida, em um cenário onde as demandas estão crescendo para alinhar as ações corporativas aos objetivos de desenvolvimento sustentável.

Como as pessoas estão usando a IA?

Muito interessante a pesquisa. Um ponto que sempre foi destacado é que a IA deixaria para o ser humano a criatividade. Mas na lista, em nono, a criatividade. Quando colocado em grandes temas, apareceu o seguinte: 
Quase um terço das pesquisas é apoio profissional e pessoal. 

Valor do animal de estimação

Um estudo recente descobriu-se que ter um animal de estimação tem um impacto aproximadamente equivalente na felicidade a passar tempo com amigos ou parentes humanos. Dois pesquisadores ingleses pesquisaram mais de 2500 famílias no Reino Unido. Os participantes foram convidados a dar uma nota da sua vida, sendo 1 corresponde a nada satisfeito e 7 completamente satisfeito. 

Os autores obtiveram outros dados, que foram controlados no momento de estudar o efeito de um animal de estimação, para isolar o impacto na nota dada. A pesquisa concluiu que a presença de animais de estimação geram um impacto na nota dada para satisfação da vida. Veja que os participantes não foram questionados se os animais produziam felicidade, retirando um viés nas resposta. 

Como já se sabe que dinheiro ajuda na felicidade, os autores concluiram que a presença de um animal de estimação corresponde a ter uma renda extra de 70 mil libras.

Via aqui. O trabalho está aqui

23 abril 2025

Dupla listagem da JBS


A JBS informou na terça-feira (22) que seu conselho de administração aprovou convocação para 23 de maio de assembleia extraordinária de acionistas sobre o plano de dupla listagem de ações, segundo fato relevante ao mercado.


A companhia, maior produtora de carnes do mundo, pretende listar ações na bolsa de Nova York, algo que deve dar à empresa uma base mais ampla de investidores e de capital. Atualmente, a listagem primária da JBS está no Brasil.

(...) O anúncio foi feito após o pedido da dupla listagem ter sido aprovado pela SEC, o regulador de mercados dos EUA. A operação também depende da aprovação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).(...)

Na assembleia do dia 23, a JBS afirmou que a pauta envolverá os assuntos que incluem a contratação da KPMG para elaboração do laudo de avaliação do valor das ações da JBS SA e aprovação do laudo que calculou em R$ 44,78 bilhões o valor de patrimônio líquido contábil da JBS SA.

Segundo comunicado da JBS, os acionistas minoritários terão total poder de decisão sobre a dupla listagem.

A JeF, holding da família Batista, e a BNDESPar, os dois principais acionistas em volume de papeis, vão se abster de votar, o que deixará a decisão a cargo de detentores de pouco mais de 30% do free float da companhia.

No passado, a empresa tentou fazer esse movimento, mas não obteve sucesso. A empresa é uma das maiores empresas brasileiras, seja pelo valor de mercado ou por receita. Mas confesso que não entendo a posição do BNDESPar, que usa dinheiro público, de abster da votação. Ele deveria ter uma posição se o fato é positivo ou não. 

Multa da Comunidade Europeia


A Comissão Europeia multou a Apple e a Meta, a empresa-mãe do Facebook e do Instagram, por violarem a legislação comunitária sobre Mercados Digitais. Bruxelas anunciou nesta quarta-feira que aplicará uma multa de 500 milhões de euros à empresa de tecnologia [Apple] por não permitir que os desenvolvedores se comuniquem diretamente com os usuários em sua loja de aplicativos. A outra multa, no valor de 200 milhões de euros, aplicada à dona das redes sociais [Meta], está relacionada ao modelo conhecido como "consentir ou pagar", pois a multinacional não fornecia aos usuários outra opção senão ceder seus dados ou pagar pelo uso de suas plataformas.

Fonte: aqui

A Natureza da Firma – Por que Empresas Existem?

Na década de 1930, Ronald Coase, em sua obra seminal "A Natureza da Firma", questionou algo fundamental para a economia: por que as empresas existem se o mercado é tão eficiente na alocação de recursos? Coase, posteriormente laureado com o Prêmio Nobel de Economia em 1991, destacou os custos de transação como peças-chave nesse quebra-cabeça econômico.

A teoria de Coase explora como as empresas surgem para reduzir os custos envolvidos na utilização do mercado. Enquanto o mercado, com seu sistema de preços, coordena ações dispersas entre indivíduos desconhecidos, as firmas internamente coordenam atividades através de ordens diretas e decisões centralizadas. Essa estrutura permite economias internas, como a eliminação dos custos de busca de fornecedores, negociação de contratos e supervisão constante.


O argumento possui exemplos concretos: a Apple, por exemplo, opta por desenvolver internamente certos componentes do iPhone para manter o controle de qualidade e inovação, enquanto a Amazon inicialmente terceirizava sua logística, mas internalizou operações para ganhar em controle e eficiência.

No entanto, há limitações para o crescimento das firmas. Coase observa retornos decrescentes à medida que as empresas se expandem, aumentando os custos gerais de gestão e a dificuldade na alocação de recursos. Assim, o tamanho ideal de uma firma equilibra os benefícios de redução de custos transacionais com os desafios de uma organização interna complexa.

A teoria de Coase não apenas questiona a suposta eficiência total do mercado, mas também redefine a firma como uma resposta econômica racional aos custos relativos de transação. A compreensão desses princípios fundamentais é essencial para analisar não apenas a economia das empresas, mas também os modelos de coordenação econômica em escala global.

No contexto da terceirização dos serviços de contabilidade, os conceitos de Ronald Coase sobre os custos de transação oferecem uma perspectiva esclarecedora. Para empresas de menor porte, terceirizar a contabilidade muitas vezes é mais eficiente, pois não há volume suficiente para justificar a manutenção de um departamento contábil interno. Externalizar esses serviços reduz os custos de transação associados à busca por especialistas, negociação de contratos e revisão contínua. À medida que a empresa cresce, no entanto, a complexidade contábil aumenta, exigindo uma análise mais detalhada dos custos e benefícios de manter serviços internamente versus terceirizar. 

Resenha: A Grande Falácia


Este é um livro bastante rigoroso de duas autoras londrinas que expõem o funcionamento da indústria da consultoria. Com mais de 200 páginas, são listados os problemas de empresas como McKinsey, BCG, EY, Deloitte, PwC, KPMG e outras. Alguns casos lembram uma peça de teatro do absurdo, mas o domínio dessas empresas sobre contratos públicos e privados merece atenção.

Devo ressaltar dois pontos negativos sobre o livro. Primeiramente, apesar de ter sido escrito a partir da Inglaterra e incluir relatos da África do Sul, Alemanha nazista, Coreia do Sul e outros países, não há nenhum relato sobre fatos do Brasil, o que parece estranho. Aqui nós conhecemos o impacto dos conselhos dados por essas empresas aos governos e empresas nacionais, incluindo o caso da Sadia e o recente exame de suficiência, onde uma prova ficou abaixo do padrão adequado para um profissional contábil. Nada é mencionado sobre as fundações de apoio de universidades ou os consultores de gestão que influenciam empresas como a Ambev. Há duas referências a Angola, três a Ruanda, três ao Chile, mas os casos brasileiros foram deixados de lado pelas autoras.

Em segundo lugar, o alerta para os problemas das consultorias é importante, mas a visão apresentada parece muito maniqueísta. Existem casos em que as consultorias contribuíram para melhorar a eficiência empresarial, mas o livro foca exclusivamente nos aspectos negativos das consultorias.

Apesar desses pontos, é uma leitura recomendada para quem deseja obter insights críticos sobre as grandes consultorias globais.