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10 maio 2025

Grandes nomes da história da contabilidade mundial: Ijiri

 


Yuji Ijiri (1935–2017) Talvez a maneira mais simples de identificar o alcance e a importância das contribuições de Yuji Ijiri seja observar que ele foi incluído no Hall da Fama da Contabilidade da Universidade Estadual de Ohio (1989) e é o único cidadão japonês a ter presidido a American Accounting Association, em 1983. Assim, ele recebeu reconhecimento por suas contribuições à contabilidade tanto por sua pesquisa quanto por sua atuação em prol da profissão. Esse reconhecimento é mundial e remonta à sua tese de doutorado de 1963, Management Goals and Accounting for Control, publicada em 1965 pela North Holland Press e, posteriormente, traduzida para o japonês, francês e espanhol.

As ideias de “planilha” contábil utilizadas nesse livro já haviam sido incorporadas em artigos coautorados por Ijiri na literatura de pesquisa operacional e ciência da computação, além da contabilidade. Essa contribuição recebeu o maior dos elogios: essas ideias são hoje tão amplamente utilizadas, em tantas formas diferentes, que suas origens nos escritos de Ijiri praticamente desapareceram da memória. O uso de planilhas e ideias relacionadas a representações matriciais são revisitados em Momentum Accounting and Triple Entry Bookkeeping: Exploring the Dynamic Structure of Accounting Measurements.

Yuji Ijiri nasceu em Kobe, Japão, em 1935, quando o país estava prestes a mergulhar na guerra total. Para escapar dos bombardeios aéreos, foi evacuado, ainda na quarta série, para o campo, onde passou o tempo aprendendo álgebra com um professor de matemática que também havia deixado a cidade. Aos 14 anos, seu pai, um homem pragmático, o colocou no comando da contabilidade da padaria e confeitaria da família. Frequentando aulas noturnas para se aprofundar no assunto, Ijiri rapidamente foi aprovado no exame nacional de qualificação — pré-requisito no Japão para prestar o CPA, a menos que se tenha um diploma universitário. Aos 21 anos — o mais jovem da história até então — ele obteve o certificado logo após se formar pela Universidade Ritsumeikan, em Quioto. Trabalhou inicialmente em um pequeno escritório de contabilidade e depois na Price Waterhouse & Company, em Tóquio.

Dois homens exerceram grande influência sobre o caráter e os pontos de vista de Ijiri: seu pai, Takejiro Ijiri, e seu professor, Taminosuke Nishimura (que mais tarde se tornaria seu sogro). Complementando a atitude pragmática do pai — “o que se pode fazer com isso que seja útil a alguém?” — estava a inclinação filosófica de seu professor, que baseava seu seminário de contabilidade na obra Sartor Resartus, de Thomas Carlyle (O Alfaiate Remendado) e, durante o curso, ensinou a Ijiri o uso da analogia como guia para a beleza e para a união elegante de campos aparentemente separados do conhecimento.

Aos 24 anos, Ijiri havia economizado 1.650 dólares, valor com o qual imigrou para os Estados Unidos. Concluiu rapidamente seu mestrado na Universidade de Minnesota, em 1960, e então ingressou na recém-criada Graduate School of Industrial Administration do Carnegie Tech (atualmente Carnegie Mellon). Lá, Ijiri envolveu-se no entusiasmo de um novo currículo amplo e analítico, que oferecia oportunidades incomuns para participação precoce em pesquisas, junto a professores como Herbert Simon — que viria a ganhar o Prêmio Nobel (em economia e econometria), o prêmio Turing (em inteligência artificial e ciência da computação), o Prêmio Nacional de Ciência dos EUA e o Prêmio da Associação Americana de Psicologia (por contribuições científicas em processos cognitivos) —, além de Richard Cyert e James March, que iniciavam sua clássica pesquisa em A Teoria Comportamental da Firma (1963). Também atuava ali W.W. Cooper, um líder das “abordagens quantitativas”, responsável por ensinar contabilidade, econometria e pesquisa operacional — e que persuadiu Ijiri a escrever sua tese na área de contabilidade.

Quando se aproximava da conclusão do doutorado, Ijiri finalmente recebeu a permissão do professor Nishimura para se casar com sua filha, Tomo, e retornar com ela aos Estados Unidos. Após obter o título de doutor em 1963, passou quatro anos na Universidade de Stanford, onde lecionou regularmente e, paralelamente, assistia a cursos de física, lógica matemática e filosofia.

Àquela altura, Ijiri já estava bem estabelecido como pesquisador, fazendo contribuições que ultrapassavam os limites da contabilidade e alcançavam áreas como economia (e econometria), estatística, pesquisa operacional, teoria das organizações, matemática, lógica e mais. Isso se intensificou a partir de 1967, quando ele retornou à Carnegie Mellon University, inicialmente como professor titular, depois, em 1975, como Professor Robert M. Trueblood de Contabilidade e Economia, e, desde 1987, como professor universitário Robert M. Trueblood — a mais alta honraria concedida pela universidade a um docente.

Aqueles que apreciaram o artigo do professor Henry Rand Hatfield de 1924, Uma Defesa Histórica da Escrituração, irão admirar a resposta de Ijiri publicada pela Carnegie Mellon University com o título The Accountant: Destined to be Free, em 18 de setembro de 1971.

As contribuições de Ijiri à contabilidade ultrapassam 100 artigos e 20 livros, incluindo a coedição da sexta edição do enciclopédico Kohler’s Dictionary for Accountants (Prentice-Hall, 1983). Ele foi homenageado tanto nos Estados Unidos quanto no exterior por sua obra, sendo o único vencedor por quatro vezes do prêmio Notable Contributions to the Accounting Literature, do American Institute of Certified Public Accountants (AICPA). Os prêmios foram concedidos pelos seguintes trabalhos:

1966: “Reliability and Objectivity of Accounting Measurement”, Accounting Review, julho de 1966, em coautoria com R.K. Jaedicke.

1967: The Foundations of Accounting Measurement: A Mathematical, Economic, and Behavioral Inquiry (Prentice-Hall, 1967).

1971: “A Model for Integrating Sampling Objectives in Auditing”, Journal of Accounting Research, primavera de 1971, em coautoria com Robert S. Kaplan.

1976: Theory of Accounting Measurement. Studies in Accounting Research, American Accounting Association, 1975.

Em sua quarta monografia publicada pela American Accounting Association, Momentum Accounting and Triple Entry Bookkeeping: Exploring the Dynamic Structure of Accounting Measurements, Ijiri escreveu: “Para conhecer o passado, é preciso primeiro conhecer o futuro”. Essa citação vem de um livro de xadrez do matemático Raymond Smullyan, mas talvez fosse melhor substituí-la por: “O passado torna-se ainda mais significativo quando se pode usá-lo para influenciar o futuro nas direções desejadas” — como na contabilidade de tripla entrada (momentum) de Ijiri.

Ijiri é um leitor ávido de Smullyan, filósofo e matemático que escreveu sobre ontologia e criatividade como segue:

Um dicionário define ontologia como a ciência do ser; o ramo da metafísica que investiga a natureza do ser e a essência das coisas... Assim, Willard Van Orman Quine \[o filósofo e lógico de Harvard] inicia seu famoso ensaio Sobre o que há com as palavras: “Uma coisa curiosa sobre o problema ontológico é sua simplicidade. Ele pode ser formulado em três monossílabos anglo-saxões: ‘O que há?’ Pode ser respondido, além disso, com uma só palavra — ‘Tudo’.”

Uma filosofia semelhante é expressa no encantador livro de Mandel, Chi Po and the Sorcerer: A Tale for Chinese Children (Chi Po e o Feiticeiro: Um Conto para Crianças Chinesas). Em uma cena, o menino Chi Po está tendo aulas de pintura com o feiticeiro Bu Fu. Em certo momento, Bu Fu diz: “Não, não! Você apenas pintou o que é! Qualquer um pode pintar o que é; o verdadeiro segredo é pintar o que não é!” Chi Po, bastante confuso, responde: “Mas o que existe que não é?”

Certamente, a resposta à pergunta do menino é: — “Aquilo que pode ser criado!” — e Ijiri fornece o exemplo. Como ele criou as ideias da contabilidade de tripla entrada? As conexões básicas entre balanços patrimoniais e demonstrações de resultados já haviam sido observadas por muitos desde que Luca Pacioli publicou seu livro sobre a escrituração de dupla entrada há cerca de 500 anos. Se “isso já existia”, por que ninguém antes dele havia percebido como estender esse princípio para também conectar demonstrações de resultados sucessivas? A resposta está na criatividade de Ijiri — sua capacidade de trazer à existência coisas que antes não estavam lá.

Como resultado, há agora um sistema integrado no qual balanços patrimoniais e suas variações, demonstrações de resultados e suas mudanças podem ser todos interligados por demonstrativos auxiliares, como fluxos de fundos e variações nos fluxos de fundos. Uma gama inteira de novas demonstrações contábeis — com novos usos contábeis associados — passou assim a ser visível — ou criada, se preferirmos —, e sua plena exploração depende apenas do avanço da computação e da experimentação necessárias para sua adoção e implementação bem-sucedida.

Ainda permanece em aberto a questão de por que foram necessários quase 500 anos para ir de Pacioli a Ijiri, apesar da atenção dedicada por tantas mentes brilhantes. A resposta está na profundidade com que Ijiri havia investigado anteriormente os fundamentos da contabilidade, o que o levou, por fim, à demonstração de que toda a contabilidade — inclusive suas extensões multidimensionais — pode ser derivada de três axiomas simples, que ele denomina como os axiomas do controle, das quantidades e das trocas.

Em uma conferência realizada em Siena, na Itália, celebrando os 500 anos da publicação do primeiro tratado de contabilidade por partidas dobradas de Pacioli, Ijiri apresentou um retrato atualizado de sua invenção da contabilidade de tripla entrada. Seu artigo, “The Beauty of Double Entry Bookkeeping and Its Impact on the Nature of Accounting Information” (A Beleza da Contabilidade por Partidas Dobradas e Seu Impacto na Natureza da Informação Contábil), foi publicado na edição de 1993 da revista Economic Notes. Aqueles que preferem uma abordagem didática podem consultar o texto computacional recente de Ijiri: The Evolution of Bookkeeping: From Single to Double to Triple Entry Systems – Interactive Courseware Written in Wing Z for the Macintosh in Color with Piano Accompaniment by T. W. McGuire (*A Evolução da Escrituração: Do Sistema de Entrada Simples ao de Entrada Dupla e Tripla – Curso Interativo Escrito em Wing Z para Macintosh em Cores com Acompanhamento de Piano por T. W. McGuire).

w.w. Cooper - The History of Accounting

Grandes nomes da história mundial da contabilidade: Cronhelm

Cronhelm, Frederic William [1787–1871] - Em Double Entry by Single (1818), o contador britânico Frederic William Cronhelm apresentou a primeira exposição completa da teoria do proprietário e a primeira descrição abrangente, em inglês, de um sistema de contabilidade de custos industriais.

Partindo da obra British-Indian Book-keeping (1800), de James Fulton, Cronhelm enfatizou a equivalência entre o capital total e suas partes constituintes. Ele argumentava que o propósito da contabilidade “é mostrar ao proprietário, em todos os momentos, o valor de seu capital total e de cada uma de suas partes”. Na abordagem algébrica de Cronhelm para a análise de transações, a conta de capital tornava-se um dispositivo matemático de equilíbrio, sendo, por inferência, um item de crédito oposto aos ativos. As transações afetavam a equação contábil por meio do aumento ou diminuição dos ativos, passivos ou do capital. Cronhelm concebia uma série de conversões de ativos ao longo do ciclo operacional da empresa, com a receita sendo incorporada à conta de capital como um aumento líquido na titularidade. As contas de despesas e receitas, incluindo lucro e prejuízo, foram criadas para evitar o inconveniente de registrar cada alteração de patrimônio diretamente na conta de capital. Cronhelm as tratava como ramificações do patrimônio do proprietário.

O francês Anselme Payen (1817) e Cronhelm (1818) publicaram as primeiras descrições abrangentes de sistemas de contabilidade industrial. Usando como exemplo um fabricante de tecido de lã, Cronhelm estruturou livros auxiliares para matérias-primas, produtos em processo e produtos acabados, com os custos de mão de obra subdivididos entre os processos de fiação, tecelagem e acabamento. Embora esses livros mostrassem apenas quantidades, e não valores monetários, os registros auxiliares de Cronhelm foram provavelmente os primeiros exemplos didáticos de inventários permanentes. A conta de matérias-primas era debitada pelas compras e creditada pela lã enviada ao processo. Uma conta de fabricação era debitada pelos quilos de lã em processamento e creditada pelas peças de tecido acabadas. A conta de produtos acabados era debitada pelos materiais finalizados e creditada pelos bens vendidos. Uma folha de controle de inventário extraía quantidades desses três livros de materiais e as convertia em valores monetários, sendo o trabalho em processo avaliado pela média no “estágio intermediário” de conclusão.

O sistema de Cronhelm permitia o cálculo dos estoques finais e do custo das mercadorias vendidas, mas não permitia a análise de custos por processo ou por lotes de produtos. A ausência de valores monetários nos livros auxiliares também implicava uma fraca coordenação entre os registros de manufatura e as contas de compras e vendas. No entanto, Cronhelm demonstrou como transferir custos entre contas contábeis, como acumular custos totais em contas de controle, como isolar os saldos dos inventários finais e como vincular os saldos da manufatura aos totais do livro razão. S. Paul Garner avaliou que Payen e Cronhelm “foram muito superiores a qualquer autor dos 50 anos seguintes”.

Michael Chatfield em The History of Accounting

Sobre ele, há um artigo na Abacus de 1985. 


Grandes nomes da história mundial da contabilidade: Cambistas de Florença


As pistas que temos sobre a origem do método das partidas dobradas indicam que provavelmente ocorreu nas cidades italianos, nos anos 1200. Segundo Alan Sangster, a cidade de Florença pode ser o berço do método.

Naquele período, Florença era um dos centros comerciais mais relevantes da Europa. No meio de tudo, os cambistas, negociadores de moedas e intermediários financeiros, tiveram um papel fundamental no desenvolvimento das práticas contábeis. 

Esses profissionais operavam bancas nos mercados e nas ruas, realizando trocas de moedas estrangeiras e oferecendo serviços de depósito, empréstimo e compensação de valores. Como lidavam diariamente com múltiplas transações, moedas com diferentes taxas de câmbio e contratos complexos de crédito, os cambistas florentinos precisavam registrar com precisão cada operação para controlar seus negócios e prestar contas aos clientes. Essa necessidade levou à adoção e ao refinamento de métodos de escrituração contábil, especialmente os registros em partidas dobradas.

Se muitos pensam em Pacioli como pai da contabilidade é porque não sabemos especificamente o nome da pessoa que criou o método trezentos anos antes. Os registros históricos que sobreviveram ao tempo mostram que já existia registros de operações com débito e crédito, livros auxiliares, razão e outras práticas ainda usadas na contabilidade moderna. 

Apesar de não saber o nome do criador do método, reconhecemos aqui o papel dos cambistas de Florença. 

Grandes nomes da história mundial da contabilidade: Soranzo e irmãos

O sobrenome Soranzo é conhecido na história das cidades italianas. Nos dias atuais, há o Palazzo Soranzo em Veneza, uma construção admirada e histórica da cidade, construído a partir dos anos 1300. O mais famoso dos Soranzo foi Giovanni, nascido em Burano (1240) e falecido em Veneza (1328), que foi estadista. 


Para contabilidade, o Soranzo diz respeito a um empreendimento comercial, localizado em Veneza, quase cem anos após a morte de Giovanni. 

Donaldo Soranzo e Irmãos - Os registros mercantis venezianos mais antigos que sobreviveram estão contidos em dois livros-caixa de Donaldo Soranzo e Irmãos. O primeiro deles (1410–1417) é fragmentado, mas utilizava um sistema parcial de partidas dobradas. Um sistema de partidas dobradas mais completo foi usado no segundo livro-caixa (1406–1434), que foi compilado para ser utilizado como prova em um processo judicial envolvendo a divisão do patrimônio da família Soranzo.

Ambos os livros enfrentaram, de forma bastante malsucedida, o problema de coordenar as contas do escritório central com as dos empreendimentos no exterior. Os quatro irmãos Soranzo importavam algodão, sendo que um deles, na Síria, atuava como agente comissionado tanto para a sociedade quanto para outros mercadores venezianos. Para completar seu livro-caixa, os Soranzos precisavam combinar os registros venezianos com os mantidos na Síria. Mas o sócio no exterior não enviava relatórios regulares, e os parceiros em Veneza falharam em consolidar prontamente todos os registros. Havia livros demais de lançamentos originais. As contas da família Soranzo eram mantidas em muitos diários mal integrados; não havia uma base unificada para os lançamentos no livro-caixa.

No início do século XV, os diários eram geralmente apenas registros cronológicos de eventos específicos, como despesas, cobranças de aluguel e relatórios de agentes. Ainda não existia a noção de que o propósito do diário era servir como base para o livro-caixa.

Do verbete de Michael Chatfield para The History of Accounting


09 maio 2025

Sabedoria das multidões e a escolha do papa

Apostar em eleições papais pode ser mais antigo do que a própria Capela Sistina. O conclave desta semana traz uma novidade: é a primeira vez que os principais mercados de previsão online voltam sua atenção para o antigo processo de seleção do Vaticano.

E as apostas estão fluindo. O cardeal italiano Pietro Parolin desponta como o favorito absoluto para suceder o Papa Francisco, segundo os mercados de previsão Polymarket e Kalshi. Mesmo um relatório da semana passada indicando que o cardeal de 70 anos teria problemas de saúde — informação negada pelo Vaticano — pouco abalou sua liderança.

Agora sabemos que as apostas nos três candidatos do gráfico - em algum momento com mais de 70% das intenções - estiveram erradas. Há alguns motivos: 

Mas, embora os mercados de previsão tenham reivindicado sucesso ao prever corretamente a vitória do presidente Trump em novembro, escolher o próximo sucessor do trono de São Pedro provavelmente será um desafio bem mais difícil, dizem aos jornalistas Bernhard Warner e Michael de la Merced especialistas tanto dentro quanto fora do Vaticano — os chamados vaticanisti.

A sabedoria das multidões provavelmente tem um limite. Sites de apostas de alta tecnologia “nunca conseguirão ultrapassar a complexidade e a imprevisibilidade das decisões tomadas lá dentro”, afirmou Franca Giansoldati, especialista em Vaticano e colunista do Il Messaggero, um dos maiores jornais diários da Itália.

Rajiv Sethi, economista do Barnard College que estuda mercados de previsão, observou que, no caso da eleição presidencial, os apostadores podiam analisar uma ampla variedade de fontes de informação, como pesquisas públicas e debates televisionados. Já o conclave papal — famoso por ser conduzido a portas fechadas e composto por cerca de 133 cardeais eleitores sob juramento de sigilo — oferece muito menos pistas para os apostadores.

A escolha do novo papa aconteceu após três tentativas, o que indica uma convergência rápida. (O texto acima é do NY Times)

Considere que um pico nos contratos da Polymarket apostando que um novo papa seria escolhido em 2025 ocorreu após o anúncio da morte de Francisco, segundo Sethi. Se houve uso de informação privilegiada, alguém pode ter ganhado muito dinheiro. “Podemos descartar vazamentos de informação por parte dos cardeais”, disse Sethi.


Com ou sem fins lucrativos? Dilema da Open AI


A OpenAI, afinal, não se tornará uma empresa com fins lucrativos. Sob pressão de ex-funcionários e do homem mais rico do mundo, as operações comerciais da empresa serão reorganizadas como uma public benefit corporation (corporação de benefício público), uma estrutura legal que permite que executivos busquem lucros — mas não às custas de sua missão (neste caso, garantir que a OpenAI beneficie a humanidade).

A mudança ocorre após Elon Musk ter processado a OpenAI no ano passado para impedir sua conversão em empresa com fins lucrativos. Sam Altman descartou o processo como uma tentativa de "atrasar um concorrente", mas a pressão aumentou quando um grupo de ex-funcionários solicitou a intervenção dos procuradores-gerais da Califórnia e de Delaware. Quando a SoftBank fez um aporte de 30 bilhões de dólares na empresa este ano, vinculou um terço desse valor à transição bem-sucedida da OpenAI para uma estrutura com fins lucrativos.

Portanto, a mudança da OpenAI é mais um desvio lateral do que uma desistência completa: “'Viva a humanidade', você pode pensar”, escreve Parmy Olson, da Bloomberg, “mas estaria enganado”. A nova estrutura elimina os limites de lucro que os investidores atuais poderiam receber, mantendo vivo e forte o incentivo ao lucro. E a vida como uma B Corp, como são conhecidas, nem sempre é tranquila. Veja o caso da Ben & Jerry’s, que adotou esse modelo em 2012 e, desde então, enfrenta dilemas constantes entre missão e lucro.

Fonte: Semafor Newsletter

08 maio 2025

Falha no Exame de Suficiência

Um Conselho que representa mais de 500 mil profissionais no Brasil decidiu terceirizar a aplicação de seu exame mais relevante. A impressão que se tem é de que nenhum desses profissionais seria capaz de conduzir tal avaliação. Durante anos, a prova foi realizada por uma instituição reconhecida, mas, recentemente, o Conselho optou por transferir a responsabilidade de elaboração das questões, aplicação, correção e divulgação dos resultados para uma entidade sem tradição na área contábil. Era uma escolha arriscada — e o resultado foi desastroso.

Diversos relatos indicam que a prova do Exame de Suficiência foi absurdamente fácil. Ainda assim, houve um número expressivo de reprovações. Onde está o problema?

Para agravar a situação, a instituição responsável atribuiu a uma "falha operacional do sistema" a publicação, no Diário Oficial da União, de uma lista incorreta de aprovados. A justificativa sugere um erro técnico, mas, na prática, alguém deu o comando para que todos os inscritos fossem considerados aprovados — inclusive aqueles que sequer realizaram a prova. Não parece um simples erro de sistema.

Curiosamente, a nota de esclarecimento partiu da própria instituição que cometeu o equívoco. Mas não deveria o Conselho se manifestar oficialmente? Afinal, foi ele o responsável por escolher a entidade que conduziu o exame de forma tão negligente. A nota termina afirmando que a instituição lamenta o ocorrido e reafirma seu compromisso com a transparência, a seriedade e a correção do processo. São palavras vazias.

Como profissional registrado neste Conselho, espero uma posição oficial da entidade que me representa — não um comunicado genérico da executora do exame. Delegar tarefas não implica em abdicar da responsabilidade. E, neste caso, a responsabilidade é, sim, do Conselho.