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06 outubro 2009

Balanço e Futebol: Santos

A conta que não fecha
Jornal da Tarde - 5/10/2009

'Gastos gerais', artimanhas contábeis e tropa de choque nos balanços do Santos

“O dinheiro de Robinho.” A frase já foi dita muitas vezes na Vila. Refere-se não só aos milhões arrecadados com a venda do atacante, mas também de toda a geração revelada em 2002. Invariavelmente, é acompanhada da preocupação com a situação financeira atual do Peixe.

Seus opositores dizem que os números do Santos são um buraco negro. Teixeira garante não haver motivo para preocupação. Mas é verdade que, a cada eleição, ele não mede esforços não apenas para permanecer no cargo, mas para colocar um nome de confiança na presidência do Conselho Deliberativo. Assim como em postos chaves da comissão fiscal, que deveria fiscalizar as contas da diretoria.

Em 2005, o cartola fez de tudo para impedir que Odílio Rodrigues Filho, secretário municipal de saúde, derrotasse seu candidato, Florival Amado Barletta. Até telefonou para o prefeito da cidade, João Paulo Tavares Papa, pedindo intervenção.

A preocupação é porque os balanços do Santos costumam apresentar dados que são de difícil explicação. Como no ano passado, quando mostrou R$ 8 milhões na rubrica ‘gastos gerais’.

“O que são gastos gerais? Ninguém consegue responder isso”, pergunta o associado Fabio Viana, que se especializou em vasculhar os números do clube.

A geração Diego e Robinho rendeu cerca de R$ 155 milhões para os cofres alvinegros. “O Santos não é banco para dar lucro. Investimos no CT e reformamos a Vila”, irrita-se o presidente, quando confrontado.

Mas a conta não bate. De acordo com os balanços, desde 2001 foram colocados R$ 16 milhões nas categorias de base e no patrimônio do clube. O presidente não admite que o gasto excessivo com o futebol seja justificativa. Mas apenas entre 2006 e 2008 os departamentos de esportes, especialmente o futebol, consumiram R$ 204 milhões.

A constatação frustra os que achavam que a fortuna arrecadada seria a redenção financeira. Entre os quais se inclui o próprio Teixeira. Após a negociação de Robinho com o Real, ele disse que a grana asseguraria estabilidade para o Santos por “muito tempo”. No ano passado, o déficit foi de R$ 24 milhões. E o valor só foi esse porque o presidente pediu R$ 10 milhões de adiantamento das cotas de televisão.

Tropa de choque

Na hora de votar o balanço no Conselho, Teixeira coloca em campo a tropa de choque. Quem pede a palavra para questionar o cartola é recebido com vaias. O objetivo é intimidar.

Suas contas sempre foram aprovadas. Mesmo as de 2001, aceitas com ressalvas porque o clube lançou mão de expediente ilegal segundo o Conselho Federal de Contabilidade. Usou o valor de multas rescisórias de atletas como ativo. “O Santos inflou o balanço em mais de R$ 200 milhões”, denuncia Viana.

O próprio Peixe reconheceu o erro e vem corrigindo contabilmente ano a ano. Nos tempos de bonança, retificava R$ 40 milhões. Desde 2007, são apenas R$ 2 milhões.

O Conselho Deliberativo nunca levou em consideração nem erros crassos. Como a dívida de R$ 455.175 com a Conmebol nas contas de 2005. O conselheiro Orlando Rollo apresentou documento da entidade provando que o Peixe não devia nada e que os números do clube estavam errados. Resultado: três votos contra e mais de 300 a favor da aprovação do balanço.

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